sábado, 24 de junho de 2017

FOLCLORE - O QUE DIZEM AS AVES









A imaginação humana é muito fértil, e acaba atribuindo significados linguísticos aos sons emitidos pelos pássaros. Vamos ver o que algumas aves dizem neste lindo conto de Eurico Santos, extraído do livro “Histórias, lendas e folclore de nossos bichos”.







Nós outros, os homens, muito antropomorficamente, é claro, interpretamos as vozes dos animais. As aves, como palradoras, já forneceram vasto material para estas interpretações, dando motivo a lendas e histórias que o folclore registra. Muito curioso é assinalar que a interpretação do que dizem as aves varia, por vezes, de ouvido para ouvido, de povo para povo, de língua para língua, falando a mesma ave o nheengatu, o guarani, o espanhol, o português e até o inglês. O nosso conhecido bem-te-vi deve seu nome àquela palavra que ele diz com estridência e clareza. Clareza aos nossos ouvidos, pois os tupis ouviam-no dizer, com nitidez. “nenei”, e os guaranis, “pitaguá”. Os argentinos afirmam que ele profere “bichofeo”, e não precisa ir tão longe, pois os fluminenses escutam ele dizer “tempo quer vir”. Mas isso ainda é nada diante das interpretações que sofre o clamor escandido do bem-te-vi que vive na Guiana, segundo as observações de W. Beebe. Os caraíbas, ainda viventes, conhecem a ave pelo nome que ela pronuncia “hidjidji”, e os espanhóis, lá existentes, aceitando as sugestões dos padres jesuítas, escuta a ave dizer “Chistus fui”, os holandeses ouvem “griet-je-bie”, os franceses “qu’est-ce qu’il dit?” e os negros por lá existentes “Kiss, Kiss de deh” corrução de “Kis me, dear” (“Beija-me querida”).


Bem-te-vi – Pitangus sulphuratus 

Muito curiosas são as conversas dos chupins quando se reúnem em bando, em uma festança musicada. Neste bailarico, acompanhado de cantoria, o povo ouve um dizer para os outros: “Primo com primo pode casá”; e o mais informado, rápido, responder: “Pode casá, não faz má”; e logo o bando inteiro cai no estribilho: “Então casa, casa, casa já”. Um passarinho cantador, da Nova Inglaterra, que do setentrião do Continente vem ao Brasil, onde é conhecido pelo nome triste – pia, entre nós não diz nada que se aproveite, mas lá na sua terra fala corretamente o inglês. Tanto assim é que a criançada da Nova Inglaterra ouve o lá chamado “bobolink”, murmurar: “Bob-o-link, Tom Denny, Tom Denny. Come pay me the tem ad six pence you’ve owed more than a year and half ago! tse, tse”, que podemos traduzir: “Bobolink, Bobolink, Tom Denny. Pague-me os dezesseis centavos que me deve faz mais de ano e meio. Tse, tse”. Aí fica o que dizem, candidamente, algumas aves, mas como nem todas têm boa educação fiquemos por aqui. 
  

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