São muitos os itens que integram a tralha de um pescador
amador. Porém, é desnecessário dizer que o girador, além de ser um item muito
importante de nosso equipamento, merece lugar de destaque.
Isca de barbela |
Não há como precisar a data exata de quando o
primeiro girador foi fabricado e usado em uma pescaria. Consultando nossos
arquivos, verificando livros e outras publicações, podemos apenas afirmar que
ele é quase tão antigo quanto o anzol moderno, ou seja, fabricado em aço. É
conhecido por muitos nomes, mas talvez o mais sugestivo e explicativo seja
“distorcedor”. Seria essa, a princípio, a função principal do girador: evitar
que a linha de pesca seja torcida. Daí, a criatividade do pescador começou
então a achar os mais diversos usos para esse pequeno apetrecho. Alguns chegam
até mesmo, talvez por falta de informação ou por informação errada, a atribuir
ao girador funções que, no mínimo, podem ser consideradas milagrosas. Exigir
desse pequeno pedaço de metal o que dele exigem é um absurdo. Senão, vejamos.
Alguns pescadores gostam de corricar usando como isca artificial a colher de
metal. Ora, se o ato de corricar com a colher não for muito bem executado, a
mesma dará voltas e mais voltas sobre si, torcendo intensamente a linha. Os
chamados “professores (hoje existem diversos – NR: agosto/1996), passaram então a sugerir que os pescadores
fizessem um líder de mais ou menos um metro e que, a cada 20 centímetros
colocassem um girador, pois, segundo “eles”, com 5 ou 6 giradores a linha não
seria torcida. Essa afirmação é absurda, pois a despeito de qualquer número de
giradores que estejam em sua frente, a colher de pesca, quando usada
incorretamente, torcerá a linha de qualquer maneira. Quando se corrica com uma
colher, a principal preocupação do pescador deverá ser a velocidade do barco,
que deve ser estabelecida de modo que o movimento do barco faça com que a
colher dê apenas duas ou três voltas para cada lado.
Giradores em empates de aço |
Quando isso ocorre, aí sim o girador
(apenas um será suficiente neste caso) estará desempenhando sua função
primitiva e elementar: evitar a torção da linha. Muito simples. No caso de
iscas artificiais, especialmente os plugs (pequenos peixes) com barbelas, mais
uma vez somente um girador será necessário, já que se sabe que a ação principal
do plug é nadar, e nessa ação ele não executa voltas sobre si. Os mais céticos
poderiam questionar: se isso é tão normal, para que então usar o girador? É o
que vamos tentar explicar a seguir. Comecemos pelo problema do molinete e da
carretilha. Desde já, podemos afirmar que o fato de pescar com um ou outro não
determina se um pescador é melhor ou pior. Porém, é indiscutível que o molinete
tem maior probabilidade de provocar a torção da linha, já que, por sua própria
estrutura, esse equipamento mantém a linha enrolada em torno de um eixo,
torcendo-a. Com a carretilha isso não acontece, pois o enrolamento da linha
ocorre num processo reto e linear, tipo manivela de poço. No molinete, a linha
entra no carretel através da haste, a qual fica girando em torno deste. Tal
função torce a linha continuadamente e neste caso o uso do girador é
indispensável, senão para eliminar a torção totalmente, ao menos para torna-la
um pouco menos intensa. Existem ainda outras funções não menos importantes
exercidas pelo girador. Vejamos. Quando usamos qualquer tipo de isca, seja
natural ou artificial, na pesca de peixes predadores que possuam dentes,
usaremos sempre um empate de aço, sem exceções.
Girador em isca de profundidade |
Fica então a pergunta: como amarrar a linha de
nosso equipamento diretamente no aço do empate? Exatamente aí é que entra o
girador, já que suas argolas, sendo de metal mais grosso e polido (o que não
acontece com o arame do empate) tornam mais fácil e segura a amarração da
linha. Mas existem outros casos onde o girador é exigido, sendo que o principal
dele envolve a pesca na modalidade de praia. Como se sabe, na pesca de praia ou
mesmo de costão, é costume utilizar um empate, hoje em dia muito bem feito,
onde são colocados dois anzóis, que por sua vez são amarrados em pedaços de
linha chamados de “pernadas”, as quais são atadas nos “engates rápidos”. Na
ponta final desse empate vai o chumbo. O empate começa tendo a sua frente o
girador, pois mais uma vez teremos muito mais segurança em amarrar a linha
mestra nele ao invés de amarra-la diretamente na linha do empate. Existem
diversos modelos de giradores. Alguns são triplos, desenvolvidos com a intenção
de separar os anzóis para que estes não enrosquem entre si. Essa função é
contestável, considerando que os engates rápidos já diminuem a chance desse
enroscos acontecer. Além deste, existem mais modelos de giradores, que podem
ser diferenciados pelos formatos: há os redondos, triangulares e até mesmo
ovais. Finalmente existem também os giradores de esferas, que devem
obrigatoriamente ser de boa procedência, caso contrário, correremos o risco de
ver aparecer ferrugem nas esferas. No mercado brasileiro temos dois fabricantes
de giradores tradicionais, que a bem da verdade, são os melhores e mais simples
de ser usados. Desde 1947 a Paoli fabrica giradores e, mais recentemente a
Metalúrgica Gil também passou a fabrica-los.
Modelos de giradores |
Isca de superfície |
São peças feitas em latão, portanto não
enferrujam, além de serem muito bem acabadas. Estão disponíveis em oito
tamanhos. Com relação a esses dois fabricantes, já fizemos os testes de
resistência dos giradores, fator crucial para podermos determinar o fio de aço
ou da linha de pesca a ser usada. Estas são as resistências apresentadas nos
teste e aprovadas pela Aruanã:
GIRADOR RESISTÊNCIA
Modelo 1 10kg
Modelo 2 15kg
Modelo 3 35kg
Modelo 4 50kg
Modelo 5 65kg
Modelo 6 85kg
Modelo 7 92kg
Modelo 8 98kg
Baseado na tabela acima, o pescador poderá escolher a bitola
do arame de aço ou da linha de pesca a ser usada. Esta escolha é fundamental,
já que se usarmos um girador de tamanho muito grande, isto poderá afetar o
equilíbrio do conjunto que usarmos. Outro detalhe importante a ser citado é que
durante os testes no dinamômetro, em nenhum caso a parte interna do girador,
onde o arame é virolado (são duas cabeças internamente) quebrou. O que
aconteceu, em todos os testes, foi desenrolar o arame nas laterais, o que por
certo atesta a qualidade dos giradores nacionais fabricados pelas empresas
citadas. Aí está, portanto, tudo o que se pode dizer a respeito do tradicional
girador de pesca. Pelo menos até o momento.
NOTA DA REDAÇÃO: Atualmente, existem giradores com um snap na
sua ponta. Testamos e afirmamos sua qualidade, porém não devem ser usados em
iscas de superfície, pois afetam a flutuabilidade das mesmas e sua ação. Uma
outra boa dica é quando for comprar giradores, principalmente a serem usados no
mar, é levar um imã para ver se são fabricados com metais nobres. Caso grudem
no imã, mostram que são feitos de ferro e sua ferrugem é inevitável em curto
prazo.
Revista Aruanã Ed: 52 publicada 08/1996
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