quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

É ÉPOCA DE CORRICO NO MAR









Uma mistura de águas entre a Corrente do Brasil e a Corrente das Malvinas está distribuída por toda a costa brasileira. Por esse motivo, são várias as espécies que estão à disposição do pescador amador, e a melhor maneira de pesca-las é corricando no mar.



Varas na espera 

“A pesca de corrico no mar não tem segredo nenhum”. Quem assim pensa está redondamente enganado. Simples a princípio, pois é “só” largar a isca para trás e vir puxando com o barco que o peixe pega. Mas os fatos demonstram que na prática a teoria é outra. Se assim não fosse, como explicar que muita gente sai para pescar nessa modalidade e volta sem nenhum peixe? Vamos começar pela análise do barco. Este pode ter qualquer tamanho e isso não tem importância, guardada a proporção que se terá que percorrer mar adentro. Um bom barco para corricar terá que ter obrigatoriamente alguns equipamentos que auxiliarão no resultado da pescaria. Assim sendo, podemos citar o sonar, que nos indicará profundidade, parceis e tudo o mais que estiver sob a superfície do mar; dois out-riggers, que nos auxiliam para separar melhor os equipamentos quando corricamos com várias iscas; um ou dois down-riggers, que levarão nossas iscas a profundidade maiores; um ou dois teasers, para vir corricando logo após a popa do barco (com seu barulho característico, “chamam” e atraem várias espécies de peixes); varas fortes e carretilhas de bom tamanho, pois o trabalho é árduo; iscas artificiais de vários tamanhos e cores; um bom bicheiro, já que às vezes grandes exemplares são fisgados, e a principal dica: acertar na velocidade do barco. 

Iscas usadas (dilaceradas) 

Quando nos referimos à velocidade, queremos dizer que ela pode se situar entre 4 a 12 nós para esta modalidade, variando conforme a espécie pretendida e a isca usada. Um nó equivale a uma milha marítima, ou 1853 m. Por exemplo: quando se corrica com as tradicionais lulas e o alvo são os grandes marlins, uma boa velocidade será entre 9 a 12 nós, ou seja, cerca de 22 km/h. Já com o uso das Rapalas, o negócio é ir variando entre 4 a 8 nós. Isto porque as iscas com barbelas precisam “nadar”, e neste caso a velocidade será sempre menor. Ainda com referência às iscas de barbela e à sua velocidade, leve em conta ventos, mar agitado e movimento das marés, já que esses itens terão influência para determinar a velocidade certa. A melhor dica é deixar a isca de barbela próxima ao barco e observar se a mesma está trabalhando corretamente. Uma outra dica também importante para esse tipo de isca é verificar constantemente a ponta da vara, pois uma isca trabalhando corretamente fará com que a ponta da vara fique tremendo quando estivermos corricando. No caso de lulas artificiais, esse efeito é visual, pois o trabalho dessa isca é vir surfando e vez por outra dar saltos na água, simulando um pequeno peixe nadando na espuma do barco. 

Olhete 

Um outro ponto muito importante é a distância entre isca e barco. No caso de lulas, essa distância deverá variar entre 20 a 50 m. No caso de iscas com barbelas, a distância é menor, entre 15 a 40 m. O certo mesmo é manter uma distância diferenciada entre uma isca e a outra para cada vara que esteja corricando. As iscas de barbela também devem ter cores variadas. Aqui uma dica: o segundo peixe que fisgar na mesma isca de uma determinada cor nos indicará, naquele momento, qual será a melhor cor, que poderá mudar durante a mesma pescaria. Por isso que afirmamos que só após o segundo peixe fisgado na mesma isca é que poderemos ter certeza. Se de repente houver uma “paradeira” total e não houver mais fisgadas, volte a testar a variedade de cores e vamos esperar novamente o segundo peixe. As melhores cores de iscas serão a preta, azul, verde, vermelha, amarela e as brancas de cabeça vermelha. Nas lulas, temos tido sucesso com as vermelhas e suas variações, como também nas amarelas ou azuis. No que se refere à bitola de linhas, dependendo da região e dos peixes, aconselhamos entre 20 a 50 libras (mais ou menos entre 0.45 a 0.80 mm), não esquecendo que quanto mais grossa for a linha, mais para a tona ela trará a isca. 

          “Lulas” 

Outro detalhe não menos importante é o que se refere aos empates ou líderes antes das iscas artificiais. Dependendo da grossura do líder, ele também trará a isca para cima. No que se refere aos snaps (alfinetes), estes devem ser fortes e resistentes e têm a seu favor a facilidade que proporcionam para a operação de troca de iscas. Outro ponto que deve ser citado e que se reflete diretamente no resultado da pescaria é a temperatura da água. Nesta época do ano podemos dividir essas temperaturas de acordo com a região. Assim sendo, teremos no sul e sudeste do país uma variação entre 14 e 22 graus centígrados. Já no norte e nordeste, esta variação fica entre 23 e 28 graus. Com certeza, pescar nessas temperaturas com o equipamento e a velocidades certos, é sinal de pescaria farta. Pronto – poderíamos dizer “ufa” – estamos preparados enfim para uma pescaria de corrico no mar, e a época é esta. Sabendo de todas essas dicas, fica fácil dizer que “pescar de corrico no mar não tem segredo nenhum”. Agora não tem mais. Boa pescaria.


NOTA DA REDAÇÃO: O corrico no mar pode ser praticado o ano inteiro. Porém um detalhe a mais devemos acrescentar: para os peixes de bico e na “água azul” a melhor época ainda será entre os meses de outubro até março, já que nessa época, é quando a chamada água azul, mais se aproxima da costa. No resto do ano, a partir da região sudeste e sul, ela fica muito longe do litoral desses estados.

Revista Aruanã Ed: 35 Publicada em 08/1993

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

ROTEIRO II PRAIA CEVADA










Uma boa dica para a pesca de praia é cevar o local onde estivermos pescando. Melhor que isso é achar uma praia onde a ceva é permanente. Nossa equipe achou essa praia para você. Confira.





Barcos ancorados: praia cevada 

Fazer uma ceva na praia já foi assunto em edição passada da Aruanã. Dá ótimos resultados, já que utilizando esse recurso conseguiremos trazer o peixe para onde estivermos pescando, tornando mais fácil a localização de nossa isca pelo mesmo. A confecção dessa ceva é simples e o material usado constitui-se de restos de peixes, camarão, etc. O melhor procedimento é colocarmos boa quantidade desse material em um saco de ráfia, junto com uma pedra, para que a ceva fique no fundo. Determinamos o canal onde vamos pescar e colocamos o saco bem no meio deste. Devemos amarrar a boca deste saco com uma linha de nylon forte, medindo de 2 a 3 metros de comprimento e, na ponta desta linha, amarrar também um pedaço de isopor ou outra boia qualquer, a título de sinalização, para sabermos sua localização exata. Normalmente em nosso litoral (todo o Brasil) a força da maré é para a direita, ou seja, do Ceará para o Rio Grande do Sul. Pescaremos, então, à direita da ceva e a mais ou menos 10 metros da boia, para obtermos os melhores resultados. 

Em qualquer parte da praia a pescaria será bem sucedida 

Muito bem. Em nossas andanças pelo litoral, fazendo nossas reportagens e encontrando o que encontramos, tudo foi rápido e uma questão de raciocínio lógico. Estamos nos referindo à praia do Perequê, no litoral paulista, mais precisamente no Guarujá, estando localizada na estrada que liga esta cidade à balsa de Bertioga. Antes de entrar no assunto propriamente dito, podemos dizer que “o” Perequê (assim todos o conhecem), é uma praia que tem tudo para ser um ótimo pesqueiro. Vejamos. Sempre afirmamos que o pescador deve procurar pescar em praias que tenham estruturas próprias, tais como: foz de rios e canais, costões, pedras, etc. O Perequê tem tudo isso e o que é melhor: uma ceva constante e natural. Às vezes, uma simples observação dá ao pescador amador algumas dicas sensacionais, se ele, lógico, raciocinar. Um exemplo: o nome “perequê”, em tupi-guarani, significa “pirá-iquê”, ou seja, o estuário onde os peixes se reúnem para a desova (?). Só isso já é uma boa dica, não é mesmo? Pois bem, talvez por isso alguns pescadores profissionais, há muitos anos fixaram residência nessa pequena praia, que tem no máximo três quilômetros de extensão. 

Galhudo 

Em princípio, essa ocupação aconteceu perto da foz do rio, logo no início da praia. Devo confessar que há muitos anos atrás, pegamos alguns robalos na margem desse rio, porém, nunca fizemos uma pescaria mais séria neste local, talvez por ser, o rio, pequeno demais. Mas esses pescadores, em sua maioria praticam a pesca de arrasto de camarões e comercializam o produto dessas pescarias, na própria praia, em pequenas barracas junto às margens da estrada. Seus barcos ficam ancorados no mar em frente e de lá vão eles para suas pescarias. Na volta, ancoram novamente os barcos e fazem, então, a limpeza do arrastão. Como se sabe, no arrastão, juntos com os camarões (infelizmente) vêm vários outros organismos, e entre eles, destacamos pequenos siris, caranguejos, peixinhos e minúsculos camarões. O pescador profissional escolhe então os camarões maiores, em sua maioria da espécie “sete barbas” e o resto joga de seu barco em plena praia, Pronto, a ceva está feita e o nosso leitor já sabe onde vamos chegar. 


Nelson de Melo e sua corvina
São dezenas de barcos que fazem esse tipo de pescaria, normalmente duas vezes por dia, sendo uma à noite e a outra pela manhã. A pescaria da noite tem seu retorno pela madrugada, e a pescaria do dia tem seu retorno à tarde. Isso significa que o ato de ceva é feito duas vezes por dia há 30 ou 40 anos, talvez mais. Nosso leitor habitual deve-se lembrar de que, em matérias anteriores, demos muitas dicas onde sempre destacamos as aves aquáticas. Esse tipo de ave dá ao pescador a indicação de onde deve pescar, já que normalmente elas estão em lugares onde se localizam cardumes de pequenos peixes, que são a base de sua alimentação. Pois bem, é só um barco de pescador de arrastão chegar que várias espécies de aves vêm para junto dele, comer o que o pescador joga fora. Ora, se a ave já está acostumada a essa rotina, os peixes não estariam também? É uma questão de lógica não é mesmo? Fizemos, então, esta matéria, que é uma pescaria na modalidade praia. Os melhores locais para a pesca nessa praia, como não poderia deixar de ser, ficam em frente aos barcos ancorados. 



Betara
 Assim sendo, desde a foz do rio até uma distância de aproximadamente 300 metros, teremos barcos ancorados. Pode-se pescar em qualquer local neste espaço, que o sucesso é garantido. Em nossa matéria fisgamos várias espécies diferentes de peixes e entre eles destacamos: carapebas, roncadores, cocorocas, vermelhos, “marias luízas”, pampos, galhudos, betaras e uma corvina de 1,5 kg. Uma outra espécie muito frequente nessa praia é o robalo. Infelizmente não fisgamos nenhum, já que – essa é uma boa dica – esses peixes fisgam melhor à noite e, nessa noite, a maré não estava boa. Como se sabe, as melhores marés na praia são as grandes, encontradas nas luas cheia ou nova. Portanto, se quiser uma boa indicação, inclusive para a pesca de robalos, procure uma maré acima de 1,2 metros, com início da enchente por volta das 6 horas da tarde. Com esta maré, pode-se pescar até à meia-noite. E as iscas? Normalmente, nós afirmamos que as melhores iscas para a pesca de praia são as encontradas na própria praia, tais como corruptos, minhocas, etc. 

Praia do Perequê em Guarujá (SP) 

Neste caso específico, mudamos essa afirmação e aconselhamos ao pescador que use o velho e tradicional camarão morto. Raciocinando mais uma vez, e o leitor já sabe a resposta, isso ocorre porque nessa praia o camarão morto é a ceva natural. Como infra-estrutura, podemos citar que no Perequê acha-se camarão morto à venda em várias bancas de pescadores profissionais e o preço do quilo varia em torno de R$5,00. Uma boa dica: procure comprar o camarão logo pela manha, ou então após as 15 horas, pois estarão mais frescos e melhores para fisgar no anzol. No caso do camarão “sete barbas” não estar muito legal, compre então o “camarão branco”, que é maior e mais caro, custando cerca de R$15,00 o quilo. (NR: preço na ocasião). Uma outra particularidade do Perequê são os inúmeros bares e restaurantes que se estendem ao longo da praia, onde há farta alimentação e outras comodidades. Finalizando, informamos que o Perequê fica a 115 quilômetros da cidade de São Paulo, e o melhor trajeto para se chegar até lá é ir até o Guarujá e, de lá, pegar a estrada velha para Bertioga, pois assim, inevitavelmente passaremos por dentro dele. A propósito: a praia do Perequê é também uma excelente opção de pesca no inverno, pois não é preciso entrar na água para o arremesso. Boa pescaria.

Revista Aruanã Ed:51 Publicada em 06/1996

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

ESPECIAL - CURIOSIDADES SOBRE OS DENTES DOS ANIMAIS







O Prof.Dr. Antonio Lucindo Bengtson é professor da Faculdade de Odontologia de Santos e mestre em Odontopediatria. Reside em Santos (SP) é é leitor e assinante da Revista Aranã. Nos enviou um interessante trabalho de sua autoria sobre os dentes dos animais, que você poderá confirmar.


Fig.1 - Observar a forma cônica e rudimentar dos dentes de um pirarucu, distribuídos irregularmente pelos rebordos alveolares, alcançando até a comissura da boca 

Sobre o ponto de vista de fisiologia, os dentes representam os órgãos intermediários entre o meio exterior e o aparelho da nutrição, destinando-se principalmente à mastigação dos alimentos e assim colocando-os em condições de sofrer a ação dos sucos digestivos. Para os morfologistas, o dente é um órgão de tecido calcificado, de coloração esbranquiçada, situado na cavidade bucal e colocado sobre os maxilares, onde se dispõe em fileiras. Já na concepção de zoólogos e filósofos naturalistas os dentes são órgãos de combate de ataque ou defesa, concorrendo para a conservação e perpetuação da espécie. Os dentes, basicamente são destinados a colher, reter, cortar, perfurar, dilacerar, esmagar, moer ou triturar os alimentos. No entanto, em alguns Vertebrata inferiores como os répteis e peixes, os dentes têm forma cônica, cuja finalidade é reter e muitas vezes cortar pedaços de presa que será em seguida deglutida e não mastigada (Fig.1). Já nos Vertebrata superior (mammalia), os dentes se dividem em grupos com funções diversas, como incisivos para cortar, caninos para perfurar e despedaçar e os molares para moer os alimentos. Para cada espécie de animal dependendo de sua forma de se alimentar ou mastigar, estas funções dos dentes se tornam mais especificas. Curiosas são as outras funções que os dentes têm além da referida mastigação. Animais como o castor usam os incisivos e caninos para o transporte de materiais de construção para seus abrigos; já a morsa tem somente duas enormes presas (chegando a medir um metro) localizadas na arcada superior e as utiliza para se locomover, enquanto javalis e os catetos (porcos do mato) as utilizam para a defesa.

Fig.2 - Arcadas dentárias de um vertebrata superior (cateto).Observar os dentes divididos em grupos, cada qual com sua função e disposição em fileiras, neste caso com espaços entre os caninos e a região dos molares 

Outra interessante utilização dos dentes é quando os coelhos, cobaias e os ratos usam os incisivos para a preenção da fêmea, a fim de permitir a realização da cópula. Enquanto nos Mammalia os dentes se localizam nos rebordos maxilares dispostos em fileiras contínuas ou intercaladas (Fig.2), nos peixes esta disposição não é seguida, como o tubarão, que além de apresentar um grande número de dentes que se implantam sobre as bordas na face lingual (interna) dos maxilares, possuem o corpo recoberto por uma pele áspera, isto devendo-se a uma infinidade de pequenos “dentes”, chamados dentículos ou escamas placóides. Para outros tipos de peixes como osTeleostomis de água doce ou salgada, a localização dos dentes se faz em qualquer em qualquer osso da cavidade bucal ou faríngica, isto é, além dos maxilares, podendo irromper nos ossos palatinos, vômeres ou até em osso situado na faringe. O jaú, por exemplo, tem placas dentígeras faringeânas que com seus movimentos dactiloformes (Fig.5) participam do mecanismo da eversão estomacal, isto é, auxiliam o estômago a sair pela cavidade buco-faríngea, manobra fisiológica e periódica que serve para eliminar se seu interior o acúmulo de resíduos não digeridos, constituído basicamente por sobras de ossos. Quanto à sua direção isolada, os dentes podem ser divididos em dois grupos: os retilíneos e os curvilíneos.

Fig.3 - Dente canino fora do alvéolo de um cateto. Observar sua forma adequada, sendo a metade superior e a inferior a raiz do dente 

O primeiro grupo é representado pelos dentes de certas espécies de peixes e jacarés. Já os caninos do cão, gato, onça, catetos, os dentes venenosos das serpentes, os incisivos da capivara ou rato ou as presas dos elefantes (que na realidade não são caninos e sim incisivos laterais decíduos de “leite”), representam o grupo dos curvelíneos (Fig.3). Observando o volume e tamanho dos grupos de dentes, verifica-se grande variação por estarem relacionados à espécie animal e função dos mesmos. Assim nos herbívoros, especialmente os ruminantes (vacas), são dentes molares que atingem grande desenvolvimento, enquanto os caninos ou incisivos podem estar ausentes. Nos roedores os incisivos se apresentam volumosos e nos carnívoros são os caninos que predominam nos demais. Qualquer dente, exceto os de crescimento contínuo (dentes de roedores, morsa) desde o seu irrompimento no arco não mais aumenta de volume, ou melhor, o volume de um dente é fixo para uma determinada espécie. A diminuição de volume pode ser verificada em alguns animais em virtude da abrasão ou desgastes devido ao constante atrito entre si e com as substâncias alimentares. Com relação ao sexo, observa-se com frequência certo diformismo sexual do aparelho dental. É o que acontece com o macho de numerosas espécies de animais, onde certos grupos dentais dominam sobre os dentes homólogos das fêmeas. Assim o macho dos javalis e catetos possuem dentes caninos muito mais desenvolvidos que os que os correspondentes da fêmea.

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Fig.4 - Boca de um jaú. Observar a distribuição dos dentículos no interior da mesma 

O cavalo possui caninos pequenos, quase atrofiados, enquanto a égua não os tem. Fato interessante e curioso é que a concorrência vital em certos animais exercem notável influência no volume dos dentes. Assim, nos animais que vivem em manadas como os javalis, catetos e barbirussas, onde vivem vários machos e fêmeas e o mais forte deve sobreviver e deixar descendência possuem dentes caninos muito volumosos e desenvolvidos, muitas vezes exteriorizando a cavidade bucal.  Tomando este animal ainda jovem e domesticando-o, os sucessores de segunda e terceira geração, exibirão um canino atrofiado. Por outro lado, desenvolvendo-se os seus descendentes ao estado selvagem, os caninos adquirem novamente seu volume original. O número de dentes varia de acordo com a espécie animal considerada. De maneira geral, os dentes são tanto mais simples e numerosos quanto mais inferior é a posição do animal na escala zoológica (fig. 4 e 5). Inversamente, os dentes tendem a diminuir em número e tornando-se mais complicados quanto o mais complexo for o organismo do animal. Ao percorrer a escala zoológica verifica-se que entre os peixes a maioria possui dentaduras constituídas por inúmeros dentes, como se constata no tubarão, piranha, dourado, bicuda, pacu, etc. Todavia existem algumas exceções. Como a carpa que possui apenas 3 dentes, a quimera com 6 e até mesmo em alguns exemplares a ausência total dos dentes. O jacaré possui numerosos dentes cônicos colocados sobre as cristas maxilares, onde formam dois arcos contínuos, o superior envolvendo o inferior.
Fig.5 -Aproximação dos dentículos. Observar a quantidade e a simplicidade dos mesmos. Estes dentículos estão presentes também nas placas dentígeras faringeanas do jaú 


Nos mamíferos aquáticos, os dentes são numerosos em algumas espécies como nos Odontocetáceos (baleias com dentes), este número e tamanho estão relacionados com o tipo de presa que ela caça. Por exemplo: o cachalote possui 50 dentes sitiados somente na arcada inferior, são grandes e próprios para apanhar presas maiores, como grandes peixes e focas. Já o golfinho e o delfim possuem dentes menores, agudos e em maior número (cerca e 100 e 200, respectivamente), sendo sua alimentação básica nos pequenos peixes. Os Misticetáceos (baleias com barbatanas), como a baleia azul, pelo menos no estado adulto, não possui dentes. Estes animais exibem uma primeira dentição que desaparece antes mesmo do nascimento, sendo substituídas por barbatanas córneas e flexíveis em número de centenas ou até milhares, localizadas somente na arcada superior, servindo para filtrar a água e reter minúsculos animais que estão nos plânctons marinhos e muitas vezes até pequenos peixes. Outro aspecto interessante é com relação ao número de vezes de troca de dentes, ou melhor, dentições que determinadas espécies de animais possuem. Entre outros, o tatu, o bicho-preguiça e as baleias de barbatanas possuem uma única dentição. Já o jacaré e algumas espécies de serpentes trocam seus dentes cerca de 25 vezes ao longo da vida. Podemos encontrar fenômeno bastante interessante observando os peixes, onde a maioria das espécies apresenta algumas centenas de dentições, cujos restos dentais formam o fóssil mais abundante do fundo dos mares.




Revista Aruanã Ed:32 publicada em 02/1993

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

ESPECIAL - 33 ARUANÃ NO JAPÃO.









Visitar o Japão foi para nós da Aruanã motivo de muito orgulho. A convite de algumas empresas japonesas, nossa permanência foi bastante proveitosa, principalmente porque tudo girou em torno do nosso segmento: a pesca amadora. Vamos juntos conhecer um pouco desse maravilhoso país, de seus pescadores e pescarias.



Monte Fuji 
Após vinte e cinco horas de voo, a bordo de um Jumbo da Varig, descíamos finalmente no aeroporto de Narita, em Tóquio. Era um sábado à tarde e aproveitamos todo o final de semana para descansar da longa e exaustiva viagem. Na segunda-feira fomos recebidos pelos diretores de uma editora responsável pela publicação de três revistas: Tsuribito (que em japonês significa pescador), Basser (especializada em black bass) e Fly Fisher. Nessa reunião, com Yasutomo Suzuki e Shu Miura, tivemos oportunidade de conversar muito sobre pesca. Ficamos sabendo que existem hoje no Japão cerca de 20 milhões de pescadores amadores e que para pescar no mar não é exigida a licença de pesca. O mesmo não acontece em água doce, onde as licenças são obrigatórias e regionais, chegando mesmo a ser específicas até para determinados rios. 

Kazuito Konishi – Editor da revista Sanday Fishing
Essas licenças podem ser anuais ou então válidas para um dia apenas. A verba arrecadada é revertida para associações de pesca particulares que cuidam de locais determinados, e a fiscalização é praticada por pescadores idosos e aposentados. Segundo esses editores, há atualmente uma paixão nacional na pesca japonesa: o peixe tanago, que é uma espécie de carpa. A diversão maior é fisgar o menor peixe possível. O recorde é um exemplar com 1 cm. Os pescadores usam uma vara comum, com linha bem fina e anzol minúsculo. Só para ter uma ideia, a isca utilizada para a pesca do tanago é o intestino de um inseto, e para fixar tal isca no anzol é necessário o auxílio de uma lente de aumento. Quanto a peixes maiores, foram citados como preferidos o marlin azul e uma peixe chamado moroco, que é uma espécie de garoupa e pode pesar 60hk. 


Toshitaka Fujii – Vice presidente da Gamakatsu
A revista mais antiga é a Tsuribito, com 48 anos de existência, circulação mensal e tiragem de 250.000 exemplares. No dia seguinte, nosso destino era Osaka, para onde seguimos a bordo do famoso trem bala. A partir de Tókio, o percurso de 552,6km é feito em cerca de 2 horas e 40 minutos de viagem. No caminho, paramos em Kioto para visitar um templo religioso e a surpresa maior ficou por conta de uma tempestade de neve que caía na região. Foi um espetáculo muito bonito e diferente, pelo menos aos olhos de um brasileiro. Novamente no trem bala e após meia hora de viagem estávamos em Osaka. Lá, éramos aguardados por Kazuito Konishi, editor da revista Sunday Fishing. Este editor é uma figura bastante interessante, já que difere do tipo japonês tradicional, pois usa barba e tem a pele bastante bronzeada, resultado de suas reportagens (pescarias) por todo o mundo. Sua revista é semanal, com tiragem de 240.000 exemplares e foi fundada há 17 anos. 


Yasumoto Suzuki e Shu Miura – Editores das revistas Tsuribito, Basser e Fly Fisher 
Konishi edita também outras duas revistas periódicas, além de livros e produções em vídeo sobre pesca. Semanalmente, comanda um programa na televisão japonesa chamado Big Fish, com uma hora de duração e no ar há nove anos. Konishi já esteve no Brasil, mais precisamente na Bacia Amazônica e no Pantanal, onde pescou dourados, tucunarés e pirarucus, sendo este último seu preferido. Segundo ele, o “peixe da moda” no Japão é conhecido pelo nome de chinu. Mostrada sua ficha técnica, ficamos sabendo que se trata de uma espécie de sargo que atinge até 50 cm de comprimento e pode pesar até 2 quilos. Para se ter uma ideia da “febre” em torno desse peixe, Konishi citou dados que achamos impressionantes. A melhor isca para fisga-lo é uma espécie de camarão muito parecido com o krill e no Japão, só os gastos com esta isca, que é importada, giraram em torno de US$500 milhões o ano passado. 






Yoshiro Dahi – Presidente da Dohitomi & Cia. 
É pescado com varas longas, principalmente em costões ou então de barco. A isca é jogada aos punhados e só então isca-se o anzol. Por esta razão, uma enorme quantidade de iscas é necessária, justificando-se a grande importação citada. Despedimos-nos de Konishi trocando revistas e vídeos. A Aruanã recebeu vários elogios, principalmente referentes à qualidade de impressão da revista. Saímos de Osaka nesse mesmo dia e pernoitamos em Kobe, já que no dia seguinte havíamos marcado reuniões nas fábricas da Gamakatsu e na Maruto, ambas fabricantes de anzóis conhecidos dos pescadores brasileiros. Pela manhã nos dirigimos à Gamakatsu e lá nos encontramos com seu vice-presidente, Toshitaka Fujii. Sua empresa fabrica hoje 3 mil tipos diferentes de anzóis, sendo que 95% dessa produção é de anzóis do tipo chapa e o restante, apenas 5%, de anzóis providos de argolas. 


Osamu Nakatami – Presidente da Sanyo Nylon
Exporta para dezesseis países e seu faturamento gira em torno de US$70 milhões. Seus anzóis são fabricados no tipo bronze, niquelado, preto e dourado e o aço utilizado é de procedência japonesa. Segundo Fujii, sua produção cobre hoje cerca de 70% do mercado japonês. Possui três fábricas, respectivamente no Japão, Tailândia e China, sendo que as duas últimas só executam o acabamento dos anzóis. Nessas três fabricas somam-se 2.480 funcionários. Perguntei por que estava no ramo de anzóis, e Fujii disse que o pai do atual presidente fabricava anzóis para pescar com fly, o que levou seu filho a entrar neste ramo. A propósito, o atual presidente da Gamakatsu é Shigekatsu Fujii. O nome de sua cidade natal, Gama, mais as cinco letras do seu nome, deram origem ao nome Gamakatsu. A visita seguinte foi à Dohitomi & Cia. Ltd., que fabrica o anzol Maruto, velho conhecido dos pescadores brasileiros. 


Nevasca em Kioto
Seu presidente, Yoshiro Dohi, nos recebeu maravilhosamente bem em seu escritório e tivemos uma longa conversa sobre seu produto. O nome Maruto vem do fundador da empresa, Tomitaro Dohi, avô do atual presidente. Em volta das duas primeiras letras do seu nome (To) ele fez um círculo, que é considerado no Japão como símbolo algo perfeito. Círculo em japonês significa “maru”, O círculo com o “to” também pode ser considerado como um desejo de sucesso. A empresa tem 97 anos de existência. Exporta para 110 países e a produção gira em torno de 200 milhões de peças por mês, divididas em 5.000 tipos diferentes de anzóis. O Maruto é fabricado em onze cores diferentes. O aço utilizado em sua fabricação é japonês e suas máquinas foram desenvolvidas na própria fábrica. 


Eric E.Choi – Vice Presidente da Yo-zuri
Somando-se todas as fábricas japonesas de anzóis (que são perto de 20), a Maruto detém cerca de 30% do mercado. Ficamos impressionados com a amabilidade e a simpatia de Yoshiro Dohi, que é pescador amador e já esteve no Brasil há alguns anos. Voltamos ao nosso hotel em Kobe e de posse de nossa bagagem, voltamos à Tókio.  Nossa próxima visita foi à Sanyo Nylon Co.Ltd., onde tínhamos uma entrevista marcada com o presidente da empresa Osamu Nakatami. Pois bem. A Sanyo pode ser considerada hoje como uma das maiores fábricas de monofilamento do mundo. Seus produtos, tivemos oportunidade de conferir, são simplesmente maravilhosos, tanto pela qualidade como pela apresentação. A Sanyo tem hoje 107 anos e foi fundada pelo avô do atual presidente. Suas exportações abrangem 80 países e sua capacidade de produção atinge 5.000 toneladas/mês de matéria prima. 



Mark Kano – Gerente de vendas da Daiwa
Fabrica 12 cores diferentes de linhas com 32 tipos de diâmetros, em 10 qualidades diferentes de resistência, desde 0.06 mm até 2.50 de espessura. A Sanyo é responsável por 50% da exportação do mercado japonês. Tem apenas 50 funcionários, já que a fabricação é 60% automatizada. Toda a matéria prima utilizada é japonesa. Com fórmulas próprias para atingir a qualidade desejada. Perguntado sobre o porquê de estar no mercado de linhas, Nakatami diz que seu avô Humataro Nakatami, inventou o anzol de fisgar lulas. Precisava então de uma linha para pescar e desenvolveu uma de algodão para esse tipo de pesca. Patenteou o anzol e montou a fábrica de linhas, que funcionou até 26 anos atrás, quando então passou a fabricar o monofilamento de nylon. Osamu Nakatami é pescador amador e sua preferência é a pesca marítima, A propósito, “Sanyo” em japonês, significa “três oceanos”. 


Kioto – Foto tirada do trem Shinkansen 
Nossa última entrevista em indústrias de pesca no Japão foi com a Yo-Zuri, tradicional empresa fabricante de iscas artificiais. Fomos recebidos por Eric E. Choi, vice-presidente da empresa que, além da fábrica no Japão, possui ainda fábricas nas Filipinas e na Tailândia. Cerca de 600 funcionários produzem perto de 80 mil itens diferentes, dos quais 90% são iscas artificiais, divididos em tamanhos, tipos e cores. A Yo-zuri exporta hoje para 90 países em todo o mundo e desde sua fundação, há 25 anos, tem ampliado seu mercado cada vez mais, estando inclusive programada a instalação de uma nova fábrica a partir de março nos Estados Unidos. O nome Yo-zuri também tem um significado. Seu presidente Kitagawa tem como apelido o nome “Anyo”. 

Deus da Fortuna
Unindo-se as duas últimas letras do apelido coma palavra “zuri”, que em japonês significa “pesca”, teremos o nome da empresa. Alguns, no entanto, preferem traduzir Yozuri como “pesca noturna”.  Eric E.Choi confessa-se uma fanático pescador amador e quando questionado acerca da opção pelo ramo das iscas artificiais, explicou que o presidente da empresa fazia iscas manualmente. Como as encomendas eram muitas, criou então a empresa, que hoje é líder de mercado. Tendo cumprido toda nossa agenda de vista a algumas indústrias japonesas restava-nos apenas visitar a “93 Tokio International Sportfishing Show”, a feira de artigos de pesca do Japão. Nesse ponto temos que apelar para a imaginação de nossos leitores para que tenham uma noção do que conseguimos ver nesta feira. Eram mais de 150 expositores em todo o recinto do evento. 

Aspectos da Feira de pesca
Vamos citar apenas alguns itens que nos chamaram a atenção. No estande da Daiwa, onde fomos recebidos pelo gerente internacional de vendas. Mark Kano, vimos uma vara telescópica com 10 metros de comprimento pesando apenas 310 gramas. Kano nos disse que essa vara é vendida apenas no Japão e que a Daiwa fabrica apenas 2.000 unidades por ano. Um detalhe importante é o preço dessa vara: US$5.000. Um outro estande que nos chamou a atenção foi o que mostrava a fabricação de varas de bambu, onde um verdadeiro artesanato é praticado, levando a indústria há demorar três meses para fabricar uma só vara. São varas simples, de encaixe duplo ou triplo, vendidas por cerca de US$1.000. Havia também dentro da feita um lago artificial, onde mestres de pesca demonstravam o uso correto do equipamento de fly. 


Ao fundo com sua arquitetura moderna, o prédio da feira de Pesca 
Ficamos aproximadamente seis horas percorrendo todo o recinto de exposição, onde várias novidades estavam expostas, das quais muitas brevemente estarão à disposição dos pescadores amadores brasileiros, pois, pelo menos nas indústrias por nós visitadas, os contatos já estavam bastante adiantados para a colocação dos produtos no mercado brasileiro. Foram doze dias de uma maravilhosa visita ao Japão, país que muito nos impressionou por seu progresso e tecnologia. Com certeza, por muitos anos vamos nos recordar de detalhes desse belo país, como a visão do Monte Fuji, a neve e o templo de Kioto, a velocidade e pontualidade do trem-bala, as termas e os banhos públicos em Hakome, a loucura das estações de trem e metrôs com o vai e vem constante do trabalhador japonês, a cultura de arroz em pequenas propriedades, as belezas das cidades de Tókio e Osaka e principalmente – isto é muito importante – a educação, respeito e distinção com que fomos tratados em todos os contatos com os empresários japoneses.

Jardins em Hokome 

AGRADECIMENTOS – Queremos agradecer e destacar a participação de Alfredo Tsuzuki, da Casa Nippon, que nos acompanhou durante toda nossa permanência no Japão, servindo-nos como guia, tradutor e, principalmente, por ter se mostrado um grande amigo.
NOTA DA REDAÇÃO: Passados 27 anos dessa nossa vista ao Japão, percebi que por um lapso de memória, ela postagem não havia sido publicada no blog. Reeditei essa matéria e agora consta do nosso acervo do blog Aruanã. Por um lado, esse esquecimento foi bom, já que agora, lendo a reportagem, além das saudades, as novas gerações de pescadores, que alguns não eram nem nascidos quando ela aconteceu, vão poder saber o significado de muitos produtos que nós compramos, sem saber porque eles foram assim, digamos batizados. 

Revista Aruanã Ed: 33 publicada em 04/1993