Poderíamos falar muito sobre a grande Cachoeira de Marimbondo/Índios
mas, o que mais nos chamou a atenção, é a história de um pescador em especial,
que nos remete a nossa origem, onde pescar, antes de tudo era puro prazer.
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O pescador
Jover Assad Karam
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Cachoeira de
Marimbondo/Índios
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Pescando em
ceva
Para se contar uma boa história é preciso, antes de tudo,
identificar seus personagens, os fatos e se possível, as imagens. Graças a uma
publicação sobre a Cachoeira de Marimbondo/Índios, que por gentileza de Kenji
Honda, nos forneceu uma imagem antiga de
um pôster que, ao ser publicada no Facebook, surgiram vários comentários de
leitores de nossas publicações. Em especial um: Rogério A. Dias. Explico.
Rogério, como ele próprio confessa, é um leitor assíduo da Revista Aruanã, e
tem a coleção desde o número 1, e como ele mesmo nos disse, era difícil esperar
dois meses por uma nova edição. Junto com ele, outro personagem surge nesta
história, seu avô Jover Assad Karam, também leitor da Aruanã e pescador
inveterado e iniciador de Rogério na arte da pesca. Karam – vamos chama-lo
assim – tinha como um lugar especial e aonde ia muito pescar que era a
Cachoeira de Marimbondos. Como todo bom pescador, uma máquina de fotografias
era companheira de viagem inseparável. Para nossa sorte e de gerações futuras,
ele tirou com sua velha máquina e em filmes branco e preto, várias fotos de
suas aventuras em Marimbondo, com suas paisagens e peixes maravilhosos.
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Um lugar
especial para pescar
Deixemos um pouco de lado, Karam e suas pescarias, para ver o
que temos sobre essa cachoeira nas Redes Sociais. Por exemplo, poderíamos falar
a respeito da construção da Ponte Mendonça Lima, no rio Grande, em 1943, que
ligaria Minas Gerais com São Paulo; poderíamos citar também o livro “Diário de
uma viagem pelo sertão paulista, realizada em 1904”, de Cornélio Schmidt, em
viagem feita com o norte americano Thomaz Canty, onde conta as primeiras
pesquisas para a construção de uma usina hidroelétrica no rio Grande;
importante citar que antes dos saltos existem duas ilhas, a de cima chama-se
Escura e a de baixo Pelada, e para baixo do salto, mais duas também, a primeira
chamada dos Patos, e a de baixo, Ferrador, que dizem ser a causadora da
Cachoeira do Ferrador e para finalizar esta citação: “em 1912, Jesuíno da Silva
obteve concessão (Decreto nº9. 403) para o aproveitamento da força hidráulica
da Cachoeira do Marimbondo no rio Grande, entre os Estados de São Paulo e Minas
Gerais”. O projeto ficou apenas no papel, não foi concretizado e a concessão
expirou, para o desespero da população daquela região que sonhava com a moderna
luz elétrica. Sobre a cachoeira em sua extensão havia vários saltos tais como o
do Ferrador, dos Índios, das Andorinhas, dos Patos, da Onça e atentem para este
nome – da Água Vermelha.
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Os irmãos Assad
Karam
AS PESCARIAS
Era comum, quando a pescaria iria ser realizada em Marimbondo,
uma extensa preparação devido à distância que separava a capital de São Paulo,
do local das pescarias. E mais, nessa preparação o acampamento era
indispensável, pois não havia qualquer outra comodidade a ser aproveitada e
usada. A “barraca” era uma lona que sempre alguém tinha uma, que por certo
servia como cobertura da carroceria de algum caminhão. Montada a barraca, ela
iria servir como cozinha, dormitório e sala de refeições, normalmente montada
perto da água do rio. A tralha de pesca era bem simples. Karam tinha uma
carretilha, mas a grande maioria pescava mesmo era com varas de bambu e
linhadas de mão e estas de grosso diâmetro, pois era assim que se lutava com os
dourados e os peixes de couro, que “teimavam em descer corredeira abaixo” sem
se importar com quem os tinha fisgado.
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Uma imagem
parcial de Marimbondo
Pescarias mais calmas eram feitas nos poços, onde as cevas
eram aproveitadas e lado a lado os pescadores se divertiam com as piabas,
piabanhas, piaparas, piaus entre outros e todos de grande porte. Fisgar
qualquer uma dessas espécies na vara de bambu era uma luta dura e demorada, até
o peixe cansar. O melhor de tudo eram os papos que rolavam soltos, pela
proximidade dos pescadores nos poços. Para se ter uma idéia da piscosidade da Cachoeira
de Marimbondo/Índios, para lá se dirigiam pescadores de vários estados do
Brasil, em longas viagens em carros ou caminhões. Era uma aventura a ser vivida
como, por exemplo, hoje, no Pantanal ou Bacia Amazônica. Pisar nas rochas
daquele lugar era considerado uma graça e muitos afirmavam ser aquele solo,
sagrado.
O FIM DE MARIMBONDO
Em 1979 finalmente a barragem de Água Vermelha represa as
águas do rio Grande. Lentamente o nível das águas foi subindo e com o passar do tempo,
aquele lugar maravilhoso e sagrado, foi sendo tragado silenciosamente estando
até hoje lá, abaixo de muitos metros de água, em uma represa que tem 647 km2 de
extensão, cujo único motivo de sua criação é gerar energia elétrica para nosso
país.
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Jorge
segurando um dourado
Marimbondo repousa submersa em suas águas e com certeza sem o
barulho de suas corredeiras e saltos, em seu túmulo eterno. Deve continuar a
ter seus contornos e disposições, porém, sem as margens, vegetação, poços e
corredeiras originais, onde Jover Assad Karam, que já está pescando no céu, consegue
ainda visualizar, pois aos pescadores que se tornaram estrelas no céu, tudo é
possível. Karam, seus irmãos e amigos deixaram fotos, histórias, conhecimentos
e exemplos para provar que um dia, essas maravilhas existiram e que, os
pescadores da época, que lá pescavam, souberam e muito aproveitar. Que
descansem em paz. Muito obrigado.
Nota da Redação: A exemplo do que foi feito com Marimbondo,
podemos citar ainda o canal de São Simão e Sete Quedas (Salto Guaíra) e tantos
outros, em nome do progresso. E tudo isso continua a ser feito atualmente e,
desta feita, são os rios diversos da Amazônia. Esquecem nossas autoridades de
meio ambiente, que o custo de uma escada para peixes, custa menos do que 1% do
total de sua obra e elas são feitas e aprovadas em sua eficiência, em vários
países do mundo. A grande maioria das represas do rio Grande não tem esse
simples, barato e importante detalhe. Lamentavelmente.
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Parabéns, Toninho, me fez ter saudades do local sem nunca ter ido lá...
ResponderExcluirObrigado Marcão: Eu também nunca estive lá. Não deu tempo mas, viajava nas histórias que meu pai e amigos falavam de Marimbondo. Ainda bem que o nosso leitor Rogério A. Dias tinha esse verdadeiro tesouro de imagens de seu avô, que deu margem então a postagem. Pobre Brasil. E, seria só nas questões ambientais? Abraço amigo
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