sexta-feira, 31 de julho de 2015

REALIDADE: O MAL DE MINAMATA














Muitos são os problemas que cercam a pesca amadora. Vários deles
decorrentes da falta de autoridade por parte dos responsáveis em fazer a pesca algo muito sério, já que recursos não lhe faltam. Mas há um problema maior, que dificilmente será constatado pelo pescador amador, já que é invisível, sem cheiro ou sabor. Mas está presente em nossos peixes e, conforme o caso, pode ser fatal.









 As pessoas que saborearam uma pescaria sabem, mais do que ninguém, que “se não preservar, se não cuidar, vai faltar” (plagiando-se aqui uma frase da ex SUDEPE). Entendendo-se aqui “faltar” não somente sob o aspecto de quantidade mas principalmente de qualidade. Sabe-se que, além dos lançamentos diretos na água residuárias, as substâncias químicas liberadas para a atmosfera lançadas sobre as plantações ou diretamente aplicadas no solo, acabam, de uma maneira geral, entrando nos corpos de d’água. Uma vez no meio aquático, podem matar toda uma comunidade biológica, seja a nível de seres microscópicos, seja a nível dos peixes, propriamente dito. São, aliás, frequentes as notícias de mortandade de peixes. Porém o lançamento destas substâncias nem sempre chega a causar mortandade especulares, podendo ser assimiladas nos organismos, como por exemplo os peixes, que são muitas vezes consumidos pelo homem. Às vezes, os efeitos que estas substâncias causam, são irreversíveis. Vários estudos já foram realizados comprovando tais fatos. Os agrotóxicos, por exemplo, principalmente os organoclorados que, embora proibidos por lei, ainda são utilizados clandestinamente, e, uma vez lançados no ambiente, entram na “cadeia alimentar”.  O mercúrio usado nos mais diversos lugares, desde o tratamento dos dentes até em garimpos, para a extração do ouro. 



Neste processo, o mercúrio se liga ao ouro, tornando-o (principalmente o ouro em pó) mais pesado, facilitando assim a sua captura. Posteriormente é separado do ouro por aquecimento (evaporação). Uma vez introduzido no meio aquático, quer por deposição direta, quer por carreamento, o mercúrio metálico pode ser convertido, através de atividade bacteriana, em compostos orgânicos, muito mais tóxicos, e passiveis de serem absorvidos pelos organismos aquáticos facilmente. Esses organismos concentram os compostos de mercúrio diretamente da água, sedimento ou através de cadeia alimentar. A quantidade acumulada depende de inúmeros fatores (tipo de organismos, idade, hábitos alimentares, etc.), podendo atingir níveis incompatíveis à sua sobrevivência. A absorção do mercúrio  pelos organismos diretamente da água ou sedimento é chamada de bioacumulação. Na medida em que os organismos são consumidos por outros, o mercúrio também é transferido, de forma que as concentrações dos elementos crescem rapidamente. Este fenômeno é conhecido por biomagnificação. Isto explica o fato de que, via de regra, os peixes carnívoros (piranhas, dourados, traíras, peixes-cadelas, tucunarés, etc.) apresentam concentrações mais elevadas podendo às vezes superar o limite máximo permissível para o consumo humano. 



O exemplo clássico de envenenamento por mercúrio é o episódio ocorrido na Baia de Minamata, no Japão, na década de 50, onde pescadores consumiram por anos peixes, moluscos e crustáceos contaminados por mercúrio proveniente de efluentes industriais lançados na baía. Registram-se , no período de 1956 a 1973, cerca de 800 vítimas , incluindo-se quase uma centena de mortes. Por isso os efeitos causados por este tipo de mercúrio são chamados de “Mal de Minamata”. Muitos embora a problemática da contaminação por mercúrio, em nosso país seja considerada como uma das prioridades pela Política Nacional de Meio Ambiente, é particularmente preocupante a situação hoje vivenciada na Região Amazônica, onde este metal é utilizado indiscriminadamente em grandes quantidades nos garimpos de ouro (para cada tonelada de ouro são lançadas, no ambiente, cerca de duas toneladas de mercúrio). Fica aqui o alerta. Amanhã poderemos não mais realizar pescarias, não pelo fato de não haver peixes (consequência da sobrepesca ou das alterações que estão ocorrendo nos ambientes), mas sim, porque o peixe pode estar impróprio para ser consumido.
Geraldo G.J Eysink é Biólogo do setor de Plâncton e Ictiologia da Diretoria de Normas e Padrões Ambientais – CETESB – SP.

Dourado                   

NOTA DA REDAÇÃO: Na década de 90, eu tive a oportunidade de entrevistar na Rádio Globo, um pescador amador, meu amigo e muito conhecido em São Paulo (deixo de citar seu nome, a não ser que ele se identifique por este meio de comunicação), que estava muito doente, por contaminação de mercúrio. Segundo ele, na entrevista, era ele um pescador que frequentava muito, vários rios da Bacia Amazônica. Na rádio, nos mostrou e eram visíveis em seu corpo, vários “calombos” do tamanho, digamos, de meio limão da espécie galego. De posses, buscou tratamento nos EUA não obtendo resultados positivos mas, teve a informação de aqui no Brasil, em São Paulo, e se não me falha a memória, mais especificamente em Campinas ou na região, havia um médico que tinha um tratamento específico para essa doença. Foi tratado e curado por esse médico. Na ocasião este artigo, causou muita polêmica em nosso meio, mas antes de tudo, foi um feito jornalístico da Aruanã, que assim alertou muitos consumidores dos peixes, da citada região. A reedição deste artigo é válida até hoje, já que o garimpo, a utilização de mercúrio, seus métodos e consequências, são hoje, infelizmente, atuais em pleno século 21. E, ainda completo esta informação em dias atuais: se o pescador amador verificar, verá, que em todos os estados do Brasil, onde houver um rio piscoso, suas águas e seus peixes, podem estar completamente envenenadas (os), senão por mercúrio, por uma outra infinidade de venenos letais à saúde, oriundos de lavouras (quem não as vê, usando a água das represas para molhar a cultura e a mesma água sendo devolvida às represas com todos os venenos “protetores da lavoura, também chamados de defensivos”), desmatamentos, pulverizações etc.
Antonio Lopes da Silva 



                                                                                                       
                                                                                                                                                           


domingo, 26 de julho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - JAGUATIRICA












“Gato-do-mato-grande, mbracajá, maracajá, jacurecaca e ainda chibiguaçu no Paraguai, e em Tupi-Guarani, onça arisca, fujona”. São alguns dos sinônimos da jaguatirica. Vamos conhecê-la melhor.






A jaguatirica é o terceiro felino das Américas, perdendo apenas para o jaguar e a suçuarana. Um macho adulto chega a medir 1,5 m de comprimento, sendo 50 cm de cauda. Sua altura no garrote atinge 40 cm. Sua pelagem é curta, espessa, macia e toda pintada. Dourada na cabeça e no meio do dorso, os flancos são esbranquiçados e rajados de finas estrias e manchas redondas ou ovais, com pintas negras que se destacam sobre fundo mais claro e que se juntam para formar os anéis na cauda. As manchas são mais destacadas nos machos que nas fêmeas.



A jaguatirica é de hábitos noturnos e vive exclusivamente em regiões florestadas. Passa os dias dormindo e parece não ter abrigo fixo. Caça de manhã bem cedo e ao crepúsculo. É excelente escansora e quando perseguida, salta de uma árvore para outra. Embora nade muito bem, só entra na água quando forçada. É um animal solitário, que só se junta aos pares na época do acasalamento. A fêmea geralmente dá à luz no oco das árvores. Caçam pequenos roedores, macacos e aves.


Consultoria: Fundação Parque Zoológico de São Paulo.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL PESCADA AMARELA (CAMBUCU)
















Cientificamente, estão catalogados mais de 20 tipos diferentes de peixes denominados “pescada”. No entanto, para o pescador amador, pela briga que proporciona quando fisgada e também pelo excelente sabor de sua carne, a pescada amarela ou cambucu é uma das mais procuradas.









T ambém conhecida pelos nomes de calafetão, cambuçu, cambugu, cambussu, cupá, guatucupá, pescada, pescada cascuda, pescada-de-escama, pescada-ticupá, pescada verdadeira, tacupapirema, ticoá, ticupá (RN), tipuca, tucupapirema, a pescada amarela, cujo nome científico é Cynoscion acoupa, é um peixe marinho, que ocorre do Panamá até a Argentina. Seu dorso é prateado e o ventre, amarelado. A pescada amarela vive em cardumes, alimentando-se de peixes e crustáceos. A fama principal desse peixe é que, além de ser um valente brigador, sua carne é tida como uma das mais saborosas dos peixes marinhos. Encontrada principalmente nas embocaduras e dentro dos canais de água salobra, seus pesqueiros favoritos são os locais de média e grande profundidade.
O pescador deve levar em conta o fato da pescada amarela viver em cardumes, sendo portanto praticamente impossível, observando esta característica, pescar apenas um peixe. Normalmente, quando a encontramos, conforme o número de pescadores no barco, mais de um peixe é fisgado ao mesmo tempo. São suas iscas preferidas o camarão vivo e o mossorongo (bicho do mangue). Porém, nas entradas dos canais, à beira de pedras, costuma aceitar também os toletes de sardinhas frescas. Levando em consideração que a pescada amarela atinge tamanho de 1.3 m de comprimento total e peso máximo de 20 kg, chegamos à conclusão de que o material indicado para sua pesca deve ser o de categoria média, apesar de que os peixes desse tamanho não são muito fáceis de serem apanhados, sendo mais comuns os exemplares de peso médio, entre 6 e 12 kg. Uma linha de bitola 0,45 mm será o ideal, usando ainda como medida de segurança, um leader de linha 0,60 mm, que pode medir apenas 50 cm de comprimento. A chumbada ideal é a oliva, cujo peso deverá variar de acordo com a correnteza do canal, estando solta na linha. O normal é usar apenas um anzol em cada linha.
Dentro dos canais, a melhor hora para sua pesca é o reponto da maré cheia para a vazante. Deverá ser tentada nos remansos fundos, principalmente aqueles que tenham como margem barrancos de terra firme. Desde que a pescaria seja feita em embarcações, não é necessário se dar longos lances, mas a principal recomendação é manter silêncio absoluto, pois a pescada amarela é um peixe muito arisco, que muda constantemente de poço. Assim que fisgar um exemplar, aproveite o máximo, pois o reponto da maré, conforme o lugar, costuma durar poucos minutos, tempo este suficiente para que o peixe pare de morder a isca. É recomendável o uso de um puçá ou bicheiro para embarcar os peixes fisgados. A melhor época para a pesca da cambucu compreende o período que vai do fim da primavera ao início do verão.





sexta-feira, 17 de julho de 2015

O ULTIMO TOMBO DO MACHADO - RONDÔNIA














Os tombos 
O rio Machado, também conhecido como Jiparaná, é um afluente do rio Madeira, em Rondônia. Partindo de um convite de nosso leitor Denilson Sigoli, a equipe Aruanã para lá foi, sem saber que essa seria uma das mais emocionantes pescarias já experimentadas. Foram muitas as reportagens que fizemos por este Brasil afora e pelo mundo, mas com certeza esta ficará para sempre em nossa lembrança. A partir de São Paulo, via Campo Grande-Cuiabá-Vilhena, chega-se a Ariquemes, no interior de Rondônia. Até essa ultima cidade são aproximadamente 3.000 km e mais 237 km até a beira do rio. De Ariquemes, uma grande cidade dotada de toda infra-estrutura, segue-se rumo leste.
                                                                                                                                                                                                  



 Piranha preta                                                                                                                                    

 
O asfalto que nos acompanhou até a cidade deixa de existir, e em seu lugar há uma boa estrada de terra. Nosso rumo é Machadinho, distante 150 km de Ariquemes. De Machadinho seguimos para Tabajara, mais 70 km, junto ao rio Machado. Esta pequena cidade tem postes de iluminação de ferro e de procedência inglesa, ao que parece foi uma antiga base de ingleses, que segundo consta, ali estavam para “caçar borboletas”. Da cidade já se vê a beleza do rio. Nossa reportagem foi mais adiante, em um local conhecido como Porto Dois de Novembro, pois nossa intenção era pescar nas corredeiras, conhecidas na região como “tombos”. São mais 17 km por uma estradinha, que se pudermos classificar como ruim, diríamos que é bom ter um carro tracionado. Encalhamos, nada sério, três vezes.


   Árvore em uma Ilha de pedra

O Porto Dois de Novembro é um pequeno lugarejo com três famílias de seringueiros. Fica no fim da estrada em uma elevação de mais ou menos 30 m do nível do rio. A pé, indo para o rio, já se ouve o barulho das águas. Da margem, vê-se algumas corredeiras e ilhas de pedra, margeadas por praias de areia lindíssima. A água do rio é limpa e quase cristalina e esta é a melhor época de pesca (outubro e novembro). Do Porto, à direita subindo o rio, a mais ou menos uns 800 m, a primeira beleza natural: o último tombo do Machado, já que desde Tabajara até ele, existem outros dezessete tombos.


 A equipe

São várias corredeiras, tanto pela direita como pela esquerda. Algumas grandes outras pequenas, somando dezenas. No meio do rio, uma grande ilha de pedras divide o Machado em várias corredeiras e é o primeiro sinal de um meio ambiente maravilhoso. Calcular a idade da árvore nascida na ilha é impossível, mas seria preciso umas vinte pessoas de braços aberto para abraçar seu tronco, que ergue-se majestoso, com aproximadamente 40m de altura. Suas raízes à mostra, a medida que foram crescendo, foram abraçando as pedras e solidificando sua segurança até descer à água do rio, onde no período da seca busca água para manter sua vida. Em seus galhos habitam milhares de papagaios e periquitos que fazem uma algazarra tremenda, descendo às vezes para matar a sede nas águas dos rios. Pela manhã, vimos diversas vezes as pedras da beira do rio ficarem “verdes”, tal é o número desses pássaros que ali pousam para beber água e se banhar.
   

 Os últimos 14 kms até o rio  
 
Nossa primeira pescaria aconteceu do lado direito, no fim da última corredeira. Nossa meta são os grandes apapás, que nesse rio chegam a pesar 8 kg. Usamos uma vara 30 libras, de grafite, uma carretilha Abu 5500, linha 0,45mm e isca artificial Rapala e Cotton Cordel (Red Fim 900). Logo após os primeiros lances, fisgamos algumas grandes cachorras e piranhas pretas, estas últimas pesando perto de três quilos. A briga é boa e haja braço, pois todos os peixes fisgados aproveitam a força da água para brigar à vontade.
                                                                                                                   


   Aruanã                                                                                                                                              

 
Pescamos das três horas da tarde até o anoitecer, Fisgamos vários peixes, mas nenhum apapá. À noite, são vários os ranchos completamente vazios onde se pode pernoitar. Ficamos sabendo através de outros companheiros novidades sobre outros peixes fisgados por eles, onde se destacaram a pirara, o pintado-cachara e as pirapitingas. Durante o dia, os “piuns” (mosquitinhos pólvora) fazem uma verdadeira festa no pescador, e à noite, como por milagre, desaparecem. Não apenas eles, mas qualquer outra espécie de inseto, e o motivo talvez seja a queda da temperatura que ocorre durante a noite, chegando mesmo a fazer frio.



Nas matas ouvem-se piados de jaós e macucos (lá chamados de azulonas). Passamos a primeira noite naquele maravilhoso sertão. O ultimo tombo do Machado é também conhecido como “Tombo 27”, pois dizem que ali, numa tentativa de subir a corredeira de barco, morreram 27 pessoas. Nos mapas oficiais, esse tombo é chamado de Cachoeira Lava-Cara. Estamos bem a leste de Rondônia, perto da divisa entre os estados do Amazonas e Mato Grosso.


 Os grandes apapás                                                                                                                                
 Nova manhã, e lá vamos nós até os apapás, que mais uma vez não apareceram. Nossa diversão ficou por conta das cachorras e piranhas. De onde estávamos conseguíamos divisar um outro tombo à frente e à direita, e parecia que a corredeira podia ser transportada de barco. Consultamos os companheiros e ficou acertado que tentaríamos essa subida à tarde. Saímos da corredeira e fomos pescar nas águas rápidas das ilhas de pedras. Fisgamos mais algumas cachorras, piranhas, bicudas e corvinas de quase um quilo, usando sempre as iscas artificiais.





Após o descanso e um bom almoço, voltamos ao rio por volta das três horas da tarde, já que antes disso o calor é muito intenso. Apesar do calor, não se vê o sol, escondido pela fumaça proveniente das queimadas na região. Subimos a corredeira com um motor Johnson 15 HP, com muito cuidado e analisando bem o rio. O “tombo de cima” na realidade são vários tombos e possuem um lago de águas rápidas. Descemos do barco e das pedras começamos a dar os lances com as iscas artificiais. Finalmente conseguimos fisgar vários apapás entre 4 e 6 kg. Por baixo de nossas iscas vimos dezenas de apapás que não fisgaram. 




A ferrada desse peixe é maravilhosa, e após fisgado dá saltos para fora da água, corredeira abaixo, levando mais de 50 m de linha na primeira arrancada. Nas pedras acima de nós, o Marcos fisgava pirapitingas entre 2 e 4 kg, usando como isca pedaços de jaraqui, que é um pequeno peixe encontrado na região. Aliás, sobre os jaraquis, vimos um espetáculo muito bonito nas praias durante a noite. Com o barco em silêncio, vai-se até as praias, acende-se uma luz repentinamente e bate-se com os remos no barco. O “estouro” que se segue é algo incrível, pois são milhares de peixes de aproximadamente um palmo que pulam em todas as direções. Esse é um bom método para quem quer isca, já que vários peixes caem dentro do barco.  À noite, reencontrando os companheiros, novos peixes foram somados aos que já estavam no freezer: aruanãs, jaús, tambaquis, pirararas, etc.

 Corvina                                                                                                                                                                             IGARAPÉ DAS JATUARANAS

Esse igarapé desemboca no Machado, mas nesta época do ano está quase seco e portanto não é possível chegar até ele pelo rio. Mas a jatuarana merece um destaque especial, e o jeito é pegar uma picada de seringueiros e caminhar por duas horas a pé, no meio da selva. Pelo caminho há varias aguadas pequenas e no barro das margens vimos rastros de onça, veados e pacas. Após a caminhada, chega-se ao igarapé e quase se morre de susto, pois o “tal” tem apenas meio metro de largura por 10 cm de profundidade. 
 
              Jatuaranas


A água corrente é muito limpa. Chegando-se nesse igarapé, tanto pela direita como pela esquerda, é só andar um pouco que logo se encontram poços. Esses têm mais de 4 m de largura por 30m de comprimento e 2m de profundidade. Pois bem, em cada poço desses estão presas de 30 a 80 jatuaranas, com peso variando entre 2 e 6kg. Pescar em um lugar desses é até covardia, pois os peixes pegam em qualquer isca artificial ou natural que se jogue na água. Para se ter uma idéia da piscosidade, os companheiros pegaram peixe até com as mãos. 


O mais importante é que ficou acertado que cada um só poderia pegar cinco peixes. E não pense o leitor que isso é apenas “frescura ecológica”, bastando apenas lembrar que são duas horas de caminhada no meio da floresta, e a conta é fácil de fazer: vamos dizer que cada peixe pese 4 kg. Por certo cada um vai ter que carregar 20 kg e aí é peso para ninguém botar defeito. Ao todo chegaram no acampamento 20 jatuaranas, quase na hora do almoço. 


A tarde, lá fomos nós novamente atrás dos apapás, só que desta vez resolvemos olhar do outro lado do rio e à esquerda do tombo. Há uma praia de areia muito bonita e por trás de um pequeno corredor de água, de uns 20m de largura por 80m de comprimento, bem raso, dando água pelos joelhos. Esse corredor é alimentado por pequenos “fios” de água que correm pelo meio das pedras. Assim que chegamos a essa praia, vimos um enorme cardume de peixes parado, talvez esperando o sinal da natureza para subir e vencer a correnteza. De onde estávamos não era possível distinguir qual era a espécie, mas sabíamos que eram dezenas e de grande tamanho. 

 Cuiú-cuiú

Tentamos quase todas as iscas artificiais e naturais, mas os peixes não queriam nada. Motivados pelo sucesso e pela “prática” adquirida nas pescarias de jatuaranas, entramos dentro da água e conseguimos pegar dois peixes: eram da espécie cuiú-cuiú. Para o leitor melhor se informar, podemos dizer que o cuiú-cuiú é uma espécie de abotoado ou armau, semelhante ao do Pantanal, porem sua cor é diferente, pois este tem tons de cinza escuro. A título de curiosidade, alguns cientistas afirmam que esta espécie consegue sair da água e “caminhar” por terra para atingir outras águas. 
 

 O rio
Foi um espetáculo muito bonito ver centenas de peixes juntos em piracema. Depois dessa descoberta e da farra dentro da água, fomos novamente para a corredeira em busca de apapás, piranhas e cachorras. Nessa tarde o Denilson fisgou ainda uma pirapitinga na isca artificial de meia-água. Estávamos chegando no quarto dia de nossa estadia no Machado e era chegada a hora de desmontar acampamento, pois apesar da farta pescaria e da esportividade da mesma, a vida continua. De nossa parte afirmamos que foi um dos locais mais bonitos que já vimos neste Brasil, pois contando com todos os companheiros, fisgamos exatamente 14 espécies diferentes. Até um dia Machado, pois com certeza e se Deus quiser, não foi esta a última vez que estivemos no seu último tombo.
 

 Aruanãs     
                 INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
 Pescar no último tombo foi realmente uma bonita aventura, apesar de termos encalhados três vezes nos últimos 17km que nos separam da pequena Tabajara. No entanto, se o leitor quiser pescar em Tabajara, onde a estrada é boa, podemos informar que esse trecho do rio também é muito piscoso, com grandes espécies de peixes como: jaú, pirarara, tambaqui e pirapitinga, sendo esta ultima fácil de se fisgar, pois esta é a melhor época para sua pesca. 
 
Corredeiras

Pode o leitor reparar que não falamos de tucunarés, pois após o ultimo tombo não há nenhum lago para sua pesca, o que não ocorre em Tabajara, pois logo acima da cidade existe o “Lago do Seringueiro”, que conforme informação, tem muitos tucunarés, alguns com mais de 7 quilos. Dentre as várias espécies do rio Machado, destacamos como peixes de couro: piraíba, filhote, pirarara, pintado, dourado-de-couro, jaú e outros. Entre os de escamas, destacamos: cachorra, apapá, corvina, bicuda, pirapitinga, tambaqui, jatuarana, aruanã, piranhas (enormes) e tucunaré.
 
Tambaqui

NOTA DA REDAÇÃO: Nossa viagem até o rio Machado foi pontuada de grandes alegrias, principalmente por termos descoberto para o leitor uma região ainda virgem e de uma beleza extraordinária. Ficaram também em nossa lembrança os assopros e evoluções dos botos comuns e dos cor-de-rosa que nos acompanharam nas jornadas pelo rio Machado. Finalmente queremos agradecer a participação e a colaboração de nossos leitores de Ariquemes: Denilson, Marcos, Juninho, Márcio, José Luis, Francisco, Edson e Ewaldo. Muito obrigado a todos, pois com certeza sem a colaboração deles, esta matéria seria inviável.




sábado, 11 de julho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - QUERO QUERO














Também conhecido pelos nomes de “téu-téu”, “terém-terém” e “espanta-boiada”, de acordo com a região do país, o quero-quero, cuja denominação científica é Belonoppterus cayennensis, é ave de características muito especiais. Vamos conhecê-lo.











Este elegante e empertigado habitante das grandes campinas úmidas e dos espraiados dos rios e das lagoas, caracteriza-se bem por ter algumas penas longas na região posterior da cabeça e um esporão encarnado no encontro das asas. O colorido geral é cinza-claro, com ornatos pretos na cabeça, peito, asa e cauda; as coberteiras menores das asas são verde-metálicas, as maiores e a barriga são brancas; o bico e as pernas destacam-se pela cor vermelha.
Sua voz diz claramente as duas sílabas que lhe valeram as denominações onomatopeicas, gritadas com timbre quase metálico. As capivaras tiram bom proveito com a convivência com o quero-quero; pastando no campo, elas prestam atenção aos gritos da ave e quando, pela entoação característica, percebem que o clamor denuncia a aproximação do caçador, prontamente os grandes roedores se refugiam nas águas. Relatou o Dr. Sérgio Meira Filho que em seu aviário várias vezes tirou prova de que esta ave perscruta a terra, batendo com o pé. Quando percebe algo que lhe pareça suspeito, insiste na auscultação, tateando fortemente ora com um, ora com outro pé. Finalmente, convencida de ter achado o que procurava, escava a terra e infalivelmente o bico arranca de lá uma minhoca. Como explicar tal agudez de sentido e como interpretar essa auscultação?
São aves briguentas, que provocam rixas com quaisquer de outra espécie, habitantes das mesmas campinas; a própria ema é atacada, às vezes por um casal apenas, mas com tal insistência e petulante violência, que a grande ave, disposta a princípio a não ligar-lhe importância e procurando afugentá-los com movimentos bruscos de cabeça e das asas, por fim se vê obrigada a correr quase meia légua, para livrar-se dos importunos atormentadores.
O. Monte (Alm. Brasil, 1926) relata que no norte o matuto, na sua gíria, diz que “tem sono de ‘téu-téu’ quem acorda facilmente, com qualquer rumor”.
Bibliografia:


Dicionário dos Animais do Brasil

Rodolpho Von Ihering     

sexta-feira, 10 de julho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - APAIARI




















Peixe de carne bastante apreciada, o apaiari pode ser encontrado na Amazônia e em represas do nordeste e do sudeste, onde foi introduzido na década de 30. Vamos saber mais sobre esta popular espécie.












O apaiari é originário da Bacia Amazônica e seu nome científico é Astronotus ocellatus, família Cichlidae (a mesma do tucunaré). De cor verde-escura, apresenta manchas vermelhas pelo corpo e sua cauda é ornamentada com um ocelo escuro. Normalmente atinge cerca de 1 kg de peso e 30 cm de comprimento, sendo sua carne bastante saborosa. Além de quase não possuir espinhas, é muito nutritiva em função do acúmulo de proteínas. O apaiari apresenta crescimento precoce, e sua reprodução inicia-se com um ano de idade, quando as desovas ocorrem quatro vezes por ano. Os ovos são aderentes e por esta razão a desova se dá sobre superfície duras. O casal protege não apenas os ovos, mas também os filhotes até um certo período da vida. Após o nascimento, as larvas são colocadas em uma pequena cavidade na terra feita pelos pais, onde ficam até principiarem a nadar.
Os apaiaris vivem em cardumes, em águas cuja temperatura varia entre 20 e 30°C, morrendo a temperaturas abaixo de 10°C. É espécie onívora, alimentando-se de pequenos peixes como as piabas e lambaris, além de insetos. São pouco exigentes quanto à oxigenação da água, podendo viver em pequenos lagos e açudes.  Encontra-se disponível para o pescador amador todo o ano, especialmente na primavera. Seus pesqueiros favoritos são as margens com capim, galhadas, pedras ou tranqueiras. Pela manhã costuma ficar oculto, sendo o final da tarde o melhor horário para a pesca, pois é quando inicia suas explorações em busca de alimento. O equipamento recomendado para a pesca do apaiari é o de categoria leve, composto por vara simples  com molinete ou carretilha, linha de bitola entre 0.25 a 0.30 mm e pequenos anzóis. As melhores iscas para fisgá-lo são o lambari, o pitu, a minhoca, insetos e até mesmo camarões e moluscos. Como isca artificial, usa-se jigs, spinners, colheres e plugs de superfície e meia-água. O apaiari é também conhecido como acará-açú, acará-grande, apiari, bola-de-ouro, cará-açú, cará-grande, corró-grande, corró-baiano, corró-chinês e dorminhoco, este ultimo porque à noite cessa completamente sua atividade, chegando a ficar deitado nas margens em águas rasas, próximo a pau e pedras.

NOTA DA REDAÇÃO: Perceberá o leitor de que não colocamos entre os sinônimos do apaiari, a palavra “oscar”, já que são muitas pessoas que usam tal nome, erroneamente, visto que esse peixe é da Bacia Amazônica, portanto de "nacionalidade brasileira" ou sul americana. Está mais do que na hora, de defendermos o que é nosso, e principalmente em nomes de peixes, pois é puro esnobismo, tratá-los por “nominhos bonitinhos”. Aí está o nosso tucunaré, que nos EUA é chamado de peacock bass e que, alguns pescadores brasileiros usam tal nome, para defini-lo. O que lamento profundamente tal atitude.


sexta-feira, 3 de julho de 2015

ESPECIAL - DOURADO VIDA E MORTE











O “rei do rio”, o dourado, é mostrado aqui em todo seu desenvolvimento, maturidade, destruição e migrações. Seu futuro está gravemente ameaçado. Veja porquê.


MANUEL PEREIRA DE GODOY


















A primeira referência sobre o dourado feita pelo homem branco data de 1542, quando Cabeza de Vaca, na sua volta, por terra, de Assunção (Paraguai) para São Vicente (SP), encontrou no rio Paraná um excelente peixe para sua alimentação: o pirá-yuba (peixe amarelo), e o melhor pedaço era sua cabeça, da qual se extraia um óleo medicinal.
O dourado (Salminus maxillosus – Pisces, Cahracidae) é uma espécie ictiológica nativa da bacia do rio Paraná, envolvendo, naturalmente as bacias dos rios da Prata, na Argentina, Uruguai e Paraguai, e envolvendo o Paraguai e o Brasil através do Pantanal do Mato Grosso. A primitiva área natural e total para a distribuição do dourado abrangia cerca de 3.209.000km2, na grande bacia do Prata, na América do Sul. Somente a área brasileira da bacia do rio Paraná possuía cerca de 1.415.00 km2 e em boa parte dela o dourado ainda está presente. Esta mesma espécie existe também na bacia do rio Paraíba do Sul, envolvendo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, porém como espécie introduzida por nós em 1945, através de dois lotes com jovens douradinhos de 25 cm de comprimento, originários do rio Mogi Guaçu (SP): um lote de 250 exemplares foi lançado em Pindamonhangaba (SP) e outro igual em número e porte, na região de Guaratinguetá (SP), totalizando 500 peixes. Em 1947 já foram apanhados primeiros exemplares adultos e a partir de 1948 começaram a aparecer, com alguma frequência, em vários mercados de cidades do vale do Paraíba do Sul, fato que pudemos constatar em 1949 e 1950, e em anos posteriores.

                                                          O  ciclo da vida

A evolução normal do ovo de um dourado demora aproximadamente entre 22 e 23 horas (em água com temperatura entre 23 e 24 C). A larva com dois dias de vida livre já tem os olhos bem pigmentados, as narinas e a bexiga de gás; os ololitos são visíveis, e as nadadeiras peitorais já se movimentam. No quinto dia de vida livre a larva já possui as nadadeiras ventrais, a nadadeira anal e a nadadeira caudal esboçadas, que só no décimo dia se apresentam mais nítidas. Com quinze dias já tem as escamas. Com 21-22 dias de vida livre o dourado já é um alevino com 5 cm de comprimento total (em média). Acompanhe a belíssima sequência de fotos que mostra a evolução do dourado.

                                                             

                                  

           







A VIDA EM EVOLUÇÃO

De 23 minutos até 1 h e 29 min de vida.









FORMAÇÃO DA MÓRULA E DA BLÁSTULA

                 2h e 10 min de vida, até 4 h de vida.










A LARVA COMEÇANDO A SE DEFINIR

          12 h e 40 min de vida até 17 h e 56 min de vida.






             DESENVOLVIMENTO DA LARVA
                19h de vida até 20h e 30 min de vida.






                                                                                      




A EVOLUÇÃO SE COMPLETA
     10h de vida livre até 21 h de vida livre.











Num estudo estatístico realizado no primeiro semestre de 1959, foi constatado que pelas balanças dos mercados de cidades do mencionado vale, haviam passado 1.670 dourados, provando tal evidência que em 5 anos (1945 – 1950), o dourado havia se adaptado e se reproduzido no novo “lar” adotivo. O rio Paraíba do Sul tem cerca de 1.053 km de extensão e o dourado praticamente dominou toda a bacia paraibana e entre 1950 e 1969 colhemos muitas informações a respeito dos dourados do Paraíba do Sul. Um dos pescadores informantes nos escreveu que havia pescado grandes dourados na região de Campos (RJ), no rio Paraíba do Sul, com pesos que variavam entre 10 e 20 quilos. Observou-se ainda que na foz do rio, junto ao oceano, os dourados entravam na água salobra para comer sardinhas. O dourado é um peixe magnifico na sua forma, na sua coloração amarela-alaranjada-ouro e na sua arte de dominar os rios com suas corredeiras e saltos. Na bacia superior do rio Paraná, onde há muitas corredeiras, saltos e outros desníveis fluviais, as necessidades das amplitudes migratórias do dourado alcançam 600 km subindo os rios antes das desovas e 600 km descendo pelas mesmas vias fluviais, na “rodada”, depois da reprodução. A razão de tais migrações é a necessidade da satisfação de seus dois instintos básicos: o da conservação da vida (à procura de águas apropriadas, boas temperaturas e alimento) e o da reprodução, visando a preparação dos seus órgãos sexuais e o próprio ato reprodutivo: as desovas.


Já no médio e baixo rio Paraná e no rio da Prata, na Argentina, onde as águas são calmas, não há corredeiras e nem saltos, como demonstraram os trabalhos de marcação de peixes realizados no país, pelo Dr. Bonetto. Lá, os dourados compensam as águas calmas com a necessidade das migrações ampliando em 2,5 vezes mais (1.500 km), quando comparamos com os dourados que migram da bacia superior do rio Paraná, no ecossistema Mogi-Pardo-Grande, como ficou evidenciado pelos 10 anos consecutivos de marcações de peixes realizados por mim entre 1954 e 1963 e cujos resultados foram obtidos até 1971. Amigo pescador, amador ou profissional: a pesca é um direito seu, é um privilégio que a natureza lhe concedeu para seu prazer, para seu paladar, para sua saúde e bem estar, através de uma alimentação saudável como a proporcionada por um peixe de rio como o dourado, quando apresenta normalidade nas características da sua carne, visando o consumo humano. Entretanto, o que assistimos hoje, de norte a sul, é o envenenamento das águas através de metais pesados como mercúrio, através de agrotóxicos da agricultura que com as chuvas alcançam rios e lagoas marginais, através dos esgotos urbanos e industriais. As matas, sobretudo as marginais, são destruídas a despeito das leis e do Código Florestal. E o peixe, no sentido lato, necessita da floresta, precisa da mata ribeirinha, precisa da lagoa marginal (que o próprio Governo Federal incentivou para sua destruição, através de um programa do Ministério da Agricultura chamado “Pró-Várzea”...) para continuar sobrevivendo e para cumprir sua missão ecológica, como a destruição de larvas de insetos aquáticos aos milhões (como pernilongos, borrachudos etc.) que causam graves doenças humanas e animais. 

É por tal razão que os tamanhos mínimos para a pesca do dourado se situam entre 40 e 42 cm de comprimento total. Antes desses valores os dourados fêmeas ainda não deixaram descendentes no rio e merecem continuar vivendo. Assim, se torna importante a conscientização do pescador em relação à vida e continuidade dos peixes em geral. A pesca racional, dentro do respeito às leis da natureza e dos homens é um direito natural à alegria humana e ao prazer à mesa. Todavia, reconhecemos, não é tão somente o respeito a tais medidas e pesos que vai garantir ao dourado e aos outros peixes a sobrevivência, pois também depende das águas naturais, da sanidade de tais águas, das matas e das lagoas marginais. O dourado é um peixe de piracema. É reofílico, isto é, precisa da correnteza dos rios durante sua vida toda. Precisa de dois “lares”: um de alimentação, crescimento e engorda e outro para sua reprodução. E entre esses dois lares, precisa de vias migratórias, permitindo seu desenvolvimento sexual e a própria desova.
O setor elétrico e as barragens, impedindo as necessidades migratórias dos dourados e de outros peixes de piracema decretam seu desaparecimento e morte. Dos 3.209.000 km da área original e primitiva, na Bacia do Prata, um terço já está destruído graças às grandes barragens (sem passagens de peixes, como as escadas) dos rios Grande, Paranaíba e Paranapanema (no Brasil) e no rio Paraná (na Argentina) até Apipé Yacyretá. Isto vem ocorrendo há 40 anos e em nível crescente. Mais 40 anos pela frente, com o descaso de muitos pela natureza (sobretudo por parte de muitos do setor elétrico), e não restará ao dourado e a outros peixes mais do que um terço da primitiva área do seu grande lar natural, em prejuízo da nossa riqueza, da nossa história e da nossa própria vida.



O peixe está aí, ainda, para nossa alegria e satisfação (até quando?): prazer para nossa visão, para nossa satisfação espiritual e material através da recreação e do consumo de um alimento sadio e valioso. E mais: como excelente material de estudos e pesquisas. Você, pescador amigo, sabia que o dourado desova na correnteza dos rios e uma única vez por ano? Sabia que só desova quando sente que o nível dos rios está subindo e nunca quando está descendo? E que milhões de ovos de dourados e outros peixes, após as desovas e as fecundações são levados pelas correntezas para as lagoas marginais, para a incubação e o nascimento das larvas? Há um binômio inseparável na vida dos dourados: o rio e a lagoa marginal. Para a incubação, os ovos do dourado necessitam das águas calmas das lagoas marginais, do seu calor, do fito e do zooplâncton (micro alimentação) para as larvas e que, quase que somente, se formam nas lagoas marginais.
Cada larva de dourado nasce com 3,5 mm de comprimento e ela precisa das águas calmas das lagoas marginais para completar sua primeira formação, fora do ovo: completar o esboço das suas nadadeiras e deixá-las funcionais; formar o maxilar e a mandíbula, com os primeiros dentinhos e concluir a absorção do saco vitelino (que traz do ovo).  Só depois de umas 20-24 horas a pequena larva começa a nadar livremente e comer o seu plâncton. E na lagoa marginal a larva se transforma em alevino e com cerca de 4-5 meses de vida e um comprimento de 10-12cm, em maio, ainda com a lagoa marginal se comunicando com o rio, os jovens douradinhos, em boa parte, retornam ao rio de onde vieram como ovo e, daí em diante, continuam, a viver até a morte, no meio fluvial, migrando sempre. Os machos alcançam a maturidade sexual após o segundo ano de vida, quando medem cerca de 26-28 cm de comprimento total e pesam entre 220 e 300 grs. E morrem mais cedo, comparados as fêmeas, vivendo cerca de 7-9 anos. O dourado fêmea somente se reproduz após o terceiro ano de vida, medindo entre 30 e 38 cm de comprimento total e pesando cerca de 400 a 500 g, com grandes valores médios. Uma fêmea de dourado pode viver cerca de 25 anos, quando atinge 116 cm de comprimento total e pesar 31,6kg como registramos em 1947, no rio Mogi Guaçu, em Porto Ferreira (SP).




NOTA DA REDAÇÃO: Eu tive a honra de ser amigo e conviver com Manoel Pereira de Godoy, por alguns anos. Uma amizade sólida, onde nossos principais assuntos eram sempre sobre meio ambiente. Longos papos batíamos em sua casa em Pirassununga, inclusive onde ele tinha um Museu de Arqueologia próprio. Tive a honra de assessorar Manoel, em alguns trabalhos, sempre como um amigo/jornalista, como foi o caso de um trabalho em Sacramento (MG), onde uma barragem hidroelétrica estava sendo construída. Tenho em minha biblioteca, vários livros autografados, de sua autoria. Pouco dele se fala ou se conhece da obra de Manoel Pereira de Godoy (22/04/1922 – 14/10/2003), mesmo ele tendo recebido o prêmio ROLEX DE MEIO AMBIENTE NA SUIÇA. Este artigo mostra “um pouco” de quem foi este grande homem. Saudades eternas.

Antonio Lopes da Silva