São muitos os pescadores que, querendo usar uma carretilha,
na hora do lance não conseguem êxito. Outros, só de ouvir falar dessa
dificuldade, não ousam nem comprar uma. Lançar é simples. Confira.
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Carretilha artesanal usada na década de 50
Para começar este artigo, nós da Aruanã queremos deixar bem
claro que o importante é pescar bem, e isso pode ser feito com qualquer
equipamento, seja linhada de mão, vara de bambu, molinete ou carretilha. Só
para se ter uma idéia, o melhor pescador que nossa equipe já conheceu pescava
somente com vara de bambu. Trata-se do “seu” Juju, morador do Pantanal de
Corumbá. Jamais vimos um pescador que dominasse tão bem essa arte como ele. Com
um simples olhar no movimento da água do rio, sabia de qual espécie se tratava.
Realmente, o “seu” Juju era um fenômeno. Hoje, devido a sua idade avançada (NR:
junho 1992), não está mais pescando, mas ainda tem muito a nos ensinar. No
entanto, para nós que somos simplesmente pescadores amadores e queremos ter
bons equipamentos, realmente a carretilha atrai por suas formas simples e
modernas. Alguns nos pedem para compararmos a carretilha e o molinete e
dizermos qual é o melhor equipamento.
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Botão de ajuste do carretel
A princípio, podemos dizer que enquanto o molinete é mais
fácil executar os lançamentos (principalmente quando se trata de pesca na
categoria super leve, com iscas de 3 a 4 gramas), o mesmo é quase impossível
com a carretilha. Mas esta, por sua vez, tem algumas qualidades que o molinete
não apresenta. Exemplo: possui mais tração de força no recolhimento e não torce
a linha. No que se refere a velocidade, tanto os molinetes quanto as
carretilhas são exatamente iguais hoje. Há quem diga que quem pesca com
carretilha é melhor pescador, ou então que é bem mais hábil, e talvez por essa
falsa idéia alguns pescadores queiram mudar para a carretilha, e sem qualquer
informação, se dirigem a uma loja de pesca e compram a carretilha que mais lhe
chama a atenção, seja por marca, beleza ou ainda por receber informação errônea
do vendedor. Na hora da pescaria, cometem alguns erros primários e acontece o
inevitável: a linha se enrosca toda.
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Modelos de carretilhas
Este fato recebe vários nomes, como back lash, cabeleira, chumaço, peruca de “veia” e mais uma
infinidade de outros que são impublicáveis. Além disso, é importante salientar
a raiva e frustração de quem está tentando lançar e não consegue. Pacientemente
o desavisado pescador desenrosca a linha, dá novo arremesso e tudo volta à
estaca zero, ou seja, ao enrosco. “Mas com os diabos” – exclama o pescador – “vejo
tanta gente pescando sem enroscar, porque é que essa merda comigo não quer
funcionar?”. Se você já se viu em situação semelhante, vamos tentar, por
partes, explicar o que está errado. Devemos começar por selecionar a carretilha
adequada para o tipo de pescaria que queremos fazer. Nesse caso, o tamanho do
equipamento é muito importante. Vamos dividir as modalidades de pesca em três
categorias: leve, média e pesada. Na categoria leve podemos incluir modelos
como a Abu 4600, a Daiwa TD1H1, a Quantum Pro Lite e tantas outras com o mesmo
tamanho e capacidade de linhas.
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Botão de ajuste de carretel em outro modelo
Nesses modelos usaremos linhas de bitola entre 0.25 a 0.35
mm. Na categoria média, temos a Abu 5500, a Daiwa Milionaire 5000M, a Quantum
Pro 4 e outras. Para esses modelos, usaremos linha entre 0.35 a 0.45 mm. Na
categoria pesada, estão incluídas a Penn 500, a Abu 7000, a Daiwa Sea line e
outras de tamanho grandes. As linhas nesse caso podem variar entre 0.45 a 0.60
mm. Há ainda as grandes carretilhas onde usamos linha 0.70 mm ou mais, mas
estas não são adequadas a lances e sim para a pesca na modalidade de corrico,
onde deixaremos a linha desenrolar por intermédio do movimento do barco. No que
se refere ao peso da isca para arremesso, podemos classificar da seguinte
forma: equipamento leve, entre 8 a 12 g; equipamento médio, entre 12 a 18 g; e
equipamento pesado, acima de 18g. Muito bem. Já sabemos qual a linha e qual o
peso da isca para um bom arremesso.
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Vara com cabo para carretilha
Podemos passar então para outro item muito importante: as
varas. Novamente teremos que dividi-las em três categorias: leve, média e
pesada. A vara correta para o uso de carretilhas é aquela dotada de gatilho.
Esse gatilho tem como principais funções não permitir que a vara escape das
mãos do pescador na hora do lance e servir de apoio mais firme para as mãos
durante a briga com o peixe. Não é norma, mas podemos sugerir os seguintes
tamanhos para o comprimento das varas, segundo seu tipo: leve, entre 1.6 a 1.9
m; média, entre 1.7 a 2.1 m; pesada, entre 2.1 a 4 ou 5 m. Nesta classificação
não entram as varas de corrico, que devem ter no máximo (para a pesca na
categoria pesada) 2 m de comprimento. Isto posto, vamos à dica mais importante:
toda a carretilha tem um botão que serve para o ajuste e balanceamento do
carretel. Em alguns modelos ele está localizado embaixo da “estrela” da ficção,
do mesmo lado da manivela de recolhimento.
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Outros modelos de carretilhas
Em outros modelos, localiza-se do lado contrário à manivela e
fica sozinho bem no meio da carretilha. Quando se quer aprender a arremessar
com a carretilha, deve-se primeiro montar a vara completa, inclusive com a
isca. Antes de abrir o equipamento para o lance, aperta-se ao máximo o botão de
ajuste do carretel. Feito isso, abra a trava do lance e perceba que a linha não
sai. Com a vara na posição “duas horas” em relação a você, deixe a trava do
lance aberta e lentamente vá desapertando o botão de ajuste. Quando perceber
que a isca começa a se movimentar para baixo, pode parar. Faça mais um teste. Com a vara na mesma
posição, deixe a isca descer até bater no chão. Quando a isca tocar o solo, o
carretel de linha terá que parar automaticamente. Pronto, a sua carretilha
estará regulada para não enroscar no lance. Simples não? Uma outra boa dica é
que o pescador dê lances sempre com força suficiente para que a isca vá além do
local desejado.
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A posição correta do polegar no carretel
Acompanhe com os olhos a isca e quando estiver sobre o local
desejado, cesse o desenrolar do carretel com o dedo polegar. O lance
interrompido dessa maneira e a melhor opção com a carretilha. Outra forma de
lançamento é parar o carretel com o dedo polegar quando a isca estiver
descrevendo a descendência. No começo, tudo parece difícil, mas com a prática,
os lances serão cada vez mais precisos, e principalmente, sem os terríveis
enroscos. Depois de algum tempo, quando já se está arremessando muito bem, não
será mais necessário fazer a regulagem a partir do peso da isca, pois o
pescador aprenderá sozinho que com leves toques do dedo polegar, é possível
brecar aos poucos o desenrolar do carretel.
No entanto, a dica de jogar a isca sempre para passar o alvo terá de ser
seguida sempre. Para finalizar, podemos dizer que vez por outra será inevitável
um enrosco qualquer, já que não existe um só pescador amador que pesque com carretilha
que não tenha algumas vezes um enrosco nas mãos.
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Modelo de carretel diferente, mas o botão de ajuste igual
A propósito, para desenrolar esses enroscos, o melhor é ir
puxando lentamente a linha com a trava do carretel aberta, quando perceber que
a mesma está parada no meio de um arco da linha, puxe
esse arco um pouco apenas e volte a puxar a linha que o enrosco se desatará
imediatamente. Pescar com carretilha é muito bom e tem suas vantagens, mas não
lhe dará necessariamente “status”, pois pescar bem depende de cada um de nós,
seja qual for o equipamento que estivermos usando. Boa pescaria.
NOTA DA REDAÇÃO: Foram muitos os pescadores que se utilizaram
destas dicas para passar a pescar com carretilhas e usufruir de suas vantagens.
Por outro lado, aos sábados, em nossa loja da Aruanã, eram também muitos os pescadores
que iam até lá para ter a aula prática de arremessos. E uma curiosidade: todos
nossos funcionários, tanto da loja como da editora, sabiam arremessar e muito
bem com carretilhas, havendo inclusive, uma “disputa” entre eles para ver quem
arremessava com mais precisão. O “alvo” era um copo de água de plástico e a 10
metros de distância.
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Um pouco de humor – Zé Lambari aprendendo
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Publicado na Revista Aruanã ed. 34 – 06/1993
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