segunda-feira, 30 de março de 2020

É ÉPOCA DE ANCHOVA





Há pouco tempo atrás, pescar anchovas era sinônimo de corricar no mar, de preferência junto a ilhas ou parceis de pedra. Atualmente, é cada vez mais comum a pescaria de lances, muito mais produtiva. Confira.


Anchova
Para se pescar anchovas com sucesso é conveniente conhece-las melhor e sua descrição cientifica já ajuda ao pescador amador mais observador. Senão, vejamos. Cientificamente conhecida como Pomatomus saltator, a anchova é uma espécie que chega a atingir um metro e até 12 quilos de peso. Os peixes adultos preferem águas com alto teor de salinidade enquanto os mais jovens águas salobras. Pois bem. Só essa particularidade já nos diz que estaremos lutando com um peixe valente e grande e que os de maior tamanho vão estar mais afastados da costa. 

Anchova na isca artificial

Portanto, o pescador deve observar esse detalhe e procurar pescar sempre perto de ilhas e parceis em alto mar. Há alguns anos, o corrico era a modalidade mais praticada e os melhores locais eram sempre perto de costões de ilhas do lado do mar aberto, onde a água bate com mais intensidade. A regra era: quanto mais perto de um costão se corricava, mais peixe se fisgava. Ora, se a proximidade das pedras tornava mais produtiva a pescaria, o problema era como chegar perto delas sem correr perigo algum. 

Pesqueiro de costão

A preocupação se fundamentava no fato de que as lanchas para corrico em alto mar são de médio/grande porte e na dificuldade em manobra-las perto demais das pedras. No entanto, todas essas lanchas possuem um pequeno barco inflável à guisa de salva-vidas, chamado de caíque. Com esse barquinho e um motor de pequeno porte tornou-se muito mais segura aproximação das pedras, bastando apenas evitar a arrebentação das ondas contra as mesmas. Para não chegar muito perto dessa arrebentação, optou-se por arremessos com iscas artificiais.

Local ideal para a pesca de anchova  

Heureka! Achou-se, então, a maneira mais produtiva e segura de se pescar anchovas. O pescador deve manter o barco a uma distância de 20 ou 30 metros e, por intermédio de carretilha ou molinete, lançar a isca bem junto ao costão. Os melhores locais para esses lances são aquelas completamente pela arrebentação, onde se forma aquela espuma branca e onde a profundidade média é superior a 3 metros. As melhores iscas são as de barbela médias, os poppers e as tipo zara, sendo as duas últimas exclusivamente de superfície, local onde as anchovas pegam muito bem. O material de pesca depende do pescador e de sua esportividade. 

Isca de meia água

Porém, se aceitar nosso conselho, procure usar de 10 a 25 libras e outra de 15 a 30 libras. As linhas podem variar entre as bitolas 0.35 e 0.45mm, já que tais medidas facilitam os lances e dão a oportunidade de se brigar mais lentamente com um peixe de maior porte. (NR: As linhas de multifilamento, apesar de serem mais resistentes a quebra, são mais fáceis de se romper, tendo em vista que um simples roçar em uma pedra basta para que ela se rompa. O monofilamento, às vezes raspa, mas não quebra.)

Ilhas: melhores locais para a pesca  

A vantagem do barco pequeno também auxilia numa boa briga, já que pelo seu fácil manuseio podemos ir atrás de um eventual peixe maior. A carretilha ou molinete devem ser de tamanho médio, com uma boa quantidade de linha. Agora o melhor de tudo. Quando você estiver atrás de anchovas nos costões, não se impressione se nesta época entrarem, no mesmo local e na mesma isca, peixes como o olho-de-boi, o olhete e até o xaréu. Imagine você tentando fisgar anchovas e ferrar um olho-de-boi de 18 kg, por exemplo. Pode ter certeza de que vai ser uma “encrenca das boas”. E fica registrado o ditado: “quem procura, acha”. Bom divertimento e boa pescaria.

Revista Aruanã Ed:58 publicada em 08/1997

segunda-feira, 23 de março de 2020

É ÉPOCA DE - CAÇÃO








Em todos os oceanos do planeta, contam-se mais de 350 espécies diferentes de cação. Em nossas praias, o período que se estende de abril a setembro é sem dúvida a época em que os cações “encostam”. Vamos conhece-los melhor.


 O perigo dos dentes

Se fôssemos fazer uma descrição científica das várias espécies de cação, diríamos que pertencem, principalmente, às seguintes famílias: Isuridae, Carcharhiinidae, Carcharriidae e Sphyrnidae. Essas famílias englobam todos os indivíduos que comumente nadam pelo litoral brasileiro e são conhecidos pelos nomes vulgares de martelo, tigre, branco, viola, mangona, tintureira, etc. Um fato bastante interessante é a confusão entre as denominações “cação” e “tubarão” que a bem da verdade, designam os mesmos peixes. Aliás, certa vez um pescador caiçara diferenciou-os assim: “quando é cação, nóis come ele; quando é tubarão ele come nóis”. Muitas vezes a sabedoria popular é surpreendente, e a despeito da simplicidade contida nessa afirmação, pode-se dizer que ela é correta, ou no mínimo aproxima-se bastante da verdade. Como distinguir peixes que chegam facilmente a 200 quilos, por exemplo? 

Filé maneira correta de isca-lo

E isso considerando só as espécies mais comuns em nosso litoral, já que se formos consultar livros, vamos descobrir que existem certos exemplares que atingem com facilidade 1.000 quilos e medem mais de 5 metros de comprimento. Mas vamos nos deter na análise dos cações (esqueçamos o nome tubarão) que estão ao alcance dos nossos anzóis. Comecemos pelos dentes, que nas maxilas e mandíbulas encontram-se dispostos em até 4 ou 5 séries, dependendo da espécie. Desde já, essa particularidade mostra ao pescador amador a obrigatoriedade do uso de encastoados de aço nos anzóis. Uma outra curiosidade está no fato do cação, com seu olfato apurado, ser capaz de distinguir partículas de sangue na água numa proporção de 0,6 parte por milhão. Além disso, com seus dois lobos olfativos, consegue também sentir o cheiro do alimento mesmo a 400 metros de distância. Aqui temos outra boa dica, pois sabendo disso podemos, durante nossas pescarias de praia, fazer cevas usando restos de peixes e outros organismos do mar. 

Cação de 1,5m

Para obter melhores resultados na utilização desse tipo de ceva, recomendamos passar por uma peixaria e conseguir lá tudo o que for resto de peixe: cabeça, barrigada, couro, etc. Devemos tomar alguns cuidados para transportar essa ceva até o local da pescaria, acondicionando-a em sacos plásticos resistentes e sem furos. Isto porque se a ceva vazar dentro do carro, o mau cheiro resultante será de tal forma perene e “inesquecível” que não restará outra alternativa ao pescador além de vender o carro. Pois bem. Quando chegar na praia, tire a ceva do saco plástico e coloque-a em um saco de ráfia, tendo a preocupação de colocar também uma pedra pesada dentro dele, a fim de evitar que a água o leve para longe. Amarre a boca deste saco com um fio grosso de 3 ou 4 metros de comprimento e na ponta do fio amarre uma boia ou um simples pedaço de isopor, que servirá como uma referência visual. Pegue esse saco, leve-o até o segundo ou terceiro canal da praia e deixe-o dentro da água. 

Pequeno cação

Em todo nosso litoral, normalmente a correnteza segue no sentido norte-sul, ou seja, olhando-se para o mar, da esquerda para a direita. Como a boia serve para a localização da ceva, pesque sempre à direita dela, mais ou menos a uma distância de 30 metros. Observe que essa ceva proporciona ótimos resultados também para espécies de menor porte. Prepare uma vara boa, firme e resistente preferencialmente de categoria pesada na modalidade de praia. Use molinete ou carretilha grande, onde caibam, por exemplo, 500 metros de linha cuja opção de bitola pode variar entre 0.30 e 0.50mm, a critério do pescador. (NR: o multifilamento hoje existente no mercado mudará o diâmetro do fio). Faça um arranque de linha 0.60mm, medindo mais ou menos 20 metros e um chicote de 1.2 metros com linha 0.90mm. As pernadas dos anzóis devem ser de aço e os melhores serão os de tamanho entre 5/0 e 7/0, podendo-se utilizar um ou dois.

Detalhe 

A propósito: a chumbada deve ser do tipo pirâmide ou aranha, com peso variando de acordo com a correnteza. As iscas – e aqui vai outra dica importante – devem ser peixes obtidos na própria praia. Lembre-se que você também estará pescando outras espécies. Assim que fisgar uma betara, um parati barbudo, um roncador ou uma corvina, por exemplo, tire um filé de cada lado do peixe e isque-o nos anzóis do cação. Uma boa maneira de fisgar esse filé é introduzir-lhes o anzol na parte mais grossa, atravessando-os.  A preocupação de esconder a ponta do anzol é totalmente desnecessária, porém você deve assegurar-se de que a isca esteja firmemente fixada. Para isso amarre com Elastricot (fio plástico bem fino). O resto do filé vai ficar solto, “nadando” ao sabor da correnteza, parecendo um “rabo” de peixe. Jogue então a isca bem no meio do canal onde está a ceva, coloque a vara no fincador, regule bem leve a fricção do molinete/carretilha e deixe-a na espera. 

Iscas de praia

A partir daí é só aguardar. Aproveite para divertir-se pescando peixes menores com outra vara e não se preocupe em demasia, pois quando o cação fisgar, inevitavelmente você vai notar, já que a vara vai dobrar até a metade e a fricção do equipamento vai “cantar”.  Não tenha pressa. Lembre-se de que você mesmo procurou esse encontro. E prepare-se: dependendo do tamanho do peixe, vai haver uma briga por um par de horas. No momento em que é fisgado, o cação costuma dar uma corrida violenta, às vezes percorrendo até 300 metros, sempre em frente, sem parar. Após essa corrida, já com o peso da linha e da fricção, ele vai correr paralelamente à praia e é nessa hora que deve-se começar a recolher a linha. Nesse ponto ele costuma parar e chega até a vir de encontro do pescador, tracionado que está pela linha. Mais uma ou duas corridas, que tanto podem ser em frente como em paralelo, e ele começa a se entregar. 

O encontro final

Esse é o momento em que é necessário redobrar os cuidados, pois para pegar o peixe com segurança vamos precisar de um bom bicheiro, cujo comprimento do cabo deve ser proporcional ao tamanho do cação. Se o peixe tiver até um metro ou pouco mais, traga-o bem para o raso e pegue-o pelo rabo com as mãos. De qualquer maneira, tome muito cuidado: ele vira rápido e poderá morder. Lembre-se: os dentes pontiagudos são perigosos, mas também fazem parte do encanto dessa espécie. Pronto, o peixe é seu. E o que é melhor: foi uma briga boa e limpa, pois você o pescou esportivamente. Apenas mais duas observações finais. Primeira: os cações às vezes nadam em cardumes, sendo possível fisgar-se mais de um individuo em pouco tempo na mesma pescaria. A segunda é que haverá ocasiões em que apesar de termos a “certeza” de haver fisgado um cação, veremos no final das contas que tratava-se de uma arraia. Observe bem, quando for arraia você vai perceber logo, já que esse peixe, após uma breve briga, fica parado no fundo como se estivesse enroscado. Boa pescaria na melhor época dos cações.

 Revista Aruana Ed:56 Publicada em 04/1997

quinta-feira, 12 de março de 2020

EQUIPAMENTO CHICOTE PARA PRAIA E COSTÃO








A Aruanã já abordou este assunto anteriormente, na sua edição 25, publicada em dezembro de 1991. Porém, decorridos exatos 5 anos, muita coisa mudou e se modernizou. Confira as mais recentes novidades, que por certo irão contribuir para melhorar muito suas pescarias de praia e costão.



Costão 

Existem muitos itens que são importantes na pescaria de praia e costão. Entre eles, o chicote é um dos principais, já que compreende sem si outros itens tais como chumbadas, anzóis e iscas, e acima de tudo, devido à proximidade do peixe, sua resistência e funcionamento deverão obrigatoriamente ser perfeitos. Podemos classificar um chicote em três diferente categorias: leve, média e pesada (mais adiante veremos essas diferenças em um quadro explicativo). 

Tabela com as bitolas de linhas 

Entretanto, a forma correta de se fazer um chicote, que daremos a seguir, é a mesma para todas as categorias, mudando apenas a resistência e tamanho do material. Começamos então pela linha mestre do chicote, que deverá ter de comprimento aproximadamente 1.20m de comprimento. Na parte de baixo deverá ser colocado um girador pequeno, onde será acoplado um alfinete (snap) que servirá para a colocação da chumbada. Partindo-se do girador para cima, exatamente a 15 centímetros, dê um nó do tipo basculante (veja na ilustração o modo correto de fazer esse nó). 


O chicote pronto






Após o nó basculante coloque uma miçanga pequena, e logo a seguir um rotor de engate rápido. Coloque outra miçanga e dê outro nó basculante, mantendo uma distância de 5 centímetros entre eles. Esta é a primeira pernada, onde ira o primeiro anzol. Após a colocação da segunda miçanga, meça uma distância de 60 centímetros e repita a operação para a segunda pernada, ou seja, coloque mais duas miçangas e mais um rotor. Para terminar o chicote, meça mais 20 e coloque o girador, que irá ser ligado na linha mestre. As pernadas para os anzóis deverão ter as seguintes medidas: a primeira pernada pode ter um comprimento de 45 centímetros, e a segunda pernada um comprimento de 30 centímetros. 

















O modo correto de fazer o nó basculante 

Considera-se como primeira pernada aquela colocada imediatamente após o chumbo. Outra dica muito importante refere-se ao arranque, que nada mais é do que a linha que estará ligando o chicote à linha mestre de seu molinete ou carretilha. O arranque total deverá sempre ser de dois a três números acima da linha mestre. Exemplo: para uma linha mestre de bitola 0.30 milímetros, deveremos ter uma linha de arranque de bitola 0.40 0u 0.45 e até mesmo de 0.50 milímetros.  Tal forma assegura que, na hora do lance, o arranque e o chicote suportem a pressão do arremesso. 

Rotor de engate rápido 

É importante ressaltar que a três categorias de chicotes aqui citadas devem ser utilizadas em equipamentos compatíveis, ou seja, em uma vara de categoria pesada, não é aconselhável o uso de um chicote leve e assim sucessivamente.  Finalizando, informamos que existem ainda outros tipos de rotor, tais como engate rápido, engate fixo ou ainda rabo de porco. No entanto, pelos nossos testes, o engate rápido é o melhor, tanto em segurança como em funcionamento, além da praticidade que proporciona, permitindo uma troca rápida de pernada durante a pescaria.

Revista Aruanã Ed:54 publicada em 12/1996

quarta-feira, 4 de março de 2020

DICA - ENROSCO!










O mínimo que pode acontecer quando enroscamos nosso anzol durante uma pescaria é perder parte de nosso material de pesca. Embora seja desagradável, ainda assim essa opção é melhor do que outras, que veremos a seguir. Confira.



Galhadas 

Vamos começar dizendo que o enrosco faz parte da vida do pescador amador, já que são várias as espécies que tem seu habitat junto a galhadas, pedras e outros obstáculos naturais. Alguns desses enroscos são simples de se resolver, diríamos até mesmo triviais, porém outros trazem perigos iminentes e complicadores que, se não observados, causam sérios aborrecimentos, além de possíveis ferimentos que, de tão graves, se tornam irreversíveis. Primeiramente falaremos dos enroscos mais simples, como de pescarias de costão. Dá-se o lance e, na hora de recolher, constata-se que o anzol (ou a chumbada) ficou enroscado na pedra. Normalmente dão-se alguns puxões com a vara (o que não é muito recomendável) e, após verificar que não sai mesmo, resta como única opção arrebentar a linha, a fim de prosseguir com a pescaria. Isso deve ser feito com cuidado, pois alguns pescadores teimam em vir andando para trás, com a vara apontada para o local do enrosco. O perigo, nesse caso, está em se quebrar o equipamento (molinete ou carretilha), pois o esforço no eixo dos mesmos é tremendo, além da vara de pesca e seus passadores, que podem ser danificados. 



Corredeiras

Nesse tipo de enrosco, o melhor mesmo é liberar a linha e, com um pano enrolado na mão, forçar até que ela se rompa ou o anzol ou chumbo se libere da pedra. Sem perigo algum, vamos perder apenas anzóis e chumbo. No enrosco em represas, quando se pesca da margem, o procedimento é o mesmo. Tenha a preocupação de poupar seu equipamento, não o submetendo a esforços desnecessários.
                                                  
                      ISCAS      ARTIFICIAIS                                                                                                 
Aqui está um exemplo clássico de um enrosco perigoso. Vamos partir da máxima que diz: “Só enrosca uma isca artificial quem arremessa com precisão”. Explico: para se fazer um bom arremesso, o pescador amador tem que “meter” sua isca artificial naquele buraco bem no meio de uma galhada, pois com certeza o peixe estará ali. Ora, quem arremessa com precisão vai jogar a isca neste local, porém há chance de se desviar alguns centímetros e enroscar na galhada. Quem tiver medo desse arremesso não vai tentar botar a isca ali, ficando, às vezes a um ou dois metros desse local.


Posição certa do barco  

Por certo não vai enroscar, mas também sua chance de pegar o peixe vai ser bem menor. Pois bem, demos o lance e o enrosco se concretizou. Com prática, na maioria das vezes consegue-se, à distância, desenroscar a isca. Outras vezes, a garatéia fica presa, sendo impossível tira-la. Alguns pescadores começam então a dar puxões violentos, tentando - em vão - livrar a isca. Quando não conseguem, para não prejudicar o equipamento, pegam a linha e começam a puxar tentando solta-la. O risco está exatamente aí, já que, se a isca artificial soltar-se abruptamente, virá diretamente na direção do pescador a uma velocidade incrível. Imagine agora uma isca vindo em sua direção com duas ou mais garatéias soltas e com as pontas dos anzóis livres. São vários os casos de pescadores que tiveram garatéias no rosto, no corpo, mas mãos ou na cabeça em situações desse tipo, e esteja certo: dá muito trabalho para retira-las, além é lógico, da dor. Procure imaginar agora se os olhos forem os órgãos atingidos. O efeito será então irreparável. No caso de enrosco com iscas artificiais, o mais correto e seguro é ir até a galhada e, com as mãos, tentar retira-la, somente tendo o cuidado de verificar antes se não há espinhos na galhada. 



Pedras do costão 

O detalhe interessante nos enroscos de iscas artificiais é que normalmente, por estarmos pescando em duplas, parece, à primeira vista, que estamos incomodando nosso companheiro de pesca ou vice-versa, com contínuos enroscos, dando trabalho a um ou ao outro por termos que parar de pescar para desenroscar a isca. Mas isso não é problema: lembre-se de que companheiro de pesca é como um irmão, portanto... ele compreenderá.
                                                       PESCA DE RODADA
Essa é uma outra modalidade de pesca onde os enroscos são muito comuns. O perigo maior, aqui, refere-se à bitola da linha e a posição de se pescar no barco. O pescador amador, já há algum tempo, tem muita informação no que se refere à esportividade nas pescarias. Assim sendo, são muitos os que hoje já utilizam bitolas de linhas mais fracas, pois aprenderam que é mais emocionante pescar com uma linha mais fina a fim de testar a própria capacidade e perícia em tirar um peixe grande com uma linha que, na maioria das vezes, tem sua resistência menor do que o peso do peixe. 


Pintado  

Porém (e aí está o perigo), alguns pescadores teimam ainda em usar linhas de bitolas enormes, tais como 1.20 ou 1.40mm na pesca de jaús, pintados, piraíbas, etc. (NR: Atualmente existe o multifilamento, equipare-o então a uma linha que, apesar de fina, tem grande resistência à quebra). Pense: rodando com o barco, se o anzol enroscar, uma linha dessas tem a capacidade de segura-lo como se fosse uma poita. Agora imagine que essa linha estará em uma carretilha/molinete ou então em uma linhada de mão. O esforço, em qualquer caso, será enorme, e o prejuízo menor será a quebra da vara ou então do equipamento de tração, pois dependendo de sua posição na mão do pescador, a linha poderá arrancar a pele ou, às vezes, até dedos. Caso insista, mesmo sabendo ser errado pescar com uma linha dessa bitola, lembre-se sempre de que se o enrosco acontecer, é recomendada a liberação da linha, bastando para isso soltar a haste do molinete ou o botão da carretilha. Não tenha pressa, pois com a linha livre, teremos então o tempo para ligar o motor e voltar ao ponto do enrosco, tentando tirar a isca ou, se preciso for, cortar a linha, que dificilmente conseguiremos quebra-la. 



Anchova  

Vamos agora à posição do barco. Nunca, nunca mesmo, pesque de rodada com a linha na frente do barco, ou seja, na mesma posição da correnteza. De rodada, só se pesca com a linha vindo após o barco. Nesse ponto, um esclarecimento: a posição correta do barco para se pescar de rodada é de lado, ou seja, com a popa apontada para uma margem e a proa apontada para a margem oposta do rio. Assim sendo, estaremos navegando ao sabor da correnteza e, portanto, nossa linha deverá vir naturalmente após o barco. A posição correta é sentar-se de lado, com o banco no meio das pernas. Se o anzol enroscar, é só abrir o equipamento e liberar a linha, ou, no caso de linhada de mão, solta-la. Imagine agora de pescarmos com a linha na frente do barco. Em caso de enrosco, você pode virar a vara e passar a linha pela popa ou proa e, aí fica a pergunta: e se você estiver pescando no meio do barco? A resposta: ou você degola o piloteiro, o companheiro ou então vai jogar um dos dois na água, a não ser que eles sejam campeões de salto e, quando a linha vier, rapidamente pulem deixando-a passar! 


Galhadas de margem  

Brincadeiras à parte, pescando na frente do barco, você pode quebrar a vara, ou até virar o barco, dependendo da bitola da linha. Isto sem falar em outros acidentes desagradáveis, que você mesmo pode imaginar como seriam. Há ainda outros tipos de enroscos comuns como os que ocorrem na modalidade de corrico e neste caso, basta apenas que a fricção do equipamento esteja regulada. Dificilmente perderemos a isca artificial, pois basta voltar e, com clama, desenroscar a isca, que normalmente é de meia água. No caso de iscas artificiais de profundidade, apenas o ato de voltar e puxar a isca ao contrário basta para que ela desenrosque. Se isso não acontecer, pondere que é melhor quebrar a linha e perder a isca do que se arriscar a mergulhar para tentar livra-la. Já soubemos de casos de pessoas afogadas nessa operação. Pois é. Estes são os inevitáveis enroscos da pescaria, dos quais nenhum de nós está livre, mas que com os devidos cuidados, poderemos tornar menos perigosos. Afinal de contas, perder material de pesca faz parte do jogo, pois enquanto você ficar chateado, lojistas e fabricantes terão um bom motivo para dar continuidade à suas respectivas produções e vendas. Boa pescaria!


Revista Aruanã Ed:52 publicada em 08/1996