A ação do homem contra o indefeso meio ambiente é de uma violência
sem par. O Brasil tem em sua vasta extensão, muitos exemplos dessa ação
criminosa e covarde. O rio Taquari demonstra bem o que queremos mostrar. Mesmo
avisando e alertando autoridades de meio ambiente, nada foi feito. Mas ele
reagiu. E como. Acompanhe sua saga.
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Ao chegar em Coxim, no Mato Grosso do Sul, vê-se logo o rio
Taquari, portal dessa cidade. Passando pela ponte, temos a impressão de que
estamos em pleno período das cheias, pois o rio apresenta águas barrentas e
escuras, com um feio aspecto de enxurrada. Mas essa impressão é falsa, já que
durante todo o ano será esta a aparência desse rio, que já foi famoso por sua
piscosidade e beleza natural. Navegando em seu curso, que é de aproximadamente
520 quilômetros desde Coxim até o rio Paraguai, vamos perceber que em toda a
sua extensão a cor das águas permanece a mesma, e em alguns trechos a situação
é ainda pior. O pescador que lá estiver verá também que em muitos locais o rio
não tem mais do que alguns centímetros de profundidade, e o canal, que
teimosamente continua a existir, mudando diariamente de curso, terá poucos
metros de água ainda livre. Os famosos poções, outrora moradia constantes de
jaú e pintados, não existem mais. Segundo informações que obtivemos, a lenta
agonia do rio Taquari começou há alguns anos, quando alguma “cabeça pensante”
achou ter descoberto um novo “eldorado” para o plantio de soja. Vários
agricultores desse grão instalaram-se em São Miguel do Oeste e sem nenhuma
orientação passaram a arar e plantar soja indiscriminadamente. O desmatamento
foi grande e nos campos logo floresceu a semente em vasta quantidade.
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Sem as árvores, que foram cortadas em sua totalidade, a
erosão começou a tomar conta. Com as chuvas, grande quantidade de terra passou
a ser despejada no rio Coxim, e, por conseguinte, no rio Taquari. Lentamente, a
própria correnteza do rio foi acumulando em certos locais a terra trazida,
formando praias e baixios. Por ocasião de uma chuva mais forte, as águas ganham
uma correnteza mais veloz por causa da pouca profundidade, indo ao encontro da
outra margem, passando a derrubar parte dos barrancos, e com estes toda a sua vegetação
para dentro do rio. Progressivamente, o Taquari foi se auto assoreando,
causando a destruição completa de suas margens em uma extensão que calculamos
ser de aproximadamente 250 quilômetros desde Coxim. Com essa destruição, a
paisagem e o próprio rio foram mudando de aparência e curso. É comum ver-se
hoje locais secos que abrigavam o leito do rio há alguns anos. Há casos ainda
de construções ribeirinhas que caíram e outras que estão por cair, aumentando
cada vez mais o assoreamento do rio Taquari. A desgraça não para por aí. Vários
fazendeiros, vendo suas propriedades ameaçadas, optaram pela solução mais
rápida (e menos inteligente) de sanar seu problema.
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Montaram dragas no rio e com o auxílio delas, simplesmente
fecharam as entradas das baías e corixos com a areia do próprio rio. O
resultado desse fechamento fez-se logo sentir, pois a mortandade imediata de
peixes nos corixos e baías foi tão grande que quase era impossível viver com o
mau cheiro exalado por toneladas de peixes das mais variadas espécies mortos
nos vãos secos. É fácil hoje, para quem navega no Taquari, ver-se quantas baías
e corixos foram fechados, pois a denunciar esse ato criminoso, está lá nas
margens uma areia branca contrastando com as margens originais. Em nossa
estadia no rio Taquari vimos mais de oito balsas “trabalhando” no fechamento
das poucas baías e corixos que ainda restam. Misteriosamente, se alguma
providência é tomada por alguma autoridade para impedir esse fechamento, de
imediato surge um advogado com um mandato qualquer provando que tem autorização
para continuar a “obra”. E assim vamos vivendo e o Taquari morrendo. A
literatura é bem explicita a respeito, e traduzida em miúdos fala que os peixes
de piracema, como as várias espécies do Pantanal, necessitam de corixos e das
lagoas marginais, pois é exatamente nesses locais que se dá a desova. Diante
desse terrível quadro e de nossas observações quando lá estivemos recentemente,
podemos afirmar sem margem de erro que o pescador amador deve e pode
futuramente esquecer o rio Taquari para sua incursões pesqueiras, pelo menos
nos seus 250 quilômetros iniciais, a partir de Coxim rio abaixo.
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Permanecemos mais de 5 dias navegando no rio Taquari e foi
esse o quadro que vimos. No final desse rio ainda há muita vida, mas hoje já se
pode contar quatro saídas na junção com o rio Paraguai, onde antigamente só
existia uma. Em um de nossos acampamentos fizemos inclusive um teste: pegamos
um litro de água do rio e deixamos descansar por dois dias. Ao final desse
prazo, a água ainda estava turva e com cerca de um milímetro de areia no fundo
do litro. Se há dez anos atrás alguém me dissesse que iria existir um rio no
Pantanal cuja água não serviria para beber ou cozinhar, eu diria que essa
pessoa era louca. Hoje, pude ver com meus próprios olhos que a água do rio
Taquari já não serve nem para uma coisa nem para outra. Há, com certeza,
solução para esse problema. Acreditamos que existam técnicos capazes de
reverter essa situação. Ou então podemos ficar aguardando que um político mais
inteligente lance mais dia menos dia uma campanha do tipo “vamos salvar o rio
Taquari”. Certamente essa campanha será patrocinada por um país mais rico, com
empréstimo de alguns milhões de dólares para ser executada. Até lá, a agonia e
morte do Taquari são certas, como se alguém neste país tivesse o direito de
deixar que as coisas assim aconteçam. É lamentável.
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NOTA DA REDAÇÃO: Este artigo foi escrito em
junho de 1993, logo após nossa Aventura no Taquari, matéria que publicamos na
Revista Aruanã e, em breve, aqui no blog. Hoje, ao reeditar este artigo em
fevereiro de 2016 para nosso blog, mostramos como tínhamos razão para clamar
por providências com os responsáveis pelo nosso meio ambiente. Não tivemos
resposta de órgão nenhum, mesmo mostrando o que aqui publicamos com texto,
contexto e fotos. Aliás, desculpem, mas tivemos sim uma resposta e, essa se
traduziu em um oficio da Câmara dos Vereadores de São Miguel do Oeste, onde,
por unanimidade, fomos declarados persona non grata na cidade. Por outro lado,
dizíamos que o rio iria reagir e isso aconteceu. As quatro saídas do Taquari no
rio Paraguai que citamos, mudou seu curso pois, - ele saía em um local
denominado de Figueirinha (aliás um pesqueiro de dourados sensacional) - aos
poucos essas saídas foram se fechando e as águas do Taquari, “abriram uma
passagem” em direção ao rio Paraguai Mirim, alagando milhares de alqueires de
campos e matas destruindo com isso toda a vegetação nativa do local. Houve
lucro com isso? Perdas houveram sim e muitas, já que diversos fazendeiros, por
onde o Taquari abriu passagem, tiveram suas fazendas tomadas totalmente pelas
águas. E para o meio ambiente? Nada foi acrescentado, já que a reação do
Taquari era esperada. Ele reagiu mudando sua foz mas, os primeiros 250
quilômetros do rio, continuam os mesmos. Isto é Brasil em questões de meio
ambiente.
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