Nós, pescadores amadores, temos muitas preocupações em nosso
segmento. Vamos abordar mais uma, que passa desapercebida para muita gente, mas
é algo sério. Confira.
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Chumbadas usadas no Brasil
Quer
ver um pescador amador contente, é quando ele começa a mexer em suas tralhas de
pesca. Além da pescaria, é lógico, mexer com as tralhas é sinônimo de algumas
horas de cabeça fresca, onde molinetes, carretilhas, linhas, anzóis, iscas
artificiais, caixas de pesca, empates, facas, alicates, bonés e mais uma
infinidade de equipamentos (e isso depende de cada pescador) passam por um
crivo que é pior do que qualquer controle de qualidade apurado e exigente.
Propositadamente, na relação acima não falamos dos chumbos, ou seja, das
populares chumbadas, usadas por quase todos pescadores, sejam de água doce ou
mares. E é sobre as chumbadas que nós resolvemos falar nesta matéria, já que
são um perigo que está rondando nossas águas e nossos peixes, e além disso,
pondo em risco a saúde do pescador amador. Para que o pescador entenda logo ao
que queremos nos referir sobre chumbos, temos que dar um exemplo, para não
deixar qualquer dúvida no ar. Vamos a ele. Suponhamos que em um lago de 1.000
metros quadrados pesquem diariamente 100 pescadores amadores, e que os mesmos,
para lançar suas linhas, usem chumbadas (de qualquer formato) com peso de 50
gramas.
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Bass na minhoca artificial
Digamos que 30% desses
pescadores percam seus chumbos em enroscos, quebra de linhas, peixes que
estourem a linha, etc. Usando da matemática, sabemos então que 1,5 quilos de
chumbadas ficam nas águas do lago. Continuemos a calcular. Se 1,5 quilo por dia
foram perdidos, será 45 quilos em um mês e portanto 540 quilos em um ano. Pois
bem, nossa matemática está correta e portanto no “nosso lago”, serão
depositados, ano após ano, mais de meia tonelada de chumbo anuais. A seriedade
do assunto é a seguinte: como todos sabemos, o chumbo é considerado um metal
pesado e muito perigoso à saúde do ser humano. Em contato com a água, sua
solubilização é possível, ou seja, com o passar dos anos, ele vai se
desintegrando até sumir completamente, deixando na água que é “respirada” pelos
peixes, sua total toxidade. Vamos entrar em detalhes mais técnicos. O chumbo é
um material relativamente pouco abundante no meio ambiente, e é encontrado em
minérios concentrados.
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Quanto tempo leva o chumbo para dissolver-se na natureza?
Não temos no Brasil, nenhuma indústria que fabrique o chumbo.
Todo nosso chumbo é importado. Ao ser analisado, vamos encontrar no chumbo a
quantidade dos seguintes materiais em PPM (partícula por milhão): chumbo =
99.9986 ppm; prata 2 ppm; cobre 2 ppm; bismuto 10 ppm; antimônio 2 ppm; titânio
2 ppm. E tudo isso dependendo do tipo de análise, já que podemos encontrar
ainda no chumbo outros materiais tais como ferro, zinco, estanho e arsênico. O
detalhe é que esta análise foi feita, a nosso pedido, por uma empresa que importa
chumbo, à qual estaremos nos referindo no quadro de nota da redação. Não há
dados precisos de quantos anos são necessários para que o chumbo desapareça na
água. E se levarmos em conta os tamanhos de cada chumbo e seus formatos, essas
datas serão ainda mais imprecisas. Mas sabemos, no entanto, que quanto mais for
a água alcalina, menor será o tempo de decomposição. Note bem o pescador que
estamos nos referindo a chumbo com o mais alto grau de pureza, ou se
preferirem, virgem.
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O chumbo afeta o peixe e o homem ao ser consumido
Em uma pesquisa com alguns fornecedores de chumbadas,
apuramos que os mesmos compram a sua “matéria prima” em ferros velhos ou em
qualquer outra fonte que tenham esse produtos para vender. A bem da verdade,
não foi feita uma análise nessas chumbadas tradicionais, mas por certo, deverão
apresentar, se análises forem feitas, alguns materiais a mais em sua
composição. Em nosso país, o chumbo virgem é muito utilizado em baterias
automotivas, em materiais de solda e até em revestimento de salas de
radiografia, isto para citar apenas alguns usos e não entrar em maiores
detalhes. Agora, o perigo. Segundo alguns técnicos, uma dose tóxica varia de 2
a 4 gramas e uma dose mortal de 10 a 40 gramas de chumbo, e é conhecida como
“intoxicação aguda por chumbo”. O chumbo é absorvido muito lentamente pelo
organismo, podendo ingressar por diversas vias. Sua principal absorção é no
intestino delgado. Em menor quantidade no cólon e praticamente nenhuma no
estômago.
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Chumbadas de bronze
Os sintomas serão então transtornos gastrointestinais,
alopecia, eritema dos membros, vômitos intensos com aspecto leitoso, retenção
urinária, fezes negras, gosto metálico e cãibras. Em uma recente reunião no
Ibama de Pirassununga (SP), em conversa com um biólogo, disse-nos ele que, se
uma pessoa consumir 300 gramas diárias de peixe infectado durante um ano, é o
bastante para ter sérios problemas de saúde. Voltemos então à realidade. Um
vários estados norte-americanos, o chumbo tradicional está proibido, e optaram
então por pesos feitos de bronze ou latão. Na Europa, em vários países também
esta proibido o seu uso, e os europeus optaram por pesos feitos de pedras que
receberam o nome de “Eco Weight” (peso ecológico), fabricados e patenteados
pela Normark Corporation, que é uma das empresas da Rapala. Como se vê, a coisa
é bem séria e muito importante. Voltemos ainda mais na realidade e vamos
esquecer o tal lago de 1.000 metros quadrados, indo direto para o nosso querido
Pantanal, cuja artéria principal é o rio Paraguai, onde deságuam todos os rios,
baías, lagoas e corixos pantaneiros.
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Chumbada usada na Europa
Como se sabe, todos os anos o Pantanal norte e sul, recebe
mais de 50.000 pescadores amadores, sem contar os profissionais que também usam
chumbos em suas redes e tarrafas. A conta é simples, e lembrando que as
chumbadas no Pantanal tem peso maior. Para calcular em números redondos, vamos
dizer que as chumbadas pesem 100 gramas cada uma, e cada pescador perca uma por
pescaria (sabemos que a perda é muito maior). Teremos então um resultado igual
a 5.000 quilos de chumbo a contaminarem aquelas águas, todos os anos. Há quantos
anos se pesca no Pantanal é uma pergunta que pode ser respondida por cada
pescador, e é só fazer uma conta simples de multiplicação, para termos um
resultado que chega a ser assustador. Agora, a pergunta final a você pescador:
será que o peixe que você está comendo está contaminado por metais pesados? E,
só para lembrar, nessa conta acima não estamos colocando o mercúrio, muito
usado nos garimpos de ouro, cujas águas também descem para os rios da Bacia do
Prata. Com a palavra o Ibama, Secretarias do Meio Ambiente, Ministério do Meio
Ambiente, Ministério da Saúde e a quem mais isso possa interessar.
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Publicada na Revista Aruanã Ed. 73 – 04/2000
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Parabéns, Toninho! Chega de se preocupar somente com o Pesque e Solte, como se fosse a solução de todos os problemas ambientais. Desmatamento, poluição, queimadas, etc, são tão ou mais graves para o meio ambiente, que não se salvará apenas com a aplicação do Pesque e Solte...
ResponderExcluirObrigado Marcão. E isso é apenas a ponta do iceberg. Você, como eu que andamos por esse Brasil afora, sabemos de muito mais ações prejudiciais ao meio ambiente. E mais uma vez reitero: quem lucra com o pesca e solta, são os chamados pesqueiros, sejam fixos ou embarcados. E, continuam só ganhando grana, enquanto isso for possível e anunciando de graça aqui no Face. Investimento nas suas regiões... nada. Abraço
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