As Ilhas, independentemente do seu tamanho, exercem grande
atração sobre o pescador, que tem nesses locais excelentes pesqueiros. Imagine
então possuir uma ilha particular para pescar, e que além de tudo, possa ser
mudada de lugar.
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Esquema de montagem da ilha
A BEM DA VERDADE VIMOS PELA PRIMEIRA VEZ A “TAL
ILHA PARTICULAR” há
muitos anos atrás, mais precisamente na região de Monte Aprazível, no rio Tietê
(SP). Infelizmente não conseguimos descobrir o inventor de tal “obra de
engenharia naval” e da geringônça que garante sua piscosidade. O certo é que a
ilha funciona muito bem, como tivemos oportunidade de comprovar em uma pescaria
onde utilizamos esse recurso. Fisgamos várias e grandes piaparas. A tal ilha
nada mais é do que uma armação parecendo um estrado, cujas medidas podem variar
de acordo com a necessidade do pescador e do tipo do rio. Essa onde pescamos
media 4m por 3m, e sua altura era de 80cm. O pescador proprietário da ilha
construiu uma armação com vigas fortes e parafusadas como base e depois passou
ripas ou sarrafos, com espaços de 2cm entre eles. Executou primeiro a parte de
baixo e depois as laterais. Na parte de cima usou tábuas de assoalho
encaixadas, sem espaço algum entre elas e cobriu dessa maneira toda a superfície
da ilha. O segredo dessa ilha é construi-la na beira do rio. A maneira correta
de construi-la é inicialmente preparar toda a estrutura sem a parte de cima. Em
uma das laterais, coloca-se um elo grosso de ferro onde será amarrada a poita,
que permitirá a ilha ficar na posição correta quando estiver na água do rio.
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Mecanismo para a ceva
O “miolo” da ilha pode ser feito com tambores plásticos ou de
lata e é isso que proporcionará a flutuação. A ilha que usamos tinha em seu
interior blocos de isopor. Após colocar todo o miolo dentro da armação, faz-se
finalmente o piso da ilha. Quando este estiver sendo preparado, não esqueça de
colocar os porta-varas, encaixe para cadeira (que poderão ser giratórias),
encaixe para a mesa de iscas, geladeira de isopor e até mesmo um cone para
encaixe do guarda sol. Quando a ilha estiver pronta, faça uma poita pesada e
forte. A “nossa” ilha possuía uma poita feita de concreto armado e pesava mais
ou menos 100kg. Foi colocada em cima da ilha e seu cabo de aço media 40m de comprimento.
Para aquele rio, isto era mais do que suficiente para apoitar a ilha com
segurança, pois a profundidade era de 10m. Com tudo pronto, a ilha foi descida
para a água e foi levada para o lugar escolhido com a ajuda de um barco e motor
de popa. Quando chegou no lugar certo, dois pescadores, com o auxilio de “cunhas”,
jogaram a pesada poita no fundo do rio. O cabo esticou e a ilha ficou boiando na
posição certa. Mas o melhor vem agora. Falar da comodidade da ilha é
desnecessário, já que estávamos sobre um tablado de 12m quadrados para pescar
com toda a segurança.
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Detalhe do mecanismo (distribuidor de grãos)
Em uma das laterais, foi fixada a famosa “aracataca”, cuja importante
função era de cevar continuamente o local. Vamos explicar esse funcionamento
(veja ilustração). Preso por dois
suportes que serão fixados no assoalho da ilha, coloca-se um eixo de
aproximadamente um metro, sendo que 50cm ficarão para fora da ilha. Nessa ponta
coloca-se uma hélice com 4 pás, que será seu elemento propulsor. A correnteza
do rio fará com que gire. No eixo entre a hélice e o assoalho da ilha,
colocaremos um disco de madeira com um único furo em seu diâmetro. Sobre esse
eixo, coloca-se um funil de lata com o bico voltado exatamente sobre esse furo.
Esse funil pode ser de qualquer tamanho e será fixado no assoalho. É nele que
colocaremos a alimento que servira de ceva. Vamos usar como exemplo o milho. A
ilha de pesca está pronta, e com o movimento da hélice o eixo irá girar,
fazendo com que o disco de madeira gire também. Cada vez que o furo passar
embaixo do funil, cairá um grão de milho que será jogado diretamente na água do
rio. Para saber a quantidade de milho a sem colocada no funil, é só fazer a
conta. Por exemplo: vamos supor que o eixo receba um grão de milho a cada 20
segundos, portanto, três grãos por minuto e 180 grãos por hora.
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Piaparas
Vamos supor também que 100g de milho sejam equivalentes a 360
grãos. Pois bem, em um quilo de milho teremos 3.600 grãos, que por certo serão
suficientes para 20 horas de ceva. O tamanho do funil poderá ser determinado para,
por exemplo, receber 10 quilos de milho, proporcionando 200 horas de ceva, ou
seja, mais de nove dias sem a presença do pescador, pois esse tipo de ceva
funciona ininterruptamente. A propósito, o intervalo de tempo entre grãos que
serão jogados na água do rio, dependerá do tamanho do disco de madeira. É só
calcular a velocidade da água do rio e o diâmetro do disco para se obter a
duração do intervalo. Não se esqueça de interromper o mecanismo da ceva quando
iniciar suas pescarias. Aí está, portanto, lançada a idéia de sua ilha
particular de pesca. A ilha que utilizamos no rio Tietê proporcionou ótimos
resultados, e segundo o proprietário da ilha, piaparas, piabas, piaus,
curimbatás, pacus e piracanjubas eram fisgados o ano inteiro. E segundo o
ditado, “de pescador e louco todos nós temos um pouco”. Mãos à obra e boa
pescaria.
NOTA DA REDAÇÃO: Em locais onde não haja
correnteza, por exemplo, represas, poderemos usar o vento como elemento
propulsor, fazendo apenas as adaptações necessárias para girar o eixo.
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Revista Aruanã Ed: 36 publicada em 10/1993
Edição Especial com 100 páginas
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