sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

REALIDADE - NÃO ERA ÉPOCA!








Todos os anos, a história se repete com os mesmos detalhes. O pescador amador marca sua pescaria no Pantanal/Bacia Amazônica e depois de gastar muito, percebe que a pescaria não teve o sucesso por um fato muito simples, “já havia passado a melhor época de pescar”. Como evitar essa falha? É o que veremos a seguir.






Em primeiro lugar, temos que saber que o Pantanal pode e deve ser dividido em três regiões, a saber: Pantanal norte (região de Cuiabá), Pantanal centro (região de Corumbá) e Pantanal sul (região de Porto Murtinho). Como ocorre todos os anos, desde que o mundo é mundo e que existe o Pantanal, existem duas épocas distintas: as das chuvas e a das secas. E mais, sempre começa a chover no norte, mais ou menos em outubro/novembro. Vamos imaginar que todo o Pantanal é uma grande concha. Ora, com a chuva no norte, essa região ficará, com os rios sujos, água nos campos e portanto ruim de pescar. Por volta de março, dependendo da chuva, que determinou a altura da cheia, a água começa a limpar e nos rios a piscosidade aumenta e muito, tendo então o pescador amador que escolheu essa região para pescar, muito mais sucesso. Vamos tomar por base o rio Paraguai para dar a dica seguinte e esta não é imaginária, pois está cientificamente comprovada: a vazão desse belo rio, desde sua foz até o Oceano Atlântico, é de aproximadamente um centímetro por quilômetro. O próprio pescador amador pode raciocinar então que, com esse declive suave, toda a água acumulada pelas chuvas começará a descer da região norte para a região centro e depois para a região sul. Tal prática é inevitável. Pois bem, uma boa dica é saber o quanto choveu no norte e que altura a cheia atingiu. 





Para saber disso o pescador pode acompanhar o noticiário da imprensa, que fala sempre, às vezes com sensacionalismo, das enchentes pantaneiras. Se a cheia foi muito forte, a melhor época para a pesca na região norte é mais ou menos um mês depois que as águas começaram a baixar. Isso pode acontecer em março ou abril e talvez até antes. Ora, se em março o norte está cheio, o mesmo não acontece no centro e no sul. Pela prática, podemos dizer que as águas do norte chegarão ao centro mais ou menos a partir de maio e no sul a partir de julho. Nessa época, no centro e no sul, diferentemente do norte, onde as águas estão baixando, os rios começarão a subir, provocando então as mesmas enchentes e notícias da imprensa. Vamos colocar então, como informação principal para a nossa pescaria, como exemplo o mês de março, com base na região norte. A resposta a nossa pergunta tem que ser segura e verdadeira. No mês de março vem à informação de Cuiabá dizendo que o nível dos rios já começou a baixar, por exemplo, três centímetros por dia. Pronto, o período da vazante começou e aí o pescador que quiser marcar sua pescaria para o Pantanal norte pode se preparar. A sua disposição, para uma boa pescaria, estarão os meses de março até junho ou julho e, se houver chuvas atrasadas, até agosto e meados de setembro. 





Outra dica: se no Pantanal norte as águas começaram a baixar três centímetros por dia, com certeza (isso é regra), no Pantanal centro o nível das águas estará subindo. Afinal de contas é a mesma água “ladeira” abaixo. Quando as noticias derem conta que no Pantanal centro as águas começaram a baixar, e isso ocorre mais ou menos em junho, e na mesma proporção de alguns centímetros por dia, é o sinal para marcar sua pescaria para essa região. Na região sul, o nível das águas, na mesma época, ainda estará subindo, e a dica é esperar também que comece a baixar, o que deve ocorrer por volta de agosto ou setembro. A bem da verdade deve-se dizer que os meses citados nesta matéria podem ser diferentes, pois o que irá determinar o mês certo será a quantidade de chuva que cair, determinando a altura da cheia.  Pronto, aí está uma regra que deve ser rigorosamente obedecida, para quem quer ir pescar e pescar bem. Uma outra dica muito importante: pela nossa experiência, diríamos ou aconselharíamos ao pescador que procure pescar sempre quando começar a vazante, com o nível de água alto. Eu explico: com bastante água limpa movimentando-se na vazante, a água do Pantanal estará nos campos, onde se pescará muito bem o pacu, no sistema de batida, tanto no campo como na saída deste para o rio. Os corixos estarão cheios e nas suas entradas ou saídas para o rio irão se formar pequenas corredeiras, onde a água correrá mais rápida. 



São os melhores locais para a pesca de dourados e pintados. Quando as primeiras praias começam a aparecer, as beiradas são excelentes pesqueiros para pintados e jurupocas. Com a água no mato, e se houver um ninhal em cima das árvores, estes locais tornam-se excelentes para a pesca esportiva da piraputanga. Para finalizar, diríamos ainda que, com a vazante, as saídas de água para o rio são ótimos pesqueiros, pois estas águas estarão trazendo as iscas naturais para o rio principal. Citamos tais iscas: frutas e coquinhos (pacu); pequenos peixes, que se movimentam em cardumes, para saírem dos baixios e não ficarem presos em lagoas, tais como: lambaris, sauás, sairús, traíras, jejus, tuviras, etc (dourados e pintados). Para finalizar, podemos afirmar que todas essas dicas acontecem exatamente iguais, porém em épocas diferentes, nos três “Pantanais” aqui citados. No entanto, se o pescador amador continuar a marcar sua pescaria com um ano de antecedência, ele estará jogando com a sorte. Se suas férias coincidirem com o período e a quantidade de chuvas e cheias certas, “aleluia”, a pescaria será excelente. Se não, haverá a triste constatação de que, mesmo com todo o dinheiro gasto, “não era a época certa”, desculpa esta que além de não explicar, não justificará o mau resultado. Dica final: nunca pergunte ao dono de um pesqueiro como está de peixe, pois esperando sua presença e seu dinheiro, ele, com raras exceções, dirá sempre que está muito bom de peixe. 






Com sua chegada e verificação de que não está tão bom assim, a justificativa será sempre a mesma: o cardume estava aqui “na porta do pesqueiro” ainda ontem. Com certeza já passou. E lá vai nosso rico dinheirinho e não vêm nossos pobres peixinhos. Já nos rios da Bacia Amazônica, essas dicas variam e muito. Devemos abrir exceção nessa variação sobre as chuvas. São elas, as chuvas, que irão determinar também, na região qual será a melhor época para fazer sua pescaria. Mas isso é outra história a ser publicada brevemente.

NOTA DA REDAÇÃO: A Revista Aruanã tinha um serviço ao seu leitor chamado de SOS PESCADOR, que podia ser acessado por telefone. Qualquer problema que o pescador tivesse, bastava ligar para o SOS é nós tentávamos resolver da melhor maneira possível. Muitos problemas foram resolvidos com nossa atuação. Um desses problemas, que gerava muitas consultas, era qual a melhor época para marcar uma pescaria, tanto no Pantanal como na Bacia Amazônica. Para dar uma resposta exata, contávamos nós com uma série de amigos, pantaneiros ou amazonenses, que nos davam a posição, em altura, das águas dessas Bacias. Isso facilitava muito a ida do pescador, em sua pescaria anual. Observando certas regras, dificilmente o pescador errava sua pescaria. 


     Amazônia na época das secas


Nossa informação principal – que era passada ao leitor – tinha por norma prever as melhores épocas, apenas passada a época das chuvas. Não adiantava marcar a pescaria, por exemplo, com 6 meses de antecedência, já que era impossível prever a quantidade de chuvas na região. Passada a fase das chuvas, tínhamos então a altura das águas, por exemplo, em Cuiabá, onde podíamos calcular, pelo volume, qual seria a melhor época no Pantanal Norte, Centro e Sul, já que inevitavelmente, as águas seguiriam seu rumo rio Paraguai abaixo, mostrando cheias e vazantes. Na Bacia Amazônica, as informações partiam dos amigos de Santarém, Manaus, Porto Velho e outros. Simples mas, bastante seguro e com praticamente nenhuma margem de erro.  Dito isso, alguns fatos engraçados. Sempre informávamos que era bobagem perguntar ao dono do pesqueiro como “estava de peixe”, já que a resposta era sempre muito boa e que a reserva podia ser efetuada a qualquer tempo ou época. Evidente está que havia exceções. Raras, mas havia. Marcando uma pescaria, pela agenda do empresário do setor, este já podia fazer suas contas de onde e como investir, pois o sinal já havia sido depositado. Acertar uma boa pescaria, marcada com muita antecedência, era então uma questão de sorte determinada pela altura das águas na época e, no local. Um fato verídico acontecido com uma turma nossa conhecida e, por ela a nós relatada. 

Corredeira em corixo

Chegada à data marcada ligaram para o pesqueiro escolhido perguntando como estava de peixe. Resposta: “muito bom de dourado, pintado e pacu”. Com essa boa notícia, lá foram eles para a pescaria anual dos sonhos. Chegando ao pesqueiro, a verdade foi outra. Praticamente nada de peixe “bom”. O empresário disse então à turma: “até um dia antes de vocês chegarem, tinha um cardume enorme aqui na porta. Pelo jeito deve ter passado, mas deve melhorar logo, logo”. Não foi verdade e a turma voltou praticamente sem nenhum peixe. Dinheiro gasto à toa. E o pior de tudo foi que, o tal empresário, para garantir seus clientes telefonou para o chefe da turma e teve a cara de pau de dizer: “no dia seguinte, depois que vocês foram embora, acreditam que um cardume enorme de pintados e dourados ‘encostou’ aqui na região? Foi muito azar de vocês, mas ano que vem a coisa deve mudar”. Com certeza não precisamos dizer mais nada. E, reservo-me o direito de não informar o pesqueiro ou a região, por motivos óbvios. E mais, não marque sua pescaria com muita antecedência, já que conforme a altura dos rios, ela pode ser ou não, de boa qualidade. E, não se preocupe com as vagas, pois por certo elas estarão à sua disposição, na época certa. E melhor ainda: caso não tenha vagas, acampe. Dá um pouco mais de trabalho, mas os resultados serão muito melhores.


Revista Aruanã Ed.25 -  dezembro de 1991

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