sábado, 11 de junho de 2016

SAÚDE: CUIDADO - VENENO!










Nós, pescadores amadores, temos muitas preocupações em nosso segmento. Vamos abordar mais uma, que passa desapercebida para muita gente, mas é algo sério. Confira.






Chumbadas usadas no Brasil
Quer ver um pescador amador contente, é quando ele começa a mexer em suas tralhas de pesca. Além da pescaria, é lógico, mexer com as tralhas é sinônimo de algumas horas de cabeça fresca, onde molinetes, carretilhas, linhas, anzóis, iscas artificiais, caixas de pesca, empates, facas, alicates, bonés e mais uma infinidade de equipamentos (e isso depende de cada pescador) passam por um crivo que é pior do que qualquer controle de qualidade apurado e exigente. Propositadamente, na relação acima não falamos dos chumbos, ou seja, das populares chumbadas, usadas por quase todos pescadores, sejam de água doce ou mares. E é sobre as chumbadas que nós resolvemos falar nesta matéria, já que são um perigo que está rondando nossas águas e nossos peixes, e além disso, pondo em risco a saúde do pescador amador. Para que o pescador entenda logo ao que queremos nos referir sobre chumbos, temos que dar um exemplo, para não deixar qualquer dúvida no ar. Vamos a ele. Suponhamos que em um lago de 1.000 metros quadrados pesquem diariamente 100 pescadores amadores, e que os mesmos, para lançar suas linhas, usem chumbadas (de qualquer formato) com peso de 50 gramas.

Bass na minhoca artificial 

Digamos que 30% desses pescadores percam seus chumbos em enroscos, quebra de linhas, peixes que estourem a linha, etc. Usando da matemática, sabemos então que 1,5 quilos de chumbadas ficam nas águas do lago. Continuemos a calcular. Se 1,5 quilo por dia foram perdidos, será 45 quilos em um mês e portanto 540 quilos em um ano. Pois bem, nossa matemática está correta e portanto no “nosso lago”, serão depositados, ano após ano, mais de meia tonelada de chumbo anuais. A seriedade do assunto é a seguinte: como todos sabemos, o chumbo é considerado um metal pesado e muito perigoso à saúde do ser humano. Em contato com a água, sua solubilização é possível, ou seja, com o passar dos anos, ele vai se desintegrando até sumir completamente, deixando na água que é “respirada” pelos peixes, sua total toxidade. Vamos entrar em detalhes mais técnicos. O chumbo é um material relativamente pouco abundante no meio ambiente, e é encontrado em minérios concentrados.

Quanto tempo leva o chumbo para dissolver-se na natureza? 

Não temos no Brasil, nenhuma indústria que fabrique o chumbo. Todo nosso chumbo é importado. Ao ser analisado, vamos encontrar no chumbo a quantidade dos seguintes materiais em PPM (partícula por milhão): chumbo = 99.9986 ppm; prata 2 ppm; cobre 2 ppm; bismuto 10 ppm; antimônio 2 ppm; titânio 2 ppm. E tudo isso dependendo do tipo de análise, já que podemos encontrar ainda no chumbo outros materiais tais como ferro, zinco, estanho e arsênico. O detalhe é que esta análise foi feita, a nosso pedido, por uma empresa que importa chumbo, à qual estaremos nos referindo no quadro de nota da redação. Não há dados precisos de quantos anos são necessários para que o chumbo desapareça na água. E se levarmos em conta os tamanhos de cada chumbo e seus formatos, essas datas serão ainda mais imprecisas. Mas sabemos, no entanto, que quanto mais for a água alcalina, menor será o tempo de decomposição. Note bem o pescador que estamos nos referindo a chumbo com o mais alto grau de pureza, ou se preferirem, virgem.


                              O chumbo afeta o peixe e o homem ao ser consumido

Em uma pesquisa com alguns fornecedores de chumbadas, apuramos que os mesmos compram a sua “matéria prima” em ferros velhos ou em qualquer outra fonte que tenham esse produtos para vender. A bem da verdade, não foi feita uma análise nessas chumbadas tradicionais, mas por certo, deverão apresentar, se análises forem feitas, alguns materiais a mais em sua composição. Em nosso país, o chumbo virgem é muito utilizado em baterias automotivas, em materiais de solda e até em revestimento de salas de radiografia, isto para citar apenas alguns usos e não entrar em maiores detalhes. Agora, o perigo. Segundo alguns técnicos, uma dose tóxica varia de 2 a 4 gramas e uma dose mortal de 10 a 40 gramas de chumbo, e é conhecida como “intoxicação aguda por chumbo”. O chumbo é absorvido muito lentamente pelo organismo, podendo ingressar por diversas vias. Sua principal absorção é no intestino delgado. Em menor quantidade no cólon e praticamente nenhuma no estômago.


Chumbadas de bronze

Os sintomas serão então transtornos gastrointestinais, alopecia, eritema dos membros, vômitos intensos com aspecto leitoso, retenção urinária, fezes negras, gosto metálico e cãibras. Em uma recente reunião no Ibama de Pirassununga (SP), em conversa com um biólogo, disse-nos ele que, se uma pessoa consumir 300 gramas diárias de peixe infectado durante um ano, é o bastante para ter sérios problemas de saúde. Voltemos então à realidade. Um vários estados norte-americanos, o chumbo tradicional está proibido, e optaram então por pesos feitos de bronze ou latão. Na Europa, em vários países também esta proibido o seu uso, e os europeus optaram por pesos feitos de pedras que receberam o nome de “Eco Weight” (peso ecológico), fabricados e patenteados pela Normark Corporation, que é uma das empresas da Rapala. Como se vê, a coisa é bem séria e muito importante. Voltemos ainda mais na realidade e vamos esquecer o tal lago de 1.000 metros quadrados, indo direto para o nosso querido Pantanal, cuja artéria principal é o rio Paraguai, onde deságuam todos os rios, baías, lagoas e corixos pantaneiros.


Chumbada usada na Europa

Como se sabe, todos os anos o Pantanal norte e sul, recebe mais de 50.000 pescadores amadores, sem contar os profissionais que também usam chumbos em suas redes e tarrafas. A conta é simples, e lembrando que as chumbadas no Pantanal tem peso maior. Para calcular em números redondos, vamos dizer que as chumbadas pesem 100 gramas cada uma, e cada pescador perca uma por pescaria (sabemos que a perda é muito maior). Teremos então um resultado igual a 5.000 quilos de chumbo a contaminarem aquelas águas, todos os anos. Há quantos anos se pesca no Pantanal é uma pergunta que pode ser respondida por cada pescador, e é só fazer uma conta simples de multiplicação, para termos um resultado que chega a ser assustador. Agora, a pergunta final a você pescador: será que o peixe que você está comendo está contaminado por metais pesados? E, só para lembrar, nessa conta acima não estamos colocando o mercúrio, muito usado nos garimpos de ouro, cujas águas também descem para os rios da Bacia do Prata. Com a palavra o Ibama, Secretarias do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Saúde e a quem mais isso possa interessar.




Publicada na Revista Aruanã  Ed. 73 – 04/2000


2 comentários:

  1. Parabéns, Toninho! Chega de se preocupar somente com o Pesque e Solte, como se fosse a solução de todos os problemas ambientais. Desmatamento, poluição, queimadas, etc, são tão ou mais graves para o meio ambiente, que não se salvará apenas com a aplicação do Pesque e Solte...

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  2. Obrigado Marcão. E isso é apenas a ponta do iceberg. Você, como eu que andamos por esse Brasil afora, sabemos de muito mais ações prejudiciais ao meio ambiente. E mais uma vez reitero: quem lucra com o pesca e solta, são os chamados pesqueiros, sejam fixos ou embarcados. E, continuam só ganhando grana, enquanto isso for possível e anunciando de graça aqui no Face. Investimento nas suas regiões... nada. Abraço

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