sexta-feira, 5 de agosto de 2016

AVENTURA NO RIO PARAGUAI MIRIM











Mais uma vez, nossa equipe vai até o Pantanal viver uma aventura em uma nova rota, que pode, agora, ser percorrida por todos os pescadores amadores. Acompanhe-nos nessa narrativa e divirta-se. Vale a pena!




Nossa equipe da esquerda para a direita: Antonio, Aluísio, Renato e Tonhão
O rio Paraguai Mirim era o ultimo dos desafios para que nossa equipe concluísse, praticamente, todo o Pantanal matogrossense. Somando-se os 350 km desse percurso às quilometragens de todos os roteiros anteriormente publicados, chegamos à marca de mais de 6.000km percorridos em rios pantaneiros, desde a nossa primeira aventura. Em princípio parecia fácil, pois 350 km é um trecho bastante pequeno em comparação a algumas de nossas aventuras. Porém, várias surpresas estavam reservadas para nós. Além de mim, faziam parte da equipe o Renato Decenzo de Corumbá – (NR: filho do Zimbo, que infelizmente está no céu junto com ele), o piloteiro Aluísio e o cozinheiro Tonhão. Antes de sair rumo ao Paraguai Mirim, permita-me dizer como foi minha viagem até Corumbá, ou melhor, em um trecho em particular: os últimos 12 km antes de chegar ao Passo da Lontra.

Os buracos na estrada
Realmente, é uma vergonha o governo de Mato Grosso do Sul permitir que essa “estrada” continue do jeito que está. Dizer que ela tem buracos é muito modesto. O melhor é afirmar que o asfalto, em metros, é mais fácil de medir do que o tamanho dos buracos. Demorei cerca de 1h20 para cumprir esse trecho, sem contar que os barcos que estavam amarrados na carreta quase caíram, tantos foram os trancos. Vai ver que é uma “estratégia inteligente” do governo sulmatogrossense para “preservar” o Pantanal, já que daqui a pouco ninguém mais vai conseguir chegar até esse local através da rodovia. O pior é que quem mora lá também não vai conseguir sair. Fico a imaginar o que devem achar os turistas que fazem esse percurso... Após o Passo da Lontra, a estrada melhora um pouco, mas aí começa outro grande problema. Para quem andou 12km em velocidade que não ultrapassa os 5km/hora, é inevitável aumentar a velocidade quando a estrada melhora. Pois bem. Essa velocidade que beira os 60km/hora é o suficiente para causar um desastre na fauna local.

Animais atropelados
Nessa viagem, tanto na ida como na volta constatamos vários animais atropelados, entre eles: capivaras, tamanduás-bandeira (em extinção), sucuris, jacarés, cachorros-do-mato, lontras (em extinção), além de urubus e gaviões que também são atropelados enquanto devoram as animais mortos. A caça da maneira tradicional está proibida. Matar por atropelamento, não. Não podemos culpar os motoristas, pois os bichos saem do mato de repente e são mortos, já que não há tempo para qualquer reação. Só para constar, lembro-me de viagens ao exterior, mais precisamente à Noruega e Finlândia, onde pude ver as cercas colocadas ao longo de toda a extensão das estradas, induzindo os animais a atravessar onde não haja perigo algum, ou seja, por passagens subterrâneas ou pontes especiais. Exigir do governo sulmatogrossense que providencie cercas desse tipo parece piada. Se a própria estrada já é um exemplo de abandono, que dizer de cercas para proteger animais?

Moradores ribeirinhos
E continua a brincadeira de ecologia, ou melhor, continuam a serem omissas e irresponsáveis, as autoridades responsáveis pelo meio ambiente no Brasil. Pois bem. Às 8.30h, nossos dois barcos Marfin da Levefort, estavam carregados com cerca de 500 kg de carga cada um e prontos para partir. Nas popas, dois motores Tohatsu, respectivamente de 30 e 40 HP. Nossa intenção era, saindo de Corumbá, descer o Paraguai, entrar no Paraguai Mirim, percorrer toda a sua extensão, sair novamente na boca de cima no rio Paraguai e descer por este até Corumbá novamente, completando assim os 350 km desse percurso. Mas havia um problema: seria praticamente impossível realizar pescarias nesse trecho, pois havíamos recebido notícias de que nesses dois rios havia a “decoada” (veja quadro específico sobre esse problema). Começamos a aventura e, após 40 minutos de navegação, avistamos a foz do Paraguai Mirim. Entramos por ele e depois de mais uma hora de navegação, encontramos o rio Negro.


O acampamento
Navegamos ainda mais 40 minutos por esse rio até chegarmos ao nosso primeiro acampamento. Devido às cheias, havia poucas opções de acampamento, pois os barrancos estavam quase todos submersos. Finalmente achamos um ponto alto e seco e montamos o acampamento. Quem conhece o rio Negro como nós o conhecemos há alguns anos atrás, com suas águas completamente cristalinas, estranha um pouco... agora, suas águas são barrentas e a correnteza é bem mais forte. A explicação é simples: em outra aventura percorremos todo o Taquari, e naquela ocasião denunciávamos que o rio estava sendo assoreado.  Pois bem, essa terra veio descendo e a saída do Taquari no rio Paraguai, perto do Porto da Manga, foi bloqueada. Restou então ao Taquari abrir uma nova passagem para suas águas, que correm agora em direção ao rio Negro, alagando grande parte de terreno outrora bom e seco.

Rio Negro
Com esse alagamento, milhões de árvores morreram, estando hoje seus “esqueletos” de galhos secos a apontar para o céu. É uma visão aterradora, parece que aquelas tristes estruturas estão a invocar o céu pedindo proteção, denunciando e confirmando que as autoridades do meio ambiente em nosso país são uma piada de muito mau gosto. As fotos desta edição dizem mais do que mil palavras. Vamos em frente. Montamos nossas barracas Coleman tipo Iglu, e desta feita contamos com mais uma comodidade: os colchonetes infláveis Coleman, que tornaram nossas noites muito mais confortáveis. Às 4h00 da tarde estava tudo pronto e restou-nos apenas começar aquela “vida dura” de pescaria. Sabíamos de antemão que Pantanal “subindo” (e o nível das águas esteve subindo muito) não é o ideal para a pesca. Mas uma revista séria e honesta como é a Aruanã tem a obrigação de realizar seus roteiros com antecedência suficiente para possibilitar que a publicação da matéria coincida com a época boa, que será a partir do mês de abril.

Foz do rio Paraguai Mirim
Afinal, de que adiantaria irmos para lá na melhor época e publicar a matéria depois que ela tivesse passado? O importante é oferecer ao nosso leitor a melhor oportunidade de ir pescar no Pantanal. Restava-nos ir atrás do peixe mais “fácil” da ocasião: o pacu. E ele se fez presente. Nos quatro dias em que estivemos no rio Negro, fisgamos vários pacus na modalidade de batida com isca de tucum, todos dentro do limite de captura. No segundo dia aconteceu uma coisa inédita, que confirma a sina de pescador, pois se contada, todos vão dizer que é mentira. Mas já que tenho os companheiros de equipe como testemunhas, vamos ao fato. Descíamos batendo nossas iscas no rio Negro quando, perto de um corixo de águas limpas, um peixe fisgou e após uma breve briga ele saltou e se mostrou: um dourado. Pois é, prezado leitor, acredite se quiser, mas afirmo que em mais de 30 anos de pescaria no Pantanal, pela primeira vez fisguei um dourado em isca de tucum na modalidade de batida.


Barco em movimento 
Esse foi o único. Outra coisa nessa viagem que nos chamou a atenção aconteceu quando o Aluísio sugeriu que entrássemos nos corixos rasos atrás dos pacus. Para se ter uma idéia, a profundidade desses corixos era de pouco mais de um metro. Nesse caso, a batida da isca tem que ser diferente, pois assim que ela toca no fundo – e isso é rápido – deve-se tira-la e bater novamente. É diferente do rio, onde após a batida deixa-se a isca afundar para só depois tira-la para nova batida quando a linha da vara de bambu começa a entrar por baixo do barco. No raso, apesar de ser muito mais trabalhoso, quando o pacu ferra é sensacional, já que ele briga mais para os lados. Graças ao Aluísio aprendi mais essa dica, o que vem confirmar que, em matéria de pescarias, quanto mais se vive, mais se aprende. Passamos nesse acampamento quatro dias maravilhosos e tomávamos banho nos corixos, onde a água ainda é cristalina. Muitos pescadores conhecem as cenas exibidas na televisão sobre a região de Bonito.


Palmito
Pois bem, os corixos do rio Negro têm suas águas tão limpas quanto os de Bonito. Do barco, basta olhar para a água para avistar várias espécies de peixes em profundidade que chegam a mais de cinco metros. É mesmo um aquário natural com plantas subaquáticas de várias cores, num espetáculo de rara beleza. A partir de abril, recomendamos aos pescadores que forem ao rio Negro que pesquem, principalmente, nas corredeiras (existem muitas), pois a presença de dourados e pintados é maciça. Restarão também os pacus que, nessa época além da pesca de batida, poderão ser fisgados com o barco apoitado usando-se o caranguejo como isca. Para o dourado e o pintado, três iscas são recomendáveis: jeju, tuvira e iscas brancas (sardinha, lambari, piau, etc), além lógico, das artificiais com barbela. Feito o acampamento, restava-nos seguir viagem para mostrar o percurso total do Paraguai Mirim, que é um rio de excelente piscosidade. Nessa viagem, como já havíamos dito a “decoada” atrapalhou totalmente a pescaria.

Destruição da floresta

Pacu

Encontro das águas dos rios Negro e Taquari 
Segundo nossos piloteiros, de onde estávamos até a entrada do Mirim no Paraguai gastaríamos cerca de 3 horas. Mal sabíamos o que nos esperava. Seguimos tranquilamente, quando de repente o rio fechou. Moitas e moitas de camalotes trancavam totalmente o leito do rio. Confiantes na própria experiência, os piloteiros afirmavam que conseguiríamos passar. Restou-nos ficar calados e esperar para ver no que aquilo ia dar. A “operação rio limpo” começou. No Marfin da frente estavam o Aluísio e o Tonhão, enquanto eu e o Renato ficamos no barco de trás. Os piloteiros colocavam os remos em cima do camalote, pisavam neles para maior sustentação e empurravam o barco pelo meio das moitas. Quando venciam mais ou menos dez metros, uma corda que unia os dois barcos era puxada por nós para alcança-los na distância percorrida. O calor era insuportável e tudo ficava ainda mais difícil por estarmos fazendo força. Não pretendo me alongar demais nessa narrativa, basta apenas dizer que “achamos” cinco pontos do rio trancados.

Tucum

O dourado do tucum

O beco sem saída
Os dois primeiros foram vencidos da maneira descrita, mas os três restantes só foram vencidos graças à potência dos motores Tohatsu, que foram submetidos a essa dura prova e saíram-se muito bem. A única preocupação era verificar se a bomba de água estava resfriando o motor e limpar as hélices, o que fazíamos a cada 5 metros, devido ao acúmulo de aguapés nas mesmas. Nesse ponto, é importante dar um crédito a essa nova marca de motor de popa. Nunca, em tempo algum, forçamos motores de popa como fizemos com esses dois Tohatsu. O caso era que o cansaço já nos dominava a todos, e o jeito foi apelar para a força dos motores, que suportaram tudo tranquilamente, e se isso servir como teste de campo, os Tohatsu foram aprovados sem qualquer restrição. Para fazer o percurso que normalmente levaria três horas, acabamos gastando o dobro de tempo. Finalmente, com o rio limpo à frente, era só acelerar e ganhar distância. Faltava pouco mais de meia hora para sairmos no rio Paraguai, quando tranquilamente uma sucuri atravessou o rio à nossa frente.

Onde esta o rio? 
Entreolhamo-nos e a decisão foi unânime: vamos pega-la para fotografar. Dito e feito. Só que a sucuri, que tinha cerca de cinco metros, já havia chegado perto da margem e estava enroscada nos galhos de uma árvore caída. Três de nós a agarramos pelo rabo e tentamos arrasta-la para o rio. Esse “braço de ferro” durou cerca de dez minutos, atestando a força descomunal da cobra. Fora da água, desde que se segure muito bem sua cabeça, a sucuri não oferece perigo algum. Fizemos as fotos e liberamos a cobra, que seguiu sua viagem, assim como nós. Deixamos o Paraguai Mirim às 14h20 e exatamente às 17h30 chegávamos a Corumbá, finalizando o percurso. Aqui vão alguns detalhes da viagem: gastamos cerca de 250 litros de combustível no trajeto e nas pescarias. Para os futuros aventureiros, recomendamos que se informem antes sobre as condições do rio Paraguai Mirim, pois se ele estiver fechado a melhor opção é mesmo adiar a viagem, evitando assim grandes problemas.


Sucuri
Por outro lado, recomendamos o rio Negro como um excelente local de pescaria, principalmente devido à sua proximidade de Corumbá. Finalmente nossos agradecimentos ao Aluísio e ao Tonhão que podem ser contatados através da Igaratá Turismo, em São Paulo, pelo telefone (011) 62-7810. (NR: A Igaratá Turismo, segundo nossas fontes ainda opera no Pantanal, no entanto, o telefone de S.Paulo, deve ser confirmado). Agradeço também ao Renato Decenzo, nosso companheiro de outras aventuras. Um agradecimento ao Edgar da Igaratá, sempre presente nas páginas da Aruanã, através dos anúncios de seu barco hotel. Se não pudéssemos ter contado com a valiosa ajuda dele, certamente nossa viagem teria sido muito mais difícil. Concluindo, dedico um agradecimento especial à Levefort pela cessão dos dois barcos modelo Marfim; à Abrasu pela cessão dos dois motores Tohatsu; à Motul Óleos Lubrificantes pelo fornecimento do óleo dois tempos e à Coleman pela cessão das barracas e colchões infláveis. São todos produtos de primeira linha e satisfizeram completamente nossas exigências, sendo que podemos seguramente recomenda-los a nossos leitores.




Publicado na Revista Aruanã ed. 56 em 04/1997




2 comentários:

  1. Mais uma bela aventura, Toninho.Já entrei no Paraguai Mirim, mas na parte de cima, a partir de Corumbá. Também já fisguei, uma única vez, um peixe na modalidade de batida com tucum, mas foi um pintadinho, inexperiente com certeza... Eheheh... Abraços...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Um belo rio Marcão, principalmente se levarmos em consideração a beleza dos corixos de águas limpas e do rio Negro. Perde-se de um lado (Taquari) e ganha-se de outro (Negro). Grande abraço e obrigado

      Excluir