sexta-feira, 10 de agosto de 2018

É ÉPOCA DE PIRAPUTANGAS




Em nossas pescarias no Pantanal, além dos peixes mais procurados, temos também  à nossa disposição, e sem atrapalhar a pescaria principal, uma espécie bastante esportiva e boa de briga, a piraputanga. Vamos descobrir juntos essa nova emoção.


Detalhe do peixe e equipamento

Apesar de ser simples de pescar, a piraputanga têm na sua identificação algumas confusões causadas por alguns que insistem em chama-la de matrinchã. Apesar de ser da mesma família, ou seja, Characidae, e ter nome parecido, pois a matrinchã é Brycon melanopterus, o nome da piraputanga é Brycon orbinyanus. Enquanto a primeira é da Bacia Amazônica, a segunda é da Bacia do Prata, portanto do Pantanal. Sua aparência é também bastante diferente, pois enquanto a matrinchã tem seu colorido mais para o prateado, a piraputanga é mais amarelada, chegando às vezes a ser confundida com um pequeno dourado. Em tupi-guarani, a tradução ao pé da letra significa “peixe vermelho”, já que a exemplo de outros de sua espécie como a piracanjuba e a citada matrinchã, tem sua carne uma coloração avermelhada que até originou de nosso pescador ribeirinho dizer que “é um peixe muito bom de comer pois já vem preparado com massa de tomate”. Sua pesca é bem simples, pois pega em diversos tipos de isca e não é raro ver-se pescadores munidos de uma pequena vara de bambu usando como isca pedaços de pão, frutinhas, pedaços de peixe, etc, pescando-a perto de locais bem movimentados, como portos, cais, em frente ao pesqueiro onde se limpam peixes e mesmo no acampamento, no local onde se lava louças. 


Piraputanga

Costuma aparecer também com frequência em nossas pescarias de pacu, atacando muito bem as iscas a estes destinadas, tais bolas de massa, tucum ou frutas da época e da região. Para nós sua pesca é especializada e quando a ela nos dedicamos, é com material específico e especial. Pescamos a piraputanga com vara especial para iscas artificiais, molinete ou carretilha pequena, linha o.30 ou 035 milímetros e spiner de um só anzol. A coloração do spiner pode ser variada, apesar de gostarmos muito dos que tenham a predominância do cromeado prata. A explicação para um só anzol vem, de nossa experiência em usar antes um spiner com garatéias. Também pega, mas no primeiro pulo da piraputanga, 70% delas escapam, o que não acontece com o spiner de um só anzol. Um bom anzol para se colocar no spiner pode ser o Mustad 92676, 5/0, que é do mesmo tipo usado para a pesca do pacu. Fisgada, a piraputanga dá vários saltos e sua característica principal ao saltar é tremer violentamente o corpo todo, que dá para ouvir, e nessa hora a garatéia escapa facilmente. A pesca com equipamento específico é muito esportiva e também muito produtiva, pois fisgam-se muitos peixes, uma vez que costuma andar aos pares.


A matrinchã "oficial"

Os melhores locais, além dos já citados, são os remansos dos corixos, bem como em toda a sua extensão; locais onde hajam pedras e pequenas corredeiras; locais onde hajam árvores de frutas (qualquer uma) e que estas estejam caindo na água é um local todo especial e onde temos feito as melhores pescarias; embaixo dos ninhais de pássaros ou mesmo no pouso de dormida destes. Aliás, tais locais quando achados são uma verdadeira mina de espécies de peixes e outros animais, que ali estão à espera não só dos excrementos dos pássaros, mas também de ovos e mesmo filhotes. Já vimos embaixo de um ninhal espécies como piranhas (lógico), pacus, piaus, sauás, sardinhas, jacarés, sucuris e muita piraputanga mesmo. Na pesca com o spiner, é só dar o lance e puxar com o molinete ou carretilha, pois o spiner faz todo o trabalho para atrair o peixe. A velocidade do recolhimento o próprio pescador é quem determina, mas a dica principal é que a colher do spiner rode continuadamente em torno de seu eixo. 

Spinner de um anzol

Apesar de continuamente dizermos que na pesca com isca artificial não é preciso nada além da isca e da linha, na pesca de peixes predadores aconselharíamos o uso de um pequeno empate aço/nylon, munido de um girador e um snap (grampo) para a eventual troca da isca. Esse empate deve ter no máximo trinta centímetros e de resistência entre 15 e 20 libras. É uma segurança a mais, pois a piraputanga costuma estar em companhia de outros predadores que costumam cortar, se fisgados, a nossa linha. Só nos resta dizer que em uma pescaria no Pantanal, ali estamos para nos divertir, na eterna luta do peixe com o pescador.  Pela esportividade, a piraputanga deve ser colocada como uma espécie das mais esportivas. E esta, sem dúvida, é a melhor época para testarmos nossa perícia e a esportividade desse pequeno peixe que atinge no máximo um quilo e meio, mas nem por isso deixa de brigar e saltar como nenhuma outra espécie do Pantanal. A propósito, a carne da piraputanga é de sabor todo especial, apesar das várias espinhas. Para se saborear o peixe e sanar o problema das espinhas, após escama-la, dê talhos em todo o seu corpo, que atravessem a carne até a espinha central, em espaços de aproximadamente um centímetro. Dê preferência por frita-la inteira e descubra um dos melhores peixes do Pantanal em sabor, principalmente como tira gosto, acompanhando nosso aperitivo preferido.



Revista Aruanã Ed:28 publicada em 06/1992

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