sábado, 30 de julho de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - IÇÁ













Nada melhor do que transcrever na íntegra, o texto do livro Dicionário dos Animais do Brasil, de Rodolpho Von Ihering, sobre o içá. Senão vejamos.




“É a fêmea da saúva, a rainha do sauveiro, conhecida como tanajura no norte do Brasil.”. De outubro a dezembro, os iças virgens saem do ninho e, voando, encontram-se com os machos (chamados sabitus) também alados. Depois, cada fêmea, tendo escolhido o local onde vai fundar o novo ninho, desfaz-se das asas por auto-amputação e cava a primeira panela, o início do futuro sauveiro. Enclausurando-se então por toda a vida, fecha a porta de entrada, e seu primeiro cuidado é iniciar o horto de cogumelos, de que única e exclusivamente se alimenta esta espécie de formiga. O iça tem o cuidado de levar consigo, antes do vôo nupcial, uma partícula do fungo, como semente, guardando-a em um recanto especial da cavidade bucal. O primeiros ovos que o iça põe, ao que parece, destinam-se a um fim todo especial – e será certamente este um caso raro em toda a série animal: a própria mãe os desmancha, espalhando a preciosa substância sobre o chão, para servir de meio de cultura para os cogumelos. De fato, o içá precisa cuidar com todo o carinho da sementeira, pois nesta primeira fase ele não conta ainda com o auxilio da prole, que depois se encarregará desse trabalho, trazendo continuamente vegetais frescos para as ‘panelas’; é sabido que toda a folhagem que as saúvas carregam para o ninho, tem unicamente a serventia de meio de cultura para o cogumelo, alimento de toda a população do sauveiro. Logo após a postura dos ovos, que começa em 45 dias do início do ninho, provém as primeiras formigas operárias e com elas o sauveiro começa a funcionar, isto é, a depredar a vegetação circunvizinha e principalmente a lavoura. “Para combater os iças, muitas pessoas do interior fazem de seu abdomens roliços, uma fritura denominada de paçoca, que ao serem fritos, lembram no cheiro, o torresmo frito”. Mas a grande guerra aos iças, incumbe aos pássaros que, voando os comem avidamente. Que prazer sente o lavrador, ao ver o caçador emplumado apanhar o iça no ar, saboreando comente sua bola de ovos e solta o resto, que não lhe apetece. Assim mutilada, a formiga ainda tem vida por algum tempo e já vimos um iça nessas condições ocupado em cavar sua panela, quando, claro está, nada mais há a temer, pois os ovos não os tem mais. Nas escolas rurais, as crianças são dispensadas pelo professor, no momento em que começarem a aparecer os primeiros içás, mas com a recomendação de catarem, na roça, quantas dessas formigas puderem encontrar. No dia seguinte, à vista do resultado obtido, serão conferidos prêmios aos que mais formigas cataram e assim, além do estímulo e do proveito direto, as crianças sempre mais se compenetrarão dessa necessidade absoluta de combate aos içás, para impedir a formação de outros sauveiros novos”. De nossa parte, acrescentaríamos apenas que os iças e sabitus, nos dias de hoje, também são catados pelos pescadores, já que são excelentes iscas para a pesca de tilápias, e como prêmio, fazem ou recebem boas pescarias.

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