Na região sul e sudeste
do Brasil, o Black bass é um peixe que está sempre presente em várias represas.
Excelente para se pescar e para a mesa, este peixe depende exclusivamente do
pescador amador para sua sobrevivência. Preserva-lo é dever de todos nós.
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Represa de
bass
Originário do Canadá e não dos Estados Unidos, como muita
gente pensa, o bass foi introduzido no Brasil em 1922, no Estado de Minas
Gerais. Cientificamente recebe o nome de Micropterus
salmoides e pertence à família dos Centrarchidae.
Sua importação para nossas águas deu-se por um único motivo: nossas
autoridades necessitavam de um peixe de ambiente lêntico, ou seja, de águas
paradas (lagos e represas) para combater uma praga que está presente em todo o
Brasil que é a pirambeba. Esta espécie de piranha teve sua população muito
aumentada e vinha causando vários estragos na população de nossos lagos. Até
hoje é comum ver-se várias espécies de peixes mordidos pela pirambeba, principalmente em suas nadadeiras caudais.
Nossas autoridades começaram a importar o bass e cria-lo em cativeiro, soltando
os alevinos em diversas represas do estado de São Paulo.
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Detalhe da
cabeça do bass
Era uma verdadeira “febre” pelo peixe, chegando esses mesmos
cientistas a importar também o blue gill, um pequeno peixe também do Canadá
para que o bass se alimentasse. Esse peixe é semelhante ao nosso popular cará.
Já por essa atitude, nota-se que a “febre do bass” foi conduzida de maneira
irracional e movida por sentimentos, não por dados científicos. Imagine
importar peixes para sua alimentação, como se eles não comessem, por exemplo,
acarás e lambaris. O bass então foi criado e solto em larga escala. Mas um dia,
infelizmente, alguma “cabeça pensante” achou que o bass era um predador muito
voraz, pois ataca pequenos peixes, que na verdade são a base de sua
alimentação. Foi o bastante para que todo o amor que se tinha pelo peixe se
transformasse em verdadeiro ódio. Encerrou-se a criação dos alevinos e não
foram mais soltos peixes em outros reservatórios.
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O bass
costuma desovar na areia e em troncos submersos
Em Pirassununga, onde havia a criação oficial, acabaram com
todas as matrizes e o bass ficou relegado ao esquecimento. Mas graças a Deus
ele continuou sobrevivendo em várias represas e até hoje continua a existir e a
desovar. Para quem pesca o black bass, a esportividade e a técnica é algo
apaixonante, além de termos em nossos lagos mais uma espécie de peixe para
nosso lazer. Quanto a ele ser um predador, não o é nem mais ou menos do que o
tucunaré, por exemplo. Mas decidiu-se condena-lo injustamente. No entanto, hoje muita gente pesca e ama o
bass. A APIA – Associação de Pescadores com Isca Artificial, por exemplo, foi
ainda mais longe. Com recursos próprios soltou milhares de alevinos em represas
próximas a São Paulo e hoje, completamente ambientados, fazem a alegria de
vários pescadores. Nós da Aruanã também fizemos nossa parte, pois após muita
luta conseguimos aprovar uma portaria em 1986 (a revista ainda não existia, mas
a força do Jornal da Tarde sim), criando os Santuários de Pesca Amadora.
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O black bass
Essa Portaria nº N-08 defende o bass e fixa seu tamanho mínimo
em 30 centímetros para sua pesca, proíbe sua pesca no período de 1º de setembro
a 15 de dezembro nas represas Cachoeira do França, da Fumaça, Guarapiranga,
Billings, Paraibuna, Jaguarí, Ibiúna, Paiva Castro e Atibainha. Quando
aprovamos em Brasília essa portaria, fomos muito criticados, principalmente
pelos pescadores profissionais, pois nessas represas sua ação foi proibida. Mas
o pior de tudo foram as críticas de alguns amadores, pois segundo eles
“proibiu-se na melhor época para pescar o bass”. Depois de seis anos,
finalmente os resultados obtidos por essa proibição começaram a aparecer,
mostrando que tínhamos razão quando fizemos a Portaria. Vamos esclarecer agora
alguns itens. Realmente a época de proibição coincide com a melhor época para
sua pesca, já que o peixe fica bastante agressivo e ataca qualquer tipo de isca
artificial.
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Locais de
desova
O principal motivo dessa agressividade é defender sua desova
e seus filhotes. Ora, matar peixes nessa época é, no mínimo, burrice. E quando
se diz “proibido pescar” quer se dizer na realidade “proibido matar”. No
entanto, se o pescador amador usar o sistema “pegue e solte”, o peixe poderá
continuar a cuidar da sua desova e teremos cada vez mais peixes. Simples, não?
O “pesque e solte” tem que ser imediato e no mesmo local onde o peixe foi
fisgado. De maneira nenhuma deve-se colocar a mão na guelra do peixe. Fique com
o bass na mão o menor tempo possível. Tanto o macho como a fêmea são importante
na desova, pois uma fêmea serve a vários machos e após a desova é ele que cuida
dos alevinos. Os ninhos do bass são feitos principalmente em fundo de areia ou
em paus submersos.
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Minhoca
artificial: só pra quem sabe usar
Cada fêmea chega a
desovar mais de 5.000 ovos. Aí está meu prezado pescador, uma boa razão para
que todos nós que gostamos de pescar o bass, façamos de tudo para protege-lo. A
continuidade desse peixe em nossas águas depende exclusivamente de nós. Seja
você também um fiscal do bass. Se avistar alguém pescando ou matando o bass
entre 1º de setembro e 15 de dezembro, procure mostrar a esse pescador o crime
que está cometendo. Captura-lo com tamanho inferior a 30 centímetros também é
crime, já que não teve ainda a oportunidade de desovar. Agora, como sabemos que
nossas autoridades são contra o bass e de que de maneira nenhuma irão
protege-lo ou criá-lo, cabe a nós, pescadores amadores conscientes, a tarefa de
protege-lo contra tudo e contra todos. Isto, se quisermos continuar a te-lo em
nossas águas e a pesca-lo, garantindo a pesca esportiva. Raciocine e veja se
tudo não é uma questão de bom senso.
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NOTA DA REDAÇÃO: A minha paixão pelo bass era tanta, que a
luta para sua preservação foi muito grande. A Portaria do Ibama, citada acima,
devo agradecer ao Jornal da Tarde pois foi
com sua aprovação que minhas viagens à Brasília eram possíveis. Foi muito
importante também a cooperação da Polícia Florestal (hoje Ambiental) devido a
diversas fiscalizações nas represas também citadas. Enumero uma, feita na
Cachoeira do França, em época proibida para a pesca do bass, e quando abordamos
um barco com dois pescadores, eu tive o desprazer de ver, no isopor, uma fêmea
de bass com as ovas para fora de seu corpo. Minha revolta foi tão grande que a
vontade era de pular no pescoço dos dois pescadores e xinga-los de tudo quanto
fosse palavrão, pois aquela imagem era a mesma coisa que cuspir na minha cara.
O comandante dessa fiscalização era o capitão Benjamim e ao perceber minha
revolta, segurou meu braço e piscou para mim, como se falasse que era para eu
ficar calmo. Foram multados e tiveram todos os seus equipamentos apreendidos.
No meu íntimo, eu pensava que aquilo era pouco, já que por mim, o melhor do que
a multa, era muita porrada na cara dos dois. Outra coisa que revoltava era ver
o pessoal com varinhas de bambu, usando minhocas naturais, fisgando entre
lambaris e acarás, pequenos alevinos de bass, com 10 centímetros, quando muito, presos nas fieiras de arame dentro da água. Certa vez quis dizer a eles que não
fizessem aquilo, pelas razões que expliquei. Como resposta recebi a seguinte
frase: “os peixes são seus?” Como eu pescava na época sempre sozinho, apesar de
portar arma, achei melhor deixar pra lá. É isso. Finalmente queria pegar o idiota que soltou tucunarés nessa represa, já que a transposição para todas abaixo foi natural e inevitável. Fraterno
abraço.
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Revista
Aruanã Ed:30 Publicada em 10/1992
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