Há muito tempo nossa equipe vinha
recebendo informações de boas pescarias de tabaranas em Minas Gerais, mais
precisamente no rio das Velhas ou Araguari. Fomos lá conferir, e os resultados
aqui estão.
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Leito do rio das Velhas
Com indisfarçável emoção, fui a campo realizar esta matéria
no rio das Velhas, pois muitas eram a histórias contadas pelo meu velho pai em
seus tempos de rapaz lá pelas bandas de Araxá em Minas Gerais. Nosso destino
era Sacramento, a 480 km de São Paulo, via Ribeirão Preto, Batatais e Franca.
Logo após a divisa entre os dois estados, passando por cima da represa de
Jaguara, a primeira cidade é Sacramento. É uma pequena cidade, mas dotada de
toda a infra estrutura para quem deseja fazer uma pescaria no rio das Velhas. E
mais: a receptividade do seu povo e de suas autoridades é impressionante. Mais
à frente falaremos disso. Pois bem.
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Tabarana. Tubarana?
Saindo de Sacramento, o pescador tem duas opções para atingir
o rio: seguindo pelo asfalto em direção a Araxá, ou então a escolhida por nós,
até o Desemboque, aliás, Nossa Senhora do Desterro do Desemboque (veja quadro).
Seguindo pelo asfalto há uma ponte a mais ou menos 28 km de Sacramento onde
pode-se descer os barcos, e tanto acima como abaixo dessa ponte bons peixes
podem ser fisgados. A nossa intenção ao ir até Desemboque, distante
aproximadamente 90 km dessa ponte, era descer o rio pescando e curtindo a natureza.
E assim o fizemos. De Sacramento a Desemboque, a distância é de 60 km por
estrada vicinal e de terra, porém com fácil acesso.
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O pesqueiro
Neste ponto, temos que alertar aos pescadores que o rio das
Velhas conhecido também como Araguari, é um rio rápido, com muitas pedras e
corredeiras. Nesta época do ano suas águas são limpas e a melhor época para a
pesca das tabaranas situa-se entre os meses de agosto a outubro. Com cuidado e
paciência, navega-se muito bem no rio. Existem várias corredeiras bastante
rasas, onde praticamente é impossível usar o motor de popa. Em nossa descida,
usamos apenas os remos. Os melhores pesqueiros de tabaranas localizam-se logos
após essas corredeiras, onde se formam poços mais profundos e de águas mais
calmas. Um outro pesqueiro muito bom é junto às galhadas e paredões de pedras,
desde que sejam de boa profundidade.
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Da esquerda para a direita: Mauricio, Lester e Amir
A pesca pode ser apoitada antes desses locais, jogando-se a
isca e deixando que a mesma fique dentro dos pesqueiros. Nossa opção foi pela
pesca de rodada, e isso porque tínhamos intenção de pescar apenas um dia. Outra
boa opção para esse tipo de pesca é levar toda a tralha de acampamento e ir
descendo desde Desemboque até a citada ponte sobre o asfalto. Existem várias
praias de areia para um bom acampamento, e usando só os remos, demora-se mais
ou menos três dias nesse percurso, que é de aproximadamente 90 km. Essa sem
dúvida é a melhor opção nesse trecho, pois o rio é muito bonito, apesar de suas
corredeiras e águas rápidas. Vale a pena realizar essa aventura. Para que o
nosso leitor esteja bem informado e se localize com exatidão, o rio das Velhas
nasce na Serra da Canastra e a pouca distância da nascente do rio São
Francisco.
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Fisgado em isca artificial
Seu sentido é oeste e sua foz é na represa de Itumbiara,
antes do rio Paranaíba. Nossa equipe na ocasião, além de mim, era composta por
três companheiros de Sacramento: Amir Salomão Jacob, Mauricio Marques Scalon e
Lester Scalon, pescadores amadores e profundos conhecedores do rio e desse tipo
de pescaria. Mais ou menos às sete horas da manhã colocamos o barco na água em
Desemboque. O pequeno lugarejo é muito singelo, e sua principal atração são
duas igrejas muito antigas. Neste ano, o povoado comemora 250 anos de
existência (veja quadro). É só começar a navegar e já aparecem as primeiras
corredeiras e os primeiros poços pesqueiros.
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Valente e esportivo
Optamos pelo uso de iscas artificiais, entre elas as Bomber,
Red Fin, Rapalas e pequenas colheres. Os companheiros usaram pedaços de coração
fisgados em anzóis nº 2 e 3, Mustad 92247 e um pequeno chumbo oliva, só para
ajudar nos lances. A primeira tabarana bateu na isca artificial. A segunda e a
terceira também. Eram tabaranas médias, pesando cerca de meio quilo. Já tivemos
notícias de peixes com 1,5 kg fisgados nesse rio. Mais tarde os companheiros
começaram a fisgar também nas iscas de coração, provando que tanto uma como
outra são boas opções, dependendo apenas da preferência do pescador.
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Riachos afluentes do rio das Velhas
Uma outra dica de pesca nesse rio são os bagres que estão nos
poções. É uma espécie muito bonita, como aliás são todos os bagres de rios de
águas rápidas. Os bagres chegam a pesar 1 kg e a melhor isca para fisga-los é a
tradicional minhoca. Por volta de meio-dia, já havíamos fisgado vários
exemplares, com tamanhos variando entre médios e pequenos, que após
fotografados eram devolvidos ao rio. Vez por outra tínhamos que corrigir com os
remos o nosso curso de navegação, evitando bater nas pedras das laterais. Nas
margens, por diversas vezes vimos capivaras que fugiam com a nossa aproximação.
É muito comum também ver-se rastros de paca nas areias das praias.
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A beleza da paisagem
A cada trecho do rio, ficávamos encantados diante de tanta
beleza, principalmente nas corredeiras, das margens de pedra e das praias
mistas de areia e pequenas pedras arredondadas, cujo formato foi adquirido de
tanto rolarem no leito do rio das Velhas. É interessante citar que nos
pesqueiros indicados dificilmente não havia uma tabarana presente. No final da
pescaria havíamos fisgado com certeza mais de 30 peixes. Em função da escassez
de tempo, percorremos apenas 35 km de rio, gastando nesse percurso 9 horas. Uma
outra boa dica no que se refere à isca natural é o lambari de tamanho médio.
Como bons pesqueiros, citamos ainda os diversos córregos, afluentes e
formadores do rio das Velhas, também muito bonitos. Queremos agradecer, além
dos três companheiros de pescaria citados, ao prefeito de Sacramento, Joaquim
Rosa Pinheiro, que também é um excelente pescador amador e que em muito
facilitou esta reportagem, dando todo o apoio à nossa equipe. E para encerrar,
podemos afirmar que essa pescaria foi uma das mais esportivas que tivemos
oportunidade de fazer nos últimos tempos. Vale a pena conferir esse roteiro,
pois além da tabarana ser uma espécie muito esportiva, pescar nos rios das
Velhas é realmente uma grande aventura.
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Colaboração do vereador João Bosco Martins
NOTA DA REDAÇÃO: Deve o leitor ter percebido que o título
desta matéria na realidade é uma interrogação. Isto ao fato de não termos
certeza se essa “tabarana”, também chamada de “tubarana”, é a real, ou seja, da
família Characidae, de nome
científico Salminus Hilari. Em nosso
retorno a São Paulo, trazendo um exemplar do peixe, procuramos o Prof.Dr.
Heraldo Britski, que nos forneceu o seguinte laudo: “A chamada tabarana ou
tubarana” do rio das Velhas/Araraguari(MG), é a espécie Bricon nattereri (Guenter, 1864), da subfamília Bryconinae, da família Characidae. Essa espécie, assim como a
maioria dos Brycominae, é frugívora,
ou então herbívora, preferencialmente. A Brycon
nattereri, ocorre apenas no Alto Paraná, acima de Guaíra, mas é rara nos
rios do Estado de São Paulo. Aparentemente, a espécie é mais frequente na Bacia
do Paranaíba. Os nomes “tabarana ou tubarana” dados a esta espécie no rio das
Velhas não são muito corretos, pois ‘tabarana’ é termo usado para designar o Salminus hilarii, peixe bem distinto dos
Brycon. Talvez o nome mais adequado
para essa espécie de Brycon seja
‘pirapitinga’”.
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Revista Aruanã Ed:35 publicada em 08/1993
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