sexta-feira, 17 de julho de 2015

O ULTIMO TOMBO DO MACHADO - RONDÔNIA














Os tombos 
O rio Machado, também conhecido como Jiparaná, é um afluente do rio Madeira, em Rondônia. Partindo de um convite de nosso leitor Denilson Sigoli, a equipe Aruanã para lá foi, sem saber que essa seria uma das mais emocionantes pescarias já experimentadas. Foram muitas as reportagens que fizemos por este Brasil afora e pelo mundo, mas com certeza esta ficará para sempre em nossa lembrança. A partir de São Paulo, via Campo Grande-Cuiabá-Vilhena, chega-se a Ariquemes, no interior de Rondônia. Até essa ultima cidade são aproximadamente 3.000 km e mais 237 km até a beira do rio. De Ariquemes, uma grande cidade dotada de toda infra-estrutura, segue-se rumo leste.
                                                                                                                                                                                                  



 Piranha preta                                                                                                                                    

 
O asfalto que nos acompanhou até a cidade deixa de existir, e em seu lugar há uma boa estrada de terra. Nosso rumo é Machadinho, distante 150 km de Ariquemes. De Machadinho seguimos para Tabajara, mais 70 km, junto ao rio Machado. Esta pequena cidade tem postes de iluminação de ferro e de procedência inglesa, ao que parece foi uma antiga base de ingleses, que segundo consta, ali estavam para “caçar borboletas”. Da cidade já se vê a beleza do rio. Nossa reportagem foi mais adiante, em um local conhecido como Porto Dois de Novembro, pois nossa intenção era pescar nas corredeiras, conhecidas na região como “tombos”. São mais 17 km por uma estradinha, que se pudermos classificar como ruim, diríamos que é bom ter um carro tracionado. Encalhamos, nada sério, três vezes.


   Árvore em uma Ilha de pedra

O Porto Dois de Novembro é um pequeno lugarejo com três famílias de seringueiros. Fica no fim da estrada em uma elevação de mais ou menos 30 m do nível do rio. A pé, indo para o rio, já se ouve o barulho das águas. Da margem, vê-se algumas corredeiras e ilhas de pedra, margeadas por praias de areia lindíssima. A água do rio é limpa e quase cristalina e esta é a melhor época de pesca (outubro e novembro). Do Porto, à direita subindo o rio, a mais ou menos uns 800 m, a primeira beleza natural: o último tombo do Machado, já que desde Tabajara até ele, existem outros dezessete tombos.


 A equipe

São várias corredeiras, tanto pela direita como pela esquerda. Algumas grandes outras pequenas, somando dezenas. No meio do rio, uma grande ilha de pedras divide o Machado em várias corredeiras e é o primeiro sinal de um meio ambiente maravilhoso. Calcular a idade da árvore nascida na ilha é impossível, mas seria preciso umas vinte pessoas de braços aberto para abraçar seu tronco, que ergue-se majestoso, com aproximadamente 40m de altura. Suas raízes à mostra, a medida que foram crescendo, foram abraçando as pedras e solidificando sua segurança até descer à água do rio, onde no período da seca busca água para manter sua vida. Em seus galhos habitam milhares de papagaios e periquitos que fazem uma algazarra tremenda, descendo às vezes para matar a sede nas águas dos rios. Pela manhã, vimos diversas vezes as pedras da beira do rio ficarem “verdes”, tal é o número desses pássaros que ali pousam para beber água e se banhar.
   

 Os últimos 14 kms até o rio  
 
Nossa primeira pescaria aconteceu do lado direito, no fim da última corredeira. Nossa meta são os grandes apapás, que nesse rio chegam a pesar 8 kg. Usamos uma vara 30 libras, de grafite, uma carretilha Abu 5500, linha 0,45mm e isca artificial Rapala e Cotton Cordel (Red Fim 900). Logo após os primeiros lances, fisgamos algumas grandes cachorras e piranhas pretas, estas últimas pesando perto de três quilos. A briga é boa e haja braço, pois todos os peixes fisgados aproveitam a força da água para brigar à vontade.
                                                                                                                   


   Aruanã                                                                                                                                              

 
Pescamos das três horas da tarde até o anoitecer, Fisgamos vários peixes, mas nenhum apapá. À noite, são vários os ranchos completamente vazios onde se pode pernoitar. Ficamos sabendo através de outros companheiros novidades sobre outros peixes fisgados por eles, onde se destacaram a pirara, o pintado-cachara e as pirapitingas. Durante o dia, os “piuns” (mosquitinhos pólvora) fazem uma verdadeira festa no pescador, e à noite, como por milagre, desaparecem. Não apenas eles, mas qualquer outra espécie de inseto, e o motivo talvez seja a queda da temperatura que ocorre durante a noite, chegando mesmo a fazer frio.



Nas matas ouvem-se piados de jaós e macucos (lá chamados de azulonas). Passamos a primeira noite naquele maravilhoso sertão. O ultimo tombo do Machado é também conhecido como “Tombo 27”, pois dizem que ali, numa tentativa de subir a corredeira de barco, morreram 27 pessoas. Nos mapas oficiais, esse tombo é chamado de Cachoeira Lava-Cara. Estamos bem a leste de Rondônia, perto da divisa entre os estados do Amazonas e Mato Grosso.


 Os grandes apapás                                                                                                                                
 Nova manhã, e lá vamos nós até os apapás, que mais uma vez não apareceram. Nossa diversão ficou por conta das cachorras e piranhas. De onde estávamos conseguíamos divisar um outro tombo à frente e à direita, e parecia que a corredeira podia ser transportada de barco. Consultamos os companheiros e ficou acertado que tentaríamos essa subida à tarde. Saímos da corredeira e fomos pescar nas águas rápidas das ilhas de pedras. Fisgamos mais algumas cachorras, piranhas, bicudas e corvinas de quase um quilo, usando sempre as iscas artificiais.





Após o descanso e um bom almoço, voltamos ao rio por volta das três horas da tarde, já que antes disso o calor é muito intenso. Apesar do calor, não se vê o sol, escondido pela fumaça proveniente das queimadas na região. Subimos a corredeira com um motor Johnson 15 HP, com muito cuidado e analisando bem o rio. O “tombo de cima” na realidade são vários tombos e possuem um lago de águas rápidas. Descemos do barco e das pedras começamos a dar os lances com as iscas artificiais. Finalmente conseguimos fisgar vários apapás entre 4 e 6 kg. Por baixo de nossas iscas vimos dezenas de apapás que não fisgaram. 




A ferrada desse peixe é maravilhosa, e após fisgado dá saltos para fora da água, corredeira abaixo, levando mais de 50 m de linha na primeira arrancada. Nas pedras acima de nós, o Marcos fisgava pirapitingas entre 2 e 4 kg, usando como isca pedaços de jaraqui, que é um pequeno peixe encontrado na região. Aliás, sobre os jaraquis, vimos um espetáculo muito bonito nas praias durante a noite. Com o barco em silêncio, vai-se até as praias, acende-se uma luz repentinamente e bate-se com os remos no barco. O “estouro” que se segue é algo incrível, pois são milhares de peixes de aproximadamente um palmo que pulam em todas as direções. Esse é um bom método para quem quer isca, já que vários peixes caem dentro do barco.  À noite, reencontrando os companheiros, novos peixes foram somados aos que já estavam no freezer: aruanãs, jaús, tambaquis, pirararas, etc.

 Corvina                                                                                                                                                                             IGARAPÉ DAS JATUARANAS

Esse igarapé desemboca no Machado, mas nesta época do ano está quase seco e portanto não é possível chegar até ele pelo rio. Mas a jatuarana merece um destaque especial, e o jeito é pegar uma picada de seringueiros e caminhar por duas horas a pé, no meio da selva. Pelo caminho há varias aguadas pequenas e no barro das margens vimos rastros de onça, veados e pacas. Após a caminhada, chega-se ao igarapé e quase se morre de susto, pois o “tal” tem apenas meio metro de largura por 10 cm de profundidade. 
 
              Jatuaranas


A água corrente é muito limpa. Chegando-se nesse igarapé, tanto pela direita como pela esquerda, é só andar um pouco que logo se encontram poços. Esses têm mais de 4 m de largura por 30m de comprimento e 2m de profundidade. Pois bem, em cada poço desses estão presas de 30 a 80 jatuaranas, com peso variando entre 2 e 6kg. Pescar em um lugar desses é até covardia, pois os peixes pegam em qualquer isca artificial ou natural que se jogue na água. Para se ter uma idéia da piscosidade, os companheiros pegaram peixe até com as mãos. 


O mais importante é que ficou acertado que cada um só poderia pegar cinco peixes. E não pense o leitor que isso é apenas “frescura ecológica”, bastando apenas lembrar que são duas horas de caminhada no meio da floresta, e a conta é fácil de fazer: vamos dizer que cada peixe pese 4 kg. Por certo cada um vai ter que carregar 20 kg e aí é peso para ninguém botar defeito. Ao todo chegaram no acampamento 20 jatuaranas, quase na hora do almoço. 


A tarde, lá fomos nós novamente atrás dos apapás, só que desta vez resolvemos olhar do outro lado do rio e à esquerda do tombo. Há uma praia de areia muito bonita e por trás de um pequeno corredor de água, de uns 20m de largura por 80m de comprimento, bem raso, dando água pelos joelhos. Esse corredor é alimentado por pequenos “fios” de água que correm pelo meio das pedras. Assim que chegamos a essa praia, vimos um enorme cardume de peixes parado, talvez esperando o sinal da natureza para subir e vencer a correnteza. De onde estávamos não era possível distinguir qual era a espécie, mas sabíamos que eram dezenas e de grande tamanho. 

 Cuiú-cuiú

Tentamos quase todas as iscas artificiais e naturais, mas os peixes não queriam nada. Motivados pelo sucesso e pela “prática” adquirida nas pescarias de jatuaranas, entramos dentro da água e conseguimos pegar dois peixes: eram da espécie cuiú-cuiú. Para o leitor melhor se informar, podemos dizer que o cuiú-cuiú é uma espécie de abotoado ou armau, semelhante ao do Pantanal, porem sua cor é diferente, pois este tem tons de cinza escuro. A título de curiosidade, alguns cientistas afirmam que esta espécie consegue sair da água e “caminhar” por terra para atingir outras águas. 
 

 O rio
Foi um espetáculo muito bonito ver centenas de peixes juntos em piracema. Depois dessa descoberta e da farra dentro da água, fomos novamente para a corredeira em busca de apapás, piranhas e cachorras. Nessa tarde o Denilson fisgou ainda uma pirapitinga na isca artificial de meia-água. Estávamos chegando no quarto dia de nossa estadia no Machado e era chegada a hora de desmontar acampamento, pois apesar da farta pescaria e da esportividade da mesma, a vida continua. De nossa parte afirmamos que foi um dos locais mais bonitos que já vimos neste Brasil, pois contando com todos os companheiros, fisgamos exatamente 14 espécies diferentes. Até um dia Machado, pois com certeza e se Deus quiser, não foi esta a última vez que estivemos no seu último tombo.
 

 Aruanãs     
                 INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
 Pescar no último tombo foi realmente uma bonita aventura, apesar de termos encalhados três vezes nos últimos 17km que nos separam da pequena Tabajara. No entanto, se o leitor quiser pescar em Tabajara, onde a estrada é boa, podemos informar que esse trecho do rio também é muito piscoso, com grandes espécies de peixes como: jaú, pirarara, tambaqui e pirapitinga, sendo esta ultima fácil de se fisgar, pois esta é a melhor época para sua pesca. 
 
Corredeiras

Pode o leitor reparar que não falamos de tucunarés, pois após o ultimo tombo não há nenhum lago para sua pesca, o que não ocorre em Tabajara, pois logo acima da cidade existe o “Lago do Seringueiro”, que conforme informação, tem muitos tucunarés, alguns com mais de 7 quilos. Dentre as várias espécies do rio Machado, destacamos como peixes de couro: piraíba, filhote, pirarara, pintado, dourado-de-couro, jaú e outros. Entre os de escamas, destacamos: cachorra, apapá, corvina, bicuda, pirapitinga, tambaqui, jatuarana, aruanã, piranhas (enormes) e tucunaré.
 
Tambaqui

NOTA DA REDAÇÃO: Nossa viagem até o rio Machado foi pontuada de grandes alegrias, principalmente por termos descoberto para o leitor uma região ainda virgem e de uma beleza extraordinária. Ficaram também em nossa lembrança os assopros e evoluções dos botos comuns e dos cor-de-rosa que nos acompanharam nas jornadas pelo rio Machado. Finalmente queremos agradecer a participação e a colaboração de nossos leitores de Ariquemes: Denilson, Marcos, Juninho, Márcio, José Luis, Francisco, Edson e Ewaldo. Muito obrigado a todos, pois com certeza sem a colaboração deles, esta matéria seria inviável.




2 comentários:

  1. Parabéns, Toninho, mais uma jóia de recordação! Abs!

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    1. Grande Marcão: Com certeza nós, os dinossauros, temos recordações que quando abordadas, nos fazem revivê-las novamente em seus mínimos detalhes, tais como fatos e lembranças. Grande abraço. Toninho Lopes

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