Nada melhor do que transcrever na íntegra, o texto do livro
Dicionário dos Animais do Brasil, de Rodolpho Von Ihering, sobre o içá. Senão
vejamos.
“É a fêmea da saúva, a rainha do sauveiro, conhecida como
tanajura no norte do Brasil.”. De outubro a dezembro, os iças virgens saem do
ninho e, voando, encontram-se com os machos (chamados sabitus) também alados.
Depois, cada fêmea, tendo escolhido o local onde vai fundar o novo ninho,
desfaz-se das asas por auto-amputação e cava a primeira panela, o início do
futuro sauveiro. Enclausurando-se então por toda a vida, fecha a porta de
entrada, e seu primeiro cuidado é iniciar o horto de cogumelos, de que única e
exclusivamente se alimenta esta espécie de formiga. O iça tem o cuidado de
levar consigo, antes do vôo nupcial, uma partícula do fungo, como semente,
guardando-a em um recanto especial da cavidade bucal. O primeiros ovos que o
iça põe, ao que parece, destinam-se a um fim todo especial – e será certamente
este um caso raro em toda a série animal: a própria mãe os desmancha,
espalhando a preciosa substância sobre o chão, para servir de meio de cultura
para os cogumelos. De fato, o içá precisa cuidar com todo o carinho da
sementeira, pois nesta primeira fase ele não conta ainda com o auxilio da
prole, que depois se encarregará desse trabalho, trazendo continuamente
vegetais frescos para as ‘panelas’; é sabido que toda a folhagem que as saúvas
carregam para o ninho, tem unicamente a serventia de meio de cultura para o
cogumelo, alimento de toda a população do sauveiro. Logo após a postura dos
ovos, que começa em 45 dias do início do ninho, provém as primeiras formigas
operárias e com elas o sauveiro começa a funcionar, isto é, a depredar a
vegetação circunvizinha e principalmente a lavoura. “Para combater os iças,
muitas pessoas do interior fazem de seu abdomens roliços, uma fritura
denominada de paçoca, que ao serem fritos, lembram no cheiro, o torresmo
frito”. Mas a grande guerra aos iças, incumbe aos pássaros que, voando os comem
avidamente. Que prazer sente o lavrador, ao ver o caçador emplumado apanhar o
iça no ar, saboreando comente sua bola de ovos e solta o resto, que não lhe
apetece. Assim mutilada, a formiga ainda tem vida por algum tempo e já vimos um
iça nessas condições ocupado em cavar sua panela, quando, claro está, nada mais
há a temer, pois os ovos não os tem mais. Nas escolas rurais, as crianças são
dispensadas pelo professor, no momento em que começarem a aparecer os primeiros
içás, mas com a recomendação de catarem, na roça, quantas dessas formigas
puderem encontrar. No dia seguinte, à vista do resultado obtido, serão
conferidos prêmios aos que mais formigas cataram e assim, além do estímulo e do
proveito direto, as crianças sempre mais se compenetrarão dessa necessidade
absoluta de combate aos içás, para impedir a formação de outros sauveiros
novos”. De nossa parte, acrescentaríamos apenas que os iças e sabitus, nos dias
de hoje, também são catados pelos pescadores, já que são excelentes iscas para
a pesca de tilápias, e como prêmio, fazem ou recebem boas pescarias.
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