quinta-feira, 14 de novembro de 2019

ROTEIRO II - É TABARANA?









Há muito tempo nossa equipe vinha recebendo informações de boas pescarias de tabaranas em Minas Gerais, mais precisamente no rio das Velhas ou Araguari. Fomos lá conferir, e os resultados aqui estão.


Leito do rio das Velhas

Com indisfarçável emoção, fui a campo realizar esta matéria no rio das Velhas, pois muitas eram a histórias contadas pelo meu velho pai em seus tempos de rapaz lá pelas bandas de Araxá em Minas Gerais. Nosso destino era Sacramento, a 480 km de São Paulo, via Ribeirão Preto, Batatais e Franca. Logo após a divisa entre os dois estados, passando por cima da represa de Jaguara, a primeira cidade é Sacramento. É uma pequena cidade, mas dotada de toda a infra estrutura para quem deseja fazer uma pescaria no rio das Velhas. E mais: a receptividade do seu povo e de suas autoridades é impressionante. Mais à frente falaremos disso. Pois bem. 

Tabarana. Tubarana?

Saindo de Sacramento, o pescador tem duas opções para atingir o rio: seguindo pelo asfalto em direção a Araxá, ou então a escolhida por nós, até o Desemboque, aliás, Nossa Senhora do Desterro do Desemboque (veja quadro). Seguindo pelo asfalto há uma ponte a mais ou menos 28 km de Sacramento onde pode-se descer os barcos, e tanto acima como abaixo dessa ponte bons peixes podem ser fisgados. A nossa intenção ao ir até Desemboque, distante aproximadamente 90 km dessa ponte, era descer o rio pescando e curtindo a natureza. E assim o fizemos. De Sacramento a Desemboque, a distância é de 60 km por estrada vicinal e de terra, porém com fácil acesso. 

O pesqueiro

Neste ponto, temos que alertar aos pescadores que o rio das Velhas conhecido também como Araguari, é um rio rápido, com muitas pedras e corredeiras. Nesta época do ano suas águas são limpas e a melhor época para a pesca das tabaranas situa-se entre os meses de agosto a outubro. Com cuidado e paciência, navega-se muito bem no rio. Existem várias corredeiras bastante rasas, onde praticamente é impossível usar o motor de popa. Em nossa descida, usamos apenas os remos. Os melhores pesqueiros de tabaranas localizam-se logos após essas corredeiras, onde se formam poços mais profundos e de águas mais calmas. Um outro pesqueiro muito bom é junto às galhadas e paredões de pedras, desde que sejam de boa profundidade. 

Da esquerda para a direita: Mauricio, Lester e Amir

A pesca pode ser apoitada antes desses locais, jogando-se a isca e deixando que a mesma fique dentro dos pesqueiros. Nossa opção foi pela pesca de rodada, e isso porque tínhamos intenção de pescar apenas um dia. Outra boa opção para esse tipo de pesca é levar toda a tralha de acampamento e ir descendo desde Desemboque até a citada ponte sobre o asfalto. Existem várias praias de areia para um bom acampamento, e usando só os remos, demora-se mais ou menos três dias nesse percurso, que é de aproximadamente 90 km. Essa sem dúvida é a melhor opção nesse trecho, pois o rio é muito bonito, apesar de suas corredeiras e águas rápidas. Vale a pena realizar essa aventura. Para que o nosso leitor esteja bem informado e se localize com exatidão, o rio das Velhas nasce na Serra da Canastra e a pouca distância da nascente do rio São Francisco. 

Fisgado em isca artificial

Seu sentido é oeste e sua foz é na represa de Itumbiara, antes do rio Paranaíba. Nossa equipe na ocasião, além de mim, era composta por três companheiros de Sacramento: Amir Salomão Jacob, Mauricio Marques Scalon e Lester Scalon, pescadores amadores e profundos conhecedores do rio e desse tipo de pescaria. Mais ou menos às sete horas da manhã colocamos o barco na água em Desemboque. O pequeno lugarejo é muito singelo, e sua principal atração são duas igrejas muito antigas. Neste ano, o povoado comemora 250 anos de existência (veja quadro). É só começar a navegar e já aparecem as primeiras corredeiras e os primeiros poços pesqueiros. 

Valente e esportivo

Optamos pelo uso de iscas artificiais, entre elas as Bomber, Red Fin, Rapalas e pequenas colheres. Os companheiros usaram pedaços de coração fisgados em anzóis nº 2 e 3, Mustad 92247 e um pequeno chumbo oliva, só para ajudar nos lances. A primeira tabarana bateu na isca artificial. A segunda e a terceira também. Eram tabaranas médias, pesando cerca de meio quilo. Já tivemos notícias de peixes com 1,5 kg fisgados nesse rio. Mais tarde os companheiros começaram a fisgar também nas iscas de coração, provando que tanto uma como outra são boas opções, dependendo apenas da preferência do pescador. 

Riachos afluentes do rio das Velhas

Uma outra dica de pesca nesse rio são os bagres que estão nos poções. É uma espécie muito bonita, como aliás são todos os bagres de rios de águas rápidas. Os bagres chegam a pesar 1 kg e a melhor isca para fisga-los é a tradicional minhoca. Por volta de meio-dia, já havíamos fisgado vários exemplares, com tamanhos variando entre médios e pequenos, que após fotografados eram devolvidos ao rio. Vez por outra tínhamos que corrigir com os remos o nosso curso de navegação, evitando bater nas pedras das laterais. Nas margens, por diversas vezes vimos capivaras que fugiam com a nossa aproximação. É muito comum também ver-se rastros de paca nas areias das praias. 

A beleza da paisagem

A cada trecho do rio, ficávamos encantados diante de tanta beleza, principalmente nas corredeiras, das margens de pedra e das praias mistas de areia e pequenas pedras arredondadas, cujo formato foi adquirido de tanto rolarem no leito do rio das Velhas. É interessante citar que nos pesqueiros indicados dificilmente não havia uma tabarana presente. No final da pescaria havíamos fisgado com certeza mais de 30 peixes. Em função da escassez de tempo, percorremos apenas 35 km de rio, gastando nesse percurso 9 horas. Uma outra boa dica no que se refere à isca natural é o lambari de tamanho médio. Como bons pesqueiros, citamos ainda os diversos córregos, afluentes e formadores do rio das Velhas, também muito bonitos. Queremos agradecer, além dos três companheiros de pescaria citados, ao prefeito de Sacramento, Joaquim Rosa Pinheiro, que também é um excelente pescador amador e que em muito facilitou esta reportagem, dando todo o apoio à nossa equipe. E para encerrar, podemos afirmar que essa pescaria foi uma das mais esportivas que tivemos oportunidade de fazer nos últimos tempos. Vale a pena conferir esse roteiro, pois além da tabarana ser uma espécie muito esportiva, pescar nos rios das Velhas é realmente uma grande aventura.

Colaboração do vereador João Bosco Martins

NOTA DA REDAÇÃO: Deve o leitor ter percebido que o título desta matéria na realidade é uma interrogação. Isto ao fato de não termos certeza se essa “tabarana”, também chamada de “tubarana”, é a real, ou seja, da família Characidae, de nome científico Salminus Hilari. Em nosso retorno a São Paulo, trazendo um exemplar do peixe, procuramos o Prof.Dr. Heraldo Britski, que nos forneceu o seguinte laudo: “A chamada tabarana ou tubarana” do rio das Velhas/Araraguari(MG), é a espécie Bricon nattereri (Guenter, 1864), da subfamília Bryconinae, da família Characidae. Essa espécie, assim como a maioria dos Brycominae, é frugívora, ou então herbívora, preferencialmente. A Brycon nattereri, ocorre apenas no Alto Paraná, acima de Guaíra, mas é rara nos rios do Estado de São Paulo. Aparentemente, a espécie é mais frequente na Bacia do Paranaíba. Os nomes “tabarana ou tubarana” dados a esta espécie no rio das Velhas não são muito corretos, pois ‘tabarana’ é termo usado para designar o Salminus hilarii, peixe bem distinto dos Brycon. Talvez o nome mais adequado para essa espécie de Brycon seja ‘pirapitinga’”.


Revista Aruanã Ed:35 publicada em 08/1993

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