sexta-feira, 14 de agosto de 2015

ROTEIRO - RIO GUAPORÉ








O primeiro dia no Guaporé tínhamos reservado à pesca do tucunaré, pois segundo as notícias que tínhamos, havia peixes de até 5 quilos. Nosso material era composto de varas de grafite, carretilha e molinete Abu. Como iscas, estávamos usando as artificiais de tamanho médio, principalmente as iscas médias Rapala, Red Fin, Rebel, em sua maioria de superfície e uma ou outra com barbela de meia água. Em conversas na noite anterior, já havíamos tomado conhecimento de nome como Taquaral, Central, Renere, Da Torre, Do Centrinho e Do Barranco, que eram as “baías” principais para a pesca do peixe escolhido. A propósito: são denominadas “baías”, várias lagoas que têm ligação com o rio e dificilmente perdem esta passagem, mesmo no período da seca. Por informações escolhemos a baía do Taquaral. 


Quem pesca tucunarés, sabe que os melhores pesqueiros são aqueles locais onde haja galhadas submersas, moitas de aguapé, árvores caídas e capim nas margens. Entrando-se na Taquaral, começa-se a pescar logo de início, pois essa e outras baías são pródigas nesse tipo de pesqueiro. Para não nos alongarmos muito, podemos dizer que o maior problema de tais baías, são a quantidade enorme de tucunarés, o que dificulta um pouco a pesca dos exemplares maiores, pois assim que a isca caía na água e era trabalhada, imediatamente a fisgada se dava com tucunarés de menor porte, não dando tempo ao grande fisgar. Chega-se ao cúmulo de ver após o tucunaré fisgado, passarem por baixo mais cinco ou seis tucunarés, tentando tirar-lhe a isca da boca. Nesse primeiro dia no Taquaral, fisgamos perto de 30 tucunarés só na parte da manhã, tendo vários peixes mais de 4 quilos. Além dos tucunarés foram também fisgados apaiaris, jacundás e traíras. À tarde, fomos conhecer as outras baías, que se mostraram um pouco menos piscosas, mas igualmente belas. 



No dia seguinte, de acordo com nosso piloteiro, resolvemos – já havíamos descoberto os tucunarés – bater rio acima. Andamos cerda de 1 hora e meia, e do Apolônio nosso piloteiro, ouvimos a confissão de que de onde estávamos para cima, ele não conhecia e nunca havia ido adiante. Diminuímos a velocidade do barco e continuamos a subir o rio. Do lado da Bolívia, já que o rio é o divisor entre os dois países. Passamos muitas baías bonitas, mas nossa intenção era descobrir coisas novas. De repente, no meio da mata conseguíamos ver claramente duas torres de pedra, de conformação muito bonita, lógico esculpidas pelo vento e pela chuva, e só Deus saberá o quanto demorou o processo. Nesta altura, o Guaporé era exatamente igual, mas em uma curva do rio começamos ver na superfície da água bolhas de espuma. Ora, para quem conhece os sinais da natureza, espuma no rio só poderia significar uma coisa: corredeira ou cachoeira à frente. Perigo não havia, pois estávamos subindo a correnteza, mas resolvemos diminuir ainda mais a marcha do motor, já que cautela e ainda mais em lugar desconhecido, não faz mal a ninguém. 




Mais uma curva e lá estava uma corredeira belíssima, com pedras espremendo o rio. Quando perguntamos o nome do lugar para o Apolônio, ele disse não saber, já que muito pouca gente havia ido até lá. De comum acordo resolvemos batizar essa corredeira de Aruanã. Os motivos são óbvios. Paramos o barco junto às pedras na margem direita e descemos para poder então fazer os primeiros lances. Como isca, usamos um spiner cromeado, com um só anzol, já que tal equipamento é o mais indicado para fisgar peixes de corredeira. Demos o primeiro lance junto a um poço bem no meio da corredeira, começando a recolher os spiners a meia velocidade. A fisgada foi iminente e bem forte, fazendo “cantar” a fricção. Fisgamos e começamos a trabalhar o peixe. Estávamos usando uma linha 0.35 milímetros com o mesmo equipamento da pesca do tucunaré. Um ou dois minutos de briga e o peixe – uma jatuarana – (espécie de matrinchã) deu o primeiro salto para fora da água. Era enorme, o que nos forçou a trabalhar ainda mais o peixe. Após mais ou menos dez minutos de uma luta ferrenha, conseguimos trazê-la até a pedra onde estávamos e o piloteiro conseguiu pegá-la pela guelra. 




Era um lindo peixe e mais tarde a balança nos dava seu peso exato: 6.850 gramas. Fisgamos mais de meia dúzia de peixes da mesma espécie, mas todos de menor tamanho. Para cima da corredeira, três botos começaram a fazer corcoveios e assoprar a água. Como por encanto, os peixes pararam de morder. Olhamos no relógio que marcava 12:30 horas. O calor era quase insuportável. Resolvemos voltar para o hotel. À tarde não saímos, já que a chuva estava muito ameaçadora. Bem cedo no dia seguinte, quando a luz do sol era ainda uma pequena ameaça, novamente rumamos para a corredeira Aruanã. Desta feita, fizemos a volta completa por um braço alternativo do rio e chegamos à corredeira por cima. Apoitamos o barco e demos corda, até a popa ficar junto ao começo da corredeira. Novamente começamos a usar o spiner, mas desta vez as jatuaranas não estavam fisgando e, talvez o motivo tenha sido os botos que ainda estavam por perto. Mas, em um lance conseguimos ver o ataque de uma dourada-cachorra, ou se preferirem, peixe-cadela.




 Atacou mas não fisgou. De imediato mudamos nossa isca para um plug de meia água marca Rapala Mag 11, na cor branca e vermelha e passamos a fisgar esse tipo de peixe.  Em uma manhã conseguimos fisgar quase 50 cachorras com peso variando entre 5 e 9 quilos. Havia tanto peixe que após o lance, recolhíamos um metro de linha no máximo e já havia o ataque do peixe. Soltamos todos eles, já que o peixe-cadela é excelente para quem quer esportividade, mas devido ao grande número de espinhas, não se presta para o consumo. Nossa luta com os peixes foi até 1 hora da tarde. Voltamos para o conforto do hotel e mais uma vez, não saímos à tarde. Desta feita, o motivo não era a chuva, mas sim nosso braço que doía terrivelmente mostrando claramente o seu cansaço, mais parecendo uma distensão. Aproveitamos para arrumar a tralha, já que no dia seguinte embarcaríamos de volta. Em um retrospecto, fora as pescarias podemos dizer que o rio Guaporé é muito bonito, principalmente nesta época do ano, com suas praias de areias amareladas e brancas aparecendo em plenitude. Muito comum também nas praias é encontrar ninhos de tracajá (espécie de tartaruga) que enterra os ovos, em número de 20 e até 30 unidades.




 Além das praias, a vegetação é exuberante, mata alta e em seus domínios o pescador poderá ver e ouvir o canto melódico de jaós, mutuns, macuco (azulona), e observar as pacas, capivaras e com um pouco de sorte, alguma onça pintada, já que são visíveis as marcas de sua presença no local. A propósito, não deixe de visitar um local chamado de Toca da Onça, que nada mais é do que uma formação rochosa, com várias fendas. Não vimos nenhuma onça no local, porém é forte o cheiro característico dessa espécie e em nossa visita, o piloteiro jurou que ouviu o barulho das orelhas da onça dentro de uma das tocas. Como nossa maior e única arma era a máquina fotográfica tratamos de sair dali o mais rápido possível, nem querendo discutir a veracidade do ruído. Essa toca fica a caminho da corredeira Aruanã. 


Um outro espetáculo muito bonito é ver os bandos de araras azuis, papagaios e tiês-sangues, que ficam a voar por cima das árvores. Chamou-nos a atenção também, a grande quantidade de bandos de macacos em toda a extensão do rio. A verdade é que nos sentíamos em um paraíso, ainda bem pouco explorado. O rio Guaporé, nessa região, é uma indicação boa para uma pescaria. 




NOTA DA REDAÇÃO: Vamos voltar ao mês de maio de 1989. Recebo do Edson da Ligue Pesca, um telefonema para uma reunião, em seu escritório. Presentes, seus sócios Marco Antonio e Valquir. O motivo da reunião era que tinha aparecido um hotel e que estaria à venda, em Pimenteiras – Rondônia. Fui convidado então por eles, para pesquisar se a pesca na região era boa. Fomos eu e o Edson para lá e para mim, um motivo de uma nova matéria/roteiro para a Aruanã, e curioso, já que até então muito poucos pescadores conheciam o rio Guaporé na região. O resto, meu amigo leitor, que acabou de ler esta postagem pode deduzir. Sem modéstia nenhuma, posso afirmar de que fomos os primeiros a pescar esportivamente e a descobrir vários pontos de pesca. Voltei lá algumas vezes e uma matéria que depois fez muito sucesso, foi “O VALE DAS JATUARANAS”, em um rio boliviano de nome Pau Cerne, onde fisguei e briguei muito com uma jatuarana enorme. Um amigo de nome Teodoro estava junto comigo lá. Perto da cachoeira do mesmo rio, filmou a luta e o peixe. Há dias atrás, fui informado, que essa filmagem estava no You Tube e fui lá ver. Com prazer revi cenas que não sabia que existiam, ou já tinha me esquecido. Quem editou a filmagem foi o amigo Marcão – Marco Antonio Guerreiro Ferreira. Para terminar, digo que íamos de Vilhena até Pimenteiras de carro nas primeiras vezes. Mas teve uma ocasião que fomos em um avião Piper de um amigo fazendeiro. Pimenteiras era tão “desenvolvida” que para aterrissarmos, o piloto deu uma rasante sobre a cidade, que era um aviso, aos moradores e policiais, para desimpedirem a rua principal, onde aterrissamos e deixamos o pequeno avião, no estacionamento da delegacia local. Este foi o início da pesca esportiva no Guaporé. Esta NR é só para constar, já que hoje se fala muito de pesca esportiva nessa região. E evidente que o ultimo quadro da postagem, com informações sobre o hotel, deve ser ignorada. Abraço. Toninho Lopes.

8 comentários:

  1. Maravilha, Toninho! Foi sua matéria "O Vale das Jatuaranas" que colocou em evidencia o rio Guaporé. Fiquei tão encantado que não sosseguei até conhecer esse rio. Obrigado!

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  2. Meu amigo Marcão: Eu sei que você foi lá no Guaporé algumas vezes, tal como eu. Foi você também que editou e publicou no You Tube, aquele vídeo do Teodoro sobre a jatuarana do rio Pau Cerne. O interessante a dizer é que, lá estive pela ultima vez em 2000. E o que vi meu amigo, foi uma enorme diferença em tudo. Muito pouco peixe do lado brasileiro. Do "lado de lá - Bolívia -" em algumas baías ainda se podia pescar tucunarés, mas era proibida a entrada de pescadores brasileiros nelas. Inclusive se a Policia boliviana achasse alguém pescando, dava alguns problemas. Sinceramente, se me perguntassem hoje, se lá voltaria para pescar, eu não aceitaria. O Guaporé hoje, ou na ultima data em que estive lá, mostrou claramente o que nós brasileiros sabemos "como cuidar de nosso meio ambiente". É isso meu amigo. Com certeza, você como eu, viajamos nessa matéria como se fosse um túnel do tempo. E, cabe o chavão "eramos felizes e não sabíamos". Grande abraço.

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    1. Obrigado Marco Antonio Guerreiro Ferreira (Marcão) Nós da velha guarda, continuamos os mesmos. Seriedade, honestidade, defesa de pescadores e meio ambiente foi e sempre será nossa principal meta. Por isso o respeito que "ainda temos de alguns amigos pescadores". Grande abraço

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  3. Este é um dos mais belos roteiros publicado em nossa saudosa revista Aruanã, logo após, comprei e confeccionei spiners, sonhando ir ao Guaporé e fisgar uma jatuarana, o tempo passou e lá nunca fui, auem sabe um dia, se Deus permitir. Parabéns cchará e obrigado por nos trazer de volta ao Vale das Jatuaranas, assisti ao video e viajei no pensamento. Grd. abr.

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  4. Meu amigo Antonio Carlos: Na Nota da Redação deste artigo, eu relato como aconteceu a minha ida ao Guaporé. Era tudo uma grande interrogação, já que do rio, na época, não tínhamos qualquer informação. Andar em suas águas era uma novidade e com muito cuidado, como quem navega de barco sabe o que pode acontecer. Mas foi uma grande surpresa, esse belo rio. Com certeza fomos os primeiros a pescar esportivamente no Guaporé. E os peixes? Tivemos de tudo e o pessoal da Ligue Pesca foi informado de que era um bom negócio em se tratando de pescaria. Voltei várias vezes lá e nunca voltei triste ou desiludido com a pescaria. No entanto, por volta do ano 2.000 fui outra vez no Guaporé e o que vi nem de longe se compara com as primeiras vezes. Muita depredação em "nosso lado". Já "do lado de lá" - leia-se Bolívia,- a fiscalização é intensa e as melhores baías para a pesca dos tucunarés estão lá. Voltei decepcionado de como nós brasileiros não sabemos cuidar do que é nosso. Infelizmente. Mas como lembrança ela será eterna. Grande abraço.

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  5. É amigo sou rondoniense apaixonado por pesca e fico imensamente triste de hj em dia por exemplo me deslocar até o Mato Grosso por exemplo para fazer excelentes pescarias, estão destruindo o Guaporé e o pior é ver que hj quem mais faz isso são os pescadores por laser, visitei o pau cerne em 2008 e 2009, olha não é nem de longe a mesma coisa da primeira vez que fui em 2003, imagino eu nesta época como rio inexplorado, sinceramente é triste oque fazem hoje em dia no Guaporé do cabixi a costa marques, o cabixi inclusive praticamente se acabou.

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    1. Meu prezado amigo. Porque o anonimato? Mas que seja. Quem sabe alguém do Guaporé nos responda, visto que isso essa situação que você descreve é totalmente ignorado por mim, já que faz mais de 20 anos que por aí não vou. Abraço

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