sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ROTEIRO - REPRESA DE ITUMBIARA

Um por do sol mineiro







A beleza do tucunaré azul

Vamos tomar como ponto de partida para nossa pescaria em Itumbiara a cidade de São Paulo.  Por via rodoviária até a beira d’água foram 749 quilômetros, de ótimas estradas pavimentadas. Nossa rota foi à rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera até a divisa com Minas Gerais, no famoso rio Grande. Pelo caminho observamos com tristeza rios como o Piracicaba, Mogi Guassu e o Pardo. Estão praticamente mortos e sem peixes. Isso é um absurdo, tendo em vista que tais rios já foram muito importantes pela sua piscosidade. E ninguém faz nada para mudar o atual estado de suas águas. Talvez estejam esperando que esses rios fiquem iguais ao Tiête, para só então começar uma campanha para restaurar a vida, que aos poucos lhes está sendo tirada. Mas nossa viagem continua, apesar de nossos devaneios. Após o rio Grande passamos por Uberaba e Uberlândia, de onde seguimos então na estrada em direção a Itumbiara. Após Uberlândia, mais ou menos 35 quilômetros, há a indicação nas placas de estrada do trevo para Tupaciguara. Esta estrada tem seu final em Itumbiara. 

Divisa entre São Paulo e Minas Gerais

Nessa fase da viagem anda-se mais 40 quilômetros e aí há a indicação muito modesta de uma pequena cidade de nome Bálsamo, onde nosso destino final de viagem era o “Pesqueiro do Arnaldo”. Posteriormente voltaremos a falar deste pesqueiro. Nós havíamos saído de São Paulo às 21 horas e, após as peripécias normais de uma viagem rodoviária, chegamos à represa por volta de 5 horas da manhã. No horizonte já se avistavam os primeiros raios do sol, que “nasce” em terras mineiras. Um bom café com o Arnaldo e Dona Ana, onde a conversa girou sobre as condições reais da pesca na represa. Rapidamente trocamos de roupa e, munidos de nosso material de pesca, pegamos o barco e saímos para pescar. Neste ponto, temos que citar uma característica toda especial da represa de Itumbiara: o vento. Normalmente esse vento sopra da direção leste e causam efeitos na água da represa que a tornam, podemos afirmar, perigosa. Devido à sua largura, chegamos a pegar ondas de aproximadamente 80 centímetros de altura, e tais ondas vêm a espaço de mais ou menos três metros uma da outra. 



Tucunaré de 3 kg



O companheiro de pesca, Ari, e seu tucunaré

Pela fragilidade da embarcação, já que são barcos de alumínio de cinco ou seis metros, próprios para o pescador amador, ficamos pulando mais de uma hora para atravessarmos a represa. Deve-ser navegar com muito cuidado e sempre com a proa da embarcação voltada contra as ondas. É um tal de subir, descer e bater na água, continuamente. Apesar do céu estar completamente limpo e agora já com um sol lindo brilhando, vestimos capa o tempo inteiro. Chegamos na outra margem, “onde estavam os melhores pesqueiros”, completamente molhados e cansados com o contínuo bater do barco. Esta característica de vento se tem principalmente quando se parte do local que saímos, já que em outros locais da represa evita-se esta travessia. Mas este é o preço a pagar para à noite, quando voltarmos, termos o conforto de uma boa cama e de uma comidinha caseira das melhores. Pois bem, o vento continuou até aproximadamente as 13 horas, e como nossa pescaria era de iscas artificiais, devido às ondas praticamente não conseguimos trabalhar corretamente nossas iscas, portanto, nada de peixes. 


Um excelente pesqueiro

Ondas fortes, vento e frio eram os nossos companheiros constantes desde a madrugada; de repente, como num milagre, o vento parou, as águas foram se acalmando e o calor chegou. Quem é pescador amador sabe o que isso significa. Era como se estivéssemos em outra represa. Finalmente poderíamos começar a pescar bem trabalhando corretamente nossas iscas. Em um pesqueiro conhecido como grotão, junto às galhadas e auxiliados pelo motor elétrico, começamos a fisgar os primeiros tucunarés, que passavam um pouco mais de 1,5 quilo. Em Itumbiara existem dois tipos mais comuns de tucunarés: o azul e o amarelo. Durante toda a tarde nesta pescaria fisgamos só tucunarés azuis. No final da tarde tínhamos como balanço da pescaria cinco peixes embarcados, uma linha quebrada e iscas com garatéias tipo quatro vezes forte completamente abertas. No dia seguinte, uma reprise do primeiro dia no que se refere a ondas, vento, frio e o mesmo horário da parada e começo da pescaria. 



                                                                             Tucunaré amarelo


Galhadas e pedras

Conseguimos perceber que a água na superfície estava apresentando uma temperatura muito fria. Pescamos então com iscas de fundo e conseguimos fisgar vários peixes. No fim da tarde, no pesqueiro do “Chiqueirão”, fizemos a pescaria, fisgando os maiores exemplares de até então: peixes com peso variando entre três e quatro quilos. Conseguimos ver, mas não fisgar, tucunarés enormes, que por certo teriam mais de 5 quilos. Nessa pescaria, nosso companheiro era o Ari de Paula Leite, velho conhecedor das águas e das pescarias da represa de Itumbiara. Segundo ele, é normal em uma pescaria, em condições favoráveis, fisgar-se em um só dia 40 ou 50 peixes escolhidos, ou seja, do tamanho entre dois e cinco quilos. Fora ainda, como ele mesmo diz, várias linhas quebradas, iscas perdidas e diversas garatéias abertas. Falar da beleza da represa é preciso. Suas águas são muito limpas, as margens são de campos e serras. Os melhores pesqueiros são as galhadas, pedras e capins, encontrados em toda extensão da represa. Deve-se citar ainda nos pesqueiros os barrancos altos, e as várias e pequenas ilhas. 


Tucunaré azul



Tucunaré com “calombo” característico da época de reprodução

Os principais peixes de Itumbiara são o tucunaré, o dourado (já foram fisgados vários nas iscas de tucunaré), o pintado, a piapara, o piau, as traíras (em grande número) e as piranhas. Dessa região há notícias verdadeiras de tucunarés com 5,5, 6 e 8,25 quilos, sendo os mais comuns os peixes entre dois e quatro quilos. Segundo o Ari e outros pescadores, pesca-se o ano todo, sendo as melhores épocas os meses de maio a julho e o mês de outubro. Normalmente as águas estão limpas, porém neste ano, nos meses de setembro a meados de março, ficaram sujas. A represa de Itumbiara tem aproximadamente 11 anos, e o principal rio que a forma é o rio Paranaíba. São milhares de alqueires de superfície de água, sendo então considerada uma grande represa. Os principais pontos de pesca são conhecidos como Corumbaíba, Araguari, Grotão, Primeira e Segunda Balsa, Fazendão, Ilha da Gata e Ilha do Tancredo, onde aliás, existe um proprietário “que não deixa pescar”, como se as águas e as várias ilhas fossem dele. Nós em especial fomos ao pesqueiro do Arnaldo, em Bálsamo. 

Isca artificial excelente para o tucunaré

Esse pesqueiro fornece apenas quarto e refeições, não tendo barco para alugar. Seu telefone para reservas é conseguido através de telefonista 101, por Uberlândia, para finalmente ligar 132, Bálsamo (bons tempos?). Aliás em toda a represa não existem barcos, motores e piloteiros à disposição do pescador. Uma boa opção é acampar, levando então todo o equipamento para camping e pescaria. Um outro ponto que dá acesso à represa é Tupaciguara, em direção à balsa. Nesse local, apesar da cidade ser pequena, oferece-se ao pescador toda a infraestrutura, tal como hotel, restaurante, posto de gasolina, etc. Outra opção é via estado de Goiás, atingindo através de Uberlândia e Caldas novas com destino a Araguari, ficando então à beira d’água, junto a ponte sobre o rio Paranaíba. Para o pescador que vai pela primeira vez até a represa de Itumbiara, vão aqui algumas dicas. Como orientação, já que a represa é muito grande e com pontos completamente iguais em paisagens e contornos, podemos citar o sol, que nasce sempre pelos lados de Minas Gerais e se põe na direção de Goiás. 

Pesqueiro de tucunarés

São muitas grotas e braços extensos de represas que facilmente confundirão o pescador. Portanto, é conveniente observar esses detalhes, além dos cuidados de navegação quando surgem ondas e ventos. Sobre esses últimos podemos dizer que, em se saindo de Tupaciguara ou de Araguari, consegue-se chegar a bons pesqueiros, sem ter que atravessar a represa e enfrentar o problema das ondas e ventos. Caso o pescador queira pescar com iscas naturais, que não são fáceis de conseguir na represa, as melhores dicas são os pequenos peixes como o lambari, o acará e o piau. Na represa não há tilápias. Para se conseguir as iscas vivas, a melhor dica é achar pequenos riachos ou açudes; essas informações podem ser obtidas com o pessoal ribeirinho. No caso de iscas artificiais, as melhores são os plugs de profundidade e de meia água, e todos os plugs de superfície, tais como zaras, hélices, poppers, sticks, etc. devem ainda ser citados as colheres e os jigs, tendo estes últimos cerdas nas cores amarela e vermelha. Uma outra dica muito importante refere-se a bitola das linhas de pesca. 


O pescador de tucunaré com seu equipamento específico

Como se sabe, cada pescador tem a sua bitola preferida, principalmente aqueles que pescam com iscas artificiais, no entanto cabe dar a informação de que as linhas 0.45 milímetros ou mesmo 25 libras costumam arrebentar com os grandes tucunarés. Uma dica final: no caso de um tucunaré grande, o momento mais critico é a hora da fisgada, e a primeira e a segunda arrancada do peixe. Caso não consiga-se segurar esta fase, o melhor é deixar que o peixe vá para a galhada, indo então com o barco em cima do peixe após sua parada, o que é normal. Aí está, portanto, o nosso roteiro desta edição: a represa de Itumbiara, que apesar da falta de estrutura para o pescador, dos ventos e das ondas, poderá nos dar grandes tucunarés e excelentes pescarias, comparáveis, sem exagero, às melhores pescarias feitas na região da Bacia Amazônica e, o que e melhor, a pequena distância, comparada a região citada. Vale a pena conferir esta nova opção para o pescador amador. 


Estamos chegando



A indicação da represa

NOTA DA REDAÇÃO: Naquela época, uma pescaria em Itumbiara, era uma verdadeira aventura. Não havia um só pescador que não ficasse imaginando quando poderia pescar naquelas águas e o encontro inevitável com os grandes tucunarés. Esta publicação no ano de 1991 na Revista Aruanã, motivou muitos pescadores a essa viagem. Era realmente uma pescaria prá “gente grande”. No entanto, é aí vem o porém, muitos outros “pescadores” (aspas propositais) também leram a citada edição da Aruanã e lá foram pescar. Não vamos identificar esse pessoal, mas não nos calaremos em dizer que eram de um estado mais ao sul do Brasil. Eram um verdadeiro batalhão de predadores sem controle algum na quantidade e qualidade de tucunarés fisgados e embarcados. Nós mesmos vimos esse pessoal em ação e o fruto de suas pescarias na represa. Chegavam a levar dezenas de isopores de capacidade de 100 litros e os encher em alguns dias, com tucunarés de todos os tamanhos.
 Feita a “sua cota”, seguiam de volta para seu estado de origem e sabe lá o que faziam com toda aquela quantidade de peixe. E, eram inúmeras as pescarias desse pessoal em Itumbiara e no pesqueiro do Arnaldo. Já, naquela época, isso revoltava outros pescadores amadores, em ver que tucunarés de apenas 1 palmo, estavam as dezenas dentro dos isopores daqueles idiotas. Não se podia fazer nada a respeito, pois leis não existiam em defesa do Chicla ocellaris. As leis, em se tratando da defesa do tucunaré pouco mudaram mas, os idiotas continuam a pescar em detrimento a todos os outros pescadores amadores conscientes. Antonio Lopes da Silva



Revista Aruanã  Ed:24 publicada em 10/1999

terça-feira, 22 de agosto de 2017

REALIDADE - TEM BICHO NO PEIXE II


                                                                                    







Anisaquíase é o nome de uma parasitose intestinal provocada por vermes da espécie Anisakis, que são habitualmente adquiridos após a ingestão de frutos do mar ou peixes crus.A anisaquíase ainda é uma doença rara, mas que, devido à crescente popularização dos pratos à base de peixes crus ou mal cozidos, tais como sushis, carpaccios de salmão, salmão defumado ou ceviches, tem vindo a se tornar cada vez mais descrita. 




Filé de um tucunaré pescado no rio Piqueri. Publicado em maio 2015 blog Aruanã



O QUE É A ANISAQUÍASE
A anisaquíase é uma parasitose intestinal provocada por vermes nemátodes da família Anisakinae, nomeadamente Anisakis simplexAnisakis physeteris e Pseudoterranova decipiens.



Foto ampliada do “bicho”. Publicado maio 2015 blog Aruanã
A Revista Aruanã é apenas uma publicação – como tantas outras – sobre o segmento pesca amadora. Como tal, publica assuntos relacionados à pesca, ao pescador, tem seções como dicas, equipamentos, curiosidades, humor, entre outras. No entanto, como editor e jornalista, outros assuntos foram publicados em suas edições, que achei convenientes para que o pescador amador tirasse algumas experiências e observasse alguns cuidados. Por exemplo, falamos sobre doenças a que estamos sujeitos quando no meio ambiente; animais peçonhentos e venenosos foram abordados, etc, sempre sob a supervisão de cientistas/médicos e outros especialistas no caso, que nos passaram as informações. No entanto, uma matéria em especial, publicada em maio de 2015 em nosso blog http://revistaaruana.blogspot.com.br chamou muito a atenção, cujo título era “TEM BICHO NO PEIXE” já que cerca de 10% de nossos leitores em todo o planeta, visualizaram essa postagem. A simples visão das fotos chama muito a atenção e são de nossos arquivos, cujo autor das mesmas é de nosso colaborador e fotografo/jornalista Kenji Honda. Nessa postagem, contamos com a supervisão científica do Prof.Dr. Gilberto Cezar Pavanelli (autor deste artigo) é professor titular do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá (PR), coordenador do curso de pós-graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (Mestrado e Doutorado da Universidade Estadual de Maringá) e pesquisador científico do CNPq.

O Prof.Dr. Gilberto Cezar Pavanelli. Cientista que comentou este bicho em especial Publicado maio 2015 Blog Aruanã

O Dr. Gilberto C. Pavanelli afirma então que o tal bicho é um parasita conhecido cientificamente como Eustrongylides ignotus e que o mesmo, segundo a opinião desse pesquisador, não causa qualquer problema a saúde de quem ingerir peixes portadores de tal parasita. Essa publicação gerou várias opiniões dos admiradores e usuários do prato típico japonês sushi e sashimi. Algumas reações engraçadas, outras idiotas, enfim o direito a livre manifestação em uma democracia, podem e devem ser toleradas. Entre elas, uma em especial chamou a atenção deste jornalista, já que me pareceu, quando dita pessoalmente, não só um caso de masculinidade ou mesmo de valentia, o popular “machão alfa”. Dizia então o tal pescador: “eu faço sashimi na beira do rio e descrevia a receita. Assim que pego o peixe, imediatamente o mato, tirando dois bons filés e usando para isso o remo do barco e na planta do mesmo. Ali mesmo, fatio o file em tiras, adicionando então os temperos do sashimi e comemos assim, o sashimi mais fresco do mundo”. Em minha opinião - que não externei no momento - foi de que, a planta do remo ou seja, o local que faz com que possamos remar com eficiência, digamos não é o lugar mais limpo para se manusear um alimento. A água do rio onde o pescador estava não deve ser totalmente potável, podendo ter todos os micróbios possíveis naquele local.

Anisakis identificado em uma endoscopia digestiva (legenda foto Net) 

Enfim dizer o que mais, diante dessa prática? Outro caso que é bastante discutido refere-se ao peixe baiacu. Publicamos postagem mostrando que o baiacu é um peixe perigoso de ser comido, pois, segundo alguns cientistas e com trabalhos publicados sobre o assunto, várias pessoas já morreram ao ingerir tal espécie. Mais uma vez ouvi de alguns pescadores que a carne do baiacu é de primeira qualidade, sendo a maior de todas as dicas, a maneira de limpa-lo e tendo o cuidado de tirar as vísceras, principalmente o fel, sem que se rompa. E ainda que, a carne do baiacu, é uma das melhores para o sashimi. A esse pescador eu disse apenas que não comia o baiacu e, que com tantas espécies de peixes no Brasil, porque arriscar? Ficou por isso mesmo. Pois bem, mais uma vez e agora com muitas publicações a respeito, um “novo bicho” é citado por cientistas e este sim, segundo a opinião de médicos e especialistas, faz muito mal a saúde de quem o ingerir cru, ou seja na forma de sushis, sashimis, carpaccios de salmão, salmão defumado ou ceviches. Pesquisando na Internet, achei um artigo do Dr. Pedro Pinheiro - Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (U.F.R.J) em 2002. Especialista em Medicina Interna e Nefrologia. Títulos reconhecidos pela Faculdade do Porto, Ordem dos Médicos de Portugal e Colégio de Nefrologia Português, o que por certo não pode ser contestado. 
Lula  -  A seguir alguns esclarecimentos do Dr. Pinheiro que achei oportuno transcrever, alertando que o citado artigo pode ser lido em sua íntegra na citada fonte, sob o título ANISAQUÍASE.
“(Sic) Anisaquíase é o nome de uma parasitose intestinal provocada por vermes da espécie Anisakis, que são habitualmente adquiridos após a ingestão de frutos do mar ou peixes crus.A anisaquíase ainda é uma doença rara, mas que, devido à crescente popularização dos pratos à base de peixes crus ou mal cozidos, tais como sushis, carpaccios de salmão, salmão defumado ou ceviches, tem vindo a se tornar cada vez mais descrita. Neste artigo vamos explicar o que é a anisaquíase, quais são os seus sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são as opções de tratamento.

                    “CONTAMINAÇÃO DOS SERES HUMANOS PELO ANISAKIS

Como já mencionado, o homem contamina-se com o parasito Anisakis quando ingere carne crua ou malpassada de peixes contaminados. Salmão, arenque, cavala e lula costumam transmitir espécies de Anisakis enquanto Alabote e anchova transmitem espécies de Pseudoterranova. O bacalhau pode transmitir ambas espécies.
A larva do verme costuma estar alojada no músculo dos peixes, sendo possível sua identificação no momento em que o peixe está sendo fatiado.
As melhores medidas preventivas são a cozedura do peixe a, no mínimo, 70ºC ou congelamento a -20ºC por um período mínimo de 72 horas (idealmente por 7 dias) ou a -35ºC por, pelo menos, 24 horas.
Anchova
O processo de defumação não mata o parasito. Apesar da recente explosão no número de restaurantes de sushi no mundo ocidental nos últimos anos, a anisaquíase continua sendo pouco comum. Isso ocorre por 3 motivos:
1-    Restaurantes de qualidade congelam o peixe antes destes serem servidos ao público.
2- Muitos restaurantes utilizam peixes criados em cativeiro, sem contato com a vida marinha natural.
3- Chefs de sushi devidamente treinados são capazes de detectar as larvas do Anisakis no momento do preparo do peixe”.
Como afirmei acima, transcrevi apenas alguns trechos do artigo do Dr.Pedro Pinheiro, pinçados da Internet, mas que achei oportuna a divulgação em nosso blog, “já que sobre pesca e peixes são os principais assuntos do mesmo”. Ao ler e analisar o artigo do Dr. Pedro, alguns fatos me vem a lembrança e perguntas afloram a minha mente: será que todos os restaurantes que se dedicam a culinária japonesa, tem chefs devidamente treinados e capazes de detectar as larvas do Anisakis?  E os peixes que esses restaurantes usam, vem de que fonte fornecedora? Eu por exemplo conheço alguns que compram peixes diretamente de pescadores amadores ou mesmo de profissionais, sem passarem por fiscalização dos órgãos competentes. No Japão, país com maior incidência dessa verminose, a taxa anual de infecção é de 3 casos novos para cada 1 milhão de habitantes. Isso significa, aproximadamente, 400 novos casos por ano. Na Holanda, país no qual há o hábito de comer arenque cru (haring), essa parasitose também é relativamente conhecida. Aliás, o primeiro caso de anisaquíase descrito na literatura médica veio exatamente da Holanda, em 1960. Atualmente, porém, devido a uma lei que obriga o congelamento do haring por 7 dias antes da comercialização ao público, a doença praticamente desapareceu.
NR: Agradeço publicamente ao Dr. Reginaldo Calil Daher, que me informou desse artigo sobre o uso de comer peixes crus, através de mensagem no Facebook . Muito obrigado.



 Dr. Pedro Pinheiro

Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (U.F.R.J) em 2002.  Difilobotríase Títulos reconhecidos pela Faculdade do Porto, Ordem dos Médicos de Portugal e Colégio de Nefrologia Português.


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

FOLCLORE BRASILEIRO - A ANTA E O GAVIÃO PINHÉ









Grande naturalista e conhecedor de nossa fauna, Eurico Santos foi o autor que soube descrever com graça e leveza o folclore de nossos animais. Este texto é um pequeno exemplo.








A luta pela vida apresenta cenas desedificantes e lamentáveis. Cenas de sangue, o triunfo do forte contra o fraco, astúcia, brutalidade, assassínio. Mas, ao lado desses tristes aspectos, encontramos o espírito de solidariedade, a ajuda mútua entre os animais. São conhecidas as causas de solidariedade dos animais que vivem em sociedade, os pinguins, por exemplo. Há ainda animais, certas aves, que rigorosamente não vivem em sociedade, mas se aninham em colônias para fins de defesa. Entre elas citaremos as garças, gaivotas, os colhereiros, os flamingos. Estas aves juntam-se assim formando uma cooperativa de defesa. Ninguém ignora quanto os filhotes das aves citadas, já pelo tamanho da presa, já porque são tenras e ainda pouco emplumadas. Não há rapinante que não tenha os olhos grandes num filhotão de garça com poucas penas e muita carne. As graças sabem disso e assim, como outras parceiras em iguais circunstâncias, constroem verdadeiras colônias, grandes ninhais, nos recônditos banhados. Por mais faminto e ousado que seja, o gavião não se atreve a ir ao reduto dum destes ninhais roubar um filhote. Se tal ousasse, milhares de aves, com fortes bicos e muito amor materno, cairiam em defesa da cidade das meninas. Os diários do mundo, em 14 de agosto de 1934, traziam um telegrama de Istambul, contando que na localidade de Orkha Gazi, perto de Broussa, os camponeses assistiram a um combate épico entre um grupo de sessenta águias e trezentas cegonhas, motivado por uma incursão daqueles predadores no ninhal das cegonhas. Doze cegonhas e vinte águias mortas no campo da batalha, ante a admiração dos campesinhos que assistiram a luta. São muito vulgares esses episódios. Bates, na sua obra “O Naturalista do Rio Amazônas”, conta que indo em busca de um araçari que ferira, este soltou um grito de socorro, e logo o naturalista se viu visitado de uma vintena de araçaris que o cercaram por todos os lados, batendo asas, crocitando em fúria, ameaçando-lhe o rosto e os olhos com longos bicos. Mas, além do espírito de solidariedade nos reverses da vida, os animais ainda dão provas de outras qualidades, entre elas a ajuda mútua. É por demais curioso o que se passa entre a anta e o gavião pinhé. A anta, o maior de nossos animais selvagens, é perseguida por um número incrível de sevandijas, e entre eles, os carrapatos. O gavião pinhé, se não tem no carrapato seu prato de resistência, mostra por esses ácaros um apetite ilimitado. Ora, junta-se a fome com a vontade de comer. A anta, quando sente que lhe fervilham no couro os carrapatos, lança alguns de seus característicos assobios. O gavião pinhé, que anda de ronda, desce logo da galhada das árvores e vem, sem mais cerimônia, catar e comer a carrapataria que amofina a grande alimária. Ambos lucram: a anta fica com o lombo vazio de carrapatos que lhe causavam desgosto pela vida e o pinhé com o estômago cheio, o que lhe causa alegria de viver. É o que se pode chamar de harmonia da natureza. Pena é que haja constantes desafinações.
Extraído do Livro: “Histórias, lendas e Folclore de nossos bichos” (Eurico Santos).

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - CADOYA










Fundada em 1977, a Cadoya Náutica e Esportes Ltda. está hoje entre os maiores fabricantes de barcos e remos do Brasil. Vamos conhecer um pouco mais de sua história através de seu proprietário, Claudionor Guidini, personagem do Quem é Quem desta edição.






No início, a linha de fabricação da Cadoya era composta por estojos para a pesca e cabos de revolver. Com o passar dos tempos, Claudionor Guidini, seu proprietário, resolveu ampliar sua linha de produtos, e como protótipo, construiu um barco de madeira para seu próprio uso. Em suas pescarias, Claudio tinha por parte de outros pescadores demonstrações de real interesse em que se fizesse também para eles, um barco igual ao seu. Nasceram então as primeiras encomendas e hoje a Cadoya tem em sua linha 12 modelos de barcos em fiber glass, que vão desde barcos de 2,25m até o popular “chatão”, de 6m. Os barcos Cadoya têm características próprias, tais como robustez, qualidade, viveiros e bancos que servem como geladeira. Como novidade, estão sendo lançadas no mês de janeiro próximo, as “baleeiras” para a pesca e lazer. Esses barcos, que medem até 9m, estarão sendo comercializados em dois modelos, com ou sem cabine, podendo acomodar perfeitamente até 10 pescadores. Essas “baleeiras” são embarcações ideais para a pesca em alto mar. Uma grande parte dos produtos da Cadoya é também fabricada por encomenda das Forças Armadas do Brasil. Assim sendo, temos pontes móveis, remos, estojos para munição, etc. No entanto, os remos de todos os tipos são os produtos mais fabricados pela Cadoya. “Aliás” afirma Claudio, “hoje no Brasil, nós somos os únicos fabricantes de remos feitos em madeira, em mais de 18 modelos diferentes, que medem desde 0,6m até os enormes remos de 4m, usados em escaleres e em grandes embarcações.”


Publicidade da Cadoya na Revista Aruanã

Nossos remos, diz Claudio “passam por um processo de fabricação que vai desde a secagem da maneira em estufa até o acabamento final, tudo feito dentro da empresa. Seus formatos determinados são feitos em tornos copiadores, que copiam até 6 peças simultaneamente. Nossa produção chega a atingir 300 peças diárias e com isso podemos manter estoques para pronta entrega de todos os modelos. Já há interesse inclusive de fornecedores de remos para mercados como Portugal e Itália”. Mas quem é Claudionor Guidini pessoalmente? Paulista de Guarantã, ele tem como grande paixão a prática da pesca amadora. Pantanal e Bacia Amazônica são alguns de seus pesqueiros preferidos. No entanto é a Represa de Igaratá, nas proximidades de São Paulo, o seu pesqueiro de coração. É nesse local que Claudio passa praticamente todos os finais de semana, dando caça aos tucunarés. Seu interesse na conservação dessa represa é enorme e muitas vezes ele transporta com seu próprio barco os policiais da Florestal para quem possam punir aqueles que lá praticam a pesca predatória. O maior peixe fisgado por ele na água doce foi um pirarucu de 85 kg, pescado no rio das Mortes. Em água salgada, um cação de 100 kg, pescado em Parati no estado do Rio de Janeiro. Sua maior tristeza é lembrar que quando era criança, costumava pescar piavas, bagres e lambaris em sua cidade natal. Isso por volta de 1943. Hoje o rio Feio, nessa região, está completamente extinto e não há peixes. “Mas com certeza, se houver a união de todos os pescadores amadores, conseguiremos fazer deste país um paraíso de pesca para nossos filhos”, concluiu ele.


Publicado na Rev. Aruanã Ed:07 - outubro de 1988

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

É ÉPOCA DE - OS PEQUENOS DO COSTÃO





















Bem perto de você, durante uma pescaria de costão, há um sensacional divertimento, que quando usufruído proporciona ótimos resultados, sem atrapalhar a pescaria principal.






Pescadores de costão

Nesta época de inverno, a pesca de costão costuma ser muito produtiva e o que é melhor, sem nos expor muito ao frio. Aliás, nosso vídeo recém lançado, “Pesca de Costão”, o sexto da série “Pescando com a Aruanã”, que já está à venda, retrata muito bem esse problema. Na pesca de costão o frio não atrapalha (basta que o pescador permaneça bem agasalhado), a menos que ocorra a chegada de uma frente fria, quando a pressão atmosférica baixa demais. Após a passagem da frente, mesmo que continue frio, esse tipo de pescaria ainda é muito produtivo, pois a pressão volta ao normal. 

Caratinga

Escolhido o costão, lá vamos nós munidos do equipamento certo: linhas, anzóis, varas chumbadas e, logicamente, com as iscas certas, a fim de tentar pescar aquele peixe de bom tamanho ou então alguns peixes de espécies diversas. Chegando ao local, montamos o equipamento e, dando o lance que nos pareça ideal, ficamos naquela expectativa gostosa, olhando para a ponta da vara a aguardar o sinal do peixe. Normalmente o pescador de costão usa até três varas, deixando-as na chamada “espera”, com linhas de bitolas diferentes, de acordo com a espécie que está sendo tentada.

Baratinhas do mar

Quando há ação continua de peixes, o dia passa rápido e quando tomamos noção das horas, já está quase chegando o fim da tarde, hora de terminar a pescaria. E nos dias em que a ação dos peixes é menor? Nessas ocasiões, parece que as horas se arrastam, demorando a passar, o que para a maioria dos pescadores causa um certo nervosismo, chegando mesmo a incomodar, tal é o marasmo da pescaria. É um tal de ficar olhando para as pedras, apreciando as baratinhas-do-mar em seu vai e vem contínuo e um ou outro caranguejo passeando. Vê-se ainda as ostras, os mariscos, o movimento das ondas, um possível navio passando, uma ou outra gaivota a voar em círculos e, infelizmente, até algum pescador profissional depredando a costeira. 

Mariscos

Se estiver com algum companheiro, após o assunto quase se esgotar e a conversa começar a girar em torno do dia ruim em que está se transformando nossa pescaria, você estará quase nos ponto de descobrir “os pequenos do costão”.  Todos esses fatos que relatamos acima com certeza já aconteceram em suas pescarias e, por certo mais de uma vez, concorda? Pois é. Antes de jogar o resto das iscas na água, recolher o material e ir embora, meio com a paciência cheia, tente uma outra modalidade de pescaria. Ou melhor: assim que você chegar ao costão e montar as varas, ponha-as na espera (como você sempre faz) e monte o equipamento para fisgar... os pequenos. 

Pesca na espuma

Esse equipamento pode ser uma vara telescópica de quatro ou cinco metros ou mesmo uma mais leve, com carretilha ou molinete, cabendo a você escolher o comprimento, já que para esta nova pescaria, qualquer um servirá. Se escolher a vara telescópica, use linha de bitola 0.30mm do mesmo comprimento da vara, juntamente com um chumbo pequeno, de aproximadamente 10 gr., o qual deverá ficar solto na linha. Tudo isso sem esquecer um bom anzol nº4 ou 6. Como isca, use camarão descascado e cortado em pedaços, ou se preferir, uma isca muito melhor, a baratinha-do-mar. Dê o lance tomando o cuidado para que o chumbo não encoste nas pedras e fazendo com que ele permaneça o mais fundo possível, a uma distância segura para evitar enroscos. 

Exemplo de Bóia

Se você optar pelo outros equipamentos citados, use a mesma bitola de linha, porém agora com o chumbo de mesmo peso no final do empate. Os dois anzóis deverão ser do mesmo número, separados entre si e a isca poderá ser a mesma. Só que aqui, com carretilha ou molinete, vamos ter que usar um equipamento a mais: uma bóia. Essa bóia não precisa ser muito grande e deverá ser escolhida após observarmos se ela tem resistência suficiente para aguentar o peso dos chumbos, anzóis e iscas e continuar boiando. Com a vara telescópica, o pescador fica restrito a pescar na área que corresponder ao comprimento da vara, precisando mudar de lugar se quiser aumentar seu campo de ação. Essa prática não é recomendada, pois não se esqueça de que você está com varas grandes armadas na pescaria principal. 

Marimbá

Então, o mais aconselhável mesmo é usar as varas de carretilha e molinete. Essa pescaria consiste no seguinte: dê o lance logo a frente da pedra em que você estiver pescando, podendo até mesmo ser naquelas espumas que se formam no bater das ondas. Os lances também podem ser dados paralelamente às pedras, tanto à sua esquerda como à direita. O importante é fazer com que a bóia – e consequentemente a isca – venha “lambendo” a costeira. Não precisa vir recolhendo a linha, a não ser que o peixe demore muito para pegar. Nesse caso, recolha uma quantidade suficiente para fazer a isca mudar de lugar. 

Organismo de pedra

Pois é, meu amigo pescador, você vai ter uma grata surpresa, pois os pequenos do costão estarão exatamente nesse lugar, esperando para abocanhar sua isca. E aí teremos uma boa pescaria de caratingas, garopetas, sargos (de dente ou beiço), salemas, badejos, sargentos, carapebas, parus, pampos, pirajicas, marimbas, e os inevitáveis baiacus. Não há nada mais sensacional do que ser ver pequena bóia afundar e dar a fisgada. A partir daí, é só curtir uma boa briga com os pequenos do costão. Às vezes, os “pequenos” não serão tão pequenos assim, e após uma breve luta a linha poderá se romper. Ou então, usando toda a perícia que caracteriza um bom pescador, você conseguirá manter uma briga mais longa com alguns peixes de tamanhos mais avantajados. 

Sargento

E lembre-se: antes que algum “ecologista de asfalto” se manifeste, decida conscientemente o que fazer com os peixes pequenos, pois a modalidade de pesque e solte é plenamente aconselhável nesse tipo de pescaria. Algumas espécies, porém, não crescem muito, como é o caso de marimbás, salemas e sargentos. Fica então por sua conta e bom senso. A propósito: se você for pescar os pequenos do costão ao mesmo tempo em que faz sua pescaria tradicional, não se esqueça de deixar sua fricção do molinete ou da carretilha regulada bem leve nas varas principais. Boa pescaria.

Enseada de costão 

NOTA DA REDAÇÃO: Esse tipo de pescaria nos trouxe boas e belas recordações. Por quantas vezes, até descobrirmos essa opção, vínhamos embora mais cedo do nosso lazer, abandonando precocemente um dia que era para ser de alegria e diversão. Por outro lado, foram inúmeras vezes em que “nas linhas para os pequenos do costão”, grandes peixes fisgaram não dando tempo de sabermos qual era. E também por outras tantas vezes, éramos obrigados a segurar o carretel do equipamento, já que era patente que o grande peixe fisgado “sem querer” iria levar toda a nossa linha, deixando-nos com o carretel vazio. Também não vou falar das varas telescópicas quebradas, seja na ponteira ou mesmo nas emendas . Éramos felizes e não sabíamos.


Publicado na Rev. Aruanã Ed.52 agosto/1996