sábado, 26 de setembro de 2015

ESPECIAL - JURUGUASSU X PEACOK BASS













É ruim em uma pescaria quando um pescador fisga um peixe e, não conseguindo identifica-lo, coloca nele um “apelido”. E se ninguém naquela roda de amigos conhecer tal peixe, o apelido será falado e contado, confundindo a muitos outros pescadores. Pior do que isso é quando um peixe já é conhecido e, por causa de informação de outro país, mudam-lhe o nome. Esta é a nossa história. Confira










O exemplo mais conhecido que temos entre nós é o do apaiari, conhecido cientificamente como Astronotus ocellatus, que é originário da Bacia Amazônica. Este peixe, que hoje existe em todo o Brasil devido à sua introdução por volta de 1938 nos açudes nordestinos e um pouco mais tarde em represas de todo o país, começou a despertar a curiosidade de muitos pela beleza de suas cores, com tons verde-escuro com manchas avermelhadas e tendo ainda na cauda um ocelo escuro (daí a significação de seu nome científico) a lhe identificar a espécie. Muito esportivo na pescaria por brigar bem, tem em sua carne outro grande atrativo, pois esta é de excelente sabor, chegando a atingir um quilo de peso quando adulto. Outra particularidade interessante são os sinônimos por que é conhecido em várias regiões do Brasil. Assim sendo, temos: acará-açu, apaiari, bola-de-ouro, corró-baiano, cará-grande e dorminhoco. Este ultimo por certo, foi-lhe dado porque o apaiari costuma ficar meio deitado quando parado à margem da represa, principalmente à noite. Pois bem, de repente os americanos descobriram o apaiari e, como é de seu costume, mudaram o seu nome para “oscar”.


 Para que o leitor – se quiser – pronuncie corretamente o nome, temos a dizer que não é Oscar, como o nome do ex-zagueiro central da seleção brasileira, mas sim igual ao da tal estatueta da academia de cinema. E aí está, um peixe brasileiro perdendo sua identidade, que começou a ser criado lá primeiramente em aquários e hoje é pescado em lagos, principalmente na região de Miami. Mas o pior é que num dia desses, em uma loja de aquários, vimos diversos peixes sendo vendidos a garotos brasileiros aqui em São Paulo. E quando lhes perguntamos o nome dos peixes eles disseram “oscar”. Tal fato dá uma tristeza desgraçada na gente, porque se consegue perceber que a falta de identidade de nosso povo em casos como esse é grande. Engraçado é que quando as coisas vêm de lá para cá, o brasileiro não muda nada e aí estão exemplos como o rock n’roll e tantos outros. Voltando à pesca, já faz alguns anos, eles nos mandaram um peixe, que a bem da verdade não é americano, mas canadense: o black bass, muito conhecido lá também como “big mouth”, ou seja, “boca grande”. Há quase sessenta anos o black bass está no Brasil e não perdeu sua identidade, continuando a ser chamado pelo seu nome de origem.


 Mas o ruim mesmo é que em recente viagem aos Estados Unidos conseguimos ver várias fotos de tucunarés em cartazes, onde se lia: “invista no futuro”. Em conversa com alguns pescadores de lá, ficamos sabendo então que o governo americano havia importado alevinos de tucunarés e já estava fazendo diversos peixamentos, principalmente na Califórnia e Flórida. Pois bem, o nosso tucunaré lá é chamado de “peacock bass”, ou seja, traduzido ao pé da letra, “tonalidade de pavão”. E mais: em seus manuais de piscicultura o nome científico é o mesmo do Brasil, Cichla ocellaris, só que após o nome científico vem a expressão “spp”, ou seja, sem pesquisa cientifica. Isto sem dúvida é um absurdo, principalmente quando falamos em um peixe há muito estudado no Brasil e relatado em vários livros de nossos cientistas. Pior seria no entanto se, daqui a algum tempo, alguns de nossos pescadores começassem a dizer que vão pescar na região do Araguaia ou Amazônia o esportivo peixe “peacok bass”. Vai ser um absurdo, mas não de se estranhar, pois alguns pescadores fazem questão, talvez por puro esnobismo ou então a fim de valorizar seus diálogos com outros pescadores, de usar termos americanizados. 


Antes que isso aconteça e em um rasgo de brasilidade, movidos pelo sentimento puro de habitantes deste torrão tupiniquim, começamos hoje e aqui pela Aruanã, uma campanha pela valorização de nossa língua natal, não só em defesa de nossa identidade, mas também afirmando que chumbo trocado não dói. A partir de hoje, toda a vez que formos falar do black bass, passaremos a chamar esse peixe de juruguassu, que traduzido para o inglês significa big mouth, ou se preferirem em português “boca grande”. Isto porque em tupi guarani, “juru” é igual a boca e “guassu” ou “açu” é igual a grande. Aí está portanto a sugestão, além do que fica muito mais fácil para nós falarmos juruguassu, do que para eles falarem tucunaré. E finalmente um pedido: se alguém falar em peacock bass, corrija imediatamente, dizendo que o nome certo é tucunaré, bem como se você falar em juruguassu e alguém não souber que peixe é, valorize-se explicando que é black bass em tupi guarani. Bonito isso não?

NOTA DA REDAÇÃO: Sem duvida alguma, o idioma inglês tem grande influência em nosso país, devido a modernidade atual em equipamentos e serviços. Mas, nem por isso, vamos admitir essa indevida tradução, de nomes de peixes/animais e de outras palavras de nossa língua. Evidente está que chamamos e escrevemos o black bass em sua designação de origem e não usamos o juruguassu em nenhum momento. Mas me entristece ler, em algumas postagens aqui no Facebook - eis uma palavra em inglês - onde em uma bela foto de um tucunaré, a expressão peacok bass. Talvez algum psicólogo ou sociólogo explique esse uso, que espero que não vire costume. Para terminar, em Portugal o bass é chamado de “achigã”. Interessante não?

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