O tamanduá-bandeira é um mamífero esquisitão, cuja cabeça, com longo
focinho, alcança 26 cm, o pescoço e o corpo 94 cm e a cauda empenachada quase
outro tanto. Isso em referência ao maior deles, o tamanduá-açu, mais conhecido
como tamanduá-bandeira, pois existem ainda duas espécies bem menores. A
estruturação um tanto extravagante desta alimária sempre encheu de curiosidade
os próprios indígenas do Brasil. Explicando como teria surgido aquela criatura,
encontra-se a seguinte lenda: Os “caingangs” possuem, como algumas outras
nações de índios, uma tradição sobre o dilúvio universal. Nessa lenda se dá
notícia de como foram feitos vários animais e muito particularmente o tamanduá,
que por usar singular estrutura decerto lhe excitava a atenção. As coisas então
se passaram assim logo após o dilúvio. Não havia escapado nenhum animal, tudo
morreu ou foi carregado pela água. Então o cadjurucré, que morto pela água se
transformara em espírito, começou a fabricar os bichos que teriam que povoar a
terra. Com carvão e cinzas das fogueiras começou a tarefa e fez a onça, o
veado, o porco-espinho, o macaco, o tatu, a cobra, a coruja, etc. À proporção
que os ia fazendo, soltava-os, dizendo o que cada um devia comer. Ensinou
também a onça a rugir, ao veado a correr, ao macaco a saltar, à preguiça a não
se mexer, ao tatu a cavar e assim por diante. Cada qual sabia logo o suficiente
para comer, lutar e viver e se reproduzir. A onça pôs-se logo a campo à procura
de carne, o macaco já pulava pelas árvores a descobrir bananas, a preguiça
tratou no mesmo instante, de se acomodar em um galho. Cada um, segundo o grande
espirito foi granjear a vida. O cadjurucré continuou, sem parança, fabricando
bichos e mais bichos. Após dar o ultimo toque na beiça da anta, foi-lhe dizendo
já apressado: - Podes ir comer caça. Toca ! Porém a anta surda como o quê,
parou e perguntou qual seria seu alimento. O espírito de novo repetiu: carne,
carne. – Não entendi bem – disse a anta. –Olha – berrou-lhe aos ouvidos o
espírito já sabreirritado – ó surda, vai por aí afora e coma galhos de árvores.
Escutou dessa vez a boa alimária e lá se foi correndo, à procura de ramúsculos
de árvores, como lhe preceituara o criador. Desde então, a vida delas é correr
e comer folhas e galhos de árvores. Cadjurucré já estava cansado de fabricar
tantos bichos e as matas já se achavam apinhadas deles. Então disse consigo, já
que é a ultima noite de trabalho, “vamos aproveitar esse resto de cinza e de
carvão, porque amanhã nada mais farei”. Moldou um corpo longo, peludo, pôs-lhe
a cabeça, afinou tanto que ela ficou pontuda quase sem lugar para a boca. Olhou
o bicho, que era por demais esquisito e ia já remodelar o conjunto quando a
fogueira se extinguiu e a luz do primeiro dia após o dilúvio começava a surgir.
Não havia tempo de terminar, e então, o espírito pegou uma varinha que ali
estava e, enfiando na boca do bicharoco, disse-lhe: Toca prá frente, vai-te que
já chegou o dia. O bicho, entretanto, protestou: - “Isso
não se faz” Que vou comer, se nem sequer tenho dentes? O espírito então lhe
disse: - Já que não foi possível lhe dar dentes, comerás formigas. Eis porque o
tamanduá é mal amanhado e de formigas somente se alimenta.
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