sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ROTEIRO - RIO PARANÁ - JUPIÁ











Conservando o seu leito e suas águas quase originais, a região do rio Paraná logo abaixo da Usina de Jupiá é uma boa opção para o pescador amador. Confira no roteiro, desta edição.





Rio Paraná



Piapara

A barragem

Aproximadamente 780 km é a distância que devemos percorrer, a partir da capital paulista, até atingirmos este belo trecho do rio Paraná, que ainda se conserva da maneira original. Saímos de São Paulo, via Rodovia Washington Luís, rumo a Pereira Barreto. De lá, nosso destino deve ser a cidade de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. Assim que passarmos pela Barragem de Juquiá, ou melhor, ainda dentro da estrada da barragem, há uma saída à esquerda, que nos leva, então, ao nosso destino: Vila Jupiá. Esse pequeno lugarejo é formado principalmente por ranchos de pesca e tem uma pequena infraestrutura, composta por um pequeno hotel que também é fábrica de gelo e restaurante. Na beira do rio, em um local conhecido como “Porto dos Marreteiros”, não é difícil encontrar para alugar barcos e motores de popa que pertencem a pescadores profissionais, os quais também prestam serviços de piloteiro, além de venderem iscas. 

Piracanjuba

O serviço de um piloteiro nesse trecho do rio Paraná é indispensável, já que lá existem muitas pedras, além da correnteza que, em alguns trechos, é bastante violenta, chegando mesmo a assustar. Em Vila Jupiá, estavam à nossa espera o Gonzaga e o Sebastião, da Importadora Martinelli, nossos velhos amigos e clientes que levaram toda a tralha que iríamos usar nessa pescaria. Essa “tralha” consistia em dois barcos Tornado, um com 500 e um 17, com motores de popa Evinrude 35 HP e Suzuki 65 HP, respectivamente. Além do pessoal da Martinelli, havia também um pescador amigo que, se não é o melhor pescador amador daquela região, com certeza é o que mais peixe pega: o Marcus José Tradivo. Aliás, o Marcus nos mostraria, nos dias subsequentes, toda a sua técnica e especialização nesse tipo de pescaria. 

Pacus

Ficamos três dias batendo esse local, que tem como principais pontos de pesca lugares como a “Pedra do Meio”, a 200 metros da barragem, o “Meião”, a 350 metros, a “Ilha da Pomba”, a 2km e, finalmente, o “Vietnã”, a 13 km da barragem. Perguntado sobre o porque do nome desse último pesqueiro, respondeu-nos o Marcus: “porque quando dá peixe, vira uma verdadeira guerra achar um lugar vago para pescar!”. No primeiro dia, nos dedicamos às piaparas na “Pedra do meio”. Aliás, em menos de meia hora, fisgamos quatro peixes de bom tamanho. Mudamos de lugar e fomo até o “Meião” tentar as piracanjubas. Devido à experiência do Marcus, em menos de meia hora ele pode afirmar que elas não estavam lá. Saímos e fomos até a “Ilha da Pomba” tentar os pacus. Nesse local fisgamos três pacus, pesando o maior deles 8,5 quilos. 

Navegando no rio

Isso não é nada de excepcional, já que no dia anterior, o Marcus havia fisgado um de 13 quilos. Dizendo isso, parece que a pescaria é fácil e o peixe farto mas, com certeza, se não fosse a técnica de nosso amigo, não teríamos fisgado tanto peixe. Vamos explicar com detalhes, já que a preparação dessa pescaria é que garante o sucesso. Para começar, é necessário fazer-se uma ceva com sangue de boi misturado a farelo de arroz, grãos de soja e de milho. Tudo isso deve ser colocado em um balde de 20 litros e deixado alguns dias para que o sangue coagule. O aspecto realmente não é dos melhores e o cheiro não fica a dever. Aliás, tínhamos uma brincadeira: toda a vez que abríamos esse balde de ceva, a preocupação era fecha-lo o mais rápido possível, dizendo que aquilo ali era o “lixo”. O ato de cevar também é especial, já que não basta simplesmente jogar o material na água: há uma técnica para isso. 

Piaparas

Tal artimanha consiste em ter um peso, que pode variar entre dois e cinco quilos, dependendo da correnteza, amarrado a uma cordinha com cerda de vinte metros. Acima do peso, amarramos na corda uma garrafa vazia de plástico, daquela para refrigerantes, sem fundo e com a tampa bem fechada, onde colocaremos a ceva. Com cuidado, descemos o peso e a garrafa de plástico para dentro da água e soltamos a corda lentamente para que chegue no fundo. Com a correnteza do rio, a água irá tirando aos poucos essa mistura, pois ao passar pela tampa abre um campo neutro que tira lentamente a ceva de dentro da garrafa. Para amarrar a garrafa com segurança, o melhor é fazer um furo na tampa e passar a cordinha de amarração através dele. Mas a coisa não para por aí, pois na própria garrafa da ceva iremos amarrar um pequeno girador que será o guia de nossa linha de pesca.



Anzol com sangue iscado



A ceva

Maneira correta de usar a ceva

Em nossa linha de pesca teremos que ter um girador também, com uma distância de três ou quatro metros acima do anzol. Nesse girador da linha, amarraremos uma outra linha inferior a que estivermos usando. Por exemplo: se usarmos uma linha de bitola 0,40 mm, amarraremos uma linha de 0,25 mm no girador de nossa linha de pesca e no girador da garrafa plástica. Ao soltar a ceva, automaticamente teremos que soltar a nossa linha de pesca junto, pois quando a ceva chegar ao fundo, lá também estará o anzol iscado, logo à frente do material que está cevando. Pode parecer complicado, mas quando é feito o sucesso é garantido: no meio de vários barcos de pesca, nós éramos os únicos a fisgar peixes – neste caso, pacus. Aliás, essa ceva serve para todas as espécies, porém a técnica descrita acima só se usa para o pacu. O Marcus disse-nos que tal técnica recebia o nome de “maracutaia”, mas que foi modernizado, por motivos óbvios, para “na boquinha da garrafa”.

Tucunarés

Como isca, pode-se usar besouros, lesmas, caramujos e, principalmente, sangue coagulado. O leitor poderá estar pensando como irá fisgar sangue coagulado no anzol. Mais uma vez, o Marcus mostra-nos o segredo. Ao adquirir o sangue, tenha a preocupação de que seja de uma vaca velha, pois segundo ele, “fica mais firme”. Coloque o sangue em vasilhas de plástico rasas e horizontais para facilitar o corte, e congele. No dia da pescaria, corte-o em pedaços de aproximadamente sete centímetros quadrados e coloque-os, ainda congelados, em um pequeno balde de plástico, de mais ou menos cinco litros. Deixe descongelar e, na hora da pescaria, corte um desses pedaços em tiras de 1,5 centímetro de grossura e isque-o inteiro no anzol (veja foto). Quando for descer a ceva, solte primeiro a isca com cuidado na água e procure não fazer movimentos bruscos para não soltar o sangue. 




Maneira tradicional na ceva

Como isca, pode-se usar besouros, lesmas, caramujos e, principalmente, sangue coagulado. O leitor poderá estar pensando como irá fisgar sangue coagulado no anzol. Mais uma vez, o Marcus mostra-nos o segredo. Ao adquirir o sangue, tenha a preocupação de que seja de uma vaca velha, pois segundo ele, “fica mais firme”. Coloque o sangue em vasilhas de plástico rasas e horizontais para facilitar o corte, e congele. No dia da pescaria, corte-o em pedaços de aproximadamente sete centímetros quadrados e coloque-os, ainda congelados, em um pequeno balde de plástico, de mais ou menos cinco litros. Deixe descongelar e, na hora da pescaria, corte um desses pedaços em tiras de 1,5 centímetro de grossura e isque-o inteiro no anzol (veja foto). Quando for descer a ceva, solte primeiro a isca com cuidado na água e procure não fazer movimentos bruscos para não soltar o sangue. 


Pacu e Tucunarés

Apesar de não termos praticado nesta ocasião, uma outra modalidade é a pesca de dourados. Nesse caso, as melhores iscas serão os pequenos piaus e as tradicionais tuviras. Essa pescaria é feita de rodada, logo após a barragem, usando-se material de médio a pesado e anzóis 6, 7 e 8/0 encastoados. Há notícias de dourados de dezesseis quilos. Temos ainda a pesca de jaús e pintados, que pode ser feita de rodada ou nos grandes e profundos poços. Para o jaú, as melhores iscas serão o minhocoçu e os piaus e, para o pintado, iscas brancas (pequenos peixes). Há notícias de exemplares variando de vinte e cinco a quarenta quilos. Finalmente, uma outra modalidade que praticamos foi a pesca do tucunaré. Esse peixe está no rio, como não poderia deixar de ser, junto às galhadas nas margens. Há muito peixe, haja visto que, em apenas três dias, fisgamos mais de cem exemplares, com alguns chegando a dois quilos. 

Pacu

Porém há notícias de tucunarés de até cinco quilos fisgados nesses locais. Como você pode ver, este trata-se de um roteiro todo especial, com técnicas também especiais e onde ainda há muito peixe. Vale a pena conferi-lo, sem deixar de recomendar, mais uma vez, que o pescador use os serviços dos piloteiros. Dois deles em especial nos acompanharam: o Antonio e o Wilsinho. Ainda como opção de pesca teremos, acima da barragem a represa de Jupiá, onde a pesca de tucunarés é farta, com espécies azuis e amarelos. Mas isso é uma outra história, que fica para um próximo roteiro. Caso o leitor queira saber maiores detalhes, poderá ligar para a Importadora Martinelli, em Descalvado – SP e falar com o Sr. Gonzaga pelo tel. (019) 583-3551. Boa pescaria.


(NR: a Martinelli atualmente está com suas instalações em Ribeirão Preto – SP com o tel. (019)2102-6363). O Gonzaga faz questão de passar essas informações ao leitores, e pessoalmente nos informou que os piloteiros citados ainda estão em atividade, bem como a pesca “ainda” é farta. 



Revista Aruanã Ed:57 - Publicada 06//1997

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