sexta-feira, 28 de julho de 2017

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - STANLEY












A Stanley Indústria de Artigos para a Caça e Pesca é uma indústria de São Paulo. Há 23 anos no ramo, tem como linha de fabricação principal suas colheres (21 modelos), molinetes e cabos para revólver. Seu presidente, Umberto Berno, adota o lema “de pescador para pescadores” e é quem cuida pessoalmente do controle de qualidade de seus produtos.



Publicidade da Stanley na Aruanã 


Umberto Berno, da Stanley

“Nossos produtos - diz Berno - são fabricados para atender às exigências dos pescadores, e na medida do possível, adaptar esses mesmos produtos a suas necessidades, visto que em pesca sempre estamos aprendendo e inovando”. “Por exemplo: é para nós uma questão principal conhecer quais as características do mercado em todo o Brasil, visto que, pela extensão de nosso território, os peixes do sul nem sempre são os mesmos do norte. Assim sendo, temos que adaptar nosso material de pesca às exigências dos pescadores desses locais”. “Um outro ponto que faço questão de ressaltar é sobre o molinete SR450. Desde sua criação, há seis anos, passamos por diversas modificações para adapta-lo e melhora-lo, procurando sempre inovar e aperfeiçoar suas qualidades”. “Essa preocupação – continua Berno – se dá em vista da fartura de peixes de nosso país, praticamente em todos os estados. E nós, que fabricamos produtos para a pesca, temos que estar sempre fazendo o melhor, pois é inevitável que os pescadores amadores brasileiros se tornem cada vez mais técnicos em seu esporte ou lazer, e, portanto mais exigentes”. A reportagem da Aruanã quis saber do Umberto se ele é um pescador amador. Diante da resposta afirmativa, quisemos saber quais são os seus peixes favoritos e quais seus métodos de pesca. Ele diz: “Sem dúvida, o peixe que mais me emociona é o robalo e o método que utilizo é o sistema de lance e corrico, logicamente com as colheres Stanley”. Nesta parte, visivelmente emocionado, o pescador Breno ressalta que nas viagens pelo Brasil, feitas periodicamente para atender compromissos profissionais, é estimulante ver pescadores amadores usando seus produtos. 

Produtos de fabricação Stanley

Os rios visitados por Berno ficam todos no Estado de São Paulo, e dentre eles os preferidos são o velho Casqueiro (hoje quase extinto) e o rio Guaraú, em Peruíbe. Seus maior peixe foi um robalo de 3,2 kg. “Mas já fisguei muito peixe grande, que pelo material leve que usamos, quase nunca conseguimos embarcar” – frisou ele. A Stanley tem suas instalações à Av. Jurema, nº 90, aqui na capital paulista, e atende também pelos telefones 241-6771 e 533-4037. “Todos os produtos são garantidos pela fábrica, e no caso de qualquer necessidade de assistência técnica, deverá o produto ser até nós pelos revendedores onde o pescador o adquiriu. Nós damos garantia total” afirma Umberto Berno. Na área de novos lançamentos, o pescador amador pode esperar para muito breve um novo molinete, de tamanho pequeno, com carretel externo e iscas artificiais em formato de plugs, fabricadas em plástico. Todos esses projetos são desenvolvidos pela Stanley com moldes e ferramental feitos na própria fábrica e calcados no “know-how” de muitos anos de mercado. Para finalizar, Umberto Berno diz que a Stanley “está de portas abertas a todos os pescadores amadores, aceitando sugestões para a criação de novos modelos em iscas, no formato ou nas cores, porque o pescador amador muitas vezes chega a pintar nossas iscas com cores que ele mesmo descobriu, e obtém grande sucesso em suas pescarias. Por que nós, que fabricamos essas iscas, não atendemos a essa inovação, que sem dúvida irá beneficiar a muitos outros pescadores?” Aí está, portanto, o personagem de nosso QUEM É QUEM, desta edição, que, antes de ser um fabricante de artigos para a pesca, é com orgulho um pescador amador brasileiro.

Publicada na Revista Aruanã Ed.nº6 em 08/1988

sexta-feira, 21 de julho de 2017

DICA - ONDE PESCAR NO INVERNO















Represa





Com a chegada do inverno parece que há uma considerável diminuição no ânimo de todos nós para pescar, causada pelas más condições de tempo e mesmo pelo frio muito intenso em algumas regiões do Brasil. Mas deixando de lado a questão do ânimo, será que o frio atrapalha mesmo uma pescaria?





A tilápia hiberna no inverno

A resposta para a pergunta feita na abertura dessa matéria pode ser resumida em um simples “não”, porém alguns fatos devem ser observados, e vamos agora comenta-los e mostra-los ao pescador amador. Começamos então por dizer que, se o pescador gosta de pescar tilápias, deve se lembrar que com o frio a ação desse peixe irá diminuir consideravelmente, pois essa espécie costuma hibernar. Pois bem, aí está uma pescaria que é atrapalhada pelo inverno. Então o pescador que costuma frequentar as represas (pesqueiros ideais de tilápias) vai ficar sem pescar durante o inverno? É evidente que não, já que na mesma represa com certeza existirão carpas, cuja melhor época de pesca ocorre justamente durante o inverno. Muda-se então de tilápia para carpa, espécie encontrada no mesmo local. 


Carpa

Porém, aqui o pescador deverá se adaptar à nova modalidade, pois se antes pescava em cevas de tilápias, agora terá que providenciar uma ceva de... carpas. Para isso deve escolher um local com profundidade média de 2 a 5 metros. Opções preferenciais serão locais com barrancos de terra ou areia onde não haja nenhuma espécie de enrosco por perto, tais como árvores submersas, capim, etc. O material a ser usado na ceva é simples de se obter. Providencia um saco de ráfia e dentro dele coloque pedaços de mandioca crua (pode também ser inteira), batata doce cozida, restos de queijo, restos de pão, etc. A fim de que o saco permaneça no fundo, colocaremos uma pedra dentro dele, após o que amarraremos sua boca com um fio forte e dessa forma estando pronta a ceva, poderemos deixa-la em um local pré-determinado, de preferência amarrada, para que os peixes não possam muda-la de lugar. 

Robalo

Com apenas quinze dias na água, essa ceva já começa a dar resultados. É importante não deixar faltar alimentação na ceva. Os peixes irão fazer buracos no saco para puxar o alimento. Quando forem muito grandes, troque o saco por outro novo e coloque mais alimentos. Pronto, você já tem sua ceva de carpas produzindo. Quando chegar ao local da para pescar, não mexa nela em hipótese alguma: deixa para verificar se há alimento e fazer as revisões necessárias somente no final da pescaria. No que se refere a iscas, faça sua massa com base no alimento que você utilizou na ceva. Assim sendo, aqui vai uma pequena receita: um pacote de farinha de  mandioca  crua, uma batata doce cozida e amassada em forma de purê e um pacote de queijo ralado. Coloque tudo em uma vasilha e vá adicionando água até dar liga. Se ficar muito mole, vá juntando farinha de trigo até obter uma boa consistência. 

Anchova

Faça essa massa na noite anterior à pescaria e guarde-a na geladeira hermeticamente fechada em saco plástico. Na hora de pescar, tire somente a quantidade suficiente para cada isca e guarde o restante da massa à sombra. Faça bolotas de massa do tamanho de um limão galego e jogue seu anzol. O material você decide, mas lembre-se de que as carpas de represa costumam ser grandes, portanto tenha sempre linha de reserva para brigar com o peixe. Use anzol ou garatéia a seu gosto e linha de nylon com bitola 0,45 mm. Um bom tamanho de anzol é o 1/0. E na praia, o frio atrapalha? Em termos de piscosidade, a resposta é não, mas ninguém discorda do fato de que é grande o desconforto de entrar na água com o frio. 

Rio de robalo

Olhete

Portanto, se você estiver em uma região onde o inverno é rigoroso, experimente mudar da praia para o costão, já que o material de pesca é o mesmo, com exceção do chumbo que em vez de pirâmide, deve ser o de formato gota. Na pesca de robalo, o frio não tem influência alguma, além disso, o inverno é tido como boa época para grandes robalos no rio, seja a pesca feita com iscas naturais ou mesmo com iscas artificiais. E o tucunaré sofre com o frio? Mais uma vez a resposta é não. A explicação é bem simples. Não se esqueça de que o tucunaré é um peixe amazônico. Sua época de desova vai desde outubro até meados de março. Enquanto cuidava da prole, sua alimentação foi bem reduzida. Agora que os filhotes já se cuidam sozinhos, ele precisa se preparar para a próxima desova. Essa preparação consiste em se alimentar muito bem, para que esteja forte o suficiente para o próximo período de reprodução. 

Costão: bom local para a pesca da miraguaia

Essa preparação irá acontecer quando? Na época de abril a setembro, portanto, no inverno. Simples não? No ar alto, temos no inverno a melhor época para a pesca de espécies bem esportivas, dentre as quais destacamos a anchova, o olhete, o olho-de-boi e até (no sudeste do Brasil) o xáreu. Essas espécies pegam muito bem na modalidade de corrico durante o inverno, mas dependendo da região, encostam também nos costões e são pescados então no sistema de bóias, ou seja, com iscas naturais logo abaixo da superfície, ou com iscas artificiais. Outro peixe característico do inverno? A miraguaia. Também pescada no costão, suas melhores iscas são a penca de mariscos, caranguejos e siris inteiros. Em alguns estados do sul, são também pescadas nas praias, principalmente naquelas onde há abundância de estruturas como pedras, barcos afundados, etc. 

Miraguaia

Até aqui mostramos que o inverno dá ao pescador, principalmente nos estados do sul e sudeste, várias opções. Pois bem. E no norte e nordeste do Brasil? Bem, nesses locais o inverno praticamente não existe, portanto as condições de pesca não sofrem alterações consideráveis. Vamos então para o centro-oeste, mais precisamente na região do Pantanal. É aqui que “a coisa” pega, e pega feio, já que muitas pescarias são perdidas devido ao frio intenso. No Pantanal, principalmente ao sul, as altas temperaturas se fazem presentes mesmo no inverno e esta é a melhor época para uma boa pescaria. No entanto, se você estiver pescando lá e chegar uma frente fria intensa, onde a temperatura, por exemplo, cai de 35 para 7 graus, meus pêsames. Sua pescaria foi completa e irremediavelmente prejudicada. Primeiro, pela queda acentuada da pressão atmosférica. Segundo, pelo frio, que fará com que os peixes fiquem em um estado semi-letárgico e deixem de se alimentar. 

Praia de tombo: boa opção para não entrar na água

Caso isso aconteça com você, o único jeito é esperar a passagem da frente fria (que pode demorar até seis dias) e quando o sol e a temperatura voltarem prepare-se, já que a pescaria vai ficar ainda melhor do que estava quando a frente chegou. Prever com precisão a ocorrência de uma frente fria é praticamente impossível, a não ser se olharmos as cartas sinópticas e fizermos a interpretação dessas cartas, levando em consideração a velocidade e a distância da frente fria, etc. Como ninguém é doutor em meteorologia, lá vamos nós contando com a sorte para nossa pescaria no Pantanal. Com a chegada de uma frente fria no Pantanal, a melhor opção mesmo é ficar no rancho ou hotel, saboreando um bom churrasco, tomando uma bebida quente e rezando para que a frente passe rápido. Estas são algumas das boas e más características da pesca no inverno, para que possamos optar pelo que for mais conveniente. Boa pescaria.


Pantanal: pesca prejudicada pela queda de temperatura 

NOTA DA REDAÇÃO: Em época de inverno, a pior opção (involuntária) do pescador amador, sem dúvida é o Pantanal, principalmente no sul, no centro e algumas regiões do norte. Na chegada do pescador, podemos estar com um dia lindo, com temperatura de 30 graus. Durante a noite, a chegada de uma frente fria, trás uma temperatura de 10 graus. Isso é o pior que podia acontecer, já que os peixes, com seu organismo perfeito, irão para uma camada no rio, onde a temperatura seja a eles mais agradável e, lá ficam parados à espera da passagem dessa frente fria, que pode demorar dois ou três dias e às vezes mais de uma semana e, não se alimentam. Ao pescador, que não teve como prever essa tal de frente fria resta torcer para que essa baixa temperatura passe o mais rápido possível, para que tudo volte ao normal. Esse é um risco que se corre, ao marcar uma pescaria com antecedência para o Pantanal, na época de inverno.


Publicado na Rev. Aruanã Ed:51 junho 1996


sexta-feira, 14 de julho de 2017

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - ASCOT






O Quem é Quem desta edição vai abordar essa empresa que se dedica, em sua linha de produtos, à segurança marítima.


Para começar, temos que voltar no tempo, mais ou menos para o início da década de 60. Naquela época, o Antonio de Castro e o Abílio Pereira da Silva, seus atuais diretores e fundadores, ocupavam um pequeno escritório na rua Conselheiro Crispiniano e estavam começando suas atividades no ramo, já que a firma original que fabricava esses equipamentos havia chegado a seu final. Daquele pequeno escritório, e a custo de muito trabalho e principalmente muita dedicação e com produtos de alta qualidade, a Arimar chegou onde está hoje, sendo seus produtos reconhecidos não só no Brasil, mas também internacionalmente, já que exportam seus coletes para diversos países da America Latina. Com aproximadamente 100 funcionários, a produção atinge, hoje, 15.000 unidades mensais, distribuídas em mais de 16 modelos diferentes.

                                             SEGURANÇA E QUALIDADE  

Em se tratando de segurança, a qualidade do produto deve apresentar-se impecável, e o colete ASCOT é tão bom que praticamente todos os navios da Marinha de Guerra do Brasil estão equipados com eles, sendo inclusive o único a ser por ela testado e aprovado. Na Arimar tivemos oportunidade de ver, na linha de fabricação, que todos os coletes são fabricados manualmente usando matérias primas flutuantes, tais como fibra vegetal (kapok), espuma de polietileno com células fechadas, espuma de PVC com células fechadas e espuma de poliuretano. Os modelos 707, bem como os demais, são feitos em partes separadas entre si, e em caso de defeito ou dano em uma das partes, as outras continuam cumprindo sua função. A fibra é escolhida e ensacada em embalagens de PVC pneumático, muito resistente e fechadas eletronicamente. Após essa operação, são colocados em embalagens finais de tecido de nylon costuradas com linhas especiais. As tiras que servem para prender o equipamento ao corpo são ajustáveis e confeccionadas em cadarços de nylon. Antes de irem para a expedição, passam por cuidadosos testes de qualidade. Dentre os modelos tradicionais de coletes, devemos destacar alguns que particularmente nos chamaram a atenção. Contrastando com os modelos militares, ali estavam os pequeninos coletes salva-vidas para recém nascidos, feitos para garantir a segurança de bebês em viagens marítimas. 

                            


Boias e balsas salva-vidas, muito usadas na Amazônia brasileira e que ervem para salvar, coletivamente, até 22 pessoas. Como a Arimar é uma firma que fabrica produtos voltados para a segurança, quis saber de seus diretores se havia alguma coisa a contar nesse sentido. O Abílio foi quem me disse o seguinte: “há algum tempo, recebemos uma carta do nordeste do Brasil, onde aconteceu este fato. Um barco de pesca, com 15 tripulantes, foi abalroado em alto mar, por um navio de bandeira estrangeira. Com o forte impacto, a embarcação pesqueira foi completamente destruída e seus tripulantes lançados ao mar. O navio nem parou e esses 15 homens ficaram a noite inteira à mercê das ondas até o dia seguinte, quando foram resgatados por outros barcos. Segundo os sobreviventes, e isso para nós é motivo de orgulho, sua segurança total foi garantida por estarem, todos, usando nossos salva-vidas.” “Por diversas oportunidades – continua Abílio – temos tido aqui em nossos escritórios outros depoimentos de pessoas que fazem questão de vir aqui para agradecer e contar fatos onde o salva-vidas teve papel fundamental e importante.”


Publicidade da Arimar na Rev.Aruanã
                                                          
                                                           REFORMAS

No setor de reformas da empresa, nós mesmos tivemos a oportunidade de ver um salva-vidas, conhecido como “salsicha”, devido ao seu formato, usado pelos homens responsáveis pela segurança dos banhistas nas praias. Em um destes modelos, estavam bem visíveis as marcas das unhas humanas a demonstrar a ânsia de viver dessa pessoa que estava se afogando e foi salva por algum herói anônimo. Vai aqui uma dica a quem tenha qualquer modelo de colete da marca ASCOT que, por qualquer motivo, foi danificado: a Arimar tem um setor especializado em reformar qualquer um de seus modelos e atende a qualquer região do Brasil, bastando apenas que o usuário mande, por intermédio de seu fornecedor, a peça danificada. O custo dessa reforma é bem baixo. Para terminar, quis saber do Castro se ele tinha alguma coisa a contar. Ele me mostrou, com orgulho, uma carta do Ministério da Marinha, onde o Comandante do Primeiro Distrito Naval cumprimentava os diretores da Arimar e fazia inclusão dessa firma como “empresa relacionada com a segurança nacional.” E mais, segundo Antonio de Castro, o custo de um colete salva-vidas e menor do que, por exemplo, o preço de uma simples camiseta esportiva. “E, em certas ocasiões, de vital importância”, finalizou ele.

NOTA DA REDAÇÃO: Até hoje é comum ver-se pescadores amadores usando coletes salva-vidas... como assento. Um absurdo já que na hora de um acidente, pouco tempo dará para vestirmos o colete da maneira correta. Podemos até admitir que se tire o colete, quando o barco estiver parado, desde que o pescador saiba nadar. O modelo citado nesta postagem, é o único que mantém, seu usuário, na posição com a cabeça para fora da água, mesmo que o pescador esteja desacordado.

                                         

Revista Aruanã Ed:5 publicada em 06/88

sexta-feira, 7 de julho de 2017

DICA - BARULHO NA ÁGUA











A todo momento, a mãe natureza nos fornece indicações de como devemos proceder para pescar bem. Mas às vezes, por pura pressa ou mesmo desinformação, o pescador não enxerga esses sinais, o que acaba lhe trazendo sérios prejuízos no decorrer da pescaria.







Acará
Imagine, prezado leitor, um mundo silencioso, com muitos esconderijos e cheio de perigos, onde o alimento é disputado todos os dias e onde por certo os mais fortes vencem a batalha constante pela sobrevivência. Esse mundo existe: é o ambiente subaquático, seja ele marinho ou de água doce. Sob a superfície das águas o silêncio é quase absoluto, pois são muito poucas as espécies de peixes que fazem ruído para demonstrar sua presença. Podemos até dividir as espécies de acordo com suas zonas de alimentação, e então teremos os grupos que se alimentam no fundo, na meia água e na superfície. Dificilmente as espécies de fundo virão à superfície para se alimentar, restando-lhes então dominar e acostumar-se com o alimento disponível em sua zona de atuação subaquática. Já as espécies de meia água, bem como as de superfície, dominam completamente suas áreas e é a grande maioria. 

Pacu
Neste ponto, vamos interromper esse raciocínio para citar alguns fatos que nossa memória registrou ao longo de muitos anos. Vamos à Represa de Guarapiranga, em São Paulo, durante uma certa pescaria de acarás. Havia um pescador, de nome Sr. Lúcio, que sempre se destacava dos demais companheiros pelos melhores resultados que obtinha em suas pescarias, pois dificilmente alguém pegava mais ou maiores peixes do que ele. Menino, lembro-me do comentário com outros garotos: “o homem tem parte com o ‘demo’”. Macumba, reza, santo forte eram outras explicações encontradas na época para justificar o sucesso do Sr. Lúcio, já que sorte não contava, pois em todas as pescarias, sem exceção, ele sempre pegava mais. Um certo dia, resolvemos segui-lo, e escondidos no mato, ficamos a observa-lo durante sua pescaria. Escolheu o local, montou suas varas de bambu com cada linha mais ou menos do tamanho da vara, anzol e chumbada. 

Tucum
Até aí nada demais, já que todos usavam o mesmo material. A isca era minhoca, e de onde ele arrancava as suas, nós também tirávamos as nossas. A maneira de iscar era a mesma, começando a enfiar a minhoca até cobrir o anzol e depois ir enrolando o resto dela, fazendo com que ficasse um “bolo”, ou mais ou menos uma espécie de “cacho” no anzol. Cinco ou seis varas era o normal. Após armar todas as varas, fez uma coisa que para nós era novidade. Com uma pequena pazinha, cavoucou o barranco atrás, de onde tirou um bom pedaço de terra. Dessa terra, vez por outra, jogava um punhado na água. Sempre tendo o cuidado de esfarela-la muito bem, para que jogando “a lanço”, essa terra caísse na frente de todas as varas ao mesmo tempo. Não demorou muito e a primeira vara puxou.  Logo, um acará de bom tamanho já estava no seu puçá. Outros se sucederam. Um novo punhado de terra era jogado e outros acarás acabavam fisgados. 

Pacus-prata
Para nós, aquilo parecia um estranho ritual e mesmo sem saber explicar porque tal coisa funcionava, passamos fazer o mesmo e nossas pescarias melhoraram sensivelmente desde aquele dia. Nunca tivemos a oportunidade de comentar o fato com o Sr.Lúcio ou indaga-lo acerca do porque de jogar aqueles punhados de terra. Falecido há muitos anos, levou para o túmulo a explicação. No entanto, muitos anos depois, a “faculdade da vida” acabou por trazer-me a explicação. Observando certa vez um acará em movimento em um aquário, chamou-me a atenção o quanto ele revirava o fundo, buscando obter o alimento que estava entre as pedrinhas e a areia. Ora, se o acará revira a terra em busca do alimento, o que dizer de um punhado de terra caindo na água, turvando-a parcialmente? O mesmo efeito é simulado, e é sinal de alimento, não é mesmo? O barulho da terra caindo era só para chamar a atenção dos peixes que estavam nos arredores, que vinha conferir, achando então a isca e o anzol do Sr. Lúcio. 

Traíra
Descoberta essa “reza braba”, comecei então ligar alguns fatos e percebi que o barulho é um fator muito importante para atrair diversas espécies de peixes. Usando os ruídos certos em nosso benefício, é de se esperar que obtenhamos resultados muito melhores em nossas pescarias. E assim começamos a identificar vários peixes que com barulho fisgam melhor. Exemplos? Vamos a eles. Há muitos anos usamos o tucum na batida para a pesca do pacu e o resultado é sempre sensacional. Pescar de “tucum na batida” significa ir batendo o coquinho iscado na superfície da água, como se ele estivesse caindo do coqueiro naquele momento. Muitas vezes chegamos a observar o pacu sair debaixo do camalote, às vezes numa distância de até dez metros e vir fisgar em nosso anzol. Se não fosse o barulho do coquinho, esse peixe viria até nosso anzol? A resposta é óbvia. A pesca da traíra e muito mais produtiva se pegarmos uma isca natural e com ela fizermos barulho, batendo na superfície da água. 

Lula artificial
Alguns dizem que a traíra se “irrita” com o barulho e fisga... de raiva! É claro que não é verdade. O que ocorre é que a traíra, ao escutar os ruídos, vem conferir, acha então a isca (na maioria das vezes um pequeno peixinho) e a ataca. Se não tivesse o tal barulho, muito provavelmente traíra ficaria atrás do capim ou outra tranqueira qualquer, esperando que o alimento (natural ou artificial) passasse por perto dela. Faz sentido, não e mesmo? Um outro exemplo são os frutos de árvores às margens dos rios e lagos, que caem diretamente na água. Achando uma árvore dessas, pegue alguns desses frutos e utilize-os como iscas. Veja os resultados. Tilápias, pacus-prata, matrinchãs, pacus, pirapitingas, tambaquis e tantas outras espécies frugívoras, que ficam nas imediações dessas árvores à espera da queda dos frutos, serão irresistivelmente atraídos pelos ruídos na água. A propósito: procure imitar com perfeição o barulho ocasionado pelo fruto ao cair na água naturalmente. 

Sailfish
E assim fomos vivendo e aprendendo na velha “faculdade da vida”. Um dia, as iscas artificiais entraram em nosso “currículo”. Quando começaram a aparecer no Brasil (isso mais ou menos trinta anos), eram usadas principalmente para a pesca na modalidade de corrico. Até hoje são obtidos ótimos resultados nessa modalidade. Mas um dia percebeu-se que utilizando iscas artificiais em lances de superfície, fazendo barulho na água, a pescaria ficava muito mais produtiva. Nomes como poppers, sticks, zaras e outros atingiram muito sucesso. A prova final é jogar uma isca de superfície na água e ao invés de provocar barulho com ela, apenas vir puxando-a lentamente em silêncio. Dificilmente algum peixe será atraído ou fisgado. Outro exemplo? Vamos nos deslocar para a água azul. Em uma embarcação oceânica, usamos como atrativos os teasers, cuja função principal é fazer barulho atrás da popa. Lulas artificiais vêm fazendo evoluções na superfície da água. Iscas naturais como o farnangaio vêm também dando pequenos saltos na superfície. 

Farnangaio – isca natural
E tome barulho. O resultado de tanto barulho são sailfishes, marlins brancos ou os grandes marlins azuis, além de atuns, albacoras, olhetes, anchovas, olhos-de-boi, barracudas, etc. Agora, deixando a água azul, vamos para algum pequeno riacho no interior de qualquer estado do Brasil. Existem pescadores que pescam lambaris utilizando como isca um pequeno inseto chamado siriri, ou então um outro um pouco maior, conhecido pelo nome de içá ou vitu. O equipamento é uma simples vara de bambu, linha fina e anzol pequeno, sem chumbo, fazendo o inseto bater e permanecer na superfície da água. É o chamado “fly caipira”, modalidade sensacional da pesca de lambari. Vou repetir: apenas fazendo o inseto bater na superfície da água. Pois é prezado pescador, agora já vamos dando por encerrado esse assunto e o artigo, pois a esta altura, você já deve ter percebido onde queríamos chegar. Viva o barulho e boa pescaria. Em tempo: na pescaria, o barulho certo é o que se faz na água imitando com perfeição a queda de um fruto, inseto ou as evoluções naturais de um pequeno peixe. Qualquer outro tipo de barulho, além de não pegar peixes, acaba por assusta-los e afasta-los de nossas iscas. Afinal de contas se barulho resolvesse, era só contratar uma banda de música, de preferência tipo fanfarra de escola, com bumbos e caixas, para nos acompanhar em nossas pescarias.



                                                      Revista Aruanã Ed. 51 -Publicada em 06/1996