O saci incorporou-se ao folclore e lendário nacional, fixando um marco
indissolúvel de casos e histórias relacionadas com sua existência. Saci pererê
é um conhecido negrinho de uma perna só, com sua clássica carapuça vermelha e
apaixonado fumante de pitos. O saci tornou-se um mito clássico no folclore
brasileiro, chegando a preocupar os intelectuais. Houve uma série de
inquéritos, a fim de averiguar o prestígio deste “negrinho” buliçoso que se
perpetuou e integralizou dentro do lendário nacional. O saudoso Monteiro
Lobato, nos idos dias de 1947, lançava num jornal da Paulicéia uma série de
estudos brasileiros. Denominou-a de “Mythologia Brasilica” e curiosamente
assinava com um “L”. Foi precisamente no dia 28 de janeiro de 1927, um domingo,
e o jornal era “O Estado de São Paulo”. Após a introdução humorística, típica
do gênio do saudoso Lobato, ele nos fornece esses ensinamentos. “Das nossas
criações populares, a mais original é o saci pêrere. Vem do autóctone que lhe
deu o nome atual, corruptela de çaa cy
perereg,... O mestiço meteu nele muita coisa de seu”. Da corruptela sofrida
podemos assim expressar o significado: çaa cy = olho mau; perereg = saltitante.
Sua variação etimológica é curiosa e variada, bem como sua forma. No sul, na
sua gênese, o saci prima por uma forma típica de negrinho, de uma perna só, com
a carapuça vermelha, muito buliçoso, na maioria dos casos com aspecto de
menino. Pequenos detalhes atrofiam sua forma, variando conforme a região. Ele
sofre algumas modificações marcantes atribuídas pelos caboclos das regiões
paulistas e paranaense: ora é um caboclo, ora é um menino (conserva sempre a
característica acima descrita); alguns afirmam vê-lo lustroso, outros peludos.
Seu aparecimento em geral é noturno. Num belo estudo comparativo, Barbosa
Rodrigues fornece detalhes de suas variantes. Oportuno torna-se descrevê-lo:
“No Rio de Janeiro, onde a onda negra mais estragos fez, onde pelos sertões o
cancro da escravidão mais tem corroído, o çacy
tapererê, que por uma síncope passou a ser sapererê e que os negros fizeram
sererê e siriri, tomou a cor negra e usou barrete vermelho, que os africanos
recebiam nos armazéns do Vallongo, do Caju e nas costas Marambáia. Assim çacy passou a molequinho coxo ferido nos
joelhos, porém mais ativo do que o caboclo”.
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