A imaginação humana é muito fértil, e acaba atribuindo
significados linguísticos aos sons emitidos pelos pássaros. Vamos ver o que algumas
aves dizem neste lindo conto de Eurico Santos, extraído do livro “Histórias,
lendas e folclore de nossos bichos”.
Nós outros, os homens, muito antropomorficamente, é claro,
interpretamos as vozes dos animais. As aves, como palradoras, já forneceram
vasto material para estas interpretações, dando motivo a lendas e histórias que
o folclore registra. Muito curioso é assinalar que a interpretação do que dizem
as aves varia, por vezes, de ouvido para ouvido, de povo para povo, de língua
para língua, falando a mesma ave o nheengatu, o guarani, o espanhol, o
português e até o inglês. O nosso conhecido bem-te-vi deve seu nome àquela
palavra que ele diz com estridência e clareza. Clareza aos nossos ouvidos, pois
os tupis ouviam-no dizer, com nitidez. “nenei”, e os guaranis, “pitaguá”. Os
argentinos afirmam que ele profere “bichofeo”, e não precisa ir tão longe, pois
os fluminenses escutam ele dizer “tempo quer vir”. Mas isso ainda é nada diante
das interpretações que sofre o clamor escandido do bem-te-vi que vive na
Guiana, segundo as observações de W. Beebe. Os caraíbas, ainda viventes,
conhecem a ave pelo nome que ela pronuncia “hidjidji”, e os espanhóis, lá
existentes, aceitando as sugestões dos padres jesuítas, escuta a ave dizer
“Chistus fui”, os holandeses ouvem “griet-je-bie”, os franceses “qu’est-ce
qu’il dit?” e os negros por lá existentes “Kiss, Kiss de deh” corrução de “Kis
me, dear” (“Beija-me querida”).
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