sexta-feira, 17 de junho de 2016

FOLCLORE BRASILEIRO - TAMANDUÁ BANDEIRA














Eis aqui mais uma crônica de Eurico Santos onde, com seu estilo delicioso, nos descreve uma lenda indígena acerca da criação dos bichos, mais especificamente o tamanduá-bandeira.





O tamanduá-bandeira é um mamífero esquisitão, cuja cabeça, com longo focinho, alcança 26 cm, o pescoço e o corpo 94 cm e a cauda empenachada quase outro tanto. Isso em referência ao maior deles, o tamanduá-açu, mais conhecido como tamanduá-bandeira, pois existem ainda duas espécies bem menores. A estruturação um tanto extravagante desta alimária sempre encheu de curiosidade os próprios indígenas do Brasil. Explicando como teria surgido aquela criatura, encontra-se a seguinte lenda: Os “caingangs” possuem, como algumas outras nações de índios, uma tradição sobre o dilúvio universal. Nessa lenda se dá notícia de como foram feitos vários animais e muito particularmente o tamanduá, que por usar singular estrutura decerto lhe excitava a atenção. As coisas então se passaram assim logo após o dilúvio. Não havia escapado nenhum animal, tudo morreu ou foi carregado pela água. Então o cadjurucré, que morto pela água se transformara em espírito, começou a fabricar os bichos que teriam que povoar a terra. Com carvão e cinzas das fogueiras começou a tarefa e fez a onça, o veado, o porco-espinho, o macaco, o tatu, a cobra, a coruja, etc. À proporção que os ia fazendo, soltava-os, dizendo o que cada um devia comer. Ensinou também a onça a rugir, ao veado a correr, ao macaco a saltar, à preguiça a não se mexer, ao tatu a cavar e assim por diante. Cada qual sabia logo o suficiente para comer, lutar e viver e se reproduzir. A onça pôs-se logo a campo à procura de carne, o macaco já pulava pelas árvores a descobrir bananas, a preguiça tratou no mesmo instante, de se acomodar em um galho. Cada um, segundo o grande espirito foi granjear a vida. O cadjurucré continuou, sem parança, fabricando bichos e mais bichos. Após dar o ultimo toque na beiça da anta, foi-lhe dizendo já apressado: - Podes ir comer caça. Toca ! Porém a anta surda como o quê, parou e perguntou qual seria seu alimento. O espírito de novo repetiu: carne, carne. – Não entendi bem – disse a anta. –Olha – berrou-lhe aos ouvidos o espírito já sabreirritado – ó surda, vai por aí afora e coma galhos de árvores. Escutou dessa vez a boa alimária e lá se foi correndo, à procura de ramúsculos de árvores, como lhe preceituara o criador. Desde então, a vida delas é correr e comer folhas e galhos de árvores. Cadjurucré já estava cansado de fabricar tantos bichos e as matas já se achavam apinhadas deles. Então disse consigo, já que é a ultima noite de trabalho, “vamos aproveitar esse resto de cinza e de carvão, porque amanhã nada mais farei”. Moldou um corpo longo, peludo, pôs-lhe a cabeça, afinou tanto que ela ficou pontuda quase sem lugar para a boca. Olhou o bicho, que era por demais esquisito e ia já remodelar o conjunto quando a fogueira se extinguiu e a luz do primeiro dia após o dilúvio começava a surgir. Não havia tempo de terminar, e então, o espírito pegou uma varinha que ali estava e, enfiando na boca do bicharoco, disse-lhe: Toca prá frente, vai-te que já chegou o dia. O bicho, entretanto, protestou: - “Isso não se faz” Que vou comer, se nem sequer tenho dentes? O espírito então lhe disse: - Já que não foi possível lhe dar dentes, comerás formigas. Eis porque o tamanduá é mal amanhado e de formigas somente se alimenta.

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