sábado, 16 de julho de 2016

FOLCLORE BRASILEIRO -- COBRA NORATO









Segundo esta lenda, originário do Rio Amazonas, Cobra Norato assustava os moradores das regiões ribeirinhas porque acreditava-se que comia pessoas. Fama injusta. Seu desejo era se tornar gente, mas para isso era preciso a coragem de alguém em dar-lhe crédito...



Trabalhava na roça uma mulher. Foi à beira do rio beber água e sentiu uma dor no ventre. Já se sabia, estava grávida. Quando deu à luz, viu que era um casal de gêmeos na forma de duas cobras. Filhos do pecado quase sempre nasciam cobras. Zelina, ao nascimento dos filhos, teve vontade de matá-los. O curador, o velho pagé, a aconselhou que não fizesse isso. Jogou as cobras no rio, onde então se criaram. Foram crescendo. Honorato possuía bom caráter e costumava visitar sua mãe. Já Maria Caninana era cobra má, sempre fazendo coisas que sua mãe não gostava. De tantas maldades praticadas, resolveram por matá-la um dia. Honorato era um moço encantado em uma cobra. Para visitar sua mãe, deixava sua pele, a casca da cobra, na beira do rio, à noite. Mas antes de amanhecer, era preciso vestir novamente sua pele e voltar a ser cobra, vivendo no grande rio e percorrendo por ele as grandes cidades. Nas suas visitas, pedia à mãe que o desencantasse. Para isso era preciso que alguém lhe jogasse umas gotas de leite na boca, quando estivesse como cobra, e lhe fizesse um corte na cauda para que o sangue saísse. Era um moço muito bonito e algumas noites se tornava gente para aparecer nos bailes, mas antes de clarear o dia, desaparecia. Aproveitava essas ocasiões para pedir aos demais que o desencantasse. Ninguém tinha coragem. A cobra era feia, enorme, tão horrenda, e ainda corria o boato que poderia comer as pessoas que se aproximassem. Quem se arriscaria a ajuda-lo? Já cansado de pedir, encontrou um dia um soldado muito corajoso. Pediu-lhe então. O soldado, para mostrar sua valentia, aceitou a incumbência. Na beira do rio, pela manhã, Honorato em forma de cobra, encontra-se com o soldado no lugar marcado. Este, sem medo, levou o leite e a faca. Jogou-lhe o leite na boca e com a faca abriu-lhe um corte na cauda, quando jorrou sangue. Imediatamente Honorato desencantou-se. Transformou-se finalmente em gente, e não trouxe mais medo aos moradores do grande rio Amazonas, nem se viu mais Zelina chorando pelo filho.

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