sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ROTEIRO - DE BERTIOGA À BORACÉIA
















Os 65 kms de Bertioga à Boracéia, é um trecho muito conhecido de pescadores amadores paulistas e mesmo de estados vizinhos, tal é a comodidade e ainda sua piscosidade, em rios, praias e costões. Evidente está que toda a sua orla está sendo ocupada e isso trás todos os problemas possíveis ao meio ambiente no total. Mas, vale a pena, ainda,  conhece-lo e se possível visita-lo para uma pescaria em todas as suas opções.






Canal de Bertioga: à esquerda, o forte

Para chegar aos locais objetivos deste nosso roteiro, a melhor opção é o complexo rodoviário Anchieta/Imigrantes, passando então para a rodovia Piaçaguera-Guarujá, que é onde começa a rodovia Rio-Santos. A Rio-Santos é uma estrada cujo trajeto engloba toda a extensão do litoral norte de São Paulo. Como são muitas as opções de pesca que se oferecem aqui, vamos dividi-las por modalidades.


                                                  RIOS E CANAIS

Começamos pelo canal de Bertioga, uma ótima opção principalmente para pesca de robalos. São muitos os pesqueiros aqui, e para não correr o risco de nos estendermos demais, vamos citar o melhor de todos, que fica logo na entrada do canal, junto ao atracadouro da balsa, do lado do Guarujá. 

Robalo

Para localizar esse ponto, onde a melhor opção é a pesca de rodada, usando como isca o camarão vivo, deve-se proceder da seguinte maneira: olhando do mar para dentro do canal, o pesqueiro estará localizado exatamente em frente à balsa do lado do Guarujá, a mais ou menos oitenta metros de distância desta. Partindo desse ponto, trace uma linha reta imaginária desviando levemente para o meio do canal, e ao atingir uma distância de aproximadamente 300 metros canal acima, teremos o ponto para começar a rodada. Lembre-se de que o melhor horário é o intervalo de tempo em que ocorre a vazante da maré. Suba até o ponto indicado, e, ao sabor da correnteza, venha “batendo” o fundo com a isca até chegar em frente à citada balsa. Se não houver ação por parte dos peixes, ligue o motor do barco e, subindo por fora dessa reta imaginária, recomece a rodada. 

Ancoradouro da balsa do lado do Guarujá

Só para que o leitor possa ter uma idéia, as informações que obtivemos acerca dos robalos capturados nesse pesqueiro dão conta de muitos peixes grandes, sendo o recorde de 25 kg. O material a ser usado nessa modalidade tem características especiais: os pescadores da região costumam usar varas bem flexíveis de 3 metros, linha de bitola entre 0.30 a 0.40 mm e anzóis 1/0 e 2/0. As varas flexíveis são usadas de 4 a 5 por embarcação. Continuando a subir o Canal de Bertioga, teremos a direita o rio Itapanhaú, também conhecido como rio da Fazenda. Nesse rio pode-se pescar com camarão vivo, mas devido à formação estrutural do curso d’água, com galhadas nas margens, as iscas artificiais dão ótimos resultados. Portanto, para localizar os bons pesqueiros do rio, deverá o pescador procurar essas galhadas nas margens, que são muitas e perfeitamente identificáveis ao olho nu. 

Garoupa

Um outro ponto que pode ser citado como bom pesqueiro nesse rio fica embaixo da ponte da rodovia Rio-Santos. Nesse local, é aconselhável pescar apoitado, e uma boa recomendação é permanecer embaixo e junto às colunas da ponte. Além do robalo, há notícias da captura de pescadas amarelas, miraguaias, pampos e outras espécies, sempre pescando-se no fundo. A profundidade média desse local oscila entre 20 e 30 metros. Em termos de infra-estrutura, recomendamos ao pescador que siga pela rodovia Guarujá-Bertioga, onde logo após o Perequê existem várias marinas que, além de alugarem barcos, fornecem também a isca principal no caso, o camarão vivo. Deixando o canal de Bertioga e o rio Itapanhaú e seguindo pela Rio-Santos, após 44 km encontraremos o rio Itaguaré.

Rio Itaguaré 

É um rio considerado pequeno, se comparado aos citados anteriormente, mas de excelente piscosidade. Pode-se usar tanto iscas vivas como artificiais, pois esse rio tem vários pontos bons para a pesca. Entre eles, citamos as pedras, logo no início do rio (na primeira curva de quem vem do mar para cima), duas estruturas de pontes velhas (pesque a distancia de arremessos da mesma), as colunas da ponte sobre a rodovia e mais uma infinidade de galhadas e curvas do rio. Mesmo com a presença maciça, o Itaguaré ainda é uma boa opção de pesca. Seus peixes principais são: os robalos, caratingas (junto às pedras e às pontes), pampos, badejos e pequenas garoupas. Mas o Itaguaré reserva uma surpresa para o pescador. Como sabemos, o melhor horário para se pescar em rios é aquele em que a vazante ocorre, sendo que normalmente esse período é de seis horas. 

Rio Guaratuba: ao fundo a ponte da Rod. Rio-Santos

Quando começar a enchente, a primeira hora ainda é boa para pescar, no entanto, daí para a frente, ao invés de correr, as águas doces do rio represarão, faltando então a famosa “mexida” da água, tão importante para a pesca do robalo. E agora? O que há para se fazer enquanto esperamos a nova corrida da maré? Quando for pescar no Itaguaré, não se esqueça de levar também uma ou duas varas simples (podem até ser de bambu), linha do tamanho da vara, anzol pequeno (para lambari) e anzol médio (para acarás). Suba o rio até onde ele se estreita bastante (vá sempre pela margem esquerda, já que a certa altura há uma bifurcação) e procure um poço mais fundo. Pare o barco na margem oposta e jogue sua isca, que pode ser uma simples minhoca (para o acará e o lambari) ou massa de farinha (só para o lambari) e veja o que vai acontecer. 

Mapa da região

A ação dessas duas espécies é tão intensa que não dá para pescar simultaneamente com as duas varas, sendo obrigatório ficar com uma só e na mão. Os “lambaris” (tambiús) são de bom tamanho e os acarás não ficam atrás, mas é difícil fisgar um grande exemplar desta espécie, já que os de pequeno porte não dão aos maiores a chance de abocanhar nossas iscas. É nosso costume fisgar os pequenos primeiro, dizendo que vamos “limpar um pouco a área para os grandes”. Evidentemente, todos os peixes pequenos são soltos. Como infra-estrutura local, podemos citar o Sr. Obidom, que tem um pequeno negócio nas margens do rio, onde há barcos para alugar. São apenas seis embarcações, o que não garante a disponibilidade nos finais de semana. Como não há telefone para reservas, a única escolha é contar com a sorte. 

Barreira na praia de Guaratuba

Para atingir a casa do sr. Obidom, deve-se entrar em uma pequena estrada de terra à direita, mais ou menos 50 metros antes da ponte do Itaguaré. Saindo do Itaguaré, e seguindo mais 11 km à frente, vamos encontrar o rio Guaratuba, com as mesmas características do primeiro e portanto com o mesmo tipo de pesqueiros. Também nesse rio, a presença de acarás e lambaris é garantida. Aliás o Guaratuba foi tema do roteiro da edição 47 da Aruanã. Também aqui a infra-estrutura oferecida resume-se a um pequeno negócio junto à ponte velha do rio, onde também há apenas seis embarcações para alugar. Não há como reservar os barcos e a entrada para esse local fica à direita, mais ou menos 300 metros antes da ponte da Rio-Santos sobre o Guaratuba.

Paratis                                                        
                                                        PRAIAS


Todas as praias desse trajeto são “rasas”, portanto, para pescar nelas devemos primeiro localizar seus canais. A primeira opção é a praia de Bertioga, que conta aproximadamente 10 km de extensão, sendo toda essa área boa para a pesca, com exceção das duas extremidades (são protegidas por costões), onde quase não há ondas e as águas são muito rasas. Para não dizer que não citamos algum pesqueiro especial, vamos lá: pesque desde o SESC (colônia de férias) até dois quilômetros adiante. Costumamos pescar nesse local sempre com duas varas, permanecendo com uma não mão e deixando a outra na espera. Na vara de espera costumam sair grandes cações e arraias. Os peixes mais comuns nessa praia são as betaras, pampos, robalos, paratis-barbudos e galhudos. 

Praia de São Lourenço

Nas areias da praia há a muitas opções de iscas naturais à sua disposição, como a minhoca de praia e os corruptos. Após Bertioga, a próxima praia é a de São Lourenço, de menor extensão. A piscosidade é grande, principalmente de pampos, para os quais a melhor época de pesca é agora (NR:abril). Como bons pesqueiros, recomendaríamos o ponto logo no início da praia (junto à passagem do Indaiá) e o local em frente a um parcel de pedras bem no meio da praia. As espécies encontradas aqui serão as mesmas citadas para a praia de Bertioga, bem como as iscas naturais, que também estão presentes na areia. Após São Lourenço e sempre em sentido norte, encontraremos as praias de Itaguaré e Guaratuba, cuja divisão é feita pelo rio Itaguaré. Na praia de Itaguaré não costumamos pescar, já que os pontos após o rio de mesmo nome ainda nos parecem ser o melhores locais. 



Praia de Itaguaré

No entanto, junto à foz desse rio, à direita do mesmo, já houve companheiros que fizeram boas pescarias. Particularmente preferimos a praia à esquerda. Para atingir esse local, logo após a ponte do rio na rodovia, siga por uma pequena entrada de terra à direita, que levará a praia, diretamente melhor local para esse tipo de pesca. Os peixes que nos trazem maior emoção nessa praia são os cações de bom tamanho fisgados. É impressionante observar que, todas essas praias, a de Guaratuba é a que tem maior presença de cações, assim como ocorre na praia de São Lourenço em relação aos pampos. Portanto, o melhor local é o compreendido pela área que se estende por aproximadamente três quilômetros desde a foz do rio Itaguaré até a antena da Petrobrás. 





Robalo no canal


As melhores iscas para o cação nesse local são os pequenos peixes da praia (betaras, paratis-barbudos e outros) iscados em forma de toletes ou filés e mesmo inteiros. A vara de espera costuma fazer sucesso nessa praia, e é importante não esquecer de regular a fricção do equipamento, pois são comuns as histórias de varas perdidas com grandes peixes. No fim da praia de Guaratuba, está o rio de mesmo nome. Pescando junto à foz desse rio, há boa chance de termos sucesso especialmente com os robalos (o mesmo acontece no Itaguaré) e a melhor isca nesse local será o camarão vivo. Nos demais pontos, as iscas naturais serão também encontradas facilmente na própria praia. Finalmente, chegaremos à praia de Boracéia, cuja extensão beira os 10 kms. Além do município de Bertioga, essa praia já pertence também ao de São Sebastião. 



Praia de Guaratuba

Praia bastante comum, rasa e de mar aberto. Os canais são bem visíveis e a piscosidade não fica devendo nada às praias anteriormente citadas. De janeiro a abril, o peixe mais comum é o pampo, sendo que estão encostando os exemplares de bom tamanho. No mais, as dicas de pesca e as espécies encontradas aqui serão as mesmas das praias já citadas, sendo que é interessante destacar que Boracéia é a praia que tem mais minhocas na areia, principalmente no canto, junto às pedras.


                                                PESCA DE COSTÃO

Ao longo do trajeto compreendido por este roteiro, vamos encontrar três costões bons para a pesca. O primeiro deles fica no fim da praia de Bertioga, local também conhecido como Indaiá. Tanto do lado de Bertioga como do lado de São Lourenço, essa é uma boa opção.

Praia de Boracéia

Pode ser atingido pelas duas extremidades das praias citadas e para pescar mais “para fora”, será necessário localizar as picadas (são visíveis) no meio da mata. A variedade de peixes é enorme, destacando-se os sargos, garoupas, badejos, robalos, pampos e – dependendo da época – até anchovas (normalmente a partir de junho). Como é um costão de meio de praia, os corruptos ainda dão bons resultados, assim como outras iscas tais como amborés (podem ser fisgados no meio das pedras pequenas e com camarão morto), baratinhas-do-mar, caranguejos e saquaritás, que podem ser encontrados no próprio local da pescaria. Pescando nas duas laterais, o lances dados devem ser de pequenos a médios, pois a areia logo estará junto às pedras. Mais para o meio, os lances podem ser mais longos. Outro costão à frente é o que fica entre São Lourenço e Itaguaré, cujas características serão iguais às do citado anteriormente, tanto em termos de estrutura como no tipo de pescaria. São exatamente iguais e com a mesma piscosidade.

Pampo

Finalmente, vamos encontrar o costão de Boracéia. Do lado de Guaratuba, o costão começa na margem do rio do mesmo nome. Para atingi-lo será necessário empreender uma caminhada razoável pela estrada que fica logo após a ponte do rio. É uma estrada de terra onde o trânsito de veículos é pouco recomendável. Se optar por esse local, saiba que um peixe bastante presente ali é o robalo. A isca certa para tentar essa espécie é o camarão vivo e o melhor local fica na ponta do morro, de onde jogaremos a isca para o lado do rio Guaratuba. A largura do rio que separa a praia do costão é de aproximadamente 50 metros. Caso queira pegar a estrada, será preciso andar mais de 2 km. Portanto se houver um barco para o pescador fazer a travessia, tudo ficará mais fácil. No mesmo costão temos o lado de Boracéia, preferido pela maioria dos pescadores devido ao acesso mais fácil e o caminho pelas pedras, mais certo. 



Costão de Boracéia


Como se sabe, andar sobre pedras não é fácil, podendo mesmo ser considerado perigoso. Mas o costão compensa, pois é muito bonito e piscoso. São encontradas aqui as mesmas espécies descritas anteriormente, e uma dica: um peixe muito comum nesse costão é a garoupa. Costuma-se pesca-la com varejão de bambu e linha de aço, já que com carretilhas ou molinete será muito difícil tirar um peixe dessa espécie, que tem o “péssimo hábito” de entocar após fisgada. E não há nada que faça uma garoupa sair da toca. Com o varejão de bambu, após a fisgada, devemos içar a vara o máximo possível, buscando não dar ao peixe a chance de ir para a toca. As melhores iscas para a garoupa serão o amborê e filés de sardinha ou bonito, ou mesmo toletes desses peixes. 


Costão do Indaiá

Agora, alguns problemas. Infelizmente, na maioria dessas praias não é permitido o trânsito de veículos, chegando algumas ao absurdo de serem fechadas com correntes ou pedras e montes de terra. Procuramos saber que autorizou esse fechamento, e segundo nos informaram na região, trata-se de obra dos grandes condomínios existentes, que alegam com isso “coibir o uso das praias pelos farofeiros e ônibus de excursão, que lá vão fazer piqueniques”. E nós pescadores acabamos sendo prejudicados, pois fica muito difícil, além de perigoso, deixar o carro longe do local onde estamos pescando. No entanto, existem diversas entradas ao longo de todas as praias aqui citadas onde um pequeno caminho ou uma rua nos levam até a areia. Nesses locais existem algumas casas, cujos moradores, com uma boa conversa e uma gorjeta, se prontificam a tomar conta dos carros. (NR: isso naquela época) Na praia de Guaratuba, logo após o rio Itaguaré, é possível entrar e transitar com o carro. 



Costão da praia de São Lourenço

Outra opção para chegar à areia é ficar entre São Lourenço e Itaguaré, onde na beira da Rio-Santos existe o condomínio Pontal de Guaratuba, o qual segundo informações obtidas, “permite” que os carros entrem, desde que os pescadores se identifiquem na portaria (que maravilha não?). Portanto, em todas as praias e costões, o mais recomendável é que o pescador procure deixar seu veículo estacionado junto a casas próximas de onde estiver. Em Boracéia, a rodovia margeia toda a extensão da praia, permitindo que o pescador visualize seu veículo. Se quiser ficar mais sossegado, existem alguns estacionamentos na região, onde você poderá deixar seu carro em segurança. 


Costão da praia de Guaratuba e foz do rio Guaratuba
                                                       
                                                              PESQUISA
Alguns nomes de locais aqui citados são de origem tupi-guarani, e sua tradução para o português é bem interessante. Vamos a eles: Bertioga: “casa das tainhas”; Boracéia: “dança indígena”; Guaratuba: “lugar de muitas garças”; Itaguaré: “o mesmo que pedra torta, ou espiralada”; Indaiá: “uma espécie de palmeira”; Piaçaguera: “porto velho, extinto, que não é mais usado”.
NOTA DA REDAÇÃO: Evidente está que os locais aqui citados nesta matéria na Revista Aruanã, em abril de 1996, com certeza estarão mudados. Mas, os rios lá estão, senão tanto piscosos, ainda com muitos robalos. Aos costões e praias, podemos aplicar a mesma observação. O que nos resta afirmar é que, todos os locais, ainda são muito bons para pesca amadora. 


Revista Aruanã Ed. nº50 publicada em 04/1996

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