Mais uma vez, nossa equipe vai até o Pantanal viver uma
aventura em uma nova rota, que pode, agora, ser percorrida por todos os
pescadores amadores. Acompanhe-nos nessa narrativa e divirta-se. Vale a pena!
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Nossa equipe da esquerda para a direita: Antonio, Aluísio,
Renato e Tonhão
O rio Paraguai Mirim era o ultimo dos desafios para que nossa
equipe concluísse, praticamente, todo o Pantanal matogrossense. Somando-se os
350 km desse percurso às quilometragens de todos os roteiros anteriormente
publicados, chegamos à marca de mais de 6.000km percorridos em rios
pantaneiros, desde a nossa primeira aventura. Em princípio parecia fácil, pois
350 km é um trecho bastante pequeno em comparação a algumas de nossas
aventuras. Porém, várias surpresas estavam reservadas para nós. Além de mim,
faziam parte da equipe o Renato Decenzo de Corumbá – (NR:
filho do Zimbo, que infelizmente está no céu junto com ele), o piloteiro
Aluísio e o cozinheiro Tonhão. Antes de sair rumo ao Paraguai Mirim, permita-me
dizer como foi minha viagem até Corumbá, ou melhor, em um trecho em particular:
os últimos 12 km antes de chegar ao Passo da Lontra.
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Os buracos na estrada
Realmente, é uma vergonha o governo de Mato Grosso do Sul
permitir que essa “estrada” continue do jeito que está. Dizer que ela tem
buracos é muito modesto. O melhor é afirmar que o asfalto, em metros, é mais
fácil de medir do que o tamanho dos buracos. Demorei cerca de 1h20 para cumprir
esse trecho, sem contar que os barcos que estavam amarrados na carreta quase
caíram, tantos foram os trancos. Vai ver que é uma “estratégia inteligente” do
governo sulmatogrossense para “preservar” o Pantanal, já que daqui a pouco
ninguém mais vai conseguir chegar até esse local através da rodovia. O pior é
que quem mora lá também não vai conseguir sair. Fico a imaginar o que devem
achar os turistas que fazem esse percurso... Após o Passo da Lontra, a estrada
melhora um pouco, mas aí começa outro grande problema. Para quem andou 12km em
velocidade que não ultrapassa os 5km/hora, é inevitável aumentar a velocidade
quando a estrada melhora. Pois bem. Essa velocidade que beira os 60km/hora é o
suficiente para causar um desastre na fauna local.
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Animais atropelados
Nessa viagem, tanto na ida como na volta constatamos vários
animais atropelados, entre eles: capivaras, tamanduás-bandeira (em extinção),
sucuris, jacarés, cachorros-do-mato, lontras (em extinção), além de urubus e
gaviões que também são atropelados enquanto devoram as animais mortos. A caça
da maneira tradicional está proibida. Matar por atropelamento, não. Não podemos
culpar os motoristas, pois os bichos saem do mato de repente e são mortos, já
que não há tempo para qualquer reação. Só para constar, lembro-me de viagens ao
exterior, mais precisamente à Noruega e Finlândia, onde pude ver as cercas
colocadas ao longo de toda a extensão das estradas, induzindo os animais a
atravessar onde não haja perigo algum, ou seja, por passagens subterrâneas ou
pontes especiais. Exigir do governo sulmatogrossense que providencie cercas
desse tipo parece piada. Se a própria estrada já é um exemplo de abandono, que
dizer de cercas para proteger animais?
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Moradores ribeirinhos
E continua a brincadeira de ecologia, ou melhor, continuam a serem
omissas e irresponsáveis, as autoridades responsáveis pelo meio ambiente no
Brasil. Pois bem. Às 8.30h, nossos dois barcos Marfin da Levefort, estavam
carregados com cerca de 500 kg de carga cada um e prontos para partir. Nas
popas, dois motores Tohatsu, respectivamente de 30 e 40 HP. Nossa intenção era,
saindo de Corumbá, descer o Paraguai, entrar no Paraguai Mirim, percorrer toda
a sua extensão, sair novamente na boca de cima no rio Paraguai e descer por
este até Corumbá novamente, completando assim os 350 km desse percurso. Mas
havia um problema: seria praticamente impossível realizar pescarias nesse
trecho, pois havíamos recebido notícias de que nesses dois rios havia a
“decoada” (veja quadro específico sobre esse problema). Começamos a aventura e,
após 40 minutos de navegação, avistamos a foz do Paraguai Mirim. Entramos por
ele e depois de mais uma hora de navegação, encontramos o rio Negro.
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O acampamento
Navegamos ainda mais 40 minutos por esse rio até chegarmos ao
nosso primeiro acampamento. Devido às cheias, havia poucas opções de
acampamento, pois os barrancos estavam quase todos submersos. Finalmente
achamos um ponto alto e seco e montamos o acampamento. Quem conhece o rio Negro
como nós o conhecemos há alguns anos atrás, com suas águas completamente cristalinas,
estranha um pouco... agora, suas águas são barrentas e a correnteza é bem mais
forte. A explicação é simples: em outra aventura percorremos todo o Taquari, e
naquela ocasião denunciávamos que o rio estava sendo assoreado. Pois bem, essa terra veio descendo e a saída
do Taquari no rio Paraguai, perto do Porto da Manga, foi bloqueada. Restou
então ao Taquari abrir uma nova passagem para suas águas, que correm agora em
direção ao rio Negro, alagando grande parte de terreno outrora bom e seco.
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Rio Negro
Com esse alagamento, milhões de árvores morreram, estando
hoje seus “esqueletos” de galhos secos a apontar para o céu. É uma visão
aterradora, parece que aquelas tristes estruturas estão a invocar o céu pedindo
proteção, denunciando e confirmando que as autoridades do meio ambiente em
nosso país são uma piada de muito mau gosto. As fotos desta edição dizem mais
do que mil palavras. Vamos em frente. Montamos nossas barracas Coleman tipo
Iglu, e desta feita contamos com mais uma comodidade: os colchonetes infláveis
Coleman, que tornaram nossas noites muito mais confortáveis. Às 4h00 da tarde
estava tudo pronto e restou-nos apenas começar aquela “vida dura” de pescaria.
Sabíamos de antemão que Pantanal “subindo” (e o nível das águas esteve subindo
muito) não é o ideal para a pesca. Mas uma revista séria e honesta como é a
Aruanã tem a obrigação de realizar seus roteiros com antecedência suficiente
para possibilitar que a publicação da matéria coincida com a época boa, que
será a partir do mês de abril.
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Foz do rio Paraguai Mirim
Afinal, de que adiantaria irmos para lá na melhor época e
publicar a matéria depois que ela tivesse passado? O importante é oferecer ao
nosso leitor a melhor oportunidade de ir pescar no Pantanal. Restava-nos ir
atrás do peixe mais “fácil” da ocasião: o pacu. E ele se fez presente. Nos
quatro dias em que estivemos no rio Negro, fisgamos vários pacus na modalidade
de batida com isca de tucum, todos dentro do limite de captura. No segundo dia
aconteceu uma coisa inédita, que confirma a sina de pescador, pois se contada,
todos vão dizer que é mentira. Mas já que tenho os companheiros de equipe como
testemunhas, vamos ao fato. Descíamos batendo nossas iscas no rio Negro quando,
perto de um corixo de águas limpas, um peixe fisgou e após uma breve briga ele
saltou e se mostrou: um dourado. Pois é, prezado leitor, acredite se quiser,
mas afirmo que em mais de 30 anos de pescaria no Pantanal, pela primeira vez
fisguei um dourado em isca de tucum na modalidade de batida.
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Barco em movimento
Esse foi o único.
Outra coisa nessa viagem que nos chamou a atenção aconteceu quando o Aluísio
sugeriu que entrássemos nos corixos rasos atrás dos pacus. Para se ter uma
idéia, a profundidade desses corixos era de pouco mais de um metro. Nesse caso,
a batida da isca tem que ser diferente, pois assim que ela toca no fundo – e
isso é rápido – deve-se tira-la e bater novamente. É diferente do rio, onde
após a batida deixa-se a isca afundar para só depois tira-la para nova batida
quando a linha da vara de bambu começa a entrar por baixo do barco. No raso,
apesar de ser muito mais trabalhoso, quando o pacu ferra é sensacional, já que
ele briga mais para os lados. Graças ao Aluísio aprendi mais essa dica, o que
vem confirmar que, em matéria de pescarias, quanto mais se vive, mais se
aprende. Passamos nesse acampamento quatro dias maravilhosos e tomávamos banho
nos corixos, onde a água ainda é cristalina. Muitos pescadores conhecem as
cenas exibidas na televisão sobre a região de Bonito.
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Palmito
Pois bem, os corixos do rio Negro têm suas águas tão limpas
quanto os de Bonito. Do barco, basta olhar para a água para avistar várias
espécies de peixes em profundidade que chegam a mais de cinco metros. É mesmo
um aquário natural com plantas subaquáticas de várias cores, num espetáculo de
rara beleza. A partir de abril, recomendamos aos pescadores que forem ao rio
Negro que pesquem, principalmente, nas corredeiras (existem muitas), pois a
presença de dourados e pintados é maciça. Restarão também os pacus que, nessa
época além da pesca de batida, poderão ser fisgados com o barco apoitado usando-se
o caranguejo como isca. Para o dourado e o pintado, três iscas são
recomendáveis: jeju, tuvira e iscas brancas (sardinha, lambari, piau, etc), além lógico, das artificiais com barbela. Feito
o acampamento, restava-nos seguir viagem para mostrar o percurso total do
Paraguai Mirim, que é um rio de excelente piscosidade. Nessa viagem, como já
havíamos dito a “decoada” atrapalhou totalmente a pescaria.
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Destruição da floresta
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Pacu
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Encontro das águas dos rios Negro e Taquari
Segundo nossos
piloteiros, de onde estávamos até a entrada do Mirim no Paraguai gastaríamos
cerca de 3 horas. Mal sabíamos o que nos esperava. Seguimos tranquilamente,
quando de repente o rio fechou. Moitas e moitas de camalotes trancavam
totalmente o leito do rio. Confiantes na própria experiência, os piloteiros
afirmavam que conseguiríamos passar. Restou-nos ficar calados e esperar para
ver no que aquilo ia dar. A “operação rio limpo” começou. No Marfin da frente
estavam o Aluísio e o Tonhão, enquanto eu e o Renato ficamos no barco de trás.
Os piloteiros colocavam os remos em cima do camalote, pisavam neles para maior
sustentação e empurravam o barco pelo meio das moitas. Quando venciam mais ou
menos dez metros, uma corda que unia os dois barcos era puxada por nós para
alcança-los na distância percorrida. O calor era insuportável e tudo ficava
ainda mais difícil por estarmos fazendo força. Não pretendo me alongar demais
nessa narrativa, basta apenas dizer que “achamos” cinco pontos do rio
trancados.
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Tucum
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O dourado do tucum
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O beco sem saída
Os dois primeiros foram vencidos da maneira descrita, mas os
três restantes só foram vencidos graças à potência dos motores Tohatsu, que
foram submetidos a essa dura prova e saíram-se muito bem. A única preocupação
era verificar se a bomba de água estava resfriando o motor e limpar as hélices,
o que fazíamos a cada 5 metros, devido ao acúmulo de aguapés nas mesmas. Nesse
ponto, é importante dar um crédito a essa nova marca de motor de popa. Nunca, em
tempo algum, forçamos motores de popa como fizemos com esses dois Tohatsu. O
caso era que o cansaço já nos dominava a todos, e o jeito foi apelar para a
força dos motores, que suportaram tudo tranquilamente, e se isso servir como
teste de campo, os Tohatsu foram aprovados sem qualquer restrição. Para fazer o
percurso que normalmente levaria três horas, acabamos gastando o dobro de
tempo. Finalmente, com o rio limpo à frente, era só acelerar e ganhar
distância. Faltava pouco mais de meia hora para sairmos no rio Paraguai, quando
tranquilamente uma sucuri atravessou o rio à nossa frente.
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Onde esta o rio?
Entreolhamo-nos e a
decisão foi unânime: vamos pega-la para fotografar. Dito e feito. Só que a
sucuri, que tinha cerca de cinco metros, já havia chegado perto da margem e
estava enroscada nos galhos de uma árvore caída. Três de nós a agarramos pelo
rabo e tentamos arrasta-la para o rio. Esse “braço de ferro” durou cerca de dez
minutos, atestando a força descomunal da cobra. Fora da água, desde que se
segure muito bem sua cabeça, a sucuri não oferece perigo algum. Fizemos as
fotos e liberamos a cobra, que seguiu sua viagem, assim como nós. Deixamos o
Paraguai Mirim às 14h20 e exatamente às 17h30 chegávamos a Corumbá, finalizando
o percurso. Aqui vão alguns detalhes da viagem: gastamos cerca de 250 litros de
combustível no trajeto e nas pescarias. Para os futuros aventureiros,
recomendamos que se informem antes sobre as condições do rio Paraguai Mirim,
pois se ele estiver fechado a melhor opção é mesmo adiar a viagem, evitando
assim grandes problemas.
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Sucuri
Por outro lado, recomendamos o rio Negro como um excelente
local de pescaria, principalmente devido à sua proximidade de Corumbá.
Finalmente nossos agradecimentos ao Aluísio e ao Tonhão que podem ser
contatados através da Igaratá Turismo, em São Paulo, pelo telefone (011)
62-7810. (NR: A Igaratá Turismo, segundo nossas fontes
ainda opera no Pantanal, no entanto, o telefone de S.Paulo, deve ser
confirmado). Agradeço também ao Renato Decenzo, nosso companheiro de
outras aventuras. Um agradecimento ao Edgar da Igaratá, sempre presente nas
páginas da Aruanã, através dos anúncios de seu barco hotel. Se não pudéssemos
ter contado com a valiosa ajuda dele, certamente nossa viagem teria sido muito
mais difícil. Concluindo, dedico um agradecimento especial à Levefort pela
cessão dos dois barcos modelo Marfim; à Abrasu pela cessão dos dois motores
Tohatsu; à Motul Óleos Lubrificantes pelo fornecimento do óleo dois tempos e à
Coleman pela cessão das barracas e colchões infláveis. São todos produtos de
primeira linha e satisfizeram completamente nossas exigências, sendo que
podemos seguramente recomenda-los a nossos leitores.
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Publicado na Revista Aruanã ed. 56 em 04/1997
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Mais uma bela aventura, Toninho.Já entrei no Paraguai Mirim, mas na parte de cima, a partir de Corumbá. Também já fisguei, uma única vez, um peixe na modalidade de batida com tucum, mas foi um pintadinho, inexperiente com certeza... Eheheh... Abraços...
ResponderExcluirUm belo rio Marcão, principalmente se levarmos em consideração a beleza dos corixos de águas limpas e do rio Negro. Perde-se de um lado (Taquari) e ganha-se de outro (Negro). Grande abraço e obrigado
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