Todos os anos, a história se repete com os mesmos detalhes. O
pescador amador marca sua pescaria no Pantanal/Bacia Amazônica e depois de gastar muito,
percebe que a pescaria não teve o sucesso por um fato muito simples, “já havia
passado a melhor época de pescar”. Como evitar essa falha? É o que veremos a
seguir.
Em primeiro lugar, temos que saber que o Pantanal pode e deve
ser dividido em três regiões, a saber: Pantanal norte (região de Cuiabá),
Pantanal centro (região de Corumbá) e Pantanal sul (região de Porto Murtinho).
Como ocorre todos os anos, desde que o mundo é mundo e que existe o Pantanal,
existem duas épocas distintas: as das chuvas e a das secas. E mais, sempre
começa a chover no norte, mais ou menos em outubro/novembro. Vamos imaginar que
todo o Pantanal é uma grande concha. Ora, com a chuva no norte, essa região
ficará, com os rios sujos, água nos campos e portanto ruim de pescar. Por volta
de março, dependendo da chuva, que determinou a altura da cheia, a água começa
a limpar e nos rios a piscosidade aumenta e muito, tendo então o pescador
amador que escolheu essa região para pescar, muito mais sucesso. Vamos tomar
por base o rio Paraguai para dar a dica seguinte e esta não é imaginária, pois
está cientificamente comprovada: a vazão desse belo rio, desde sua foz até o
Oceano Atlântico, é de aproximadamente um centímetro por quilômetro. O próprio
pescador amador pode raciocinar então que, com esse declive suave, toda a água
acumulada pelas chuvas começará a descer da região norte para a região centro e
depois para a região sul. Tal prática é inevitável. Pois bem, uma boa dica é
saber o quanto choveu no norte e que altura a cheia atingiu.
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Para saber disso o pescador pode acompanhar o noticiário da
imprensa, que fala sempre, às vezes com sensacionalismo, das enchentes
pantaneiras. Se a cheia foi muito forte, a melhor época para a pesca na região
norte é mais ou menos um mês depois que as águas começaram a baixar. Isso pode
acontecer em março ou abril e talvez até antes. Ora, se em março o norte está
cheio, o mesmo não acontece no centro e no sul. Pela prática, podemos dizer que
as águas do norte chegarão ao centro mais ou menos a partir de maio e no sul a
partir de julho. Nessa época, no centro e no sul, diferentemente do norte, onde
as águas estão baixando, os rios começarão a subir, provocando então as mesmas
enchentes e notícias da imprensa. Vamos colocar então, como informação
principal para a nossa pescaria, como exemplo o mês de março, com base na
região norte. A resposta a nossa pergunta tem que ser segura e verdadeira. No
mês de março vem à informação de Cuiabá dizendo que o nível dos rios já começou
a baixar, por exemplo, três centímetros por dia. Pronto, o período da vazante
começou e aí o pescador que quiser marcar sua pescaria para o Pantanal norte
pode se preparar. A sua disposição, para uma boa pescaria, estarão os meses de
março até junho ou julho e, se houver chuvas atrasadas, até agosto e meados de
setembro.
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Outra dica: se no Pantanal norte as águas começaram a baixar
três centímetros por dia, com certeza (isso é regra), no Pantanal centro o
nível das águas estará subindo. Afinal de contas é a mesma água “ladeira”
abaixo. Quando as noticias derem conta que no Pantanal centro as águas
começaram a baixar, e isso ocorre mais ou menos em junho, e na mesma proporção
de alguns centímetros por dia, é o sinal para marcar sua pescaria para essa
região. Na região sul, o nível das águas, na mesma época, ainda estará subindo,
e a dica é esperar também que comece a baixar, o que deve ocorrer por volta de
agosto ou setembro. A bem da verdade deve-se dizer que os meses citados nesta
matéria podem ser diferentes, pois o que irá determinar o mês certo será a
quantidade de chuva que cair, determinando a altura da cheia. Pronto, aí está uma regra que deve ser
rigorosamente obedecida, para quem quer ir pescar e pescar bem. Uma outra dica
muito importante: pela nossa experiência, diríamos ou aconselharíamos ao
pescador que procure pescar sempre quando começar a vazante, com o nível de
água alto. Eu explico: com bastante água limpa movimentando-se na vazante, a
água do Pantanal estará nos campos, onde se pescará muito bem o pacu, no
sistema de batida, tanto no campo como na saída deste para o rio. Os corixos
estarão cheios e nas suas entradas ou saídas para o rio irão se formar pequenas
corredeiras, onde a água correrá mais rápida.
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São os melhores locais para a pesca de dourados e pintados.
Quando as primeiras praias começam a aparecer, as beiradas são excelentes
pesqueiros para pintados e jurupocas. Com a água no mato, e se houver um ninhal
em cima das árvores, estes locais tornam-se excelentes para a pesca esportiva
da piraputanga. Para finalizar, diríamos ainda que, com a vazante, as saídas de
água para o rio são ótimos pesqueiros, pois estas águas estarão trazendo as
iscas naturais para o rio principal. Citamos tais iscas: frutas e coquinhos
(pacu); pequenos peixes, que se movimentam em cardumes, para saírem dos baixios
e não ficarem presos em lagoas, tais como: lambaris, sauás, sairús, traíras,
jejus, tuviras, etc (dourados e pintados). Para finalizar, podemos afirmar que
todas essas dicas acontecem exatamente iguais, porém em épocas diferentes, nos
três “Pantanais” aqui citados. No entanto, se o pescador amador continuar a
marcar sua pescaria com um ano de antecedência, ele estará jogando com a sorte.
Se suas férias coincidirem com o período e a quantidade de chuvas e cheias
certas, “aleluia”, a pescaria será excelente. Se não, haverá a triste
constatação de que, mesmo com todo o dinheiro gasto, “não era a época certa”,
desculpa esta que além de não explicar, não justificará o mau resultado. Dica
final: nunca pergunte ao dono de um pesqueiro como está de peixe, pois
esperando sua presença e seu dinheiro, ele, com raras exceções, dirá sempre que
está muito bom de peixe.
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Com sua chegada e verificação de que não está tão bom assim,
a justificativa será sempre a mesma: o cardume estava aqui “na porta do
pesqueiro” ainda ontem. Com certeza já passou. E lá vai nosso rico dinheirinho
e não vêm nossos pobres peixinhos. Já nos rios da Bacia Amazônica, essas dicas
variam e muito. Devemos abrir exceção nessa variação sobre as chuvas. São elas,
as chuvas, que irão determinar também, na região qual será a melhor época para
fazer sua pescaria. Mas isso é outra história a ser publicada brevemente.
NOTA DA REDAÇÃO: A Revista Aruanã tinha um serviço ao seu leitor
chamado de SOS PESCADOR, que podia ser acessado por telefone. Qualquer problema
que o pescador tivesse, bastava ligar para o SOS é nós tentávamos resolver da
melhor maneira possível. Muitos problemas foram resolvidos com nossa atuação.
Um desses problemas, que gerava muitas consultas, era qual a melhor época para
marcar uma pescaria, tanto no Pantanal como na Bacia Amazônica. Para dar uma
resposta exata, contávamos nós com uma série de amigos, pantaneiros ou
amazonenses, que nos davam a posição, em altura, das águas dessas Bacias. Isso
facilitava muito a ida do pescador, em sua pescaria anual. Observando certas
regras, dificilmente o pescador errava sua pescaria.
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Amazônia na época das secas
Nossa informação principal – que era passada ao leitor –
tinha por norma prever as melhores épocas, apenas passada a época das chuvas.
Não adiantava marcar a pescaria, por exemplo, com 6 meses de antecedência, já
que era impossível prever a quantidade de chuvas na região. Passada a fase das
chuvas, tínhamos então a altura das águas, por exemplo, em Cuiabá, onde
podíamos calcular, pelo volume, qual seria a melhor época no Pantanal Norte,
Centro e Sul, já que inevitavelmente, as águas seguiriam seu rumo rio Paraguai
abaixo, mostrando cheias e vazantes. Na Bacia Amazônica, as informações partiam
dos amigos de Santarém, Manaus, Porto Velho e outros. Simples mas, bastante
seguro e com praticamente nenhuma margem de erro. Dito isso, alguns fatos engraçados. Sempre
informávamos que era bobagem perguntar ao dono do pesqueiro como “estava de
peixe”, já que a resposta era sempre muito boa e que a reserva podia ser
efetuada a qualquer tempo ou época. Evidente está que havia exceções. Raras,
mas havia. Marcando uma pescaria, pela agenda do empresário do setor, este já
podia fazer suas contas de onde e como investir, pois o sinal já havia sido
depositado. Acertar uma boa pescaria, marcada com muita antecedência, era então
uma questão de sorte determinada pela altura das águas na época e, no local. Um
fato verídico acontecido com uma turma nossa conhecida e, por ela a nós
relatada.
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Corredeira em corixo
Chegada à data marcada ligaram para o pesqueiro escolhido
perguntando como estava de peixe. Resposta: “muito bom de dourado, pintado e
pacu”. Com essa boa notícia, lá foram eles para a pescaria anual dos sonhos.
Chegando ao pesqueiro, a verdade foi outra. Praticamente nada de peixe “bom”. O
empresário disse então à turma: “até um dia antes de vocês chegarem, tinha um
cardume enorme aqui na porta. Pelo jeito deve ter passado, mas deve melhorar
logo, logo”. Não foi verdade e a turma voltou praticamente sem nenhum peixe.
Dinheiro gasto à toa. E o pior de tudo foi que, o tal empresário, para garantir
seus clientes telefonou para o chefe da turma e teve a cara de pau de dizer:
“no dia seguinte, depois que vocês foram embora, acreditam que um cardume
enorme de pintados e dourados ‘encostou’ aqui na região? Foi muito azar de
vocês, mas ano que vem a coisa deve mudar”. Com certeza não precisamos dizer
mais nada. E, reservo-me o direito de não informar o pesqueiro ou a região, por
motivos óbvios. E mais, não marque sua pescaria com muita antecedência, já que
conforme a altura dos rios, ela pode ser ou não, de boa qualidade. E, não se
preocupe com as vagas, pois por certo elas estarão à sua disposição, na época
certa. E melhor ainda: caso não tenha vagas, acampe. Dá um pouco mais de
trabalho, mas os resultados serão muito melhores.
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Revista Aruanã Ed.25 - dezembro de 1991
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