sábado, 12 de dezembro de 2015

FOLCLORE BRASILEIRO --- HISTÓRIA DO PORCO ESPINHO











Há muitas explicações e variadas versões acerca da utilidade dos espinhos do porco-espinho. Neste texto singelo, Eurico 
Santos nos fala sobre algumas delas.







Uma veneranda Dona Joana de tal, cozinheira de forno e fogão, e contadora de histórias da carochinha e mentiras estilizadas, dizia-me, há meio século passado, que vira o nosso ouriço-cacheiro chiando de satisfeito ao carregar, na ponta de seus espinhos, uma porção de goiabas. Há quem pense que esta balela é mentira do nosso caboclo, uma daquelas “histórias prá boi dormir”. Entretanto, enganam-se. Isso vem de longe. O “Physiologus”, um tratado de zoologia que já gozava fama no século passado, dizia que o porco-espinho subia pela videira para colher os cachos e os enfiava em seus espinhos. É, pois, um carapetão com 1.600 anos de idade. O porco-espinho europeu, posto que de família diferente, é como o nosso ouriço-caixeiro, um roedor ouriçado de espinhos. Mas enquanto o europeu tem regime alimentar quase exclusivamente insetívoro e carnívoro, o nosso ouriço é francamente frugívoro. Havia, pois, mais razão em acreditar em Dona Joana que no “Physiologus”. Eu, entretanto, continuo a não crer em ambos, posto que homens de ciências, fiados no que viram, mas no que lhe contavam pessoas acreditadas, inclinam-se a aceitar tal fato. O que criou a lenda parece ter sido coisa muito simples. O porco-espinho europeu costuma procurar insetos e suas larvas nos pomares de macieiras e, naturalmente, uma ou outra maçã que ao acaso caia da árvore bem pode enfiar-se num espinho. O nosso ouriço também vive a procura de goiabeiras silvestres e outras fruteiras, e bem pode acontecer-lhe o mesmo. Alguém que avistou o ouriço com tal carga, logo imaginou-o rebolando-se, de espinhos assanhados por cima das goiabas, para, astutamente, fisgá-las. É bem mais simples e crível despencarem frutos da árvore quando o bicho está com os espinhos de prontidão, do que o mesmo bicho rojar-se no solo com toda aquela espinharia arrepiada. Como a primeira hipótese era de extrema simplicidade, o povo, que gosta das coisas maravilhosas, preferiu a segunda, que dá ao porco-espinho europeu a ao ouriço-caixeiro americano ares de pitoresca engenhosidade. Extraído do livro:
“Histórias, Lendas e Folclore de nossos Bichos”  (Eurico Santos)

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