sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

ROTEIRO - ROYAL CHARLOTTE











Pescar na Água Azul é a realização de todo pescador amador. Conforme a época e dependendo da localização do litoral, às vezes isso é quase impossível. Vamos conhecer o banco Royal Charlotte, onde pescar na água azul é possível o ano inteiro.



Porto Transamérica em Comandatuba

A nossa pescaria aconteceu durante o mês de agosto/92. Nossa meta era a água azul, na denominada Corrente do Brasil. Em outros litorais a água azul está muito distante da costa, o que torna quase impossível uma incursão ao local dos chamados peixes nobres. Saímos do Hotel Transamérica, na Ilha de Comandatuba, e a direção apontada na bússola era leste a 120° magnéticos. Estávamos em uma lancha de 30 pés de propriedade do hotel. Pelo sonar sabíamos e controlávamos a profundidade, e assim que se sai da barra do canal ela é de 4 metros. Em 15 milhas percorridas desde a barra, começamos a entrar em águas mais profundas, a princípio 13 metros, passando a 20 metros, logo depois a 300 metros e, finalmente, na tela do sonar, o vazio. Na carta do litoral a informação correta: estávamos a 1.700 metros de profundidade. 

O grande dourado

 A sensação que se tem, sabendo estar a tal profundidade, é estranha. Nada muda, a não ser na nossa mente, mesmo acostumados ao mar. A cerca de 20 milhas da costa a água azul já está presente e sua temperatura é de 24 graus. Por experiência sabemos que para pescar nestas águas a temperatura ideal é de 27 graus. Continuamos a viagem rumo ao Royal Charlotte. A primeira surpresa é um cardume de peixes-voadores, que com a aproximação do barco saem em vôos rasantes e de longa distância. Procuramos imediatamente algum sinal de peixes de bico, pois eles estão sempre à caça desses pequenos peixes, mas não avistamos nenhum. No entanto, uma grata e boa surpresa nos esperava logo mais adiante. De repente, ao nosso lado e a cerca de 50 metros, duas baleias enormes faziam evoluções, corcoveando a água e soltando jatos com seu tradicional barulho. 


Isca usada na pesca do dourado

Durante algum tempo navegamos lado a lado com as baleias, mantendo sempre uma distância segura, já que calculamos para cada baleia umas 5 lanchas nossas. Mantínhamos o rumo, e de repente, como em um passe de mágica, a tela do sonar mostrava o relevo Royal Charlotte. Profundidade 40 metros. O nosso leitor pode imaginar essa maravilha de parede de pedra, que estava em 1.700 metros e subitamente sobe para 40 metros. Na tela do sonar a impressão que se tem é de estar vendo uma cidade de arranha-céus por cima. Em alguns pontos, os parceis chegavam a apenas 25 metros de profundidade. Montamos três varas, usando iscas artificiais de lulas e rapalas, e começamos a corricar. A água é de um azul profundo e a temperatura é de 27 graus. 

Atum

Passado certo tempo, uma das carretilhas começa a disparar a fricção, sinal de peixe. Vara na mão e toca a brigar. A luta demora aproximadamente 20 minutos e embarcamos o primeiro dourado-do-mar, com cerca de 16 quilos. E assim foi durante boa parte do dia. No final da pescaria, tínhamos como saldo dois dourados-do-mar, de 16 e 25 quilos, uma cavala de 14 quilos e um atum de mais de 25 quilos. Perdemos ainda duas boas puxadas, que não chegaram a fisgar, e uma linha 0.70 mm, arrebentada, já que o puxão do peixe foi muito forte, dando uma “cabeleira” (backlash) na linha. Outro fato muito interessante aconteceu na briga com o atum. Desde a fisgada até o peixe chegar perto do barco, passaram-se cerca de 25 minutos. Em alto mar, para esse tipo de peixe é costume usar-se um bicheiro de bom tamanho para traze-lo para a embarcação. 



A localização do Royal Charlotte
Tínhamos brigado muito com esse atum e ele dava mostras (e nós também) de cansaço. Com cuidado fomos trazendo-o até a popa do barco, quando então o marinheiro tentou “bicheirar”, mas errou o peixe. Com o riscado do bicheiro em seu corpo, esse atum deu um arranque final, levando novamente um bom pedaço de linha. Por precaução, tínhamos regulado a fricção do equipamento e a linha saia com pressão. O atum então parou no fundo e deu bastante trabalho para traze-lo novamente à superfície. A recomendação agora ao marinheiro era que “pelo amor de Deus!” não errasse a bicheirada, já que nossos braços começavam a ficar dormentes. Peixe embarcado e varas novamente montadas, continuamos a corricar, naquela “vidinha dura” que só pescador amador sabe com o é. Depois de certo tempo, vimos o primeiro sinal de bico logo atrás de uma isca de lula azul que vinha surfando na superfície, montada na lateral esquerda do barco. A primeira vista nos pareceu um sailfish. 




A baleia
Durante alguns segundos nadou atrás da isca, mas não atacou. Outro sinal de peixe de bico foi visto no horizonte e era um marlim azul de bom tamanho. Por certo, se estivéssemos equipados com farnangaios (isca própria), teríamos fisgado alguns peixes de bico. Mas nossa principal intenção era descobrir o Royal Charlotte e isso fizemos com exatidão, e para aqueles que gostam de detalhes, a posição exata de banco é a latitude de 15°S55’ e a longitude de 038°W30’, ficando mais ou menos em linha reta com a cidade de Belmont no litoral, a cerda de 35 milhas. Outro fato bastante pitoresco acontecido nessa pescaria foi o encontro com um barco de pescadores profissionais, ancorado em uma das pontas do Royal Charlotte. 


Barco de pesca profissional

Encostamos nossa embarcação na deles e tivemos a oportunidade de ficar sabendo de detalhes de pescaria de fundo. Para se ter uma idéia, a linha de mão usada por esses profissionais era de 2.00mm, os anzóis são o 14/0 e em cada um colocam pedaços grandes de peixe ou então 6 sardinhas. Os peixes mais fisgados são garoupas, meros, ciobas, caranhas, etc., todos enormes. Essas são as principais dicas do banco Royal Charlotte, sendo este mais um roteiro conferido, testado e aprovado pela equipe da Revista Aruanã.

                                                AGRADECIMENTOS

Queremos agradecer a colaboração do Hotel Transamérica – Ilha de Comandatuba, pelo apoio dado à nossa equipe, o que tornou possível a realização desta reportagem.
                                                     

 Revista Aruanã  Ed:20 publicada em  10/1992

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