sexta-feira, 29 de abril de 2016

AVENTURA NO TAQUARI














Eram exatamente 05:00h da manhã quando saímos de São Paulo com destino a Campo Grande (MS), onde havíamos marcado um encontro com o Zimbo, o Carvalho e o Batista, que formariam a equipe Aruanã para mais esta aventura. Os três companheiros vinham de Corumbá, e nos encontramos por volta das 19:00h na capital de Mato Grosso do Sul. Após um bom jantar, seguimos viagem até a cidade de Coxim, nosso ponto de partida. Lá pernoitamos, e no dia seguinte saímos cedo para as compras finais, que incluíam gelo e combustível. Após carregarmos os barcos com toda a tralha – e bota tralha nisso, já que calculamos cerca de 800 kg em cada embarcação – exatamente às 11:30h, demos partida nos Suzuki e começamos a descer o rio Taquari. Depois de quatro horas de viagem e aproximadamente 60 quilômetros percorridos, resolvemos parar e passar a noite em um local conhecido como Barranqueira, já que esses primeiros quilômetros nada de novo nos mostraram, a não ser o assoreamento do rio, que fez com que encalhássemos várias vezes, sendo necessário que descêssemos dos barcos para empurrá-los, bem no meio do rio, para sairmos dos bancos de areia que lá se formam e mudam de lugar cada dia. São incríveis os resultados da depredação que observamos nessa primeira parte da viagem pelo rio. Apesar do calor, após um bom churrasco nos recolhemos cedo, pois a intenção era puxar uns 200 quilômetros no dia seguinte. Nesse ponto do rio, a correnteza tem uma força impressionante, o que faz com que os barrancos laterais desmoronem. Existem casas bem próximas a esse local, e um dia certamente estarão essas casas dentro do leito do rio. Acordamos muito cedo, e perto das 6:30h já estávamos novamente nos barcos, rio abaixo. Navegamos – se é que essa é a palavra apropriada – por oito horas até encontrarmos o local para nosso primeiro acampamento: Santa Luzia. 



Ao longo do trajeto, ainda convivemos com a face depredada do rio. São bancos de areia no meio do leito, praias, árvores enormes encalhadas, água barrenta e vários barrancos altos derrubados pela erosão dentro da água, levando a mata ciliar consigo. O rio Taquari está realmente agonizando. Leia matéria a respeito nessa edição. (NR. Já publicamos no blog Aruanã, como título “Agonia e morte de um rio em fevereiro de 2016”). Santa Luzia é um local muito bonito e agradável, um piquete de fazenda. O sr. Vicente, morador no local, nos autorizou a acampar lá, e debaixo de árvores frondosas, ficamos muito bem instalados. A barraca grande serve de cozinha, e as pequenas são dormitórios individuais para cada um dos companheiros. Com tudo isso, o acampamento ficou muito bem montado, e no lugar ideal, já que estávamos a dez metros do rio, sobre um barranco gramado e a um metro acima no nível da água. Junto ao barranco a correnteza é forte, formando-se pequenas corredeiras de águas rápidas, onde, vez por outra durante a montagem das barracas, pudemos observar vários peixes atacando os lambaris junto às margens, fazendo com que pulassem às dezenas para fora d’água, na ânsia de se proteger do ataque de seus predadores. Seriam pintados? Dourados? A vontade de jogar linha na água era grande, mas foi adiada devido à prioridade da montagem do acampamento, pois a noite logo chegaria. Gastamos uma hora para preparar tudo. Depois, munidos de varas pequenas, pegamos algumas iscas (sauás e sardinhas) e montamos rápidas linhadas de mão mesmo, que foram jogadas peto do barranco, onde estavam acontecendo os “estouros” de peixe. Foi jogar e fisgar dois pintados, sendo um  pequeno e o outro dentro do limite de captura. Fazê-los subir o barranco é que foi difícil, e os dois acabaram escapando, o que valeu uma boa gozação entre os companheiros. Havia perto de nós um pequeno corixo, que segundo o Sr. Vicente, estava muito bom para pacu. 







À frente, uma “praia” desenhada pelo rio com areia e terra, que com o cair da noite passou a abrigar vários jacarés. A propósito: já conhecemos de longa data o Pantanal quase inteiro, e um fato deve ser ressaltado aqui: nunca havíamos visto por lá uma concentração tão grande de jacarés (muitos deles com mais de dois metros de comprimento) como a que ocorreu nesse trecho inicial do rio Taquari. Eles estavam por toda parte, e em qualquer praia, vinte ou trinta jacarés dormitavam ao sol. A noite chegou rápida e na cozinha o Carvalho já mostrava serviço. Vinha de lá o cheiro gostoso de comida: bife à caçarola, arroz, ovos cozidos, salada de tomate e um excelente consomê de piranha, preparado em Corumbá e trazido na geladeira. Para maior comodidade, desta vez trouxemos um gerador portátil Suzuki (modelo SE 700 A) e a luz elétrica esteve presente em nosso acampamento. Após o jantar, sentamo-nos comodamente e recordamos que, até ali, passamos por locais conhecidos como Casa Amarela, Aldeia, Guanabara, Barranco Alto etc. Lembramos também de um acampamento de pescadores de Jaboticabal, que nos serviram um café e que se preparavam para ir embora, pois lá estavam já havia uma semana sem nenhum peixe, com exceção de um ou dois jaús pequenos. Um outro fato que mereceu destaque nessa primeira parte: em um local onde o Taquari tem aproximadamente 150 metros de largura, pudemos avistar uma garça pousada bem no meio do rio e sobre a água! Milagre? Não. É que naquele local o rio tinha aproximadamente três centímetros de “profundidade”. Entre nossas lembranças e conversas, a noite alta trouxe belos espetáculos como as estrelas, o canto dos pássaros pousados ali e os jacarés da praia, cujas brasas vermelhas dos olhos pudemos ver com o auxilio de uma lanterna. Eram mais de cinquenta. E veio o sono, pesado e gostoso. Ainda não havia amanhecido, e um amistoso cheiro de café invadiu o acampamento por volta das 05:30h, nos convidando a levantar, aliado ao grande elemento motivador: era dia de pescaria.




Bocas de baías fechadas
Após o desjejum, partimos rumo ao corixo próximo, e com bolinhas de farinha de mandioca misturada com borras de café, tentamos os pacus na pesca de batida, com as tradicionais varas de bambu. Às 09:00h, havíamos pegado algo em torno de 20 a 30 pacus, dos quais separamos meia dúzia para nosso consumo e soltamos os restantes. Algumas vezes perdemos fisgadas de pacus, o que era quase impossível de acontecer. Ali tinha coisa. E a coisa se mostrou, assim que colocamos um anzol menor, linha e vara mais finas. Começamos a fisgar então os pacus prata (peba). A cada batida da isca n’água, vinha a corrida rápida, e após a fisgada, mostrava-se a esportividade desse pequeno grande peixe. Fisgar o “disco de prata” é coisa para pescador nenhum botar defeito, e além da briga boa, a carne desse pacu, assada na brasa e servida como aperitivo é algo sensacional. Ficamos nesse “duro trabalho” até mais ou menos 11:00h, e aí, devido ao calor, voltamos ao acampamento. Com os braços doendo, mas satisfeitos pela pescaria. Após o almoço, é preciso “fazer hora” até o meio da tarde, quando o sol está menos forte, para poder voltar a pescar. Durante o almoço, ouvimos um ronco de um motor de popa ainda longe. Com a aproximação do barco, percebemos que era uma patrulha da Polícia Florestal. Quatro soldados nos saudaram, transmitindo as boas vindas e trazendo um recado: o Major Rabelo, que o enviara, prometia nos encontrar rio abaixo, na fazenda de nome São José. Almoçaram conosco e seguiram rumo à Coxim, continuando sua patrulha. Após sua saída, aconteceu o único incidente da viagem.
                                       O INCIDENTE
Nossa carga dividia-se em dois barcos. No primeiro, acondicionamos geladeiras, barracas e tralhas de cozinha. Esse foi descarregado quando da montagem do acampamento, e o estávamos utilizando para as pescarias. 
No outro barco, iam somente o combustível e o nosso Suzuki 8 HP, que usávamos para pescar de corrico nos corixos. Estávamos os quatro sentados tomando café após o almoço, quando, de repente, um silvo agudo se fez ouvir, vindo do barco do combustível. O som foi aumentando e agora vinha acompanhado de uma espessa nuvem branca e um ruído de pancadas fortes também dentro do barco. Como ninguém é de ferro e valente só se é quando se sabe o que se está enfrentando, quando o barulho aumentou, cada um correu para um lado e se protegeu atrás de alguma árvore. Os olhos viam, mas os cérebros não conseguiam entender, até que após as fortes pancadas, o bujão de gás bateu no banco do barco e saiu rodopiando por cima do motor de popa, caindo na água a uns dez metros à frente. E saiu boiando. O Batista então pegou o barco e foi buscar o bujão, que havia se rompido (?) logo abaixo do gargalo. O cheiro no acampamento era insuportável. Evidente está que, após o ocorrido, ficou tudo muito engraçado, pois a cena de cada um de nós escondido atrás de uma árvore foi realmente ridícula. Mas, brincadeiras à parte, não é difícil imaginar o que poderia ter acontecido se uma faísca escapasse e atingisse os mais de 400 litros de gasolina que estavam no barco. Ou então, se ao invés desse bujão, que por sorte não estava em uso, acontecesse isso com o bujão instalado no fogão da cozinha. Será que daqui por diante teremos que acrescentar mais essa à nossa lista de preocupações? A propósito: o bujão era da Supergasbras, e fora comprado em Corumbá, pelo Zimbo. Passado o susto, voltamos a calmaria da tarde quente, onde se deixa o corpo ficar como coisa de quem não quer nada. Lá pelas 16:00h, o Batista tirou o 30 HP do barco de pesca e colocou o Suzuki 8 HP, pois era nossa intenção entrar mais no corixo e mesmo sair no campo alagado. Nesse caso, o manejo é mais fácil se estivermos equipados com um motor mais leve. O 8HP da Suzuki mostrou-se ideal para esse tipo de navegação, e o utilizamos também para o corrico dos dourados. Apesar da pouca potência, é um motor muito valente, tendo tocado nosso Marfin 510 da Levefort com relativa facilidade. 




                                                                              Jacarés nas praias
Mais uma vez a tarde foi de pacus e pacus prata. Uma outra preocupação era pegar algumas iscas para que pudéssemos pescar à noite. Com uma varinha pequena, em mais ou menos quinze minutos fisgamos várias sardinhas e sauás, e vez por outra um pacu peba. A noite vinha, apresentada por um maravilhoso pôr do sol, e voltamos para o acampamento. Na descida do corixo avistamos jacarés, capivaras, ariranhas e um casal de mutuns em uma árvore bem próxima. Na ocasião, comentamos que a ausência de medo dos animais e aves, o que significa a ausência do homem por perto. Estávamos então a 270 quilômetros de Coxim, rio abaixo. Um bom banho de rio, roupa e Autan para enfrentar a boca da noite, já que esse é o horário preferido pelos pernilongos. Depois, um delicioso jantar. Eventualmente ouvimos as batidas de peixes junto às margens do rio, mas a esta altura, ninguém tem coragem ou disposição para pescar. Quando muito vamos até a beira do rio e iluminamos a água com a lanterna. Às 20:00h, cada um vai se recolhendo à barraca que lhe cabe, pois o sono está chegando. Desligamos o gerador e nos integramos com a natureza. Eram mais ou menos 23:30h quando ouvi o Zimbo me chamar lá de sua barraca dizendo que havia gente andando pelo acampamento. Saímos para verificar e a tal “gente” era uma boiada de gado nelore, mais ou menos umas quinhentas cabeças, que rodearam nossas barracas. Com jeito, fomos espantando os bois, que saíram tranquilamente e continuaram a pastar. O detalhe interessante foi que o Carvalho nem acordou, e durante todo o desenrolar desse evento, pudemos ouvi-lo roncando dentro de sua barraca, na paz de Deus. Amanhece o terceiro dia e seguimos a mesma rotina: café bem cedo e toca para o corixo para fisgar os pacus. Tivemos nesse dia um luxo adicional: leite fresquinho tirado na hora, que o sr. Vicente nos trouxe. Mais uma vez, fisgamos uma quantidade enorme de pacus de ambas as espécies, e desta vez saíram também um piavuçu grande e uma boa piraputanga. Esta ultima sim, guardamos para o aperitivo. 

O bujão depois do incidente                                                   



Pacus                                                             



                                                                                Piraputanga
No almoço, além do tradicional, tivemos pacu na brasa. Almoço “almoçado” e toca ficar de papo para o ar, esperando o sol abrandar. No final da tarde, os companheiros saíram para pescar novamente e eu fiquei sozinho no acampamento. Fui à beira do rio para um banho, quando vi um dourado atacar um cardume de lambaris. Pude identificar que se tratava de um dourado, pois após o ataque ele pulou com todo seu corpo para fora d’água. Montei uma vara de duas mãos, uma Abu 6500 e coloquei uma isca artificial Bagley modelo Top Gun. Dei alguns arremessos e ele não fisgou. Fiquei então parado esperando o dourado atacar, e quando aconteceu, joguei a isca em cima do ataque. Pronto. De imediato, o dourado fisgou. Em menos de uma hora, fisguei cinco dourados, todos de bom tamanho, e uma dourada-cachorra. Após a fotografia tradicional, segurei dois, um para trazer para São Paulo e o outro para comermos no acampamento. Soltei os demais. Essa foi uma pescaria agradável e divertida, feita do barranco e andando pela margem. É uma sensação diferente fisgar dourados dessa maneira. Mais tarde, voltavam os companheiros com notícias de vários pacus fisgados e soltos. Aqui abro um parêntesis para mencionar que só quem anda pela natureza pode encontrar. Nesse acampamento, fomos “adotados” por uma família de pássaros pretos, chamados no Pantanal de “tordos”. Eram mais de dez passarinhos frequentando o acampamento. Começamos a jogar arroz e migalhas de pão e eles vinham quase a comer em nossas mãos. Andavam em cima das mesas, no chão e dentro da barraca grande. E como um prêmio para nós, cantavam durante horas, fazendo uma grande algazarra. Eles nos adotaram e não permitiam que outros pássaros, como os cardeais e os galos de campina, descessem das árvores para comer as migalhas. Quando algum mais corajoso se atrevia, era imediatamente expulso por dois ou três pássaros pretos. A noite veio rápida e após o jantar começamos a providenciar nossa partida do dia seguinte, deixando tudo encaminhado. 

                                                                                        Armau
À noite o calor é infernal, já que o vento que sopra durante todo dia pára completamente. O jeito é, quando se acorda durante a noite, tomar um banho de rio. Essa noite passou tranquila sem qualquer incidente. Após o café na manhã seguinte, começamos a carregar os barcos, só deixando as barracas, que ainda estavam molhadas do sereno. Mais ou menos às 10:00h, estava tudo desmontado, lixo recolhido, queimado e enterrado. Estávamos prontos para partir. Após nos despedirmos do sr. Vicente, demos partida nos Suzukis 30 HP e lá fomos nós, Taquari abaixo. Após aproximadamente quatro quilômetros, encontramos um acampamento de pescadores profissionais. Paramos lá para um bate papo, e ficamos sabendo que havia pouco peixe, mas que conseguiram fisgar alguns pintados de bom tamanho, um deles com quase 25 quilos, usando anzóis de galho. Seguimos viagem, encalhamos uma, outra vez e, começamos a tomar contato com um fato novo. Nas margens, balsas com dragas estão fechando a entrada de baías e corixos. Aliás, vimos diversas baías já fechadas, o que é fácil de identificar, pois a areia do fechamento é mais branca e fica a um metro de altura da margem normal do rio. Iríamos encontrar ainda mais oito balsas fazendo esse trabalho criminoso. Há notícias de que, após o fechamento das baías, o cheiro de carniça é insuportável, já que são toneladas de peixes que morrem e apodrecem. Meu Deus! Quem é que tem o direito cometer tal crime. Quem são os responsáveis? Quem autorizou? E seguíamos perguntando uns aos outros, todos inconformados. Continuamos nosso percurso, e na Fazenda São José avistamos o avião do Major Rabelo, que já estava nos esperando. Descemos e o Rabelo veio ao nosso encontro na margem. Na cozinha da fazenda, um arroz carreteiro estava pronto para nós. Batemos um bom papo e falamos das balsas. O Major Rabelo veio ao Taquari para, como ele mesmo diz, nos “dar apoio logístico”. Tudo em ordem. Prosseguimos descendo o rio e ele voltou a Corumbá, onde nos aguardaria. 

                                                        Tuiuiús

Navegamos mais algumas horas e a paisagem agora havia mudado completamente, pois os barrancos altos haviam sumido, dando lugar à vegetação natural do Pantanal. Nesse trajeto pudemos rever locais como Caronau, que marca exatamente a metade de nosso percurso, São Bento, Santa Rita, Fazenda São Benedito, Porto São Fernando, Porto Rolon e Piuvinha, onde acampamos. A escolha desse local não foi aleatória, mas sim por ser lá a única opção de terra disponível. Segundo o Batista, este é o ultimo lugar ali onde há terra seca. Montamos apenas as barracas dormitórios já que na fazenda há um barracão velho que nos serviu muito bem de cozinha. Lá ficamos durante um dia e meio, e praticamente não pescamos, a não ser da margem. Dos moradores locais tivemos notícias de que o peixe ainda não havia “subido”, mas que na época certa (junho a agosto) é possível fazer boas pescarias naquelas imediações. Lá não há muitas árvores, e resolvemos descer mais um pouco em busca de um lugar melhor para acampar. Mais ou menos quinze minutos adiante da Piuvinha, tivemos uma surpresa, já que o rio neste trecho tinha largura aproximada de 50 metros e de repente precisamos entrar à direita, em um pequeno rio que mais parecia um corixo. Perguntamos sobre isso ao Batista, que nos informou que aquele corixo era o leito normal do Taquari. Em alguns locais, nesse estreito, o rio tem apenas cinco metros de largura. No entanto, o que se perde em largura ganha-se em beleza de vida selvagem. São milhares de pássaros, principalmente garças, tuiuiús, baguaris, socós, e biguás que levantam vôo ante nossa aproximação. De acordo com os sinais da natureza, essa é uma dica de muito peixe. Carvalho viu por diversas vezes pintados e dourados rebojando. Percorremos durante mais ou menos uma hora esse trecho estreito do rio. Às vezes avistamos margens, água bem limpa, saída de pequenos corixos. De repente, o rio abre novamente e agora nos mostra baías enormes de água limpa. Continuamos, e após uns quinze minutos demos de cara com um imenso curso d’água: o rio Paraguai. 


                                                                               O gerador Suzuki
À esquerda, a menos de dois quilômetros, Porto da Manga. À direita, a 70 quilômetros, Corumbá. Fotografamos a foz do Taquari com o Paraguai e seguimos adiante. Após algum tempo chegamos à fazenda Rabicho, lugar muito bonito e com facilidades para acampar. Paramos os barcos e após uma rápida reunião, resolvemos, já que estávamos tão perto, ir direto para Corumbá. Nossa missão, que era navegar e fazer um levantamento do estado do rio Taquari, está completa. Desde Coxim até a foz com o rio Paraguai, navegamos cerca de 540 quilômetros no Taquari, mostrando que essa viagem de aventura pode ser feita por qualquer pescador amador. Vimos a destruição do rio, praticamente morto em seus primeiros 250 quilômetros. Durante seis dias observamos suas águas barrentas, resultado da ação do homem. Conhecemos mais um pouco do Pantanal, e esta é a nossa principal tarefa: conhecer e mostrar ao pescador amador os caminhos de possíveis aventuras. Apesar de toda a destruição que vimos, temos coragem de recomendar esse trajeto a nossos leitores, já que antes de tudo, tivemos oportunidade de passar por locais onde dificilmente um pescador irá chegar pelas vias comuns, a não ser que faça como nós fizemos.
Saindo de Coxim, só iremos encontrar recursos no Porto da Manga ou em Corumbá. Por si só, este fato garante de antemão a primazia de saber que vamos pisar em locais praticamente virgens, onde muito pouca gente chega. Gastamos aproximadamente 360 litros de combustível no percurso e nas pescarias, incluindo o consumo dos dois barcos e do motor de 8 HP. Valeu a aventura, especialmente por termos convivido e conhecido um pouco mais desse ainda maravilhoso Pantanal.
                                               À esquerda o Major Rabelo e a chegada em Corumbá

                                                EQUIPAMENTOS     
       
Para essa viagem, usamos dois barcos Marfin 510, fabricados pela Levefort, e estamos credenciados para afirmar que não há barco melhor no Brasil para esse tipo de aventura. Por certo, cada um deles transportou perto de 800 quilos, e a navegação foi perfeita em todo o trajeto. Usamos também dois motores Suzuki 30 HP novos. Foi uma dura prova, já que a navegação nos primeiros 250 quilômetros de rio foi bastante difícil. Para pescarias auxiliares e entradas nos corixos, utilizamos um Suzuki 8 HP, cujo desempenho, devemos salientar, foi perfeita. O gerador Suzuki SE700A nos proporcionou luz elétrica no acampamento, e tem capacidade para oito lâmpadas e um freezer, além de contar ainda com corrente para carregar baterias. Utilizamos o gerador durante cinco noites e ele consumiu apenas oito litros de gasolina. Tem motor de quatro tempos. Seu desempenho foi também absolutamente perfeito. Levamos uma barraca grande para cinco pessoas e quatro barracas pequenas, individuais, assim como dois fogões e dois lampiões reservas. Comentar a qualidade desses produtos usados por nós é desnecessário, já que não é essa primeira vez e nem será a ultima vez que eles nos acompanham por esse Brasil afora. Aí está portanto mais uma aventura realizada pela equipe Aruanã, que contou com a equipe integrada por Antonio Lopes da Silva e Orozimbo Decenzo, além do Carvalho que é jornalista em Corumbá e o Batista, soldado da Polícia Florestal de Mato Grosso do Sul, especialmente designado por seu comandante, o Major Rabelo, para acompanhar a equipe e ver de perto todos os problemas ambientais presentes no trajeto pelo rio Taquari. E mais uma vez afirmamos que, apesar de todos os problemas apontados aqui, ainda vale a pena, e muito, visitar o rio Taquari e conviver com o meio ambiente maravilhoso que o Pantanal ainda guarda para nos surpreender. O leitor Aruanã pode agora fazer esse percurso com toda a segurança e informação.

Revista Aruanã Ed. 34 – junho de 1993


2 comentários:

  1. E acredito que você deve ter visto o Globo Rural. Mostraram muito mas infelizmente falaram pouco de como o Taquari chegou onde está em sua depredação. Um absurdo. Valeu Marcão.

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