sábado, 24 de dezembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - SUCURI











Em tupi guarani, sucuri significa “a que morde rápido, atira o bote”. Cientificamente, essa serpente é classificada como Ennectes murinus.





Em seu livro, Dicionário Animais do Brasil, Von Ihering dá uma descrição ampla desse réptil. Diz ele: “É a maior serpente do mundo, pois só tem como rival em tamanho a Python reticulatus das ilhas em Sumatra e Bornéo, que atinge 10 m de comprimento”. O maior espécime autenticado de sucuri, guardado no museu de Londres, mede 20 pés (8,7 m). temos notícia exata de um sucuri de 11,28 m de comprimento, (infelizmente foi apenas contado por “caçador”, que os maiores exemplares atingem 12 a 15 m). Peles com 8 m de comprimento não são raras e então medem 75 cm de largura. O colorido é pardo-azeitona, com uma série dupla de grandes manchas pretas. A cabeça é revestida por numerosas escamas pequenas, como nas “serpentes venenosas” e não como nas cobras comuns que tem seus escudos simétricos. A sucuri não é venenosa, mas, utilizando-se de incrível força muscular, mata qualquer presa que consiga enroscar; arrochando os laços e as voltas com que enlaça o corpo da vítima, quebra-lhe os ossos e assim, só mesmo o tempo para preparar o bocado para deglutição. Alimenta-se principalmente de peixes, aves aquáticas e grandes mamíferos, que frequentam as águas onde ela própria passa a maior parte da vida; capivaras. antas, bem como veados e outros animais que surpreende nos bebedouros. Vive só nas matas que margeiam os grandes rios; não existe no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, nem no litoral paulista; mas do interior deste estado ela se estende para o norte até o Orinoco. Ao homem acostumado às grandes caçadas, a sucuri, mesmo sendo de porte avantajado, não atemoriza. Um tiro certeiro na cabeça ou na espinha põe o monstro fora de combate. Há casos verídicos de lutas em que, errada a pontaria, a sucuri consegue enroscar-se no caçador, porém, os companheiros o salvaram prontamente. Em geral ela não ataca crianças; Bates nota dois casos em que os pais acudiram em tempo para livrar os filhos de estrangulamento.




No tempo de procriação ouve-se um bramido intenso; contudo a descrição que a respeito faz o general Couto de Magalhães, é certamente exagerada. No cativeiro, nos primeiros tempos não aceita alimento algum e um espécime persistiu nessa teima durante 19 meses, sem com isso ter emagrecido. Bastante generalizada, apesar de tão pouco verossímil, é a fábula que explica como a sucuri consegue deglutir um boi – a serpente devora o corpo e deixa apodrecer o crânio com os chifres, que lhe ficam atravessados entre os maxilares. O maior animal que, segundo observação bem documentada, foi encontrado na barriga da sucuri, era um suçuapara, veado do tamanho de uma novilha, como documenta o general Couto de Magalhães. Medido a maior circunferência dessa sucuri, o mesmo autor indica 7 palmos, o que atribui estar o corpo muito distendido pelos gases provenientes da putrefação do animal contido no estômago. A cabeça desse exemplar não era, no entretanto, maior que a mão de um homem e assim a deglutição da presa só se realiza graças a enorme distensibilidade dos tecidos, à qual os ossos, que se desarticulam, não opõem embaraço. Rodolpho Von Ihering conclui: “Apenas a título de curiosidade, para documentar o exagero a que muitas vezes se deixam arrastar os escritores, quando se referem aos répteis avantajados, transcrevemos um trecho das famosas Cartas do Padre Anchieta” e, será quase inútil prevenirmos o leitor contra o desfecho arqui sereno. ‘As sucuriubas engolem, como disse, alguns animais grandes, que os índios chamam de tapiaras (anta); e como o estômago não os possa digerir, ficam estendidas no chão, como se estivessem mortas, não se podendo mover, até que o ventre apodreça juntamente com o alimento; então as aves de rapina lhes dilaceram o ventre e o devoram, ao mesmo tempo que seu repasto; depois, informe e semidevorada, a serpente começa a se reformar: crescem-lhe as carnes, estende-se-lhe a pele e volta à sua antiga forma’.

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