sábado, 29 de abril de 2017

FOLCLORE DO BRASIL - A GRUTA DOS AMORES










Na baía de Guanabara (RJ) existem várias ilhotas e ilhas. Três são mais conhecidas: Governador, Paquetá e Flores. A mais encantadora é Paqueta, de onde surgiram algumas lendas. Uma delas é a da Gruta dos Amores.



Itanhantã era um jovem índio, forte como pedra, que ia constantemente pescar e caçar na ilha, nos tempos dos tamoios. Remando em sua ligeira ubá, apanhava os peixes para sua tribo ou caçava com sua flecha veloz e certeira as aves ou caça abundantes na região. Passava boa parte do dia nesta tarefa, e após a pesca ou caçada, repousava na sombra amena e acolhedora de uma gruta de pedra existente na ilha. Muitas vezes ia acompanhado de uma jovem indiazinha que lhe apanhava a caça. A indiazinha se encantava com a força e agilidade do jovem caçador e aos pouco foi se apaixonando por ele, que nunca se apercebera do seu olhar envolvente. Muitas e muitas foram às vezes que foram juntos pescar e caçar e Itanhantã não lhe dava a mínima atenção. A tristeza por esse amor não correspondido enchia o coração da indiazinha de dor. Subia no alto da pedra que formava a gruta, e ao ver Itanhantã lá embaixo, repousando na sombra, punha-se a chorar. Suas lagrimas eram tantas que molhavam a pedra. Para espantar seu desencanto, a indiazinha cantava e eram os mais ternos cantos que até hoje se ouviram em Paquetá. Diariamente, logo que o dia amanhecia, a indiazinha subia na pedra e cantava, esperando Itanhantã chegar para descansar. E todos os dias suas lagrimas caíam na pedra. Seus cantos e suas lagrimas não amoleceram o duro coração de Itanhantã, mas transpassaram a pedra e um certo dia caíram sobre os olhos do caçador adormecido. Ele se assustou e correu em direção à sua ubá, quando avistou a indiazinha e pela primeira vez reparou em sua beleza. No outro dia, ao voltar àquele local onde sempre repousava, escutou o canto de Poranga – a indiazinha – e notou a linda voz da jovem. Não demorou muito para se apaixonar também. Ao se casarem, as lágrimas de Poranga se transformaram na fonte de água que existe na Gruta dos Amores. E quem quiser encontrar um amor para a vida inteira, basta tomar, junto com a pessoa amada, umas gotas da água dessa gruta.
Obra consultada: Brasil – Histórias, Costumes e Lendas.

Alceu Maynard Araújo

sexta-feira, 28 de abril de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - CARPA









Pode ser considerada como o peso pesado das represas. Sua pesca não é difícil, pois sua presença é garantida nas cevas.



Nos dias atuais, podemos afirmar que a carpa está presente em praticamente todas as represas do Brasil. Ao contrário do que muitos pensam, esse peixe é originário da China e não do Japão. Foi introduzida no Brasil em 1882, primeiramente com a espécie comum denominada Cyprinus carpio. Muitos foram os peixamentos efetuados em represas por autoridades em piscicultura, mas o grande contribuinte para que as carpas proliferassem em nossas águas foram os pequenos criadores. Há alguns anos, as carpas eram os primeiros peixes que os pequenos sitiantes escolhiam para povoar seus açudes. Muitos desses açudes, por sua rusticidade, acabaram por desmoronar, levando então vários peixes água abaixo, para riachos e rios e finalmente para as represas. Assim sendo, é muito comum ver-se hoje carpas, que originalmente eram amarelas e com o dorso escuro, nas cores branca, vermelha, preta e até bicolores em nossas represas. Tudo isso devido às criações particulares, citadas acima. Outras importações de carpas foram efetuadas e soltas nas represas. Assim, temos hoje espécies denominadas como carpa-capim, carpa-espelho, carpa-prateada, etc., chegando algumas dessas espécies a atingir mais de 40 quilos. Na pesca, não há muitos segredos para se fisgar as carpas, e a dica principal seria utilizar as cevas que atraem os peixes para um local determinado pelo pescador amador. Os melhores locais para se fazer uma ceva são aqueles que não têm profundidade maior do que três metros e que sejam limpos, de preferência sem galhadas, pedras ou outros obstáculos. Como material para a ceva, devemos usar mandioca crua em pedaços, batatas doces, restos de queijo, pães e acondiciona-los em sacos de ráfia, juntando-se nesse saco uma pedra para faze-lo ficar no fundo das águas. O saco de ráfia é usado principalmente para fazer com que a ceva fique em um mesmo lugar, já que, se a deixarmos solta, as carpas irão leva-la para longe de onde fora colocada. No saco, com o passar dos dias, esses alimentos irão se soltando, e mesmo após a descoberta da ceva, serão sugados pelas carpas através da malha da ráfia. Uma outra dúvida do pescador refere-se à massa para ser usada como isca. Por uma questão de raciocínio lógico, devemos usar como massa o mesmo material usado na ceva. Assim sendo, podemos fazer uma boa massa usando farinha de mandioca crua, uma batata doce cozida e amassada em forma de purê, um saquinho de queijo ralado e farinha de trigo (para dar melhor liga). Juntamos tudo em uma bacia e vamos adicionando água até formar a massa. Normalmente, devemos fazer a massa na noite anterior à pescaria. Depois de pronta, colocamos a massa em um saco plástico hermeticamente fechado e a conservamos na geladeira. Na hora da pescaria, só abriremos o saco para retirar a quantidade necessária para cada isca, voltando a fechar o saco e tendo o cuidado de conserva-lo ao abrigo do sol e calor. Normalmente, uma bolota de isca será do tamanho de um limão galego. O material de pesca será uma linha com bitola 0.35 a 0.50 milímetros e anzóis entre 1/0 a 3/0. Existe hoje “uma “invenção” chamada de chuveirinho” que consiste em vários anzóis e uma pequena mola colocada dentro da isca. Faça sua experiência e opte pelo que achar melhor. Após fisgar uma carpa, canse bem o peixe, já que sua boca é considerada “mole” e, se não trabalhada e cansada suficientemente, perderemos vários peixes. Quando for pescar em um pesque e pague, lembre-se que as cevas já estarão feitas. A dica aqui é fazer a massa a partir da ração com que são alimentadas as carpas naquele lugar. A melhor época para se começar uma ceva será o mês de abril, já que as carpas são muito produtivas durante o inverno, ou seja, a partir de maio até meados de setembro. Boa pescaria.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

DICA - LEVANTE O CARDUME













Algumas espécies têm por hábito permanecer em profundidade quando estão em cardumes. Para quem pesca com iscas artificiais, se o peixe não subir, fica difícil realizar uma pescaria. Solução? Veja a seguir.






Rattl’n

Entre as espécies mais procuradas pelo pescador amador, vamos falar de algumas que têm o “péssimo” costume de, quando estão em cardumes, permanecer na profundidade, raramente vindo à tona para pegar em nossas iscas artificiais, as quais, em sua maioria são do tipo que bóia, ou se preferirem, do tipo floating. Evidente está que existem também iscas que afundam (sinking) e entre estas destacamos, por exemplo, a Rattl’n da Rapala, que consegue atingir qualquer profundidade. No entanto, o uso desse tipo de isca pode causar certos transtornos, principalmente quando existem tranqueiras ou outros obstáculos (tais como galhadas e paus) nos locais onde estamos pescando. Na profundidade, o modo de agir desses peixes é praticamente igual, pois ficam todos parados, quando muito se locomovendo de um lado para outro sem alterar a distância percorrida em seu curso, tanto para cima como para baixo. 

Rebel Pop (Popper)

Alguns estudos explicam esse comportamento dizendo que o peixe “gosta” de permanecer numa camada de água chamada de termo-climal, onde a temperatura, naquele dia e hora lhes é mais agradável. Uma outra particularidade sobre a qual não há estudo algum, mas que já foi observada por nós em diversas ocasiões é a presença de alguns peixes de grande porte entre os integrantes do cardume que está em locais profundos. Já notamos que os “grandões” ficam praticamente parados ali, sendo que os peixes menores preocupam-se em ficar à sua volta, talvez por respeito ou mesmo por medo de serem comidos ou atacados. Para o pescador que presencia a cena, é inevitável o desespero, pois por mais que insista em jogar sua isca no local, os peixes não dão a mínima. Ainda pior é quando achamos um bom pesqueiro onde os peixes não estão visíveis. Cansamos de tanto jogar a isca e eles não atacam de jeito nenhum. Mudamos então de pesqueiro, pensando que ali não há peixe algum, o que na maioria das vezes não é verdade. 

Heddom Dying Fluter (Hélice)

Quando um pesqueiro é bom, com boa estrutura, com “bons antecedentes” (outras pescarias de sucesso no mesmo local) e ainda assim não há ação de peixes, existe algo “suspeito”: desconfie. Entre as espécies que mais adotam o comportamento de que estamos falando, podemos citar, além de robalos e tucunarés, o próprio black bass e alguns peixes do mar, como anchovas, atuns, albacoras e até os bicos. Para os peixes de água salgada, resta-nos recorrer aos teasers, às iscas de superfície e ao barulho das pás da hélice do motor, na tentativa de chamar-lhes a atenção para que subam e encontrem nossas iscas. E no caso de robalos e tucunarés? Bem, nesse ponto a experiência dita que não podemos usar nada além de nossas iscas. Assim sendo, já que sabemos que ser o barulho nossa única opção, vamos escolher então iscas com essas características. Desse modo, teremos à nossa escolha alguns modelos de iscas que, com o barulho que ocasionam, com certeza farão o cardume subir, ou algum peixe mais curioso. 

Bass no Popper

Jumpin’ Minnow

Enumeramos a seguir algumas delas, descrevendo o trabalho que deve ser executado pelo pescador para que tenham melhor efeito.
                                                  STICKS
São plugs (iscas em formatos de peixes), com dois ou três anzóis. Devido a um pequeno chumbo em sua cauda, pára em posição vertical na superfície da água, ficando apenas com a “cabeça” para fora. Devem ser trabalhados com dois ou três toques leves, o que os faz mergulhar, sendo que quando paramos de puxar, ficam oscilando até pararem completamente. Nesse ponto, iniciamos novamente o trabalho, parando logo a seguir. Um outro trabalho interessante para essa isca é faze-la vir descrevendo evoluções na superfície da água com pequenos toques contínuos. Nesse tipo de trabalho não devemos parar a isca até que ela chegue perto do barco.
                                                  POPPERS
São também plugs, ou seja, iscas com formatos de peixe, providas de dois ou três anzóis.



Pesqueiro de pedras 

Os poppers diferenciam-se por ter uma pequena “boca” na extremidade posterior do corpo. O trabalho consiste em dar um ou dois puxões com força, fazendo com que a isca imite um peixe abocanhando um alimento qualquer na superfície. O barulho da isca trabalhando deve ser exatamente esse.
                                                   ISCAS DE HÉLICE
Como o próprio nome diz, são iscas que trazem pequenas hélices em uma ou duas extremidades. Também em formato de peixes podem ter um, dois anzóis, ou mais anzóis. Seu trabalho consiste em que o pescador dê puxões de aproximadamente 50 centímetros, fazendo com que as hélices girem e movimentem a água. Pode-se trabalhar muito bem dando um, dois ou até três puxões do mesmo comprimento citado. O importante é fazer as hélices girarem. Como prova de que o trabalho está sendo bem executado, verifica-se a espuma que se forma logo atrás da isca. 



Heddon Zara Spook (Zara)                                                 
                                       ISCAS EM ZIGUE ZAGUE
Sem dúvida são excelentes e contam com uma grande diversidade de modelos. Algumas são famosas, como é o caso da Zara, da Jumpin Minnow (que recebeu dos pescadores o apelido de “joão pepino”), da Jumping Mullet e outras. Também tem formato de pequenos peixes, sendo guarnecidas por dois ou três anzóis. São trabalhadas com puxões constantes no recolhimento, desde o arremesso até chegar ao barco. Podem ser trabalhadas lenta ou rapidamente, além da alternativa de, em meio a qualquer das duas velocidades, dar-se puxões para que saltem e façam mais barulho. Afinal, a tradução literal de jump é “saltar”. Quando está no pesqueiro, o pescador não deve ter preguiça de mudar de isca. Deve faze-lo quantas vezes achar necessário e experimentar todos os tipos e modelos. O principal é fazer barulho na superfície da água. 



Jumping Mullet

Aqui, cuidado: nessas condições especiais, o único barulho que se admite é o da isca na água. Fazer qualquer outro ruído ou chegar muito perto do pesqueiro com o barco só irá fazer com que os peixes desçam mais ainda. Se mesmo executando corretamente todo o trabalho descrito aqui, utilizando as iscas sugeridas e ainda assim os peixes não subirem, resta somente uma ultima, incontestável e verdadeira explicação: a pressão atmosférica está baixa. Aliás, em várias oportunidades já falamos sobre isso aqui na Aruanã. Quando a pressão atmosférica está baixa, infelizmente não há nada que faça o peixe subir. Aí, o melhor mesmo é dizer um belo palavrão e partir para outra atividade no local da pescaria. Sugestões? Um belo churrasco, um bom mergulho, uma boa volta de barco ou então um cochilo em uma sombra, até chegar a hora de voltar para casa. Cada pescador escolhe a sua. As sugeridas ou as que ele quiser optar.                      



Publicado na Rev. Aruanã Ed: 49 Fev. 1996

sábado, 15 de abril de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL -- MICO-LEÃO-DOURADO










        MICO LEÃO
         DOURADO



          Leontopthercus rosalia rosalia







Um animal de exuberante beleza, a par de sua raridade, o mico-leão dourado mostra-se bastante sensível a alterações em seu meio ambiente natural. Vamos conhece-lo.




Ao relatar as viagens do explorador Fernão de Magalhães ao redor do mundo, em 1519 o navegador italiano Antonio Pigafetta descreveu um animal encontrado no Brasil como um “belo gato, parecendo símio, semelhante a um pequeno leão”. Hoje, ameaçado de extinção, o mico-leão dourado é o único animal do mundo que tem um comitê internacional em defesa da preservação da espécie, além do Projeto Mico-Leão Dourado, envolvendo dezenas de entidades científicas estrangeiras e centenas de cientistas. Iniciado em maio de 1983, no Brasil, o Projeto Mico-Leão Dourado está dividido em três etapas básicas: o reflorestamento e recuperação da Reserva Poço das Antas, a reintrodução da espécie no habitat natural, que inclui o trabalho feito no cativeiro e a educação conservacionista do animal e do ecossistema do qual participa. O primatologista Aldemar Coimbra Filho, diretor do Centro de Primatologia da FEEMA, lembra que o desmatamento e a caça seletiva foram as principais causas da extinção do animal: “Durante muito tempo, o mico-leão foi animal de estimação, e há alguns anos, todo o zoológico do mundo tinha alguns exemplares da espécie, mas devido às dificuldades da criação em cativeiro, eles iam morrendo. Compravam mais micos e eles morriam” – explicou Aldemar. Com peso médio de 600 g, o mico-leão dourado tem vida aproximada de 15 anos, é monógamo e vive sempre numa mesma família. Não ultrapassam os 40 cm de comprimento. Movimentam-se com duas ou quatro patas e, quando filhotes, são carregados nas costas pelo pai ou pela mãe, por comodidade ou defesa. Com um ano, estão prontos para a reprodução. Possuem dentes afiados e alimentam-se de todos os tipos de insetos, frutas e verduras. Devido à alimentação variada que têm, os micos-leões são verdadeiros elementos de equilíbrio do ecossistema. Exigentes quanto à qualidade de vida, percebem com facilidade as deficiências no ambiente e, portanto, quando o mico-leão dourado está bem, tudo vai bem no habitat natural.

                                    NOTA DA REDAÇÃO: 
Pesquisando um pouco mais a espécie e suas apresentações, nos deparamos com este trecho de Von Ihering, simplesmente poético e que, no entanto, explica como aconteceu – em sua versão - seu começo de extinção. (sic) Copiado do original

            Dicionário dos Animais do Brasil Rodolpho Von Ihering 




sexta-feira, 14 de abril de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - SURUBIM CACHARA












Existem duas espécies da mesma família que são confundidas entre si: o surubim pintado e o surubim cachara. Na verdade, são peixes bastante diferentes. Confira.






O nome certo para se identificar essa espécie de peixe de couro, seria em princípio o nome surubim, seguido então pelo seu tipo, como por exemplo, pintado, cachara, chicote, etc. Porém, o nome surubim de origem tupi-guarani, dá pouca luz à sua espécie, já que, em dialeto indígena, significa peixe verde ou azulado. Outro motivo que também dá margem a confusão é que as duas espécies mais comuns, pintado e cachara, estão no mesmo ponto dos rios, se misturam entre si, e pertencem às duas bacias hidrográficas do Brasil, no Pantanal e na Bacia Amazônica. No entanto, cientificamente, apesar de pertencerem à mesma família, a dos Pimelodidae, seus nomes diferem, pois enquanto o cachara é chamado de Pseudoplatystoma fasciatus, o pintado é o Pseudoplastystoma coruscans. Um outro ponto a diferencia-los é o tamanho e o peso, já que o pintado é bem maior, havendo registro de peixes com mais de 65 quilos e 2 metros de comprimento. O cachara já é mais modesto, pois seus registros dão conta de que atinge 25 quilos de peso ou pouco mais, e aproximadamente 1 metro de comprimento. No Pantanal, o cachara pode atingir um peso máximo de aproximadamente 12 quilos. Já na Bacia Amazônica, dependendo da região, atinge peso superior a 25 quilos. O interessante no cachara é o seu aspecto, já que em vez de pintas (como o pintado), seu corpo é coberto com listras pretas transversais no dorso, apresentando algumas poucas pintas, principalmente nas nadadeiras. No mais, são muito semelhantes entre si. Seus locais preferidos são os poços mais profundos dos rios, porém também e muito comum encontra-los nos baixios, principalmente praias de areias dentro dos corixos, onde dá caça ao seu alimento. Alguns pescadores chegam a afirmar que o cachara é um peixe de hábitos noturnos. No entanto, essa afirmação pode ser contestada, já que é muito comum fisga-los durante o dia. Se tivéssemos que escolher a melhor hora de fisga-lo, preferiríamos o amanhecer e o entardecer, entrando noite adentro até mais ou menos nove horas da noite. Seus principais alimentos são os pequenos peixes tais como lambaris, sauás, piaus, sardinhas, jaraquis, entre outros. Costuma também pegar em tuviras, mussum e até em minhocoçu. Uma boa dica é que, em determinada época do ano, especialmente no começo da vazante, suas iscas melhores são as chamadas iscas brancas, preferindo os peixes citados acima às tuviras. Não podemos deixar de citar também que não é raro fisgar o cachara em iscas artificiais, principalmente quando a isca passa ao alcance de seu ataque, normalmente pescando-se no sistema de corrico e nos baixios do rio. O material mais correto para sua pesca é de categoria média/pesada no que se refere a carretilha/molinete e varas. As linhas podem variar entre 0,45 a 0,80 milímetros, e o anzol também pode varias entre o 6/0 até o 10/0. Usa-se só um anzol e chumbada oliva solta na linha. O peso da chumbada obedecerá a correnteza de onde se estiver pescando. É conveniente usar um encastoado de aço na sua pesca, se não tanto por sua causa, mas por causa das piranhas que frequentemente atacam a isca destinada aos cacharas e podem então romper a linha de pesca. Normalmente, a briga proporcionada pelo cachara, dependendo de seu tamanho, costuma ser boa e de grande duração. Sua carne é de excelente sabor. As principais modalidades de sua pesca são de rodada, em poços profundos do rio ou então apoitada, principalmente nos poços profundos e nas entradas dos corixos, onde haja correnteza. Outro lugar onde costuma estar é após as corredeiras, onde haja pedras e poços com boa profundidade. Boa pescaria. 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

ESPECIAL - CASSA(Ç)ARAM OS CAÇADORES







No estado de São Paulo, os caçadores são representados pela ABC – Associação Brasileira de Caça e Conservação, entidade que vem lutando há muitos anos, fazendo um trabalho sério e principalmente mostrando a quem quiser ver, que a caça é um direito de cada cidadão. Pois é, essa associação perdeu mais uma batalha, porém a luta continua...

Poucos conseguem realmente enxergar esta foto!


O trabalho de um pointer mestre

O estado de São Paulo acabou de ganhar sua nova constituição. Depois da aprovação da Carta Magna do país em 05 de outubro de 1988 todos os estados tiveram um ano de prazo para, à luz das reformas introduzidas no texto federal, modificar as suas próprias. É óbvio que, dada a importância momentosa da questão ambiental, todos os estados incluíram um capítulo “do meio ambiente” em seus projetos de constituição. Nenhum inconveniente haveria se o “ambientalismo” não tivesse sido dominado por pessoas que de natureza entendem muito pouco. Defender o verde no Brasil hoje é patrimônio de ideologia políticas, de pessoas bem intencionadas mas mal informadas, de pessoas com a mais absoluta má fé, de jornalistas ávidos por manchete sensacionalista, de políticos oportunistas e daqueles que colocam seus objetivos e interesses pessoais acima de qualquer outra coisa. A natureza? Ela não sabe de todo esse “esforço” e o resultado é um só: continua morrendo. E, nos “referidos capítulos sobre meio ambiente”, ao lado de preposições corretas, algumas barbaridades acabaram sendo aprovadas. Proibiu-se a caça amadorista no estado de São Paulo e no estado de Mato Grosso. Tentou-se fazer o mesmo no Rio Grande do Sul, mas a reação imediata dos caçadores locais, apoiados pelo Projeto Pró-Fauna e pela manifestação de ecologistas de respeito como o Dr. José Lutzemberger, Dª Magda Denne e José Truda Palazzo, fulminou tal iniciativa. Em Goiás um trabalho muito eficiente da Associação Brasileira de Caça e Conservação e o bom senso dos legisladores prevaleceu. Mas em São Paulo, centro da virulência ambientalista, nossos esforços foram em vão. Sob o signo da modernidade tratou-se não de implantar o manejo sustentado dos recursos naturais, mas de proibir o uso da fauna selvagem através da caça; não de incentivar o uso sábio da natureza; não de criar alternativas à destruição provocada pelo fazendeiro, pelo agricultor, pelo pecuarista que vão ganhar a vida de suas terras, mas tratou-se de transformar convicções pessoais em lei, de impor a todos a sua vontade; de ignorar os fatos e a realidade e brincar de “faz de conta”. 



Vinte e sete anos se passaram. Adivinhação?



Nota da Redação da época

Todos os argumentos foram válidos. E nós nas galerias, depois de 20 dias de trabalho árduo tentando explicar a cada deputado como só a caça regulamentada poderia salvar a natureza do Brasil, tivemos de escutar coisas como: - Companheiros deputados, os caçadores abandonam varas de bambu com lâminas cortantes no mato para ferirem as capivaras e matá-las após longo sofrimento; - Os caçadores caçam macucos na Serra do mar com armadilhas que prendem as aves pela pata provocando gangrena e a morte após longo e cruel martírio; - Só existem 2% de florestas do Estado, onde eles querem caçar?; - Existem mais de 200 espécies em extinção no país, o que eles querem caçar?; - Nobres deputados, façam como eu, votem pela vida, votem contra a caça. Hipocrisia, enormes e deslavadas mentiras que não resistem à menor análise embasada no conhecimento e no bom senso. Mas a proibição foi aprovada com a seguinte votação:
                                                   PELA PROBIÇÃO
Abdo Hadade, Adilson M. Alves, Aloisyo Nunes, Lobbe Neto, Tonca Falseti, Lucas Buzato, Rubens Lara, Arnaldo Jardim, Carlos Apolinário, Clara Ant, Daniel Marins, Edinho Coelho, Edson Ferrarini, Eduardo Bittencourt. Ercy Ayala, Expedito Soares, Fauze Carlos, Fernando Silveira, Getulio Hanashiro, Guiomar Mello, Hilkias de Oliveira, Ivan Valente, Jairo Mattos, João Bastos, João do Pulo, Jorge T. Mudalen, José Cicote, José Coimbra, Alcides Bianchi, Luiz Máximo, Luiz Francisco, Luiz Lauro, Francisco de Souza, Maurício Najar, Mauro Bragatto, Milton Baldochi, Nabi Abi Chedid, Néfi Tales, Eni Galante, Nelson Nicolau, Oswaldo Bettio, Randal Juliano Garcia, Roberto Gouveia, Conte Lopes, Rute Escobar, Sebastião Bognar, Tadashi Kuriki, José Mentor, Vanderlei Macris, Dalla Pria, Vicente Botta, Vitor Sapienza, Matos Silveira, Waldir Alceu trigo, Osmar Thibes, Inocêncio Erbella, Campos Machado, Waldemar Chubaci, Aria Kara José.



O descanso do guerreiro                                                      

                                           CONTRA A PROIBIÇÃO
Afanásio Jazadji, Erasmo Dias, Luiz Furlan, Hatiro Shimomoto, Barros Munhoz, Marcelino Romano Machado, Paulo Osório, Valdemar Couraci Sobrinho, Vadih Helu.
E vergonhoso foi ver deputados caçadores e pescadores participarem e concordarem com essa comédia (ou seria tragédia) sem terem a hombridade de manifestar seu repúdio a tudo isso. E você que é só pescador não se iluda. Essa brigada de defensores dos direitos dos animais logo vai achar que é cruel enganar um peixe com uma isca (ou algo semelhante), retira-lo de seu meio e deixa-lo morrer asfixiado (ou mata-lo) e desse ato desumano retirar prazer, satisfação ou lazer e esporte. Afinal já fizeram a polícia parar uma peça de teatro onde um dos atores retirava uma carpa de um grande aquário e o deixava por 10 segundos fora d’água. A alegação? O peixe corria risco de vida!!! Chega. Temos que reagir, pois enquanto essas pessoas obtiverem espaço nos veículos de comunicação, apoio de órgãos ambientais do governo, e tiverem poder político, as verdadeiras causas da degradação ambiental estarão acabando com nossas riquezas e nós, caçadores e pescadores, seremos condenados à execração pública. Veja como seu deputado votou. Cobre dele uma postura digna e, se ele votou contra você, lembre-se, no ano que vem teremos novas eleições e aí será a hora de dar o troco.
Ricardo Freire é diretor executivo da ABC – Associação Brasileira de Caça e Conservação.
NOTA DA REDAÇÃO ATUAL: Se você leitor, chegou até aqui em sua leitura peço humildemente que volte até a lista dos deputados estaduais que votaram contra a abertura da caça no estado de São Paulo. Você verá muitos nomes conhecidos de políticos. Alguns já morreram. Outros desapareceram da vida publica, pelo menos em candidaturas, “mas podem estar ainda por aí”, ocupando algum cargo político e evidente de direito e nunca de fato. Continue a reparar e vai constatar que alguns continuam se reelegendo e o pior, alguns ocupam hoje altos cargos na esfera federal. Dizer o que mais? Você ainda acredita em “órgãos de meio ambiente oficiais no Brasil”? Pobre Brasil.



Revista Aruanã Ed:14 Publicada em 02/1990

sexta-feira, 7 de abril de 2017

É ÉPOCA DE MIRAGUAIA








Os pescadores Pedro Abate e Zé Gomes



Uma briga violenta, que leva vários metros de linha do equipamento do pescador amador. Tão violenta que às vezes, se o freio do molinete ou carretilha não estiver regulado, com certeza partir-se-a a linha, tal é a força desse peixe que nessa época emigra do sul e está à nossa disposição. Conheça a miraguaia e...boa pescaria!



Miraguaia I

O famoso Monumento em S.Vicente SP - Foto P.Abate

Devemos considerar os peixes do mar como migratórios, pois de acordo com as épocas do ano, as correntes marítimas têm maior ou menor influência sobre as espécies. A partir de março por exemplo, as correntes das Malvinas ou Falklands trazem para a região sudoeste várias espécies de peixes (entre eles a miraguaia) que ficam então com mais ação para o pescador até a época de setembro ou novembro, conforme a temperatura das águas.Pescar miraguaias é, portanto, uma ótima opção de pesca, levando-se em consideração que não é um peixe que exige muita técnica, sendo até bem fácil de se fisgar, logicamente observando as características de sua espécie. Antes de mais nada, devemos localizar os melhores pesqueiros, e estes são os locais onde há pedras e principalmente canais que adentrem o continente, pois é aqui que a miraguaia entrará para se alimentar e desovar. A citação das pedras como pesqueiro se dá visto que nesses obstáculos é que está a melhor isca de todas e a principal fonte de alimentação dos peixes: os mariscos. Além de mariscos, que devem ser iscados inteiros e em pencas no anzol, podemos citar ainda como boas iscas para a miraguaia o siri, o caranguejo e os saquaritás, que também são encontrados no próprio local da pescaria. Aqui uma dica para ser analisada: a miraguaia vem se alimentar nas pedras, e portanto, se usarmos uma isca natural da própria pedra, com certeza os resultados serão melhores. 

Miraguaia II

Quanto ao material de pesca, dado a violência e o tamanho destes peixes (há notícias de espécimes fisgados com mais de 50 kg) recomenda-se o uso de material de categoria média para pesada, composto de vara com tamanho variando entre 3 e 5m, molinete ou carretilha de tamanho grande e linha de bitola entre 0.60 e 0.90mm (NR: hoje há a opção do multifilamento), usando ainda um anzol 3/0 ou 5/0, finalizando com uma chumbada do tipo oliva solta na linha e peso variando de acordo com a correnteza do local do pesqueiro. As varas de bom comprimento, aqui citadas, têm como razão principal, já que a pesca se dará em locais com pedras, evitar-se ao máximo possível a proximidade destas com a linha, além do que, na maioria das vezes em pesqueiros de pedras, os lances devem ser longos, o que sobremaneira se obtém com varas mais longas. Quanto ao tamanho grande para o molinete ou carretilha, deve-se este ao fato de precisarmos ter boa quantidade de linha armazenada para uma boa briga com o peixe e também pelo uso de bitolas mais grossas, que por si só já explica o tamanho do equipamento. Devemos ainda ter a preocupação de fazer um chicote com a mesma bitola de linha, medindo entre 30 e 60cm de comprimento, e entre este e a linha colocar um girador, para a parada da chumbada oliva. Quanto a isca de marisco, procure iscar em pencas de 5 ou 6 desses moluscos. Os mariscos têm, naturalmente, uma fibra que os mantém unidos. 


Caranguejo guaiá

Isque um deles na parte côncava da casca, ultrapasse o anzol totalmente, de a volta com os outros (usando a fibra) e isque o ultimo, também pela parte côncava, formando então um pequeno cacho. No tocante às outras iscas citadas, isque-as inteiramente e ao natural. Após o lance, estique a linha e coloque a vara na espera. Importante é citar que nos devemos ter pressa para a fisgada, pois a miraguaia costuma “mamar” a isca e às vezes dá puxadas bruscas. Neste ponto é necessário ter calma, e só devemos dar a fisgada quando o peixe correr com a isca. Invariavelmente em toda a regra há exceções, e também neste tipo de pesca, acontece às vezes do peixe levar a isca direto e sem aviso anteriores. No caso, um freio do equipamento bem regulado é o suficiente para se garantir a segurança do equipamento e do peixe. Após a corrida, sem afrouxar a linha, deverá o pescador “confirmar” a fisgada com duas ou três puxadas consecutivas e vigorosas. Após cansada a miraguaia costuma “pranchar”, e nesta hora devemos – além da calma necessária – ter também um bom bicheiro, pois estamos pescando em cima de pedras e normalmente, tais pesqueiros costumam ter sua topografia bastante irregular, além de algumas vezes estarem distantes, em altura, da superfície da água. De acordo com o local escolhido, deverá também o bicheiro ser adaptado às suas condições, no que se refere ao tamanho do cabo. Ai está portanto, a pesca da miraguaia, que nesta época é uma ótima opção para o pescador amador do nosso litoral. 

Siri iscado inteiro


Saquaritá

Como dica final, pode-se afirmar que esse peixe dificilmente anda só, o que significa que em um bom dia, ou noite (costuma ser muito produtivo pescar nesse horário) poderemos fisgar mais de um exemplar e às vezes de bom tamanho. O nome científico da miraguaia é Pogonias cromis, mas vulgarmente recebe ainda este nomes: burriquete, miragaia, perombeta, piraúna e vaca. No Estados Unidos, é conhecida como black drum e traduzido ao pé da letra “tambor negro”. Talvez isso se dê no fato da miraguaia emitir roncos, como as corvinas que, aliás, pertencem a mesma família Scianidae.
NOTA DA REDAÇÃO: A idéia dessa pescaria aconteceu visto que a pauta daquela edição iria ter uma “È época de...”. O peixe escolhido foi a miraguaia. Só havia um problema: eu não tinha nenhuma foto para ilustrar a matéria. Liguei então ao Pedro Abate, perguntando se ele tinha alguma foto de miraguaias. Por sua vez, ele me mandou várias, mas nenhuma satisfazia o “padrão” de qualidade da Revista Aruanã. Eram fotos comuns, de pescadores segurando peixes, etc. Novamente em contato com ele, sugeri uma pescaria lá em São Vicente. A resposta do Pedro foi de que há muitos meses ninguém tinha fisgado nenhum peixe, conforme noticias lá da Baixada. “Vamos lá tentar fisgar uma” foi minha resposta. Pronto, combinamos eu, ele Pedro e o Zé Gomes, companheiro de pesca de miraguaia.






Desenho de Silvio J. Pedro

A saída seria eles irem mais cedo (íamos pescar à noite) para comprar iscas no fim da Via Anchieta, onde havia um pessoal que vendia siris. O tamanho dos siris que nos interessava era os médios. De minha parte, com compromissos na Aruanã, eu iria mais tarde encontrar com eles no Monumento em São Vicente. Foi o que aconteceu. Três varas na água, iscas de siris e aquela doce espera que só o pescador entende. Por volta da meia noite (estávamos pescando desde as 18 hs) o cansaço me pegou de jeito e eu mal conseguia abrir os olhos. Falei com os dois que eu ia tirar um cochilo no meu carro. Coisa rápida. Dito e feito abaixei o banco e dormi imediatamente. Estranhamente, acordei sozinho por volta de 1.30hs da madrugada. Levantei e desci até as pedras. Para minha surpresa, lá estava o Pedro brigando com um grande peixe e vara envergada. E mais, a vara era a minha. Por direito foi me passada a vara e a briga continuou, agora comigo no comando. Para terminar a história, cansei a miraguaia e eles a tiraram da água. Foi aquela comemoração. Esperamos amanhecer para tirar fotos com a tal “nossa qualidade”. Aproveitei e pedi aos dois companheiros que tirassem uma foto com as novas camisetas que a Aruanã iria lançar brevemente. Fim da história. Sorte, persistência, dedicação, horário certo? Que nosso leitor julgue.
PS: Dedico esta postagem aos dois amigos aqui citados. Sua ajuda foi importante e sem a ajuda deles o “É EPOCA DA MIRAGUAIA”, não teria saído naquela edição da Aruanã. Obrigado.



Revista Aruanã Ed:06 Publicada em 08/1988

terça-feira, 4 de abril de 2017

ESPECIAL - CAÇA DE CAMPO










Apenas uma lembrança particular. Jamais publicada


A caça de campo era a modalidade que reunia, entre caçadores, o maior número de adeptos. Um homem e seu cão, além de uma arma de confiança, compunham a peça, onde o cenário era sempre o campo. Um dia, as autoridades proibiram a caça por tempo indeterminado. O trio protagonista foi triste e lentamente se dissolvendo, pois, além de tudo, havia o sentimento de amor a uni-los. O cenário... Bem, este se transformou em campos muito mais verdes, pois verde é a cor da cana-de-açúcar. As codornas e as perdizes desapareceram desses campos, pois lhes é impossível viver em tais ambientes. Onde foram parar, é pergunta difícil de ser respondidas, mas uma coisa é certa: por caçadores de campo não foram mortas.
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                                    Um cão mestre da raça Braco

Ao se aproximar o mês de março, chegava a hora do caçador começar a se preocupar com os detalhes, pois a temporada abriria no dia 1º de maio e o encerramento seria em 31 de agosto. A primeira providência era começar a treinar o cão perdigueiro, que pode ser um pointer, um braco ou um weimaraner. Pelo menos uma vez por semana, durante o período da tarde, punha-se o cão a correr em um campo próximo, onde sabíamos haver codornas e as protegíamos. No final de semana era a vez do caçador treinar, e isso, acontecia em seu clube de caça, onde duas ou três rodadas de skeet o aprimoravam no tiro. Esse nosso treino quando alcançava a média entre 18 a 20 acertos em uma rodada de 25 tiros, mostravam que estávamos prontos para entrar em campo. Finalmente na semana que antecedia o dia 1º de maio, era a hora de revisar a condução, limpar as armas, fazer as compras e adquirir os cartuchos. Com a munição que havia sobrado do ano anterior, tinha-se um cuidado especial: durante algumas horas a colocávamos no sol, para que perdesse uma possível umidade durante o tempo guardada. Uma das preocupações do caçador era jamais sair sem destino. Assim sendo, na véspera do dia da abertura, entre o grupo, já estava determinado o local da caçada. Na noite que antecedia a partida quase que não se conseguia dormir, tamanha era a expectativa da aventura que ali se iniciava. 

         A codorna vai pular

Madrugada ainda, a luz da cozinha acesa e tomando um café da noite anterior para não perder tempo, o ouvido ficava atento a um ruído de carro no portão. Carregar a tralha toda e embarcar o cão no carro fazia parte da caçada, e o barulho era inevitável, partilhado com isso, com todos os vizinhos, que por certo jamais seriam caçadores ou viriam a gostar destes. Enfim, tudo carregado, era urgente “botar o pé na estrada”. Toda viagem era igual, portanto, vamos nos privar de contar que durante elas, anos após anos, as mesmas coisas se sucediam – o cachorro que não ficava quieto, as brigas ocorridas após muitos latidos e rosnados, além do que, em quase todas as vezes, éramos obrigados a abrir os vidros rapidamente, para podermos escapar dos “gases mal cheirosos” expelidos por um ou outro cão.
                                                      A CAÇADA
O carro ficava parado à beira da estrada de terra. À nossa frente, uma cerca de arame farpado demarcava os limites do campo. De pé, fora do carro, o caçador ultima os preparativos, tais como cinturão de cartuchos, botas de cano alto e a ultima passada de flanela na arma. Cada um escolhia o rumo a seguir e só então soltava os perdigueiros. 




Pointer e Braco amarrando

Passar a cerca de arame farpado era um ritual: primeiro a espingarda, devidamente aberta, depois o caçador. E quantas vezes enroscávamos a camisa nesse arame. Lá na frente, o perdigueiro já batia o campo, correndo em forma de leque à frente do caçador. A emoção era grande, mas o grande momento era quando o cachorro repentinamente estancava em um ponto qualquer. Se o cão fosse mestre, não havia muita pressa, pois ele esperava o caçador chegar junto. Durante aqueles metros caminhados entre o caçador e seu cão, mentalmente se fazia cálculos de para onde a caça iria voar e, portanto, qual seria a melhor posição de tiro. O cão estava imóvel, levemente arcado e com a cauda em riste, apenas com as laterais da boca a movimentar-se pela respiração e a pata dianteira levantada, a pressentir a caça; o caçador chegava por trás. Com o joelho a palavras sussurradas, incitava o animal a levantar a caça. Um cão mestre tinha a caça a poucos metros à sua frente, e, sob uma ordem dada, partia célere em sua direção. Se a codorna ou a perdiz não fosse muito velhaca, ela pulava imediatamente. Caça voando – já que no chão era uma questão de honra não atirar – a arma subia rápida ao ombro e a mira era uma questão de achar. No silêncio do campo, o estrondo se fazia ouvir. Um bom tiro e a ave caía. 




        Achando a mira

Novamente o cão era solicitado, pois, acompanhando o vôo da ave, agora abatida, era sua obrigação trazê-la – sem mastigar - até o caçador. A emoção sentida, só um caçador de campo consegue avaliar. Muitos tiros se perdiam, mas sempre havia uma razão para desculpar o erro. No final do dia, haveríamos de analisa-lo. Uma caçada de campo, em geral, demorava três dia, sendo, portanto possível sair 6 vezes, sendo duas por dia. Uma nas primeiras horas da manhã e a outra ao entardecer, para poupar o perdigueiro das horas de sol mais forte. Guardadas estão em nossas lembranças a água tomada na concha da mão em um ribeirão de águas limpas, o almoço, em forma de lanche, feito embaixo de uma frondosa árvore, a soneca repousante tendo um toco a servir de travesseiro e ainda, às vezes, o encontro desagradável com uma cascavel, precedido do chacoalhar de guizos. Hoje tudo isso é lembrança. O cão ficou velho e morreu. A espingarda, mesmo após alguma resistência, foi vendida e a quantia aplicada em poupança. Os amigos ainda encontramos e vivemos das lembranças dos dia passados. Os campos viraram canaviais. As aves, só Deus sabe o que lhes aconteceu. Aqui, no silêncio da redação – quebrado apenas pelo barulho da máquina de escrever – assalta-me a pergunta: por que será mesmo que a caça de campo foi proibida?



NOTA DA REDAÇÃO: Para poder caçar, o cidadão precisava ser maior de 21 anos, para poder portar um arma. Uma licença de caça era preciso ser paga ao IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Em uma delegacia podia-se tirar a licença – paga também – a titulo de porte de arma de fogo. A época de caça era fixada em 1º de maio e 31 de agosto. Ninguém, mas ninguém mesmo caçava fora dessa data ou, pelo menos os caçadores das grandes cidades, já que no interior, “os caçadores” não respeitavam essa data e as vezes nem precisavam de cachorros: caçavam de carro, quando as aves estavam nas estradas de terra, atirando enquanto elas estavam no chão. Um caçador de campo nunca atirava em outro tipo de caça – no caso veados – mesmo quando esses passavam ao alcance de tiro. Tínhamos uma entidade chamada de ABC-Associação Brasileira de Caça, com abrangência e, sócios, em todo o Brasil. Mas um dia, um grupo, na época, chamados de “ecologistas”, procurando seus 5 minutos de fama, começou uma campanha contra nós caçadores. Eram apoiados por alguns outros defensores que lhes davam espaço nas mídias. Nós, caçadores e pescadores da época, tínhamos elegido um deputado para em nosso nome, lutar contra essa proibição. Ele nos traiu e votou a favor da proibição. Durante um bom tempo ocupou espaço em órgão de meio ambiente em São Paulo. Mas, eleito por voto popular, nunca mais o foi. Até hoje ainda “anda” por aí, infelizmente. Quando fiz esta matéria, fui dar uma volta, “para matar as saudades”, do bons tempos. Todos, sem exceção, os campos onde pisei caçando codornas e perdizes viraram extensos canaviais, onde nada sobrevive, a não ser cobras e um ou outro passarinho, que faz ninhos em suas folhas. Os ecologistas viraram ambientalistas, que continuam ferozes em suas batalhas contra agora, pescadores amadores. É um tal de pesca e solta, Cota Zero e ainda outras manifestações, todas feitas a distância, já que é muito mais fácil continuar com a bunda na cadeira e usar, por exemplo, o espaço que o Facebook lhes dá para suas críticas. Não somos contra tais práticas, mas não pode haver radicalismo. E assim vamos vivendo neste país, onde quem tem obrigação de existir como órgãos de meio ambiente, o faça de direito e nunca de fato. E para terminar uma citação: O Brasil é um dos poucos países do mundo que proíbe a caça, mas permite a pesca profissional em águas interiores. Em tempo: vamos publicar mais um artigo brevemente, de autoria de Ricardo Freire diretor da já citada ABC onde o título é “CA(Ç)SSARAM OS CAÇADORES”, onde ele tenta mostrar o absurdo dessa proibição e,  dá nomes aos bois, citando todos os deputados que votaram a favor – alguns ainda estão por aí – e os que votaram contra a proibição. Antonio Lopes da Silva.


Revista Aruanã Ed:3 Publicada em Fev.88