sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

DICA - A ILHA DE PESCA








As Ilhas, independentemente do seu tamanho, exercem grande atração sobre o pescador, que tem nesses locais excelentes pesqueiros. Imagine então possuir uma ilha particular para pescar, e que além de tudo, possa ser mudada de lugar.



Esquema de montagem da ilha
A BEM DA VERDADE VIMOS PELA PRIMEIRA VEZ A “TAL ILHA PARTICULAR” há muitos anos atrás, mais precisamente na região de Monte Aprazível, no rio Tietê (SP). Infelizmente não conseguimos descobrir o inventor de tal “obra de engenharia naval” e da geringônça que garante sua piscosidade. O certo é que a ilha funciona muito bem, como tivemos oportunidade de comprovar em uma pescaria onde utilizamos esse recurso. Fisgamos várias e grandes piaparas. A tal ilha nada mais é do que uma armação parecendo um estrado, cujas medidas podem variar de acordo com a necessidade do pescador e do tipo do rio. Essa onde pescamos media 4m por 3m, e sua altura era de 80cm. O pescador proprietário da ilha construiu uma armação com vigas fortes e parafusadas como base e depois passou ripas ou sarrafos, com espaços de 2cm entre eles. Executou primeiro a parte de baixo e depois as laterais. Na parte de cima usou tábuas de assoalho encaixadas, sem espaço algum entre elas e cobriu dessa maneira toda a superfície da ilha. O segredo dessa ilha é construi-la na beira do rio. A maneira correta de construi-la é inicialmente preparar toda a estrutura sem a parte de cima. Em uma das laterais, coloca-se um elo grosso de ferro onde será amarrada a poita, que permitirá a ilha ficar na posição correta quando estiver na água do rio.

Mecanismo para a ceva
O “miolo” da ilha pode ser feito com tambores plásticos ou de lata e é isso que proporcionará a flutuação. A ilha que usamos tinha em seu interior blocos de isopor. Após colocar todo o miolo dentro da armação, faz-se finalmente o piso da ilha. Quando este estiver sendo preparado, não esqueça de colocar os porta-varas, encaixe para cadeira (que poderão ser giratórias), encaixe para a mesa de iscas, geladeira de isopor e até mesmo um cone para encaixe do guarda sol. Quando a ilha estiver pronta, faça uma poita pesada e forte. A “nossa” ilha possuía uma poita feita de concreto armado e pesava mais ou menos 100kg. Foi colocada em cima da ilha e seu cabo de aço media 40m de comprimento. Para aquele rio, isto era mais do que suficiente para apoitar a ilha com segurança, pois a profundidade era de 10m. Com tudo pronto, a ilha foi descida para a água e foi levada para o lugar escolhido com a ajuda de um barco e motor de popa. Quando chegou no lugar certo, dois pescadores, com o auxilio de “cunhas”, jogaram a pesada poita no fundo do rio. O cabo esticou e a ilha ficou boiando na posição certa. Mas o melhor vem agora. Falar da comodidade da ilha é desnecessário, já que estávamos sobre um tablado de 12m quadrados para pescar com toda a segurança. 

Detalhe do mecanismo (distribuidor de grãos)
Em uma das laterais, foi fixada a famosa “aracataca”, cuja importante função era de cevar continuamente o local. Vamos explicar esse funcionamento (veja ilustração).  Preso por dois suportes que serão fixados no assoalho da ilha, coloca-se um eixo de aproximadamente um metro, sendo que 50cm ficarão para fora da ilha. Nessa ponta coloca-se uma hélice com 4 pás, que será seu elemento propulsor. A correnteza do rio fará com que gire. No eixo entre a hélice e o assoalho da ilha, colocaremos um disco de madeira com um único furo em seu diâmetro. Sobre esse eixo, coloca-se um funil de lata com o bico voltado exatamente sobre esse furo. Esse funil pode ser de qualquer tamanho e será fixado no assoalho. É nele que colocaremos a alimento que servira de ceva. Vamos usar como exemplo o milho. A ilha de pesca está pronta, e com o movimento da hélice o eixo irá girar, fazendo com que o disco de madeira gire também. Cada vez que o furo passar embaixo do funil, cairá um grão de milho que será jogado diretamente na água do rio. Para saber a quantidade de milho a sem colocada no funil, é só fazer a conta. Por exemplo: vamos supor que o eixo receba um grão de milho a cada 20 segundos, portanto, três grãos por minuto e 180 grãos por hora. 

Piaparas
Vamos supor também que 100g de milho sejam equivalentes a 360 grãos. Pois bem, em um quilo de milho teremos 3.600 grãos, que por certo serão suficientes para 20 horas de ceva. O tamanho do funil poderá ser determinado para, por exemplo, receber 10 quilos de milho, proporcionando 200 horas de ceva, ou seja, mais de nove dias sem a presença do pescador, pois esse tipo de ceva funciona ininterruptamente. A propósito, o intervalo de tempo entre grãos que serão jogados na água do rio, dependerá do tamanho do disco de madeira. É só calcular a velocidade da água do rio e o diâmetro do disco para se obter a duração do intervalo. Não se esqueça de interromper o mecanismo da ceva quando iniciar suas pescarias. Aí está, portanto, lançada a idéia de sua ilha particular de pesca. A ilha que utilizamos no rio Tietê proporcionou ótimos resultados, e segundo o proprietário da ilha, piaparas, piabas, piaus, curimbatás, pacus e piracanjubas eram fisgados o ano inteiro. E segundo o ditado, “de pescador e louco todos nós temos um pouco”. Mãos à obra e boa pescaria.
NOTA DA REDAÇÃO: Em locais onde não haja correnteza, por exemplo, represas, poderemos usar o vento como elemento propulsor, fazendo apenas as adaptações necessárias para girar o eixo.
     

Revista Aruanã Ed: 36 publicada em 10/1993
            Edição Especial com 100 páginas

Nenhum comentário:

Postar um comentário