sexta-feira, 25 de setembro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - - - CORUJA














Enigmáticas, as corujas padecem, ainda nos dias de hoje, da injusta forma de serem aves nocivas e agourentas, o que não corresponde de forma alguma à realidade se levarmos em conta sua grande utilidade para o homem, pois em suas caçadas noturnas elas nos livram de muitos bichos daninhos, principalmente roedores e insetos.











Provavelmente, essa prevenção que se instalou entre nós contra as corujas tem origem folclórica, já que estas aves de rapina levam uma vida de certa forma misteriosa, com seu vôo silencioso e vista afeita à escuridão. Geralmente, os animais que apresentam hábitos associados à noite e as trevas acabam por constituir, ao longo da história, farto material para fomentar lendas e crendices populares, que neste caso específico não traduzem a verdade, haja visto que se trata de uma ave completamente inofensiva para o homem, merecendo por parte deste toda a proteção que tem direito, a despeito da ignorância popular que insiste em atribuir poderes sobrenaturais aos animais que lhe pareça estranho. Entre as espécies mais conhecidas no Brasil, podemos citar a coruja do campo, também classificada como coruja-buraqueira ou caburé-do-campo. Ave da família dos Estrigídeos, recebe a denominação científica de Speotito cunicularia grallaria, e mede aproximadamente 22 centímetros de comprimento da cabeça à cauda. O lado dorsal é pardo cinzento, com grandes manchas avermelhadas transversais. Nas asas e na cauda nota-se grandes manchas alvacentas, transversais, sendo que a região da garganta apresenta coloração esbranquiçada. É espécie muito comum em nossos campos, onde faz seu ninho no chão, num buraco, que ela forra com excremento seco de bovinos. Esses ninhos, que às vezes são buracos de tatu abandonados, que as corujas costumam aproveitar, e mesmo os que são cavados por elas mesmas, formam túneis subterrâneos com alguns metros de extensão. Lá as corujas habitam o ano todo, mesmo depois de terem criado sua prole. Apesar de todas as espécies possuírem visão noturna privilegiada e pertencerem à mesma família, há que se citar a única exceção, também ela muito conhecida: os caburés, que são corujas de hábitos diurnos, enxergando muito bem à luz do sol. A espécie mais vulgar no Brasil é designada cientificamente como Glaucidiun brasilianum, e mede apenas 13 centímetros de comprimento. A cor em cima é bruna, com manchas claras, amareladas e brancas. O lado central é claro com estrias longitudinais, e a cauda, quase preta, tem manchas brancas. Apesar de serem os pigmeus da família, os caburés são caçadores valentes. Diferentemente da coruja do campo, essa espécie evita a mata e mesmo as capoeiras, sendo que só nos espaços abertos sente-se à vontade. Sentada diante da entrada do ninho, pousada sobre um cupinzeiro ou mesmo nos mourões de cercas de sítios e fazendas onde haja a criação de bovinos, esta coruja não foge à aproximação humana e, se for preciso, gira a cabeça até descrever meia-volta completa para assim, comodamente, observar e analisar o que se passa ao seu redor. Só em ultimo caso é que, interpretando um movimento qualquer como uma possível ameaça, ela levanta vôo, gritando um “qui-qui-quiiiii” (com a ultima sílaba bem prolongada e um pouco modulada) e, seguindo quase rente ao chão, percorre aproximadamente uns 20 ou 30 metros a partir do local onde estava para então pousar de novo. Sua alimentação constituísse ocasionalmente de pequenos roedores, e mais frequentemente de insetos como lagartas, gafanhotos, besouros e escaravelhos, que pega no vôo, com extrema agilidade. Essa coruja, além de enxergar bem à luz do dia, é capaz também de enxergar no escuro como as outras espécies de sua família. Assim, durante a temporada de procriação, o casal trabalha dia e noite para dar de comer à prole numerosa, que pode chegar a até sete filhotes em uma só postura. Voltando ao fato da injusta fama negativa atribuída às corujas, reproduziremos aqui um pequeno trecho de um texto a respeito destas aves escrito pelo grande naturalista Eurico Santos publicado em sua obra História, Lendas e Folclore de nossos Bichos, de 1957. “As histórias de coruja dão bem a idéia das superstições no folclore. Há, entre estas aves de hábitos noturnos, um corujão chamado de murucutu a que se prendem certas cantigas de embalar crianças. Para a gente pouco esclarecida, são tais aves agourentas cujo grito ‘crre, crre’, se assemelha ao rasgar de um pano, julgam que se trate de um vaticínio de morte. Dão a esta coruja o nome significativo de ‘rasga-mortalha’, (...) Seu abençoado apetite as leva a devorar uma multidão de animais nocivos, entre eles ratos, morcegos e insetos, mas apesar disso são mal vistas pelo povo que aqui entre nós apenas repete velhas superstições vindas da Europa na bagagem mental dos primeiros imigrantes”.

Bibliografia consultada: Dicionário dos Animais do Brasil Rodolpho Von Ihering

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