sexta-feira, 31 de julho de 2015

REALIDADE: O MAL DE MINAMATA














Muitos são os problemas que cercam a pesca amadora. Vários deles
decorrentes da falta de autoridade por parte dos responsáveis em fazer a pesca algo muito sério, já que recursos não lhe faltam. Mas há um problema maior, que dificilmente será constatado pelo pescador amador, já que é invisível, sem cheiro ou sabor. Mas está presente em nossos peixes e, conforme o caso, pode ser fatal.









 As pessoas que saborearam uma pescaria sabem, mais do que ninguém, que “se não preservar, se não cuidar, vai faltar” (plagiando-se aqui uma frase da ex SUDEPE). Entendendo-se aqui “faltar” não somente sob o aspecto de quantidade mas principalmente de qualidade. Sabe-se que, além dos lançamentos diretos na água residuárias, as substâncias químicas liberadas para a atmosfera lançadas sobre as plantações ou diretamente aplicadas no solo, acabam, de uma maneira geral, entrando nos corpos de d’água. Uma vez no meio aquático, podem matar toda uma comunidade biológica, seja a nível de seres microscópicos, seja a nível dos peixes, propriamente dito. São, aliás, frequentes as notícias de mortandade de peixes. Porém o lançamento destas substâncias nem sempre chega a causar mortandade especulares, podendo ser assimiladas nos organismos, como por exemplo os peixes, que são muitas vezes consumidos pelo homem. Às vezes, os efeitos que estas substâncias causam, são irreversíveis. Vários estudos já foram realizados comprovando tais fatos. Os agrotóxicos, por exemplo, principalmente os organoclorados que, embora proibidos por lei, ainda são utilizados clandestinamente, e, uma vez lançados no ambiente, entram na “cadeia alimentar”.  O mercúrio usado nos mais diversos lugares, desde o tratamento dos dentes até em garimpos, para a extração do ouro. 



Neste processo, o mercúrio se liga ao ouro, tornando-o (principalmente o ouro em pó) mais pesado, facilitando assim a sua captura. Posteriormente é separado do ouro por aquecimento (evaporação). Uma vez introduzido no meio aquático, quer por deposição direta, quer por carreamento, o mercúrio metálico pode ser convertido, através de atividade bacteriana, em compostos orgânicos, muito mais tóxicos, e passiveis de serem absorvidos pelos organismos aquáticos facilmente. Esses organismos concentram os compostos de mercúrio diretamente da água, sedimento ou através de cadeia alimentar. A quantidade acumulada depende de inúmeros fatores (tipo de organismos, idade, hábitos alimentares, etc.), podendo atingir níveis incompatíveis à sua sobrevivência. A absorção do mercúrio  pelos organismos diretamente da água ou sedimento é chamada de bioacumulação. Na medida em que os organismos são consumidos por outros, o mercúrio também é transferido, de forma que as concentrações dos elementos crescem rapidamente. Este fenômeno é conhecido por biomagnificação. Isto explica o fato de que, via de regra, os peixes carnívoros (piranhas, dourados, traíras, peixes-cadelas, tucunarés, etc.) apresentam concentrações mais elevadas podendo às vezes superar o limite máximo permissível para o consumo humano. 



O exemplo clássico de envenenamento por mercúrio é o episódio ocorrido na Baia de Minamata, no Japão, na década de 50, onde pescadores consumiram por anos peixes, moluscos e crustáceos contaminados por mercúrio proveniente de efluentes industriais lançados na baía. Registram-se , no período de 1956 a 1973, cerca de 800 vítimas , incluindo-se quase uma centena de mortes. Por isso os efeitos causados por este tipo de mercúrio são chamados de “Mal de Minamata”. Muitos embora a problemática da contaminação por mercúrio, em nosso país seja considerada como uma das prioridades pela Política Nacional de Meio Ambiente, é particularmente preocupante a situação hoje vivenciada na Região Amazônica, onde este metal é utilizado indiscriminadamente em grandes quantidades nos garimpos de ouro (para cada tonelada de ouro são lançadas, no ambiente, cerca de duas toneladas de mercúrio). Fica aqui o alerta. Amanhã poderemos não mais realizar pescarias, não pelo fato de não haver peixes (consequência da sobrepesca ou das alterações que estão ocorrendo nos ambientes), mas sim, porque o peixe pode estar impróprio para ser consumido.
Geraldo G.J Eysink é Biólogo do setor de Plâncton e Ictiologia da Diretoria de Normas e Padrões Ambientais – CETESB – SP.

Dourado                   

NOTA DA REDAÇÃO: Na década de 90, eu tive a oportunidade de entrevistar na Rádio Globo, um pescador amador, meu amigo e muito conhecido em São Paulo (deixo de citar seu nome, a não ser que ele se identifique por este meio de comunicação), que estava muito doente, por contaminação de mercúrio. Segundo ele, na entrevista, era ele um pescador que frequentava muito, vários rios da Bacia Amazônica. Na rádio, nos mostrou e eram visíveis em seu corpo, vários “calombos” do tamanho, digamos, de meio limão da espécie galego. De posses, buscou tratamento nos EUA não obtendo resultados positivos mas, teve a informação de aqui no Brasil, em São Paulo, e se não me falha a memória, mais especificamente em Campinas ou na região, havia um médico que tinha um tratamento específico para essa doença. Foi tratado e curado por esse médico. Na ocasião este artigo, causou muita polêmica em nosso meio, mas antes de tudo, foi um feito jornalístico da Aruanã, que assim alertou muitos consumidores dos peixes, da citada região. A reedição deste artigo é válida até hoje, já que o garimpo, a utilização de mercúrio, seus métodos e consequências, são hoje, infelizmente, atuais em pleno século 21. E, ainda completo esta informação em dias atuais: se o pescador amador verificar, verá, que em todos os estados do Brasil, onde houver um rio piscoso, suas águas e seus peixes, podem estar completamente envenenadas (os), senão por mercúrio, por uma outra infinidade de venenos letais à saúde, oriundos de lavouras (quem não as vê, usando a água das represas para molhar a cultura e a mesma água sendo devolvida às represas com todos os venenos “protetores da lavoura, também chamados de defensivos”), desmatamentos, pulverizações etc.
Antonio Lopes da Silva 



                                                                                                       
                                                                                                                                                           


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