sábado, 21 de maio de 2016

"CAUSOS": UM INVERNO RIGOROSO NO PANTANAL.






                  PANTANAL NO INVERNO

                            (QUE FRIO!!!!!)
           



                                         Rio São Lourenço




São participantes desta história de pescador, dois amigos de real importância para o que vamos contar, já que a primeira parte da história é algo muito sério e que ajudou e muito os pescadores amadores do Brasil. São eles: o Pertti Rautio diretor comercial da Rapala (aquele do salmão na Noruega) e o Anders H. Thomassen, diretor da Mustad, que inclusive ficou muitos anos nessa empresa em sua filial do Rio Grande do Sul.



A chegada ao Aeroporto - (Perti a esquerda)

                                       FALANDO SÉRIO AGORA


Os dois estavam no Brasil já que tinham vindo participar da Feipesca e o ano era 1994 mais precisamente agosto. Convidei a ambos para uma pescaria no Pantanal Norte e o local escolhido foi Porto Jofre, na Pousada Santa Maria do Wilson Feitosa. Já devidamente instalados fomos ao Piqueri atrás dos tucunarés. Ao montar nosso equipamento, o Perti tinha trazido várias iscas da Rapala e me ofertou algumas para escolher. Minha resposta o deixou sem graça, já que eu disse que preferiria pescar com outras marcas. Ele então pegou uma isca sua e começamos a pescaria. Não lembro qual era a isca, mas lembro bem que tinha aquelas garatéias de anzóis bronze que eram as que tínhamos para comprar. Mandei-o fechar bem a embreagem do equipamento (por causa das galhadas) e o primeiro tucunaré grande fisgou. Depois de uma pequena briga, escapou. Pedi a ele que recolhesse a isca e a peguei na mão. Dois anzóis de uma garatéia estavam abertos. A noite, em uma reunião na Pousada, disse aos dois, porque a Rapala original com anzóis bronze, tinham que ser trocados por anzóis mais fortes. Ficou decidido que, “todas as iscas Rapala que fossem mandadas para o Brasil, a partir daquele data, viriam com anzóis da Mustad e mais fortes”. Foi uma vitória para nós pescadores amadores brasileiros.


Tucunarés fisgados com iscas Rapala.  
                                                                                                                                                                                COMO ACONTECEU O “CAUSO”


Acabou a Feipesca. Os dois ficaram em São Paulo, pois iríamos pescar. Uma preocupação minha: saber qual o lugar onde estava com a temperatura mais quente possível. Depois de algumas ligações, o “destino foi traçado”: Porto Jofre tinha durante o dia 40 graus. Explico. Em Kirkenes, na pescaria de salmão, era verão e com temperatura média de 5 graus positivos. Enquanto eles tomavam banho no rio, após uma sauna, eu ficava sentado na varanda do chalé onde estávamos hospedados, com toda a roupa que eu tinha e podia vestir, tremendo de frio. Eles, Perti e o Risto Rapala, me gozavam dizendo que estava calor e pediam para ir nadar também. Assim foi durante dois ou três dias que fiquei naquela região que além de frio, tinha também o “sol da meia-noite” que me perturbava o sono, pois não anoitecia nunca. Vamos pegar um atalho e já estamos dentro do avião, com destino à Cuiabá. Tudo normal, ar condicionado do avião com 23 graus. No aeroporto de Várzea Grande descíamos, na época, direto na pista (foto). “Assim que chegamos na porta de descida do avião, foi como uma porrada” na cara com o calor que estava. Calculo uns 38 graus. O Wilson nos esperava com uma Kombi, digamos, “meio usada” e cheia de isopores que serviram para trazer peixes de uma turma de pescadores que iriam embarcar no aeroporto, portanto agora vazios. A Kombi só tinha dois bancos, o da frente e o outro logo atrás. O resto da carroceria era só isopor vazio e tínhamos pela frente 164 km de estrada de terra. O Anders falava bem o português. Já o Perti arranhava um pouco espanhol e inglês. O Wilson, um gozador nato perguntou-me se era prá ir dirigindo com emoção ou não pela estrada. 


Pacus.

Perguntei ao Perti: “with emotion or not?” A resposta dele foi com o sinal de positivo. Falei para o Wilson que começou então a andar à 70 km por hora, em uma estrada que no máximo seria recomendável uns 20 km. Depois de uns cinco quilômetros os “gringos” começaram a gritar para parar. Paramos o carro e ao olhar para trás, mal se via os dois em meio aos isopores. Foi muito engraçado. Continuamos a viagem, agora em velocidade normal até Porto Jofre. Era noitinha quando entramos na Pousada. Jantar e dormir numa boa, em um apto com ar condicionado. No dia seguinte logo cedo, rio Piqueri. Enquanto o barco andava tudo bem, vento a vontade. Na pescaria, com o motor elétrico batendo as tranqueiras, vi que o Perti, que estava no meu barco, vez por outra molhava a cabeça e pescoço com a água do rio. Na hora do lanche, em uma sombra,  devidamente pelados eu e o Wilson mergulhamos nas águas refrescantes do Piqueri. Convidamos o Perti a nos imitar. Resposta: “no, pirrrrranhas”. O banho dele foi com um copo de água e só na cabeça. Depois da pescaria, voltamos a Pousada. Imagine leitor, quando o Perti tirou a camisa de mangas curtas. Parecia que continuava vestido, só que agora, com “mangas” vermelhas nos braços e no decote, tal era a ação do sol na sua pele de europeu. Vou encurtar o “causo”. No dia seguinte ele já estava usando camisa de manga comprida e eu peguei um agasalho e ofertei a ele, dizendo que estava meio frio naquela manhã. A temperatura tinha estado por volta de 30 graus à noite e tinha subido um pouco mais pela manhã. Pronto, eu estava vingado. Para terminar algumas frases soltas. Paramos para um xixi em um lugar na beira do rio. Ele me perguntou: Antonio “acá anacondas”? Eu respondi: si, jo tiengo uma em las manos rs. Ele respondeu e falou alguma coisa, só que em finlandês rs. Não perguntei qual era a tradução da fala rs. Outra, ele fisgou uma cachorra e perguntou o nome do peixe. Informei que era “caralho..”. Foi engraçado ele contar ao Anders que tinha fisgado um “caralho”. O Anders olhou para mim e perguntou a ele em inglês se era grande. A resposta foi com as duas mãos, no gesto normal do pescador para descrever o tamanho dos peixes. Foi muito engraçado. Só dissemos a ele o real significado do nome do peixe, quando estávamos em Guarulhos, onde eles iriam pegar seu avião de volta. Deixaram saudades. Valeu.


    Publicado na Revista Aruanã ed. 40  em 08/1994

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