quinta-feira, 25 de junho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - ONÇA









     ONÇA
                                  Felis onça                                                                     



Não se pode negar que a onça é um animal extremamente atraente, que nos fascina por sua ferocidade e mistério ao mesmo tempo que nos envolve com sua elegância e beleza.







Carnívoro da família dos Felídeos, também conhecido pelos nomes de “onça pintada” ou “jaguaretê”. É um pouco menor que seu parente asiático, o tigre, pois atinge 1,2 m de comprimento, sem a cauda, que mede 60 cm; a altura é de 85 cm. A cor é amarelo-ruiva, com 5 séries de rosetas pretas nos lados; em parte essas rosetas têm no centro uma pequena mancha preta; outras são irregulares; nas extremidades e principalmente na cara são substituídas por manchas de vários tamanhos; a cauda tem anéis pretos e a ponta também é preta. Os caçadores distinguem ainda duas variantes: “canguçu”, que é um pouco menor, de cabeça mais grossa e as manchas do corpo são menores e mais numerosas; a “onça preta” é de colorido escuro, quase preto, onde dificilmente se destacam os contornos das rosetas. Estas variantes, contudo, o zoólogo não consegue fixar em como subespécies. A onça tem todos os predicados para dominar e de fato impera no sertão. Trepa em árvores com a mesma facilidade com que atravessa os maiores rios; não há quem a iguale em saltos em altura e em distância e a tudo isto alia uma sagacidade e habilidade de emérita caçadora. Em geral contenta-se com porcos do mato, capivaras ou veados; mas se essa caça e pouca e houver gado na região, os criadores pagam largo tributo. É ao crepúsculo que a onça prefere sair à caça; depois de subjugada a vítima, ela carrega para um esconderijo, suga-lhe o sangue e, sobrando alguma carne, guarda a carcaça para o dia seguinte. Empanturrada, vai dormir em lugar seguro, entre caraguatás ou no espesso da capoeira. O touro é o único animal que ela respeita, mas, forçada à luta, ainda assim às vezes o vence. Também os porcos do mato, reunidos em vara, sabem resistir-lhe; por isso a onça espreita ocasiões oportunas em que possa surpreender os que estejam desgarrados. Quanto ao homem, a onça sabe que é perigoso medir forças com ele, e por isto são relativamente raros os acidentes, que não sejam de pura temeridade. Contam-se casos de onça que perderam o medo do homem e que daí por diante se aproveitam de todas as ocasiões para saborear novamente tal carne e, de preferência, de gente de cor. Em compensação, registraram-se casos autênticos de caçadores que, sem maiores acidentes, mataram elevado número de onças só a facão ou com lança. 






                                                                                                                   Foto Asa Roy

Diz Varhagem a respeito dessas caçadas: “Se estás seguro de que o valor não vos há de faltar, posso-vos dar a segurança que no combate a fera cairá a vossos pés, quer por meio de tiro feito bem à queima roupa, quer pela arma branca, se fordes munidos de uma faca e de uma forquilha; pois com a forquilha enchereis as goelas da fera quando vo-las abrir e depois de assim terdes assegurada, lhe caireis com a faca entre as espáduas. Para melhor se defender, poderá o caçador de onça levar consigo uma grande pele de carneiro, com lã acrescida, a qual no momento do combate usará em forma de manto, com que terá segurança de que a onça, saltando de improviso às costas ou aos braços, não o destroçará (Sic)”.
Em seu livro “Viagens e Caçadas”, o Comandante Pereira da Cunha narra um interessante caçada de onça: “Com a máxima cautela, os dois zagaieiros à frente, o Nélson entre eles, eu e o Gomes logo atrás, o camarada puxando a retaguarda, penetramos no acurizal. Um belo espetáculo oferecia-se aos olhos dos caçadores. A denodada cachorrada acuava um enorme macharrão que, entre sentando e em pé, com as costas protegidas por um acuri, a boca escancarada, donde pariam urros de guerra, as presas ameaçadoras a descoberto, os braços e as fortes garras saltadas, fazia frente aos valentes cães. O Nélson visou um pouco atrás do maxilar e um pouco acima, fazendo partir o tiro; o animal rolou por terra e a cachorrada avançou. Rápido, porém, uma nuvem de poeira levanta-se, os cães afastam-se e o macharrão, reerguendo-se procura apanhar um deles. Mas o nosso grupo também tinha avançado e a onça, deparando com ele, salta sobre um dos zagaieiros. A enorme força e o grande peso do animal enfurecido deveriam dominar o valente Coriango; este homem já havia morto muitas onças como zagaieiro e sua grande prática de muito lhe valeu neste momento crítico; assim, com calma e perícia, recebeu o macharrão na ponta da zagaia e por tal forma que o derrubou por terra. O outro zagaieiro cravou, por seu turno, a zagaia no peito do animal. A cachorrada, assanhada, mordia raivosa o terrível inimigo, que ainda assim ferido e subjugado, apanhou um dos cães e quase o mata; para salvá-lo o Gomes atirou na cabeça do macharrão, acabando por mata-lo (Sic)”.
O Jardim Zoológico de Nova York comprou certa vez uma onça fêmea, a fim de que fizesse companhia a um belo espécime paraguaio; durante alguns dias juntam-se as duas jaulas, para que assim os dois prisioneiros, ainda apartados, fizessem camaradagem. Mas bastou a nova companheira penetrar no compartimento do “Lopez”, para que este lhe saltasse à nuca e com a primeira dentada lhe triturasse duas vértebras; a morte da pobre noiva foi instantânea, como se lhe talhassem o pescoço a machado. Muitos caçadores afirmam que a onça imita o pio do macuco e com tal perfeição, que o caçador, enganado, se acerca da fera, atraído pelo pio com que esta lhe respondera. Outros caçadores, porém, o negam, nunca lhes tendo constado casos semelhantes, bem documentados. Frequentemente dá-se porém o inverso, pois é certo e aliás muito natural, que os felinos, bem como muitos outros carnívoros, procurem o macuco que ouviram piar e assim também acodem ao pio do caçador. Escondido no embaiá e piando macuco, não raro acontece ao caçador, quando embrenhado em matas em que haja onças, ser uma destas que se lhe apresente ao tiro de... chumbo fino! Característico é o estalido seco e repetido com que a onça se trai, ao mover-se nervosamente as orelhas, que então produzem como que o som abafado de castanholas. A área de destruição desta espécie estende-se do Texas ao norte da Patagônia. Depois de cento e poucos dias nascem os filhotes, nunca mais de três e que alcançam desenvolvimento completo no terceiro ano.
Bibliografia Consultada:
Dicionário dos Animais do Brasil
Rodolpho Von Ihering


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