sexta-feira, 7 de abril de 2017

É ÉPOCA DE MIRAGUAIA








Os pescadores Pedro Abate e Zé Gomes



Uma briga violenta, que leva vários metros de linha do equipamento do pescador amador. Tão violenta que às vezes, se o freio do molinete ou carretilha não estiver regulado, com certeza partir-se-a a linha, tal é a força desse peixe que nessa época emigra do sul e está à nossa disposição. Conheça a miraguaia e...boa pescaria!



Miraguaia I

O famoso Monumento em S.Vicente SP - Foto P.Abate

Devemos considerar os peixes do mar como migratórios, pois de acordo com as épocas do ano, as correntes marítimas têm maior ou menor influência sobre as espécies. A partir de março por exemplo, as correntes das Malvinas ou Falklands trazem para a região sudoeste várias espécies de peixes (entre eles a miraguaia) que ficam então com mais ação para o pescador até a época de setembro ou novembro, conforme a temperatura das águas.Pescar miraguaias é, portanto, uma ótima opção de pesca, levando-se em consideração que não é um peixe que exige muita técnica, sendo até bem fácil de se fisgar, logicamente observando as características de sua espécie. Antes de mais nada, devemos localizar os melhores pesqueiros, e estes são os locais onde há pedras e principalmente canais que adentrem o continente, pois é aqui que a miraguaia entrará para se alimentar e desovar. A citação das pedras como pesqueiro se dá visto que nesses obstáculos é que está a melhor isca de todas e a principal fonte de alimentação dos peixes: os mariscos. Além de mariscos, que devem ser iscados inteiros e em pencas no anzol, podemos citar ainda como boas iscas para a miraguaia o siri, o caranguejo e os saquaritás, que também são encontrados no próprio local da pescaria. Aqui uma dica para ser analisada: a miraguaia vem se alimentar nas pedras, e portanto, se usarmos uma isca natural da própria pedra, com certeza os resultados serão melhores. 

Miraguaia II

Quanto ao material de pesca, dado a violência e o tamanho destes peixes (há notícias de espécimes fisgados com mais de 50 kg) recomenda-se o uso de material de categoria média para pesada, composto de vara com tamanho variando entre 3 e 5m, molinete ou carretilha de tamanho grande e linha de bitola entre 0.60 e 0.90mm (NR: hoje há a opção do multifilamento), usando ainda um anzol 3/0 ou 5/0, finalizando com uma chumbada do tipo oliva solta na linha e peso variando de acordo com a correnteza do local do pesqueiro. As varas de bom comprimento, aqui citadas, têm como razão principal, já que a pesca se dará em locais com pedras, evitar-se ao máximo possível a proximidade destas com a linha, além do que, na maioria das vezes em pesqueiros de pedras, os lances devem ser longos, o que sobremaneira se obtém com varas mais longas. Quanto ao tamanho grande para o molinete ou carretilha, deve-se este ao fato de precisarmos ter boa quantidade de linha armazenada para uma boa briga com o peixe e também pelo uso de bitolas mais grossas, que por si só já explica o tamanho do equipamento. Devemos ainda ter a preocupação de fazer um chicote com a mesma bitola de linha, medindo entre 30 e 60cm de comprimento, e entre este e a linha colocar um girador, para a parada da chumbada oliva. Quanto a isca de marisco, procure iscar em pencas de 5 ou 6 desses moluscos. Os mariscos têm, naturalmente, uma fibra que os mantém unidos. 


Caranguejo guaiá

Isque um deles na parte côncava da casca, ultrapasse o anzol totalmente, de a volta com os outros (usando a fibra) e isque o ultimo, também pela parte côncava, formando então um pequeno cacho. No tocante às outras iscas citadas, isque-as inteiramente e ao natural. Após o lance, estique a linha e coloque a vara na espera. Importante é citar que nos devemos ter pressa para a fisgada, pois a miraguaia costuma “mamar” a isca e às vezes dá puxadas bruscas. Neste ponto é necessário ter calma, e só devemos dar a fisgada quando o peixe correr com a isca. Invariavelmente em toda a regra há exceções, e também neste tipo de pesca, acontece às vezes do peixe levar a isca direto e sem aviso anteriores. No caso, um freio do equipamento bem regulado é o suficiente para se garantir a segurança do equipamento e do peixe. Após a corrida, sem afrouxar a linha, deverá o pescador “confirmar” a fisgada com duas ou três puxadas consecutivas e vigorosas. Após cansada a miraguaia costuma “pranchar”, e nesta hora devemos – além da calma necessária – ter também um bom bicheiro, pois estamos pescando em cima de pedras e normalmente, tais pesqueiros costumam ter sua topografia bastante irregular, além de algumas vezes estarem distantes, em altura, da superfície da água. De acordo com o local escolhido, deverá também o bicheiro ser adaptado às suas condições, no que se refere ao tamanho do cabo. Ai está portanto, a pesca da miraguaia, que nesta época é uma ótima opção para o pescador amador do nosso litoral. 

Siri iscado inteiro


Saquaritá

Como dica final, pode-se afirmar que esse peixe dificilmente anda só, o que significa que em um bom dia, ou noite (costuma ser muito produtivo pescar nesse horário) poderemos fisgar mais de um exemplar e às vezes de bom tamanho. O nome científico da miraguaia é Pogonias cromis, mas vulgarmente recebe ainda este nomes: burriquete, miragaia, perombeta, piraúna e vaca. No Estados Unidos, é conhecida como black drum e traduzido ao pé da letra “tambor negro”. Talvez isso se dê no fato da miraguaia emitir roncos, como as corvinas que, aliás, pertencem a mesma família Scianidae.
NOTA DA REDAÇÃO: A idéia dessa pescaria aconteceu visto que a pauta daquela edição iria ter uma “È época de...”. O peixe escolhido foi a miraguaia. Só havia um problema: eu não tinha nenhuma foto para ilustrar a matéria. Liguei então ao Pedro Abate, perguntando se ele tinha alguma foto de miraguaias. Por sua vez, ele me mandou várias, mas nenhuma satisfazia o “padrão” de qualidade da Revista Aruanã. Eram fotos comuns, de pescadores segurando peixes, etc. Novamente em contato com ele, sugeri uma pescaria lá em São Vicente. A resposta do Pedro foi de que há muitos meses ninguém tinha fisgado nenhum peixe, conforme noticias lá da Baixada. “Vamos lá tentar fisgar uma” foi minha resposta. Pronto, combinamos eu, ele Pedro e o Zé Gomes, companheiro de pesca de miraguaia.






Desenho de Silvio J. Pedro

A saída seria eles irem mais cedo (íamos pescar à noite) para comprar iscas no fim da Via Anchieta, onde havia um pessoal que vendia siris. O tamanho dos siris que nos interessava era os médios. De minha parte, com compromissos na Aruanã, eu iria mais tarde encontrar com eles no Monumento em São Vicente. Foi o que aconteceu. Três varas na água, iscas de siris e aquela doce espera que só o pescador entende. Por volta da meia noite (estávamos pescando desde as 18 hs) o cansaço me pegou de jeito e eu mal conseguia abrir os olhos. Falei com os dois que eu ia tirar um cochilo no meu carro. Coisa rápida. Dito e feito abaixei o banco e dormi imediatamente. Estranhamente, acordei sozinho por volta de 1.30hs da madrugada. Levantei e desci até as pedras. Para minha surpresa, lá estava o Pedro brigando com um grande peixe e vara envergada. E mais, a vara era a minha. Por direito foi me passada a vara e a briga continuou, agora comigo no comando. Para terminar a história, cansei a miraguaia e eles a tiraram da água. Foi aquela comemoração. Esperamos amanhecer para tirar fotos com a tal “nossa qualidade”. Aproveitei e pedi aos dois companheiros que tirassem uma foto com as novas camisetas que a Aruanã iria lançar brevemente. Fim da história. Sorte, persistência, dedicação, horário certo? Que nosso leitor julgue.
PS: Dedico esta postagem aos dois amigos aqui citados. Sua ajuda foi importante e sem a ajuda deles o “É EPOCA DA MIRAGUAIA”, não teria saído naquela edição da Aruanã. Obrigado.



Revista Aruanã Ed:06 Publicada em 08/1988

7 comentários:

  1. ✍ Show de Matéria & Relato Perfeito de como foi Tudo ☛ Parabéns e Obrigado pela Bela Recordação dos Bons Tempos !

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  2. Obrigado à vocês, Pedro e Zé Gomes. Como relatei na postagem, a ajuda de vocês foi essencial ao sucesso daquela pescaria/reportagem. Aquela miraguaia salvou nossa pescaria. Valeu.

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  3. Obrigado Possas. Essa era a missão da Revista Aruanã. Nossas matérias mostravam ao pescador, tudo o que era preciso para ter sucesso em qualquer pescaria no seu caso, miraguaias. Obrigado pela sua participação. Fraterno abraço Pescador

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  4. Amigo gostei muito da tua postagem sou pescador de Miragaia e sei que as tuas informações estão muito corretas
    Esse peixe e mesmo muito esportivo e brigão moro em Rio Grande RS e pesco no canal do porto ;e mesmo uma grande aventura agora em novembro elas aparecem por aqui então se vc quiser pescar com a gente e só aparecer
    Grande abraço
    Vágner Ademir (53)984635792

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  5. Muito obrigado Vágner Ademir. Realmente vocês do sul do Brasil, são privilegiados em algumas espécies de peixes, a miraguaia é um deles. Aqui em São, em nosso litoral elas eram bem mais presentes, no entanto devido a depredação e poluição, os mariscos praticamente desapareceram e isto é prejudicial pois era a principal alimentação delas, porém andamos pegando algumas com siris inteiros iscados. A Aruanã fez uma matéria aí nos molhes e pegamos bons peixes. Breve estaremos reeditando essa matéria em nosso blog. Um abraço e muito obrigado por sua participação.

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  6. Em tempo: A postagem sobre os Molhes do Rio Grande, foi postada em fevereiro de 2015. Acesse-a clicando no Índice de nossa página inicial http://revistaaruana.blogspot.com.br

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