domingo, 28 de fevereiro de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - BEIJA FLOR















Muitas são as histórias folclóricas que trazem como protagonista esta pequena e encantadora ave. Uma delas é esta lenda em guarani, bela por sua singeleza e inocência.







Celebrava-se a festa da primavera no mundo das aves. Acorreram ao jardim do palácio dos beija-flores, onde se realizaria, com pompa, o festival, todos os representantes do reino alado. Como festa popular, lá estavam desde o Ferreiro, o Alfaiate, o Médico, o Forneiro, até altos personagens, como o Cardeal, o Juiz do Mato, o Juiz de Paz, o Capitão dos Bigodes e o Capitão da Porcaria. Os cantadores mais notabilizados lá compareceram com suas vozes, prontos a abrilhantar a grande festança racial que os jardins suspensos em frente ao palácio de residência dos beija-flores dariam desusado brilho. Viam-se já afinando gorjeios o Sabiá, o Gaturamo, a Cigarra e o Azulão. Lá estavam, muito festeiras, a Maria Branca, a Maria Cavaleira, a Maria Faceira, a Maria Mole, a Maria Mulata e a Maria Preta. O Dançador já ensaiava passos; a Viuvinha, muito circunspecta, espiava de soslaio; o Casaca de Couro mostrava ufano sua casaca nova. O Tico-Tico, a Cigarra, o Dorminhoco, entram todos juntos e mais o João Barbudo, o João Bobo, a Mariquita. Vovô chegou junto ao Urubu todo de luto. O feiticeiro do Picapau e o Caboré misterioso conversavam cabalisticamente. Papagaios faladores já haviam iniciado animada conversa, quando o brigão do Bem-Te-Vi, com aquele ar de espadachim, pediu silêncio. Chegava o Urubu-Rei, majestoso, com a imponência de um diplomata, em companhia do Cardeal, seguido pelos passos medidos do Tuiuiu, solene e calado como um túmulo. O moleque do Assoviador e o Cara Suja, cá fora, no sereno, espiavam. Fazendo as honras da casa a esposa do Beija-Flor, com sua clâmide multicolor, a todos recebia alegremente. Nenhuma ave deixou de trazer um tributo para a festa: goiabas, maracujás, pitangas, todas as frutas de todas as regiões vizinhas; as mais belas flores da estação evolavam perfumes, destilando néctar. Corria animada a festa com um lindo programa de canções populares que traziam enlevado o auditório, menos os filhinhos da senhora Beija-Flor. Esses pirralhinhos muito gulosos aproveitaram-se das distrações gerais e lá se foram à mesa do banquete e comeram toda a sobremesa. Entretanto, a mamãe, que os tinha de olho, em lhes dando pela ausência, foi pé ante pé, e os pilhou com o bico na botija. Severa, impôs-lhe imediato castigo: - Vão já, imediatamente, corrigir a falta. Eles saíram, como um raio e por isso ainda hoje os vemos, em busca de néctar, rápidos, apressados, em sua eterna correria.

Extraído do livro: Da Ema ao Beija-flor, de Eurico Santos.






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