As correntes marítimas são fatores importantes para o
desenvolvimento da pesca amadora? Através deste artigo, você descobrirá a
resposta. Analise-o.
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No mar, o conhecimento das correntes – isto é, o movimento
horizontal das águas mais veloz e concentrado no meio da massa líquida formando
verdadeiros “rios” com percursos definidos – é fundamental para a pesca, não só
porque elas constituem um meio ambiente característico e estável que garante a
vida do peixe em termos de temperatura, salinidade, cadeia alimentar, etc., mas
também porque as correntes geram movimentos verticais e contrastes de
temperatura que ajudam a fertilizar as águas oceânicas. Estas zonas de
contraste de temperatura das águas são onde se encontram as maiores
concentrações de pescado, o que leva as modernas frotas industriais a fazerem
cada dia ou cada semana um mapeamento de temperatura de superfície do oceano
por avião ou satélite, para dirigirem suas operações. Os contrastes são criados
nas zonas de encontro das correntes ou nas margens, onde se desprendem
redemoinhos; além disso, quando as correntes de afastam da costa, surgem
movimentos verticais compensatórios que trazem águas do fundo, ricas em
nutrientes, para a superfície. Este movimento de afloramento de águas frias e
férteis chamado de ressurgência, e na costa brasileira ocorre com frequência na
altura de Cabo Frio, criando forte contraste de temperatura com as águas da
corrente quente do Brasil que passa ao largo. No Brasil, são três as principais
correntes que agem em nossa costa: a Corrente da Guiania, um braço da Corrente
Sul-Equatorial, que corre ao longo da costa do Nordeste, do Cabo de São Roque
(RN) para cima; a Corrente do Brasil, que deriva de um ramo da Corrente
Sul-Equatorial do Cabo São Roque para o sul, normalmente até a altura do
estuário do rio da Prata, onde desvia-se para leste, em direção à África; e a
Corrente da Malvinas ou Falklands, e águas frias, que sobe do extremo sul do
continente, passando entre este e as ilhas do mesmo nome, até encontrar-se com
a Corrente do Brasil, entre o Prata e a costa do Rio Grande do Sul.
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Ondas nas praias.
Esta
região de encontro, bem como as intromissões da Corrente das Malvinas nas
nossas águas de plataforma costeira, alcançando até o litoral do Rio de
Janeiro, são de grande importância para a pesca no Brasil. Apesar de fria, a
água da Corrente das Malvinas é mais leve, por ser menos salgada, e pode vir à
tona, favorecendo a concentração de nutrientes. Já quando a Corrente do Brasil
invade a plataforma continental, as condições biológicas são pobres, como
acontece às vezes no litoral paulista, segundo comprovaram as pesquisas do
Instituto Oceanográfico da USP. Quando traçadas num mapa que abrange o Oceano
Atlântico Sul inteiro, verifica-se que as correntes que tangenciam a costa
brasileira fazem parte de um circuito fechado, em que as águas giram-no sentido
contrário ao dos ponteiros do relógio, indo da África para o Brasil, perto do
equador, um braço descendo para o sul até o Prata, daí voltando-se novamente em
direção à África, para subir (como a corrente fria de Benguela) rumo ao
equador, fechando o circuito. Basta comparar este mapa com a carta geral dos
ventos para se perceber que o vento é a principal causa das correntes. |
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Praia de tombo.
De fato, a Física mostra que num mar fundo, o vento dá origem
a uma corrente superficial que faz, com a direção do vento, um ângulo de 45
graus para a esquerda, no hemisfério sul (para a direita no hemisfério norte).
Este desvio é devido ao efeito de rotação da Terra, chamado efeito de Coriolis,
que faz com que todo o objeto que se desloque sobre a superfície terrestre se
atrase ou se adiante em relação à rotação do plano do horizonte. Graças a uma
exata compreensão destes fatos físicos e geográficos, o brasileiro Amyr Klink
selecionou corretamente a rota que lhe permitiu atravessar pela primeira vez o
Atlântico Sul em barco a remo, em 1984.
A Corrente do Brasil possui uma largura que varia entre 120 a
150 milhas náuticas (220 a 280 km); segue nossa costa, dela se afasta cerca de
200 km em média. Sua velocidade atinge 20 milhas (37 km) por dia, até a
latitude do Rio de Janeiro, mas pode variar durante o ano, sendo mais forte de
novembro a janeiro e mais fraca de maio a julho. A temperatura de suas águas
alcança 26 a 28 graus; ao mesmo tempo, pode haver uma temperatura de 14 graus junto
a Cabo frio, refletindo a já citada ressurgência, conforme foi observado pelo
navio oceanográfico “Prof. Bresnard”.
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Entre a costa sul da
Argentina e a costa norte do Rio Grande do Sul, a Corrente das Malvinas tem uma
velocidade média diária de 10 a 20 milhas. É ela que desvia para leste as águas
quentes da Corrente do Brasil, sendo facilmente distinguível desta pela
coloração verde-garrafa de suas águas frias e ricas em peixes. Ente os meses de
março e maio, uma projeção da Corrente das Malvinas estende-se para o norte
junto à costa brasileira (entre esta e a Corrente do Brasil ao largo);
alcançando o litoral paulista com velocidade de 0,7 nós (1,3 km/h).
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INFORMAÇÃO
Podemos considerar os peixes marítimos como espécies
migratórias. Com este artigo do professor Rubens Junqueira Vilela, poderá o
pescador amador interpretar a melhor época para a pesca de determinada
espécies. A partir do exemplo de alguns peixes, podemos entender melhor essas
migrações, que têm nas correntes marítimas sua principal causa. Do sul, temos o
exemplo característico que é a migração da tainha, ocorrendo nos meses que
correspondem à movimentação da Corrente das Malvinas. Ainda no sul, temos a
miraguaia, a corvina, a anchova, etc. Na Corrente do Brasil, podemos citar
peixes como o robalo, a pescada, o pampo, etc. Um outro exemplo que marca bem a
importância das correntes na pesca é o dos chamados “peixes de água azul”.
Dentre eles, destacamos o dourado-do-mar, o marlin, o sail-fish, etc. Aí está,
portanto, mais um dado científico para ser analisado e utilizado em futuras
pescarias.
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