Pescar na Água Azul é a
realização de todo pescador amador. Conforme a época e dependendo da
localização do litoral, às vezes isso é quase impossível. Vamos conhecer o
banco Royal Charlotte, onde pescar na água azul é possível o ano inteiro.
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Porto
Transamérica em Comandatuba
A nossa pescaria aconteceu durante o mês de agosto/92. Nossa
meta era a água azul, na denominada Corrente do Brasil. Em outros litorais a
água azul está muito distante da costa, o que torna quase impossível uma
incursão ao local dos chamados peixes nobres. Saímos do Hotel Transamérica, na
Ilha de Comandatuba, e a direção apontada na bússola era leste a 120°
magnéticos. Estávamos em uma lancha de 30 pés de propriedade do hotel. Pelo
sonar sabíamos e controlávamos a profundidade, e assim que se sai da barra do
canal ela é de 4 metros. Em 15 milhas percorridas desde a barra, começamos a
entrar em águas mais profundas, a princípio 13 metros, passando a 20 metros,
logo depois a 300 metros e, finalmente, na tela do sonar, o vazio. Na carta do
litoral a informação correta: estávamos a 1.700 metros de profundidade.
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O
grande dourado
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A sensação que se tem, sabendo estar a tal profundidade, é
estranha. Nada muda, a não ser na nossa mente, mesmo acostumados ao mar. A
cerca de 20 milhas da costa a água azul já está presente e sua temperatura é de
24 graus. Por experiência sabemos que para pescar nestas águas a temperatura
ideal é de 27 graus. Continuamos a viagem rumo ao Royal Charlotte. A primeira
surpresa é um cardume de peixes-voadores, que com a aproximação do barco saem
em vôos rasantes e de longa distância. Procuramos imediatamente algum sinal de
peixes de bico, pois eles estão sempre à caça desses pequenos peixes, mas não
avistamos nenhum. No entanto, uma grata e boa surpresa nos esperava logo mais
adiante. De repente, ao nosso lado e a cerca de 50 metros, duas baleias enormes
faziam evoluções, corcoveando a água e soltando jatos com seu tradicional
barulho.
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Isca
usada na pesca do dourado
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Durante algum tempo navegamos lado a lado com as baleias,
mantendo sempre uma distância segura, já que calculamos para cada baleia umas 5
lanchas nossas. Mantínhamos o rumo, e de repente, como em um passe de mágica, a
tela do sonar mostrava o relevo Royal Charlotte. Profundidade 40 metros. O
nosso leitor pode imaginar essa maravilha de parede de pedra, que estava em
1.700 metros e subitamente sobe para 40 metros. Na tela do sonar a impressão
que se tem é de estar vendo uma cidade de arranha-céus por cima. Em alguns
pontos, os parceis chegavam a apenas 25 metros de profundidade. Montamos três
varas, usando iscas artificiais de lulas e rapalas, e começamos a corricar. A
água é de um azul profundo e a temperatura é de 27 graus.
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Atum
Passado certo tempo, uma das carretilhas começa a disparar a
fricção, sinal de peixe. Vara na mão e toca a brigar. A luta demora
aproximadamente 20 minutos e embarcamos o primeiro dourado-do-mar, com cerca de
16 quilos. E assim foi durante boa parte do dia. No final da pescaria, tínhamos
como saldo dois dourados-do-mar, de 16 e 25 quilos, uma cavala de 14 quilos e
um atum de mais de 25 quilos. Perdemos ainda duas boas puxadas, que não
chegaram a fisgar, e uma linha 0.70 mm, arrebentada, já que o puxão do peixe foi muito forte, dando uma
“cabeleira” (backlash) na linha. Outro fato muito interessante aconteceu na
briga com o atum. Desde a fisgada até o peixe chegar perto do barco,
passaram-se cerca de 25 minutos. Em alto mar, para esse tipo de peixe é costume
usar-se um bicheiro de bom tamanho para traze-lo para a embarcação.
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A
localização do Royal Charlotte
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Tínhamos brigado muito com esse atum e ele dava mostras (e
nós também) de cansaço. Com cuidado fomos trazendo-o até a popa do barco,
quando então o marinheiro tentou “bicheirar”, mas errou o peixe. Com o riscado
do bicheiro em seu corpo, esse atum deu um arranque final, levando novamente um
bom pedaço de linha. Por precaução, tínhamos regulado a fricção do equipamento
e a linha saia com pressão. O atum então parou no fundo e deu bastante trabalho
para traze-lo novamente à superfície. A recomendação agora ao marinheiro era
que “pelo amor de Deus!” não errasse a bicheirada, já que nossos braços
começavam a ficar dormentes. Peixe embarcado e varas novamente montadas,
continuamos a corricar, naquela “vidinha dura” que só pescador amador sabe com
o é. Depois de certo tempo, vimos o primeiro sinal de bico logo atrás de uma
isca de lula azul que vinha surfando na superfície, montada na lateral esquerda
do barco. A primeira vista nos pareceu um sailfish.
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A
baleia
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Durante alguns segundos nadou atrás da isca, mas não atacou.
Outro sinal de peixe de bico foi visto no horizonte e era um marlim azul de bom
tamanho. Por certo, se estivéssemos equipados com farnangaios (isca própria),
teríamos fisgado alguns peixes de bico. Mas nossa principal intenção era
descobrir o Royal Charlotte e isso fizemos com exatidão, e para aqueles que
gostam de detalhes, a posição exata de banco é a latitude de 15°S55’ e a
longitude de 038°W30’, ficando mais ou menos em linha reta com a cidade de
Belmont no litoral, a cerda de 35 milhas. Outro fato bastante pitoresco
acontecido nessa pescaria foi o encontro com um barco de pescadores
profissionais, ancorado em uma das pontas do Royal Charlotte.
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Barco
de pesca profissional
Encostamos nossa embarcação na deles e tivemos a oportunidade
de ficar sabendo de detalhes de pescaria de fundo. Para se ter uma idéia, a
linha de mão usada por esses profissionais era de 2.00mm, os anzóis são o 14/0
e em cada um colocam pedaços grandes de peixe ou então 6 sardinhas. Os peixes mais
fisgados são garoupas, meros, ciobas, caranhas, etc., todos enormes. Essas são
as principais dicas do banco Royal Charlotte, sendo este mais um roteiro conferido,
testado e aprovado pela equipe da Revista Aruanã.
AGRADECIMENTOS
Queremos agradecer a colaboração do Hotel Transamérica – Ilha de Comandatuba, pelo apoio dado à nossa equipe, o que tornou possível a realização desta reportagem.
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Revista Aruanã Ed:20
publicada em 10/1992
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