sábado, 27 de maio de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - BICUDA









Presente em todo o litoral brasileiro, a bicuda é um peixe bastante esportivo. Quando fisgada, sua pesca traduz-se em fortes emoções e violentas brigas.



Se pudéssemos dizer que alguns peixes têm cara feia, a bicuda estaria entre os mais citados. Sua boca, guarnecida de fortes dentes, e sempre aberta, mostra que é um peixe predador, sempre pronto para uma boa briga. Alguns pescadores teimam em chama-la de barracuda, mas o certo é bicuda mesmo. Seu nome científico é Sphyraena barracuda (daí a confusão), e pertence à família Sphyraenidae. Fizemos questão de citar seu nome científico, bem como o nome de sua família, pois existe ainda uma outra confusão bastante grande de algumas pessoas entre a bicuda e a cavala, sendo esta ultima de família e nome científicos completamente diferentes do peixe que estamos agora abordando. No formato do corpo até que se parecem, mas na descrição minuciosa da bicuda, vamos conseguir notar as diferenças. Assim sendo, a bicuda apresenta duas nadadeiras dorsais, possuindo uma mancha escura no terço inferior do bordo anterior, sendo a parte posterior denegrida. A nadadeira anal apresenta uma mancha violácea transversal aos seus raios. Na sua linha lateral apresenta 87 escamas. O dorso é pardacento e seu ventre prateado. Seu habitat preferido é o alto-mar. Costuma atacar iscas naturais ou artificiais, principalmente aquelas voltadas à pescaria dos peixes de bico, tais como sail-fish e marlin. Um outro hábito predador da bicuda é atacar outros peixes que fisgaram em nosso anzol, em investidas rápidas, cortando-os ao meio. Quando o pescador trás essa metade até o barco, a bicuda costuma ficar nadando em círculos ao redor do barco, a uma profundidade de até dez metros, como a esperar a outra metade do peixe. Costuma pegar também em iscas de fundo, sendo então a melhor isca toletes de peixe ou mesmo pequenos peixes inteiros, sendo o bonito o mais indicado. Seu corpo chega a atingir até dois metros de comprimento e 50 quilos de peso, sendo portanto aconselhável pesca-la com material de categoria média a pesada. Segundo H. Nomura, em certas épocas do ano, sua carne torna-se venenosa, não se explicando, infelizmente, o que é esse veneno ou que época isso acontece. O certo para nós, pescadores amadores brasileiros, a bicuda está em todo nosso litoral (com destaque para Fernando de Noronha), e é um peixe bastante esportivo.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

FOLCLORE BRASILEIRO - A LENDA DO ARUANÃ











           O nome Aruanã é de origem indígena.                      Seu significado é "Sentinela".




                        A LENDA DO ARUANÃ


Cerâmica Karajás – Acervo Revista Aruanã


 Segundo reza a lenda, de vez em quando o Aruanã subia às margens do grande rio Araguaia, e contemplava a vida humana. Seu ser aquático enchia-se de tristeza, pois pensava que a verdadeira felicidade estava no cheiro do ar, na beleza da terra. Sentia-se perdido e infeliz em viver nas águas e ser um peixe. Sonhava um dia tornar-se homem e correr pela terra seca.
Num ímpeto de coragem e determinação em sentir o aquecimento esplêndido da força do Sol sobre a Terra, ele pôs a cabeça de fora das águas. Quase a sufocar com o ar, falou com todas as suas forças de peixe sonhador em busca da felicidade:
"Grande Tupã, senhor da vida e da natureza, na água nasci, mas nela não quero morrer. Se peixe é o meu corpo, meu coração é humano. Tira-me das águas que me faz infeliz e sem sentido, dá-me o ar como forma de pulsar e a condição de homem como realizador da vida."
As palavras de Aruanã saíram tão veementes, que Tupã percebeu o verdadeiro destino do valente peixe e a essência da sua alma. Compadecido, o senhor das matas desceu às profundezas do rio Araguaia, arrebatando de lá o infeliz peixe. Voou com Aruanã, que não podendo respirar, debatia-se no ar. Por fim, Tupã deixou-o no campo, sob os raios intensos do Sol e das brisas suaves dos ventos.



Pintura do artista Thonk Bertola – Acervo Revista Aruanã
Aruanã debatia-se sobre a relva, pensando que iria sufocar. Não amaldiçoou Tupã, pelo contrário, mesmo sem conseguir respirar o ar da Terra, agradeceu por aquele momento final, iria morrer longe das águas, como sempre sonhara. Fez um louvor ao deus e cerrou os olhos, à espera da morte e da felicidade alcançada.
Comovido, Tupã iniciou a metamorfose do peixe. Em vez da morte, Aruanã viu as escamas transformadas em pele, revestida de pelos suaves que a brisa contornava em desenhos, braços e pernas musculosas davam-lhe o aspecto viril. O ar finalmente chegou-lhe aos pulmões. Sentiu o cheiro da Terra. Olhou emocionado para o seu corpo e sorriu feliz, já não era um peixe, e sim um homem, forte e belo.
"Provaste que tens um coração grandioso e valente". – Disse-lhe Tupã. "Serás um grande guerreiro entre os homens; pai da mais sábia das tribos. Aruanã peixe foste tu. Aruanã hás de chamar-te daqui para o futuro."
Vá, cumpra o teu destino de homem guerreiro!
Desde então, todos os anos, por ocasião da Lua cheia, os Karajás realizam o Ritual do Aruanã, prestando, através da dança e do canto, a homenagem justa ao pai da nação Karajá. Essa tribo habita a Ilha do Bananal. São índios muito bonitos e para identifica-los, exibem em seu rosto, nas faces, dois círculos que alguns afirmam serem cópia do ocelo do tucunaré, peixe que é um dos seus alimentos principais.


Nota da Redação: Autor desconhecido, mas há diversas publicações na Internet sobre esta lenda.

domingo, 21 de maio de 2017

ESPECIAL - BARRAGEM DE IGUAPE - PARTE 4







A novela continua...




Infelizmente este é mais um capítulo dessa novela “Barragem de Iguape” que há muito tempo já deveria ter acabado. Desta vez vamos mostrar mais alguns detalhes e desde já prevendo que essa novela ainda irá ter muito mais capítulos, para continuar este absurdo desastre ambiental. E agora com prejuízos muito mais sérios conforme podemos constatar.






A Barragem de Iguape  - 05/2017




A cor da água em nossas praias


Os trilhos usados

Quando ao passar pelo local, nossos moradores de Iguape/Ilha Comprida observam qualquer movimentação, a pergunta é sempre a mesma: será que finalmente vão fechar a barragem? E, desta vez as imagens são muito mais fortes, já que grandes guindastes estão levando e colocando os trilhos de ferro, por onde – originalmente no projeto – deve correr o guindaste “mãe” que movimentará os “stop logs”, que terão como função principal abrir/fechar os compartimentos, evitando com isso qualquer enchente Ribeira acima. A limpeza das águas do mar de dentro ou mar pequeno como queiram, olhando nos problemas atuais, já não nos parece tão importante ou  mesmo primordial, mesmo com a aparência da água sempre suja. Qualquer chuva, na zona do rio Ribeira, trará para a sua foz, - ou seja, Iguape/Ilha Comprida - essa água de aparência ruim e mesmo suja, prejudicando com isso a pesca, o turismo, os manguezais e o meio ambiente em geral. Mas alguns detalhes dessa cor de água começaram a chamar nossa atenção. Por exemplo: ao passar a ponte de Ilha Comprida para a Iguape, vemos que a água está suja. Ao continuarmos nosso trajeto e agora passando pela ponte rodoviária que nos leva até a BR 116, percebemos que a cor da água é de cor muito menos escura ou suja, chegando “quase” a ser limpa. Tal observação mostra aos mais leigos passantes, um detalhe lógico: a tal água suja, tem sua saída em maior volume pela barragem, do que pela ponte da estrada. 


Maquinário usado na obra

Talvez isso se deva ao fato de que nas imediações da barragem, a largura do rio é enorme e com isso a correnteza é muito mais forte mudando então a direção da água do rio Ribeira encaminhando toda a sujeira do rio, para o mar pequeno. Nas enchentes que turvam as águas, serão encontrados os mais diversos materiais que ficam a deriva na correnteza: restos de bananeiras, pedaços de árvores, bambus, animais mortos, aguapés em moitas enormes e mais uma infinidade de situações que ali não deviam estar, mas estão. Toda a vez que se olha a cor dessa água, vem à mente do observador de como se, a situação fosse diferente, teríamos uma paisagem muito mais bonita. Mas agora com essa nova movimentação de máquinas e equipamentos no local, a esperança de uma barragem fechada é tema de comentários entre o povo ribeirinho das duas cidades. No entanto, ao visitarmos a obra e conversarmos com o responsável no comando dos operários, ficamos sabendo que todo esse movimento, “é apenas para cumprir mais uma etapa, do projeto original, que está há muito tempo paga e só agora executada”. Ou seja, o fechamento da barragem ainda não será desta vez, já que essa etapa não é a conclusão da obra. Mas ainda tivemos outras noticias que animaram a população. Segundo as informações, estaria sendo distribuída uma notificação aos moradores que invadiram determinadas áreas, de que, com o fechamento da barragem, suas casas seriam alagadas sendo portanto, urgente sua mudança para outro local. 


Água suja colhida no Mar Pequeno
A mesma água depois de decantada
Nota da Redação: Em um recipiente de água de 5 litros, a água suja colhida e depois decantada, acumula em seu fundo, perto de 01 milímetro de areia, terra e matéria orgânica. Quanto será que a vazão de toda a água do rio Ribeira joga nas praias da Ilha Comprida, do mesmo material?  Seria esse o "possível aterro" que está destruindo nossas praias na Ponta Norte? Que o digam os técnicos ou matemáticos.






Guindaste que coloca os trilhos na barragem

Logo em seguida, um morador que recebeu a tal notificação ao ser interpelado se podia nos mostrar a tal notificação, disse não estar mais em posse da mesma, “já que um advogado estaria de posse de todas as notificações recebidas, bem como das procurações dos moradores atingidos, para nos defender em uma possível desocupação”. Não é preciso dizer mais nada, sabendo-se do rumo e do tempo que a tal ação durará para ser resolvida. E tome água suja na foz do Ribeira para o mar. Uma curiosidade local. Em nosso litoral existe uma afiliada da Rede Globo, que transmite seu sinal e tem parte com programação própria, conhecida como TV Tribuna. Essa emissora tem dois jornais diários sendo classificados pela Tribuna como primeira e segunda edição. Nas duas edições, existe uma previsão de tempo que diz como será o tempo desde Bertioga até Cananéia e outras cidades no redor. O interessante na arte que determina o desenrolar da previsão, vemos uma projeção aérea que mostra alguns detalhes, em forma animada, de locais conhecidos nas cidades. Na hora que mostram a previsão em Iguape e Ilha Comprida – estão juntos – além da igreja do Bom Jesus de Iguape, mostram também as águas do Ribeira e do mar pequeno, na cor marrom, atestando que, até o criador dessa arte, não mostra o rio e nem o mar, na cor azul, como deveria ser, em se tratando de águas. Seria até engraçado se não fosse trágico. 

Resultado do aterro  

Mas voltemos ao termo “água suja”. Todos se lembram do desastre da cidade de Mariana, onde com o rompimento da barragem da Samarco, as águas sujas – muito parecidas na cor com as nossas – desceram rio abaixo até o mar, soterrando e mudando toda a paisagem por onde passaram. Mas ao leitor mais crítico e observador pode pensar que, nem de longe podemos comparar o desastre de Mariana, com a Barragem de Iguape e sua “água suja”. Concordamos com esses leitores integralmente.  Mas, “se analisarmos a nossa água suja”, iremos perceber que, as que correm Ribeira abaixo, trazem no seu conjunto materiais como terra, areia, lodo, matéria orgânica em decomposição, animais mortos, lama e outros. Não é preciso ser um técnico para observar que todo esse material citado, está assoreando o Mar Pequeno, já que o mesmo tinha em seu curso original, poços de mais de 10 metros de profundidade. Hoje, ao longo do trecho após a barragem, a profundidade é de apenas 4 a 4,5 metros em toda a sua extensão. E pior. Muito se fala de que a Ilha Comprida “perdeu” mais de 2 quilômetros de praia, na chamada “Ponta Norte”. Para quem anda por esses trechos ao norte da Ilha, percebe claramente que não existem mais os barrancos de areia, como pequenas dunas que existiam há menos de 2 anos. A Ponta Norte da Ilha Comprida está sendo aterrada pelo rio Ribeira. Os dois quilômetros citados, já tem muitos metros mais a serem acrescentados a tal medida. A areia da praia no local está da mesma altura do solo da Ilha. 

Água fluvial versus Oceano Atlântico. Quem vence?

Qualquer ressaca mais forte e o mar joga suas águas terra adentro, destruindo dunas, estradas, casas, mata ciliar, nivelando a praia com o terreno, como se fosse obra de um poderoso construtor. Será que nenhuma de nossas autoridades percebeu isso? Quando falamos “autoridades”, podemos no referir em ordem crescente à Câmara Municipal, Prefeitos, deputados estaduais/federais, senadores, Secretarias do Meio Ambiente, governador, Fundação Florestal, CETESB Ambiental, ICM Bio, IBAMA, Ministério do Meio Ambiente, o Presidente do Brasil, a OEA, ONU e  finalmente o Papa Francisco. Vamos continuar lutando para o fechamento da Barragem de Iguape, já que grande parte do mangue do local está sendo destruído. Limpar as águas do Mar Pequeno é obrigação de nossas autoridades, pois além da defesa desse meio ambiente, os moradores locais merecem e tem esse direito, bem como os pescadores artesanais que poderiam estar explorando criadouros de vários organismos marinhos, e o Turismo que é a principal artéria do progresso em um local onde nenhuma outra atividade é permitida. Dizer que a Ilha Comprida, cantada em prosa e verso, tem 74 Kms de praias lindas e limpas é uma grande mentira, exatamente igual a dizer que as obras de fechamento da Barragem de Iguape estão sendo concluídas. Solução para esse problema existe, basta apenas ter vontade de exercer esse dever além de pesquisar quais são essas diretrizes. A ação de aterrar as praias da Ilha Comprida pode ser constatada em outros locais ao longo das praias. Por outro lado o ex chefe do Executivo, “achou” uma solução e não sabemos quem foi o autor da idéia, para eliminar o problema das enchentes na Av. Beira Mar. 

Na foto, acima à esquerda os barrancos que não existem mais e o capim do canal

Como todos sabem, ao longo dessa avenida, correm águas que tanto são de nascente como de chuvas intensas. Decidiu-se então limpar os canais e abrir valetas para jogar essa água, em princípio limpa, na praia e com isso tentar evitar enchentes. Na primeira ressaca, o mar não só tampou esses canais, como movimentou muita areia criando verdadeiros barrancos a impedir seu curso originalmente programado e não estudado em suas viabilidades. Mais uma vez se constata que “as medidas” tomadas, além de burras são completamente ineficazes. E essa ação tem ainda outro lado tenebroso, já que agora, com os canais abertos e com ressacas mais fortes aliadas as chamadas luas grandes, quando o nível da maré é mais alto, as ondas do mar toma o rumo do canal aberto e atinge, em vários locais, o leito da Av. Beira Mar. Para finalizar, podemos informar que o aterramento das praias ao norte da Ilha Comprida, já mostram seus sinais (ainda tímidos) até perto do Balneário Araçá. Até quando a inércia, preguiça, acomodação, pouco caso, desinteresse, ação mais efetivas e outras participações de órgãos de meio ambiente vão continuar? Ou seria burrice mesmo de alguns poucos “poderosos” em seus cômodos empregos? Não cabe aqui a famosa frase – O TEMPO DIRÁ – já que atualmente, não há mais esse tempo.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

ESPECIAL - ARUANÃ NOS EUA







Nossa equipe esteve nos Estados Unidos para visitar uma exposição de artigos para a pesca e duas empresas fabricantes de produtos para a pesca amadora. O ano foi em 1998, quando essas empresas fabricavam os seus próprios produtos e os distribuíam ao mercado. 

Bons tempos.








Golfo do México



Entrada da fábrica da OTG em Iowa

A nossa saída de São Paulo deu-se no dia 11 de maio, em vôo direto para Chicago. Dessa cidade partimos em outro vôo, agora com destino a Minneapolis. Após o desembarque, alugamos um carro e rumamos para nosso destino em Spirit Lake, no estado de Iowa. Spirit Lake é uma pequena cidade norte-americana muito bonita e acolhedora, às margens de um grande lago, famoso pela sua piscosidade. Aliás, o estado de Iowa orgulha-se dos dez mil lagos em seu perímetro. Pois bem, nessa cidade está a fábrica da OTG – Outdoor Technologies Group. Entre seus produtos e marcas, estão velhos conhecidos dos pescadores amadores brasileiros, como Abu Garcia, Berkley, Fenwick e Red Wolf, sendo que esta ultima marca está sendo introduzida no mercado. 

Setor de testes

Fomos recebidos pelo seu presidente Tom Bedell, que colocou à nossa disposição seus funcionários especializados em cada setor, para que conhecêssemos toda a indústria. Assim sendo pudemos constatar a fabricação de varas, linhas e molinetes da Fenwick, iscas artificiais, minhocas, varas, linhas e acessórios da Berkley e finalmente os produtos Abu Garcia, fabricados na Suécia, alias motivo de reportagem especial a respeito, publicada em edição anterior da Aruanã. A OTG foi fundada em 1937 pelo pai do atual presidente, Sr.Berkley Bedell, e inicialmente fabricava somente linhas para fly. 

Tanque de testes com black bass

De 1938 a 1956, sua linha de produtos foi ampliada, passando a fabricar também fios de aço e linhas de monofilamento. Em 1959, houve a introdução das linhas Trilene e de 1964 a 1967, das varas e molinetes Berkley. Em 1969, foi fundada a subsidiária da fábrica em Taiwam. Em 1988, a compra da Fenwick. Em 1994 é fundada então a OTG e em 1995 é comprada a fábrica da Abu. Hoje a OTG tem cerca de 1.300 funcionários e seus produtos são distribuídos no mundo inteiro, podendo mesmo ser citada como a maior indústria de artigos para a pesca do mercado americano. 

Fábrica da OTG

Nossa visita começou pelo setor de linhas de monofilamento, onde essa produção é toda robotizada. No setor de minhocas plásticas, a primeira surpresa, já que ficamos sabendo que as tais minhocas (ao contrário do que muitos pensam) não são feitas de silicone e sim de PVC, além de outros materiais, onde entram ainda componentes como aromatizantes e pigmentos, que dão forma, cor e acabamento final a esse tipo de isca artificial. Mas as surpresas melhores ainda estavam por vir, já que a próxima seção visitada foi a de tanques de testes. 

Setor de minhocas artificiais 

Pois bem, só para resumir, encontram-se nesses tanques centenas de peixes vivos, principalmente black bass, cuja reação é examinada, no que se refere aos produtos fabricados pela OTG. Assim sendo, existe um robô que circula nos tanques, com uma isca artificial, e onde existe uma câmera submarina, para registrar o trabalho da isca e o ataque dos peixes. Nesse setor, o responsável é o biólogo Phd Keith A. Jones. Sem, comentários... Nos laboratórios da fábrica, são registrados em computadores e desenvolvidos todos os produtos de sua fabricação. No setor de varas, são feitas as hastes e todos os acabamentos. 

Fábrica da Plano

Depois de prontos, alguns modelos são enviados para a fábrica de Taiwam, sempre com a supervisão da OTG. Passamos ainda pela seção de linhas de fly e ainda vimos, no setor de monofilamentos, a fabricação da linha de marca Sensithin, uma nova marca de linha fina e bastante sensível, que aliás já está sendo comercializada no Brasil, por intermédio da Mustad. Vimos ainda a fabricação da linha Fireline, que é uma linha de fibra sem ser abrasiva e que também já pode ser encontrada em nosso país. 

Peter H. Henning - Presidente da Plano

Pois bem, hoje a OTG conta com três fábricas nos Estados Unidos, Suécia e Taiwam, e seus produtos são exportados para o mundo inteiro, o que lhe dá um faturamento de aproximadamente US$120 milhões, sendo portanto considerada como a maior fabricante de produtos para a pesca. Saímos de Spirit Lake após três dias de visita à OTG. Nosso destino agora é o estado de Illinóis, mais precisamente, a cidade de Plano, distante de Chicago cerca de 100 milhas. Nessa cidade, nossa visita foi a fábrica dos estojos Plano, velhos conhecidos dos pescadores amadores brasileiros. Em nossa companhia agora estava Michael R. Norton, gerente internacional da Plano.

Truta do mar

Ao chegar a fábrica, fomos recebidos pelo seu presidente, Peter H. Henning. A Plano foi fundada em 1932 pelo avô do atual presidente, Warren K. Hening. São quatro fábricas que perfazem um total de 257 mil metros quadrados, contando com apenas 650 funcionários, já que sua linha é totalmente automatizada. Sua produção hoje conta com mais de trezentos modelos diferentes, fabricando cerca de vinte milhões de caixas por ano que são exportadas para todo o mundo, assegurando à Plano 70% do mercado americano e o posto de líder no mercado mundial. Todos os seus produtos são fabricados nos Estados Unidos. Foi muito interessante ver os moldes de aproximadamente dois metros quadrados onde os estojos de pesca são injetados. 

Entrada da feira de pesca em Orlando

A novidade é o lançamento, em junho de 1998, do modelo 1259, totalmente novo e para uso de todos os materiais de pesca, em qualquer modalidade. Nossa visita à fábrica da Plano durou dois dias. Do estado de Illinois, nosso destino era a Florida, mais precisamente Tampa, onde finalmente faríamos uma pescaria em Sarasota, no litoral, já que ninguém é de ferro. Nosso alvo nessa pescaria seriam os tarpons. Infelizmente só vimos um e mesmo assim à distância. Como os tarpons não queriam nada, nos “vingamos” nas trutas de água salgada. Em apenas algumas horas, fisgamos mais de trinta peixes. Essa truta é um parente próximo da nossa pescada, pela conformação de seu corpo e boca. 

Estande da OTG

É um peixe muito bonito e que briga bastante. O detalhe especial dessa pescaria ficou por conta das aves aquáticas que vinham pousar no nosso barco, em sua maioria biguás, garças e pelicanos. Dois dias em Sarasota foram suficientes para vermos toda a beleza de seu litoral, muito limpo e protegido, com seus canais à beira do Golfo do México. Nosso destino agora é Orlando, onde estava acontecendo a ASA Show, a feira de pesca americana. Visitar essa feira foi também muito proveitoso. Lá estavam os estandes da Plano, OTG, Mustad e de mais uma centena de expositores de artigos para a pesca, de marcas conhecidas pelo pescador brasileiro. Alguns detalhes a comparar com a feira brasileira: na ASA, não existe venda no varejo, nem tanques de pesque-e-pague e aquela bagunça que foi nossa ultima feira de pesca. 

Estande da Plano

Só para ter uma ideia, nem mesmo amostras de produtos expostos nos foram cedidas. Quando muito anotavam nosso endereço e diziam que nos mandariam tais amostras pelo correio. Foi uma feira muito bonita, principalmente por vermos e conversarmos com fabricantes das mais diversas categorias. Finalmente nossa visita aos Estados Unidos foi muito proveitosa, pois agora conseguimos mostrar ao nosso leitor um pouco da história de produtos que há muitos anos estamos usando em nossas pescarias. Mais uma vez, estivemos nessa viagem em companhia de nosso particular amigo e anunciante Alexandre Mussi Fortes, diretor da Mustad do Brasil, ao qual queremos agradecer publicamente a sua assessoria. Foi intenção do Alexandre, na visita a essas fábricas, nos mostrar a seriedade de seus fornecedores, já que a Mustad do Brasil é a distribuidora oficial dos produtos aqui citados em todo o território nacional. 


Revista Aruanã Ed.63 publicada em junho/98

sábado, 13 de maio de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - URUBU













Existem várias espécies de aves consideradas como urubus. Mesmo pertencendo todas à mesma família, vamos nos fixar na espécie mais conhecida e encontrada em todo o Brasil: o urubu preto. Vamos conhece-lo melhor.





Considerado como ave de rapina, os urubus pertencem à família dos Catartídeos. O Urubu Preto, mais especificamente, tem como nome científico Catharista atratus brasiliensis. Sua plumagem é preta, e a cabeça nua e preta. As hastes das rêmiges (penas mais longas) das mãos são brancas, bem como a ponta da asa. Vivem em bandos que, circulando no ar, procuram carniça, de que unicamente se alimentam, reunindo-se então às dezenas, para em pouco tempo descarnarem uma rês. Sua fama de saneador de campos pode até ser contestada, mas não resta dúvida de que, havendo qualquer animal morto, resta aos urubus o trabalho de comer a carniça, deixando os ossos limpos de vestígios de carne. Nas cidades também se nota a presença deles, ficando em nossa cabeça a pergunta: se só se alimentam de carniça, como é que sobrevivem nas grandes cidades? A resposta a essa pergunta não é difícil de ser respondida, já que é o acumulo de lixo. Nos tradicionais lixões em aterros sanitários, devem fornecer alimento em abundância a essa ave. Satisfeito o seu apetite, podem até procurar os grandes prédios para seu pernoite noturno, e é comum o prejuízo que causam ao pousarem em antenas de televisão ou mesmo antenas de transmissão, pois devido ao seu peso e de várias outras aves de seu bando, chegam a entortar ou quebrar as hastes das antenas. Uma outra particularidade sobre o urubu são as lendas que o acompanham. Na Amazônia, por exemplo, é comum dizer-se que a espingarda que matou um urubu perde a mira e fica inutilizada para o resto da vida. Outra lenda bem conhecida é aquela que fala de uma festa no céu, onde por certo o urubu iria. Com fama de gozador, o urubu “malando” passou pela casa de seu compadre sapo e perguntou se o mesmo também iria a tal festa. A resposta do sapo foi afirmativa, e isso motivou o urubu a dar gostosas gargalhas. Aproveitando a visita a casa do sapo, o urubu foi dar um abraço na comadre e deixou sua viola encostada em um canto da sala. Disso se aproveitou o compadre sapo, para se esgueirar para dentro da viola. Quando o urubu alçou vôo, levando a viola em baixo da asa, percebeu que estava mais pesada e olhando pelo buraco, avistou o sapo todo encolhido a um canto. Fez um movimento rápido com a viola e o sapo despencou lá do alto, esborrachando-se no chão. Filosofando, continuou a voar o urubu, dizendo que a festa do sapo tem que ser no brejo e bem perto do chão. Por outro lado, o urubu costuma por de três a quatro ovos. Não tem a mínima preocupação em fazer seus ninhos, podendo estes serem em buracos na terra, em pedras ou ainda em morros íngremes e de difícil acesso. Seus ovos são muito brancos, maiores do que os dos patos, um pouco alongados e com manchas escuras na ponta rombuda. A incubação demora cerca de 32 dias, e os filhotes após nascerem têm pelugem amarelado e o bico reto de cor azul. Ao atingir um mês, já é do tamanho de uma galinha, conservando ainda a plumagem original e uma ou outra pena na cor preta. Aos dois meses, já está quase que totalmente preto, mas ainda incapaz de voar, o que faz somente aos três meses. Dizer que o urubu só se alimenta de carniça seria uma meia verdade, já que são muitos os fatos registrados, principalmente em fazendas de gado, quando os urubus atacam os bezerros recém nascidos e mesmo carneiros, cabritos e ovelhas. Porém não se pode negar de forma alguma o fator benéfico que os urubus possuem de eliminar de nossos campos e matas, os animais mortos, sejam eles domésticos ou selvagens.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - PARGO












Existem várias espécies de pargos. Neste artigo, vamos nos fixar especialmente em duas, que são as mais comuns em nosso litoral e que estão ao alcance de nossos anzóis.




Um dos pargos do nosso litoral recebe o nome científico de Lutjanus purpurense e pertence à família Lutjanidae. É muito comum no nordeste do Brasil, principalmente na região entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. Normalmente é capturado com linha de fundo e sardinha como isca. A melhor época para sua pesca é de outubro a dezembro. Caracteriza-se por ter o contorno da nadadeira anal angular, e o perfil do focinho à nuca reto e abrupto. A boca é rosa-clara, e há uma mancha preta na base e na axila das nadadeiras peitorais. O macho atinge 68cm de comprimento total e a fêmea 85cm, com um peso médio de 3,5kg. O sinônimo mais comum para esse tipo de pargo é pargo-cachuco, como é como é conhecido principalmente na região de Pernambuco. A outra espécie de pargo, e a mais comum, é a que recebe o nome científico de Pagrus pagrus. Sua família, diferentemente do pargo anterior, é a dos Sparidae. Sua área de atuação é desde os Estados Unidos até a Argentina. Sua captura também é feita com linha de fundo, mas às vezes encosta em ilhas e costões. Atinge peso de até 8kg, com 70cm de comprimento total. Segundo pesquisas, já foi encontrado em profundidades de 800 metros. Seu colorido é avermelhado, com reflexos dourados e ponto azulados. As nadadeiras são amarelas. Suas principais iscas são o camarão, siris, caranguejos, sardinha e lulas, entre outras. Seus sinônimos mais conhecidos são: pargo, pargo-liso (PE) e pargo-roséo (RS) Essas discrições correspondem às espécies mais comuns em nosso litoral, mas em algumas bibliografias vamos ainda encontrar nome como pargo-boca-negra, pargo-branco, pargo-mirim, pargo-mulato e pargo-olho-de-vidro. Muitos desses peixes ainda são confundidos com o popular “dentão”.

Bibliografia consultada: Dicionário de Peixes do Brasil, de Hitoshi Nomura.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

DICA: ENCASTOADO DE AÇO









Os encastoados de aço geralmente integram a tralha da maioria dos pescadores amadores. No entanto, cabe a pergunta: são eles usados corretamente? Confira.






Bicuda na colher com encastoado de aço

É só falar de espécies de peixes que tenham dentes que imediatamente associamos nosso material ao uso do encastoado de aço. Digamos que tal prática esteja correta, já que principalmente quando usamos uma isca natural, levamos em consideração a possibilidade do peixe engoli-la. Assim, com o encastoado de aço teremos maior segurança para brigar com o peixe sem que seus dentes atinjam ou cortem a linha de monofilamento/multifilamento. No entanto, existem outras situações onde também são utilizados os encastoados de aço, como por exemplo no caso de iscas artificiais. Neste caso especifico, a regra tem exceções que devem ser consideradas. 



Os diversos tipos de encastoados

A mais importante delas é saber que só estaremos corretos ao optar pelo uso do encastoado se estivermos pescando no sistema de corrico, já que para dar lances trabalhando a isca, por exemplo, o encastoado irá atrapalhar, pois seu peso fará com que a ação da isca seja prejudicada, pois ela acaba pendendo para a frente. Tal prática com certeza se aplica às iscas de superfície. Se só ficarmos nos lances de iscas de barbela, por exemplo, e recolhermos imediatamente, não precisando trabalhar as iscas na superfície (ou seja, corricando com o auxílio de molinete ou carretilha), mais uma vez, e só nesse caso, o encastoado não irá atrapalhar. Uma outra prática usual, que aliás é totalmente errada, refere-se ao hábito daqueles pescadores que, usando colheres no corrico, costumam fazer um encastoado dividido em várias seções, separadas por giradores. 



Piraputanga



Cachorra na isca artificial com encastoado de aço

Segundo eles, isso faz com que a linha do equipamento não torça, o que ocorre frequentemente no corrico com colheres. Isso não é verdade. O correto para evitar a torção da linha, é regular a velocidade do barco de modo que fique proporcionalmente apropriada ao corrico, fazendo com que a colher dê uma ou duas voltas para cada lado. Por outro lado, é correto utilizar o encastoado de aço para fisgar aquelas espécies que, apesar de não terem dentes, atingem grande porte. Explica-se. Quando estamos brigando com um grande peixe, é comum que ele nos tire grande quantidade de linha e saia “com a linha nas costas”. 



Iscas artificiais com barbela

Exatamente essa ocorrência é que justifica a obrigação de usar o encastoado, pois com o roçar contínuo no dorso do peixe, acontece um desgaste da linha de pesca, que acaba por romper-se com relativa facilidade. Usamos então um comprimento de encastoado adequado ao tamanho da espécie que estamos pescando. Esse comprimento o próprio pescador deve calcular, ficando porém a ressalva de que o mesmo, em hipótese alguma, deve ser maior do que o comprimento da vara de pesca, já que no lugar onde se ata o encastoado à linha, inevitavelmente haverá um girador, que como sabemos, não deve passar pela ponteira da vara. 



Material de pesca, isca artificial com encastoado de aço

Além disso, com um encastoado do tamanho certo, fica mais fácil embarcar o peixe. Normalmente, o encastoado para peixes sem dentes é muito usado nos sistema de corrico no mar, para peixes como o marlin, a albacora, o atum e outros. Em água doce, iremos usa-los para jaús, pintados e outras espécies que não possuem dentes, mas que tem o “péssimo habito de andar” acompanhadas por piranhas (ou seria o contrário?), sendo que estas, quando acham uma isca, atacam mesmo, e se não houver o encastoado, adeus anzol e chumbo. Quanto ao material usado para fazer o encastoado de aço, temos em princípio quatro opções, a saber: o aço duro, o aço mole (de um só fio), o arame com vários fios de aço e o aço encapado com plástico. 


Colheres

Entre essas quatro opções, uma boa escolha é a ultima, já que os outros tipos de aço, por suas características, costumam causar alguns problemas, pois uma vez dobrados não retornam à posição original, partem-se com mais facilidade nessas dobras e também enroscam mais, já que são muito maleáveis. Em termos de aços encapados, opte sempre por aqueles que oferecem resistência equivalente ao dobro da resistência da linha de pesca que estiver usando. Não precisa ser mais do que isso, já que antes do encastoado chegar a ser romper, a linha de monofilamento/multifilamento já terá se rompido, pois tem a metade da resistência. 



Dourado na isca artificial



Cavala na isca artificial com encastoado de aço

Uma outra facilidade do aço encapado refere-se à praticidade que proporciona para a montagem de um encastoado, bastando apenas que o pescador tenha um alicate e as “luvas” (pequenos cilindros ocos metálicos para prender os fios e dar acabamento ao encastoado) do tamanho certo. Com um mínimo de prática, que se adquire muito rapidamente, monta-se um encastoado com esse tipo de aço em apenas alguns segundos. E a resistência é garantida, pois desconhecemos qualquer caso de uma luva bem apertada que tenha deixado o fio correr. No entanto, se isso já aconteceu com você, saiba que o motivo foi o encastoado não ter sido bem montado. A propósito: chamamos de encastoado de aço esse equipamento que fica entre a linha e seu anzol, mas é bom ressaltar que ele também é conhecido por muitos outros nomes, como líder, empate, guia, ou se preferir, o esnobe “shock leader”. Boa pescaria.



   Revista Aruanã Ed.51 publicado 06/1996