sábado, 7 de novembro de 2015

PESCA DE PRAIA









Em pescarias de praia uma regra pode ser citada e sem exceções: ou a praia é de tombo - mais funda e sem ondas, ou a praia é rasa – mais rasa e com ondas. A diferença de uma para a outra é que na de tombo, o pescador amador não precisa entrar na água, enquanto nas praias rasas, além de entrar bastante praia adentro, por obrigação tem que localizar os canais de praia, por onde circulam os peixes do local. A primeira dica portanto, é saber onde os canais de praia estão localizados, observando-se as ondas que mostram claramente o local e que largura possuem. Essa localização é bastante simples, bastando apenas que o pescador acompanhe com o olhar, lá longe, a primeira onda que se quebrar, formando a tradicional espuma branca. Acompanhe essa onda e perceba que em determinado momento de seu percurso ela perde a espuma branca para, mais alguns metros adiante, quebrar novamente. Pois bem, onde a onda perdeu a espuma branca, naquele espaço, está localizado o canal de praia. É muito comum, dependendo da praia, existir 3 ou 4 canais. Nas praias de tombo, deverá o pescador ir jogando a sua isca a determinadas distâncias e testando onde o peixe está fisgando melhor. Aqui pode ser citada uma regra básica onde se afirma que não é jogando mais longe que se terá mais chances de fisgar bons e maiores peixes, já que determinadas espécies preferem ficar bem rente à areia da praia, pois é ali que está o seu alimento principal, de que falaremos mais adiante. 

                                                                                                                                                                      Foto Rolando de Freitas
O material de pesca em praia, apesar de simples, tem que ser correto e para tanto, devemos nos equipar de varas com 3,5 metros ou mais,  com pontas firmes e de flexibilidade de média para dura. Uma boa carretilha ou molinete de tamanho grande será mais do que suficiente. Esse equipamento deverá ser grande, pois sua função principal é armazenar grande quantidade de linha, já que em uma praia, em princípio livre de qualquer obstáculo (enroscos) podemos trabalhar um peixe grande usando uma linha fina. Daí, a necessidade de se ter grandes quantidades de linha. A bitola de linha é bastante discutível, mas pode ser citada como ideal uma linha entre 0.30 a 0.40 milimetros (NR: atualizamos a bitola entre 0.20 a 0.40mm para monofilamento e bitolas bem mais finas para multifilamento). Para o caso de peixes por exemplo, como o cação, podemos usar então um líder ou empate com linha de bitola mais grossa. Aliás, conforme a região do Brasil, vamos encontrar as mais variadas maneiras de confecção de empates, que os pescadores, afirmam serem os melhores. Bastante discutível essa opinião, mas não entraremos detalhes para não gerar polêmicas. No entanto afirmamos que um empate para a pesca de praia deve ter no máximo 2 anzóis e que se guarde entre eles uma distância regular para que não se toquem ou embaracem. 

                                                                                                                                                                                                  Miraguaia

Quanto aos anzóis, devem ser seletivos ao tamanho dos peixes que se queira fisgar. Por exemplo: para o caso de betaras, podemos citar os de nºs 4 e 2. Evidente está que no sul do país, estes também servem para a pesca de pampos, que dificilmente atingem a mais de 2 quilos. O mesmo não pode ser dito para o nordeste, onde os pampos chamados de sernambiquaras (em tupi guarani, significa “comedor de sarnambis”) atingem facilmente a 6 ou mais quilos. Como se vê, apesar da modalidade de pesca ser a mesma, conforme a região do Brasil, ela tem que ser adaptada às condições locais. A única coisa que não muda na modalidade de praia é a chumbada, que obrigatoriamente deverá ser do formato pirâmide, já que esta se “agarra” melhor na areia. Se no formato a chumbada não muda, no peso ela também deverá ser adaptada às condições locais, que dependem da correnteza existente no local da pescaria. Quanto às iscas, muita coisa pode e deve ser comentada. Para um pescador comum, se lhe fizermos a pergunta de qual de qual é a melhor isca para a pesca de praia ele com certeza responderá: camarão morto, ou toletes de sardinha ou parati. Em princípio tal resposta não está totalmente errada, mas pedimos a você leitor, que raciocine conosco. Vamos partir do ponto de que o peixe prefere uma isca o mais natural possível. 
 
                                                                                                                                                                                Praia rasa
Ora, essa preferência se dá já que o local onde ele está, seu alimento vem da areia da praia, onde podem ser encontrados sarnambis (o nome em tupi guarani é uma boa dica), tatuzinhos ou tatuíras, minhocas de praia, “corruptos”, tamarutaca (que muitos pensam ser iguais, mas que na realidade não são), siris. Camarões vivos e mais uma infinidade de pequenos peixes e crustáceos. Ora, como se viu, citamos 7 iscas naturais e não falamos do camarão morto ou da sardinha/parati. Evidente está que muitos usam os dois, já que são muito mais fáceis de serem adquiridos, pois em qualquer banca de peixes eles estão à disposição e aos quilos. No entanto, para um pescador de praia experiente, a isca natural traz sempre melhor resultado e ela será o mais natural possível se apanhada na hora e no próprio local da pescaria. Isso tem lógica, pois não? Em uma pescaria de praia, o pescador amador poderá usar duas varas, comumente chamadas de barra pesada e barra leve ou “marisqueira”. Com a primeira, tenta-se de espera os peixes maiores e aqui uma dica – as melhores iscas para tais peixes serão sempre os pequenos peixes fisgados com a marisqueira. Um líder com linha mais forte, uma fricção do equipamento muito bem regulada e principalmente um tubo de PVC muito bem fincado na areia, onde será colocada, de espera, a vara de barra pesada. 



Com a barra leve ou marisqueira, usaremos uma linha fina, anzóis e chumbadas menores e iremos batendo os canais de praia um a um, ou as distâncias da praia de tombo. Por ser equipamento mais leve, essa tarefa torna-se mais fácil e não tão cansativa. No que se refere ao horário, podemos afirmar que não há um momento mais apropriado, podendo tanto ser de dia como noite. No entanto, as marés de grandes luas (marés altas) são sempre as melhores, desde que se pesque na enchente desde o reponto da baixa- mar até o reponto da préamar. Como melhores locais, diríamos que as praias mais produtivas são aquelas que têm rios de água doce desembocando nelas e também as que possuem nos lados (a distância regular) morros, pedras e ainda ilhas. Muito nos têm perguntado sobre a ação de iscas artificias nas praias. Em princípio diríamos que não são boas, com exceção dos jigs, também conhecidos como “bonecas” ou “escovinhas”. Sabemos de vários pescadores que usam tais iscas com bastante sucesso, principalmente na região nordeste do Brasil. No capítulo dos peixes mais uma vez afirmamos ser muito difícil de relacionar com certeza os peixes de praia, pelos mesmos motivos da extensão do nosso litoral. Porém podemos citar, lógico, com grande margem de erro, os mais comuns. São eles: betaras ou papa-terras, pampos, paratis barbudos, corvinas, robalos, arraias, cações, xaréus, baiacus, etc. No entanto, temos notícia do sul, onde são fisgados nas praias, miraguaias, cavalas, enchovas e atuns. 


No nordeste: tarpon (camarupin), peixe galo, caratingas, vermelho cioba e bonitos. Como se vê, é difícil dizer quais são os peixes mais fisgados em diversas regiões. O importante porém é salientar que a pesca de praia reúne muitos adeptos e que é uma modalidade muito gostosa de se fazer, principalmente em dias de calor, pois além da pescaria, toma-se bons banhos de mar e adquire-se um bronzeado de fazer inveja a muita gente, além de se poder levar a família e deixar que se banhem ao nosso lado, enquanto pescamos, já que pela distância onde jogamos nossas iscas, não nos atrapalharão. E isto sem falar que em algumas praias de tombo, alguns pescadores levam guarda-sol, cadeiras, esteiras, geladeiras com cervejas e refrigerantes, cestas de picnic, óleo ou creme de bronzear e fazem de sua pescaria algo de muito agradável. Uma verdadeira festa, onde muitas vezes, como recompensa, levam ainda para casa bons peixes e o que é melhor de tudo, fresquinhos e da melhor qualidade.


NR: Publicada na Revista Aruanã número 14 em fevereiro de 1990.


Nenhum comentário:

Postar um comentário