Em se tratando de peixes, mais do que nunca, tamanho é
documento. Vamos tratar desse assunto e também do pesca e solte, já que muita
gente anda fazendo e falando bobagem a respeito.
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Black Bass com 25 cm
Às vezes, presenciamos pescadores amadores fazendo bobagens
em suas pescarias e até mesmo cometendo crimes com os quais não podemos
concordar. Alguns exemplos? Vamos lá. Começamos pelo black bass que, como todos
sabem, é um peixe importado que se aclimatou muito bem no Brasil,
principalmente no sul de Minas Gerais, São Paulo e em todos os estados da
região sul do país. É um peixe bastante esportivo, especialmente para quem
pesca com iscas artificiais. O “problema” desse peixe, quando filhote, é que
fica junto às margens de nossas represas e se alimenta basicamente de
organismos, como pequenos peixes e... minhocas. É aqui que a coisa “pega”. É
muito comum aquele pescador de beira de represa que usa minhoca, pegar vários
peixes dessa espécie que não chegam a medir 10 centímetros de comprimento.
Certa ocasião, na Cachoeira do França (SP), vi um pescador desse tipo com uma
fieira onde haviam mais de trinta pequenos exemplares de black bass. Informei-o
de que espécie se tratava, e disse-lhe que o black bass atingia mais de 1 quilo
facilmente. Não foi surpresa ouvi-lo responder que não conhecia tal peixe. Pura
falta de informação, mas com certeza ele agora sabe se deverá soltar ou não
esses pequenos peixes em suas futuras pescarias. Um outro exemplo revoltante
são alguns pescadores de robalos que se gabam de fisgar numa só pescaria 200 ou
300 peixes dessa espécie, principalmente na região de Cananéia (SP).
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Canoas de pescadores profissionais em Cananéia
A despeito da quantidade contada às centenas, toda essa
“pescaria” cabe com folga dentro de um isopor de 60 litros. São robalos pebas e
flechas, que não atingem 10 cm de comprimento. Pergunto: um pescador que
procede dessa maneira é só desinformado ou é mau caráter mesmo? Neste caso em
particular, a segunda hipótese parece se encaixar melhor, já que além de
tratar-se de uma espécie conhecida, existe uma Portaria específica a respeito
amplamente divulgada, limitando em 30 cm para o peba e 45 cm para o flecha. (NR: na ocasião da publicação. Essas medidas foram alteradas)
No entanto, não são poucos os pescadores que cruelmente continuam a praticar
verdadeiros extermínios de robalos pequenos. Outro peixe vítima de matança
indiscriminada é o tucunaré, e infelizmente não há Portaria estabelecendo
tamanhos mínimos para a captura dessa espécie. O ideal seria embarcar peixes
com mais de 35 cm de comprimento, pois assim esses teriam a oportunidade de
proceder duas ou três desovas. E novamente muito se ouve falar de pescarias de
tucunarés onde o “pescador” (ou seria idiota?) se gaba de fisgar mais de 100
minúsculos peixes. Particularmente, recordo-me da represa de Itumbiara em
Goiás, onde era (reparem no tempo do verbo) possível realizar grandes
pescarias.
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Robalo peva
Lamentavelmente, há cerca de três ou quatro anos, essa
represa começou a ser muito frequentada por um “bando” de indivíduos
provenientes de certo Estado, que se gaba de ter os melhores pescadores do
Brasil. Resultado óbvio: os tucunarés de Itumbiara foram praticamente
dizimados. Eu mesmo tive a triste oportunidade de assistir o revoltante
desempenho de uma dupla de pescadores que, após uma semana pescando nessa
represa, mataram e levaram para casa nada menos que 600 tucunarés. Fica a
pergunta: estão eles certos quando se consideram pescadores e chamam essa
carnificina de “pescaria”? Atualmente, não é fácil fazer uma boa pescaria em
Itumbiara, e por conta disso, não só essa dupla como outros de seu bando
deixaram de frequentar a represa. Seguramente estão agora depredando outro
local. E há muitos outros exemplos que poderíamos citar, pois os perversos
crimes contra os peixes pequenos acontecem em todo o Brasil, embora com menor
incidência no Pantanal, já que lá a fiscalização é mais intensa. Um dos
objetivos principais da Aruanã, e também minha intenção ao escrever esse
artigo, é conscientizar o pescador amador de sua responsabilidade no que se
refere à preservação do meio ambiente e das espécies, principalmente naquilo
que diz respeito aos peixes pequenos, pois o único caminho certo é solta-los.
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O pequeno tucunaré convida o pescador a solta-lo
E não me venham com a
desculpa de que não adianta nada soltar, já que ninguém faz isso, pois tal
hipótese (que até pode ser verdadeira) não justifica de modo algum a atitude
pessoal de cada um de nós. Se você não costuma soltar o peixe pequeno,
lembre-se de que, no mínimo, você está se igualando em comportamento àqueles ridículos
“pescadores” que você tanto condena. Um outro problema é a falta de informação
a respeito do sistema pesque e solta. No Brasil, de uns tempos para cá, essa
prática tornou-se corriqueira em vídeos de pesca e programas de televisão (ao
vivo é mais difícil presenciar), nos quais os protagonistas, após fisgarem os
peixes, fazem questão de solta-los alardeando a própria atitude, nobre, sem
dúvida. Até aqui tudo bem, considerando que também nós, nos vídeos produzidos
pela Aruanã, praticamos o pesque e solta, que é uma tendência mundial. No nosso
caso explicamos que o registro das imagens dos peixes filmados é o suficiente,
pois esse é o fim almejado durante a produção do vídeo. Mas o pescador amador
deve seguir os exemplos televisivos e praticar o pesque e solta
indistintamente? A resposta é não. Calma. Não quero ser mal interpretado, e vou
esclarecer o porque dessa resposta. Se o pescador amador pegou um peixe de
maneira esportiva, ou seja, com anzol, ninguém tem mais direito do que ele de
levar esse peixe para si e sua família, pois é um peixe completamente saudável
e, portanto, um alimento puro.
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Dourado abaixo da medida permitida é solto pelo pescador
Por outro lado, a consciência de cada um é que vai determinar
que quantidade de peixes deve levar para casa. Se me permitem uma sugestão, creio
que devemos levar para casa somente a quantidade ideal para consumo de nossa
família, o que obviamente exclui aqueles peixes excedentes que levamos... para
dar aos amigos. E isso por duas razões: a primeira é que seu amigo jamais irá
dar o devido valor a esse peixe, e a segunda é que você não precisa distribuir
peixes para provar que é um bom pescador. Infelizmente, ainda há aquele tipo de
individuo que pensa que se o bairro inteiro ficar sabendo que pegou muito
peixe, levará a fama de ser um bom pescador. Ser bom ou não, é coisa que não
interessa a mais ninguém além de nós mesmos. Vamos abordar outro aspecto. A
capa de uma certa edição da Aruanã trazia a foto de um pescador segurando seis
ou sete robalos, todos claramente na medida. Naquela ocasião, recebi um
telefonema de um desses famosos “professores” recém-especializados em pesca esportiva
criticando essa foto, pela “quantidade” de peixes mostrada. Como quem fala o
que quer está arriscando a escutar o que não quer, principalmente quando fala
sem estar fundamentado na realidade, esse “expert” acabou ouvindo poucas e
boas. Disse a ele que ao invés de tentar conquistar notoriedade criticando a
Aruanã, ele seria muito mais útil se tivesse a disposição de se por a campo por
exemplo nas feiras-livres, peixarias e supermercados, denunciando e combatendo
toda aquela barbaridade de peixes fora de medida e expostos ao público.
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O pesque e solta consciente, tenta evitar este desastre
(black bass)
Perguntei-lhe por que ele não procurava cobrar do Ibama leis
de maior proteção a nossos peixes e combate à pesca predatória. Disse que se
ele ao menos fizesse isso, com certeza eu aceitaria sua crítica, mesmo achando
infundada, já que se assim fosse, a tal critica estaria partindo de alguém que
se preocupa realmente com os problemas da pesca esportiva brasileira. Parece
lógico que um veículo de informação, pelo simples fato de se direcionar a um
grande público (no nosso caso, os pescadores amadores), tem o dever e a
obrigação de manter esse mesmo público informado sobre quais são as atitudes
mais corretas dentro do meio ambiente. Ninguém contesta que a Aruanã faz
isso. Aliás, só a Aruanã faz um trabalho
realmente sério em defesa do meio ambiente, e a essa constatação é muito fácil
de se chegar. É só comparar nosso trabalho – onde apontamos vários erros de
nossas autoridades de meio ambiente, muitas vezes com duras críticas – ao
trabalho de outros veículos de informação que atuam no mesmo segmento. Ao
contrário do que muitos afirmam, não se trata de uma questão de coragem, mas
antes de tudo, de uma questão de bom senso, pois nosso esporte depende da
preservação do meio ambiente e da atitude do pescador amador. Na ausência de
qualquer um dos dois itens o resultado é que não sobreviveremos.
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Pesca amadora: direito ao peixe
Assistindo a um desses
programas de pesca na televisão há alguns dias atrás, observei que após pegar
um robalo e lutar com ele, caprichando no próprio desempenho artístico, o
“protagonista” anunciou que ia soltar esse peixe e começou a encenar esse
procedimento. Mas, a soltura propriamente dita não foi ao ar. Era um grande
robalo flecha, que, ao que tudo indica, muito provavelmente foi consumido pela
equipe de filmagem ao invés de ser devolvido à água. Por certo, a sequência de
imagens teria ficado menos ridícula se o pescador assumisse perante a câmera –
já que era seu direito – que aquele robalo iria ser aproveitado por sua equipe.
Essa teria sido uma atitude muito mais honesta. E menos hipócrita. Concluindo,
devemos sempre ter a consciência de que quando o assunto é peixe, tamanho é
documento. Nosso dever é soltar todos os peixes pequenos, sem exceção. E quanto
aos grandes, o bom senso de cada pescador determinará quantos deverão ser
devolvidos à água. É importante que não nos deixemos convencer por conceitos
deturpados e filmagens muitas vezes são falsas ou editadas. O certo mesmo é ter
sensibilidade suficiente para ouvir a voz da própria consciência e perceber o
que é direito em termos de pesque e solta. Digo mais: bom senso, sensibilidade
e consciência são características inerentes a pessoas dignas e honestas, que
agem dentro desses parâmetros não só na hora de ir pescar, mas em todas as
atividades de seu dia a dia. Boas pescarias!
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Publicado na Revista Aruanã Ed: nº55 em 02/ 97
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Certíssimo, Toninho...
ResponderExcluirObrigado mais uma vez Marcão. Nossas ponderações sobre determinados assuntos, na maioria das vezes se dá, devido a nossa bagagem construídas pelas situações vividas e, que nós vivenciamos.
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