Bastante conhecido do povo do sertão mineiro, o Famaliá é um
diabinho caseiro que se diz pertencer a alguns fazendeiros da região. Antes
chamado de Familiar, seu nome mudou na viagem do tempo e dos lugares onde é
contada esta lenda.
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Usar um pé de coelho para dar sorte,
ter em casa uma ferradura atrás da porta, pendurar uma figa numa correntinha
para afastar os maus olhados. Cada qual com seu amuleto. Mas existe um para se
conseguir riqueza e tudo o que se queira chamado Famaliá, muito difícil de ser
conseguido. Primeiro porque se trata de um diabinho, e segundo porque ele nasce
de um ovo de galo e os galos quase nunca botam ovos. Às vezes, demora-se anos
para se conseguir o Famaliá e é necessária muita luta e perseverança. Quem
deseja ter o seu, precisa primeiro fazer um pacto com o diabo e lhe dirigir
algumas palavras que muito poucos sabem quais são. Só então se vai procurar nos
galinheiros o ovo do galo. É um ovo bem pequeno, do tamanho de um ovo de pomba
juriti. Todo cuidado é pouco. Quando encontrado, leva-se então para casa e
espera-se a quaresma chegar. Na primeira sexta feira da quaresma vai-se a uma
encruzilhada de caminhos sem nenhuma luz por perto. Já bem à noite, quando
bater a hora da viração, coloca-se cuidadosamente o ovo debaixo do braço
esquerdo, na axila. Volta-se então para casa e deita-se, porque uma febre
ataca. A febre serve para ajudar a chocar o ovo. Fica-se deitado durante
quarenta dias e à meia noite, no final da quarentena, o ovo picará. Mas não
espere que venha um pintinho, pois o que nasce é um diabinho de mais ou menos
um palmo de tamanho. Coloca-se o diabinho numa garrafa preta, arrolha-se bem e
guarda-se em segredo absoluto, de preferência num oratório velho onde ninguém
mexa, a não ser o dono da casa. O Famaliá faz tudo que se queira: traz riqueza
e boa posição social. Basta que seu dono o coloque na palma da mão e lhe faça o
pedido. Imediatamente será atendido. Depois guarda-se o diabinho novamente na
garrafa preta. Só não se sabe se o Famaliá traz felicidade, pois o diabo com o
qual se faz o pacto, sempre sai ganhando.
Obra consultada –
Histórias, costumes e Lendas – Alceu Maynard Araújo.
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