segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ESPECIAL: BASS UMA QUESTÃO DE BOM SENSO




Na região sul e sudeste do Brasil, o Black bass é um peixe que está sempre presente em várias represas. Excelente para se pescar e para a mesa, este peixe depende exclusivamente do pescador amador para sua sobrevivência. Preserva-lo é dever de todos nós.

Represa de bass
Originário do Canadá e não dos Estados Unidos, como muita gente pensa, o bass foi introduzido no Brasil em 1922, no Estado de Minas Gerais. Cientificamente recebe o nome de Micropterus salmoides e pertence à família dos Centrarchidae. Sua importação para nossas águas deu-se por um único motivo: nossas autoridades necessitavam de um peixe de ambiente lêntico, ou seja, de águas paradas (lagos e represas) para combater uma praga que está presente em todo o Brasil que é a pirambeba. Esta espécie de piranha teve sua população muito aumentada e vinha causando vários estragos na população de nossos lagos. Até hoje é comum ver-se várias espécies de peixes mordidos pela pirambeba,  principalmente em suas nadadeiras caudais. Nossas autoridades começaram a importar o bass e cria-lo em cativeiro, soltando os alevinos em diversas represas do estado de São Paulo. 

Detalhe da cabeça do bass
 Era uma verdadeira “febre” pelo peixe, chegando esses mesmos cientistas a importar também o blue gill, um pequeno peixe também do Canadá para que o bass se alimentasse. Esse peixe é semelhante ao nosso popular cará. Já por essa atitude, nota-se que a “febre do bass” foi conduzida de maneira irracional e movida por sentimentos, não por dados científicos. Imagine importar peixes para sua alimentação, como se eles não comessem, por exemplo, acarás e lambaris. O bass então foi criado e solto em larga escala. Mas um dia, infelizmente, alguma “cabeça pensante” achou que o bass era um predador muito voraz, pois ataca pequenos peixes, que na verdade são a base de sua alimentação. Foi o bastante para que todo o amor que se tinha pelo peixe se transformasse em verdadeiro ódio. Encerrou-se a criação dos alevinos e não foram mais soltos peixes em outros reservatórios. 

O bass costuma desovar na areia e em troncos submersos 
Em Pirassununga, onde havia a criação oficial, acabaram com todas as matrizes e o bass ficou relegado ao esquecimento. Mas graças a Deus ele continuou sobrevivendo em várias represas e até hoje continua a existir e a desovar. Para quem pesca o black bass, a esportividade e a técnica é algo apaixonante, além de termos em nossos lagos mais uma espécie de peixe para nosso lazer. Quanto a ele ser um predador, não o é nem mais ou menos do que o tucunaré, por exemplo. Mas decidiu-se condena-lo injustamente.  No entanto, hoje muita gente pesca e ama o bass. A APIA – Associação de Pescadores com Isca Artificial, por exemplo, foi ainda mais longe. Com recursos próprios soltou milhares de alevinos em represas próximas a São Paulo e hoje, completamente ambientados, fazem a alegria de vários pescadores. Nós da Aruanã também fizemos nossa parte, pois após muita luta conseguimos aprovar uma portaria em 1986 (a revista ainda não existia, mas a força do Jornal da Tarde sim), criando os Santuários de Pesca Amadora.

O black bass 
Essa Portaria nº N-08 defende o bass e fixa seu tamanho mínimo em 30 centímetros para sua pesca, proíbe sua pesca no período de 1º de setembro a 15 de dezembro nas represas Cachoeira do França, da Fumaça, Guarapiranga, Billings, Paraibuna, Jaguarí, Ibiúna, Paiva Castro e Atibainha. Quando aprovamos em Brasília essa portaria, fomos muito criticados, principalmente pelos pescadores profissionais, pois nessas represas sua ação foi proibida. Mas o pior de tudo foram as críticas de alguns amadores, pois segundo eles “proibiu-se na melhor época para pescar o bass”. Depois de seis anos, finalmente os resultados obtidos por essa proibição começaram a aparecer, mostrando que tínhamos razão quando fizemos a Portaria. Vamos esclarecer agora alguns itens. Realmente a época de proibição coincide com a melhor época para sua pesca, já que o peixe fica bastante agressivo e ataca qualquer tipo de isca artificial. 

Locais de desova 
O principal motivo dessa agressividade é defender sua desova e seus filhotes. Ora, matar peixes nessa época é, no mínimo, burrice. E quando se diz “proibido pescar” quer se dizer na realidade “proibido matar”. No entanto, se o pescador amador usar o sistema “pegue e solte”, o peixe poderá continuar a cuidar da sua desova e teremos cada vez mais peixes. Simples, não? O “pesque e solte” tem que ser imediato e no mesmo local onde o peixe foi fisgado. De maneira nenhuma deve-se colocar a mão na guelra do peixe. Fique com o bass na mão o menor tempo possível. Tanto o macho como a fêmea são importante na desova, pois uma fêmea serve a vários machos e após a desova é ele que cuida dos alevinos. Os ninhos do bass são feitos principalmente em fundo de areia ou em paus submersos.

Minhoca artificial: só pra quem sabe usar  
Cada fêmea chega a desovar mais de 5.000 ovos. Aí está meu prezado pescador, uma boa razão para que todos nós que gostamos de pescar o bass, façamos de tudo para protege-lo. A continuidade desse peixe em nossas águas depende exclusivamente de nós. Seja você também um fiscal do bass. Se avistar alguém pescando ou matando o bass entre 1º de setembro e 15 de dezembro, procure mostrar a esse pescador o crime que está cometendo. Captura-lo com tamanho inferior a 30 centímetros também é crime, já que não teve ainda a oportunidade de desovar. Agora, como sabemos que nossas autoridades são contra o bass e de que de maneira nenhuma irão protege-lo ou criá-lo, cabe a nós, pescadores amadores conscientes, a tarefa de protege-lo contra tudo e contra todos. Isto, se quisermos continuar a te-lo em nossas águas e a pesca-lo, garantindo a pesca esportiva. Raciocine e veja se tudo não é uma questão de bom senso.
NOTA DA REDAÇÃO: A minha paixão pelo bass era tanta, que a luta para sua preservação foi muito grande. A Portaria do Ibama, citada acima, devo agradecer ao Jornal da Tarde pois foi com sua aprovação que minhas viagens à Brasília eram possíveis. Foi muito importante também a cooperação da Polícia Florestal (hoje Ambiental) devido a diversas fiscalizações nas represas também citadas. Enumero uma, feita na Cachoeira do França, em época proibida para a pesca do bass, e quando abordamos um barco com dois pescadores, eu tive o desprazer de ver, no isopor, uma fêmea de bass com as ovas para fora de seu corpo. Minha revolta foi tão grande que a vontade era de pular no pescoço dos dois pescadores e xinga-los de tudo quanto fosse palavrão, pois aquela imagem era a mesma coisa que cuspir na minha cara. O comandante dessa fiscalização era o capitão Benjamim e ao perceber minha revolta, segurou meu braço e piscou para mim, como se falasse que era para eu ficar calmo. Foram multados e tiveram todos os seus equipamentos apreendidos. No meu íntimo, eu pensava que aquilo era pouco, já que por mim, o melhor do que a multa, era muita porrada na cara dos dois. Outra coisa que revoltava era ver o pessoal com varinhas de bambu, usando minhocas naturais, fisgando entre lambaris e acarás, pequenos alevinos de bass, com 10 centímetros, quando muito, presos nas fieiras de arame dentro da água. Certa vez quis dizer a eles que não fizessem aquilo, pelas razões que expliquei. Como resposta recebi a seguinte frase: “os peixes são seus?” Como eu pescava na época sempre sozinho, apesar de portar arma, achei melhor deixar pra lá. É isso. Finalmente queria pegar o idiota que soltou tucunarés nessa represa, já que a transposição para todas abaixo foi natural e inevitável. Fraterno abraço.

Revista Aruanã Ed:30 Publicada em 10/1992


Nenhum comentário:

Postar um comentário