quarta-feira, 1 de março de 2017

ESPECIAL: UM POUCO DE NOSSA HISTÓRIA








Poderíamos falar muito sobre a grande Cachoeira de Marimbondo/Índios mas, o que mais nos chamou a atenção, é a história de um pescador em especial, que nos remete a nossa origem, onde pescar, antes de tudo era puro prazer.





O pescador Jover Assad Karam



Cachoeira de Marimbondo/Índios



Pescando em ceva

Para se contar uma boa história é preciso, antes de tudo, identificar seus personagens, os fatos e se possível, as imagens. Graças a uma publicação sobre a Cachoeira de Marimbondo/Índios, que por gentileza de Kenji Honda, nos forneceu uma imagem antiga de um pôster que, ao ser publicada no Facebook, surgiram vários comentários de leitores de nossas publicações. Em especial um: Rogério A. Dias. Explico. Rogério, como ele próprio confessa, é um leitor assíduo da Revista Aruanã, e tem a coleção desde o número 1, e como ele mesmo nos disse, era difícil esperar dois meses por uma nova edição. Junto com ele, outro personagem surge nesta história, seu avô Jover Assad Karam, também leitor da Aruanã e pescador inveterado e iniciador de Rogério na arte da pesca. Karam – vamos chama-lo assim – tinha como um lugar especial e aonde ia muito pescar que era a Cachoeira de Marimbondos. Como todo bom pescador, uma máquina de fotografias era companheira de viagem inseparável. Para nossa sorte e de gerações futuras, ele tirou com sua velha máquina e em filmes branco e preto, várias fotos de suas aventuras em Marimbondo, com suas paisagens e peixes maravilhosos. 


Um lugar especial para pescar

Deixemos um pouco de lado, Karam e suas pescarias, para ver o que temos sobre essa cachoeira nas Redes Sociais. Por exemplo, poderíamos falar a respeito da construção da Ponte Mendonça Lima, no rio Grande, em 1943, que ligaria Minas Gerais com São Paulo; poderíamos citar também o livro “Diário de uma viagem pelo sertão paulista, realizada em 1904”, de Cornélio Schmidt, em viagem feita com o norte americano Thomaz Canty, onde conta as primeiras pesquisas para a construção de uma usina hidroelétrica no rio Grande; importante citar que antes dos saltos existem duas ilhas, a de cima chama-se Escura e a de baixo Pelada, e para baixo do salto, mais duas também, a primeira chamada dos Patos, e a de baixo, Ferrador, que dizem ser a causadora da Cachoeira do Ferrador e para finalizar esta citação: “em 1912, Jesuíno da Silva obteve concessão (Decreto nº9. 403) para o aproveitamento da força hidráulica da Cachoeira do Marimbondo no rio Grande, entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais”. O projeto ficou apenas no papel, não foi concretizado e a concessão expirou, para o desespero da população daquela região que sonhava com a moderna luz elétrica. Sobre a cachoeira em sua extensão havia vários saltos tais como o do Ferrador, dos Índios, das Andorinhas, dos Patos, da Onça e atentem para este nome – da Água Vermelha.



Os irmãos Assad Karam
                                                  AS PESCARIAS


Era comum, quando a pescaria iria ser realizada em Marimbondo, uma extensa preparação devido à distância que separava a capital de São Paulo, do local das pescarias. E mais, nessa preparação o acampamento era indispensável, pois não havia qualquer outra comodidade a ser aproveitada e usada. A “barraca” era uma lona que sempre alguém tinha uma, que por certo servia como cobertura da carroceria de algum caminhão. Montada a barraca, ela iria servir como cozinha, dormitório e sala de refeições, normalmente montada perto da água do rio. A tralha de pesca era bem simples. Karam tinha uma carretilha, mas a grande maioria pescava mesmo era com varas de bambu e linhadas de mão e estas de grosso diâmetro, pois era assim que se lutava com os dourados e os peixes de couro, que “teimavam em descer corredeira abaixo” sem se importar com quem os tinha fisgado. 



Uma imagem parcial de Marimbondo

Pescarias mais calmas eram feitas nos poços, onde as cevas eram aproveitadas e lado a lado os pescadores se divertiam com as piabas, piabanhas, piaparas, piaus entre outros e todos de grande porte. Fisgar qualquer uma dessas espécies na vara de bambu era uma luta dura e demorada, até o peixe cansar. O melhor de tudo eram os papos que rolavam soltos, pela proximidade dos pescadores nos poços. Para se ter uma idéia da piscosidade da Cachoeira de Marimbondo/Índios, para lá se dirigiam pescadores de vários estados do Brasil, em longas viagens em carros ou caminhões. Era uma aventura a ser vivida como, por exemplo, hoje, no Pantanal ou Bacia Amazônica. Pisar nas rochas daquele lugar era considerado uma graça e muitos afirmavam ser aquele solo, sagrado.


                                                   O FIM DE MARIMBONDO

Em 1979 finalmente a barragem de Água Vermelha represa as águas do rio Grande. Lentamente o nível das águas foi subindo e com o passar do tempo, aquele lugar maravilhoso e sagrado, foi sendo tragado silenciosamente estando até hoje lá, abaixo de muitos metros de água, em uma represa que tem 647 km2 de extensão, cujo único motivo de sua criação é gerar energia elétrica para nosso país. 


Jorge segurando um dourado

Marimbondo repousa submersa em suas águas e com certeza sem o barulho de suas corredeiras e saltos, em seu túmulo eterno. Deve continuar a ter seus contornos e disposições, porém, sem as margens, vegetação, poços e corredeiras originais, onde Jover Assad Karam, que já está pescando no céu, consegue ainda visualizar, pois aos pescadores que se tornaram estrelas no céu, tudo é possível. Karam, seus irmãos e amigos deixaram fotos, histórias, conhecimentos e exemplos para provar que um dia, essas maravilhas existiram e que, os pescadores da época, que lá pescavam, souberam e muito aproveitar. Que descansem em paz. Muito obrigado.



Nota da Redação: A exemplo do que foi feito com Marimbondo, podemos citar ainda o canal de São Simão e Sete Quedas (Salto Guaíra) e tantos outros, em nome do progresso. E tudo isso continua a ser feito atualmente e, desta feita, são os rios diversos da Amazônia. Esquecem nossas autoridades de meio ambiente, que o custo de uma escada para peixes, custa menos do que 1% do total de sua obra e elas são feitas e aprovadas em sua eficiência, em vários países do mundo. A grande maioria das represas do rio Grande não tem esse simples, barato e importante detalhe. Lamentavelmente.


2 comentários:

  1. Parabéns, Toninho, me fez ter saudades do local sem nunca ter ido lá...

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  2. Obrigado Marcão: Eu também nunca estive lá. Não deu tempo mas, viajava nas histórias que meu pai e amigos falavam de Marimbondo. Ainda bem que o nosso leitor Rogério A. Dias tinha esse verdadeiro tesouro de imagens de seu avô, que deu margem então a postagem. Pobre Brasil. E, seria só nas questões ambientais? Abraço amigo

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