sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ROTEIRO - REPRESA DE ITUMBIARA

Um por do sol mineiro







A beleza do tucunaré azul

Vamos tomar como ponto de partida para nossa pescaria em Itumbiara a cidade de São Paulo.  Por via rodoviária até a beira d’água foram 749 quilômetros, de ótimas estradas pavimentadas. Nossa rota foi à rodovia dos Bandeirantes e Anhanguera até a divisa com Minas Gerais, no famoso rio Grande. Pelo caminho observamos com tristeza rios como o Piracicaba, Mogi Guassu e o Pardo. Estão praticamente mortos e sem peixes. Isso é um absurdo, tendo em vista que tais rios já foram muito importantes pela sua piscosidade. E ninguém faz nada para mudar o atual estado de suas águas. Talvez estejam esperando que esses rios fiquem iguais ao Tiête, para só então começar uma campanha para restaurar a vida, que aos poucos lhes está sendo tirada. Mas nossa viagem continua, apesar de nossos devaneios. Após o rio Grande passamos por Uberaba e Uberlândia, de onde seguimos então na estrada em direção a Itumbiara. Após Uberlândia, mais ou menos 35 quilômetros, há a indicação nas placas de estrada do trevo para Tupaciguara. Esta estrada tem seu final em Itumbiara. 

Divisa entre São Paulo e Minas Gerais

Nessa fase da viagem anda-se mais 40 quilômetros e aí há a indicação muito modesta de uma pequena cidade de nome Bálsamo, onde nosso destino final de viagem era o “Pesqueiro do Arnaldo”. Posteriormente voltaremos a falar deste pesqueiro. Nós havíamos saído de São Paulo às 21 horas e, após as peripécias normais de uma viagem rodoviária, chegamos à represa por volta de 5 horas da manhã. No horizonte já se avistavam os primeiros raios do sol, que “nasce” em terras mineiras. Um bom café com o Arnaldo e Dona Ana, onde a conversa girou sobre as condições reais da pesca na represa. Rapidamente trocamos de roupa e, munidos de nosso material de pesca, pegamos o barco e saímos para pescar. Neste ponto, temos que citar uma característica toda especial da represa de Itumbiara: o vento. Normalmente esse vento sopra da direção leste e causam efeitos na água da represa que a tornam, podemos afirmar, perigosa. Devido à sua largura, chegamos a pegar ondas de aproximadamente 80 centímetros de altura, e tais ondas vêm a espaço de mais ou menos três metros uma da outra. 



Tucunaré de 3 kg



O companheiro de pesca, Ari, e seu tucunaré

Pela fragilidade da embarcação, já que são barcos de alumínio de cinco ou seis metros, próprios para o pescador amador, ficamos pulando mais de uma hora para atravessarmos a represa. Deve-ser navegar com muito cuidado e sempre com a proa da embarcação voltada contra as ondas. É um tal de subir, descer e bater na água, continuamente. Apesar do céu estar completamente limpo e agora já com um sol lindo brilhando, vestimos capa o tempo inteiro. Chegamos na outra margem, “onde estavam os melhores pesqueiros”, completamente molhados e cansados com o contínuo bater do barco. Esta característica de vento se tem principalmente quando se parte do local que saímos, já que em outros locais da represa evita-se esta travessia. Mas este é o preço a pagar para à noite, quando voltarmos, termos o conforto de uma boa cama e de uma comidinha caseira das melhores. Pois bem, o vento continuou até aproximadamente as 13 horas, e como nossa pescaria era de iscas artificiais, devido às ondas praticamente não conseguimos trabalhar corretamente nossas iscas, portanto, nada de peixes. 


Um excelente pesqueiro

Ondas fortes, vento e frio eram os nossos companheiros constantes desde a madrugada; de repente, como num milagre, o vento parou, as águas foram se acalmando e o calor chegou. Quem é pescador amador sabe o que isso significa. Era como se estivéssemos em outra represa. Finalmente poderíamos começar a pescar bem trabalhando corretamente nossas iscas. Em um pesqueiro conhecido como grotão, junto às galhadas e auxiliados pelo motor elétrico, começamos a fisgar os primeiros tucunarés, que passavam um pouco mais de 1,5 quilo. Em Itumbiara existem dois tipos mais comuns de tucunarés: o azul e o amarelo. Durante toda a tarde nesta pescaria fisgamos só tucunarés azuis. No final da tarde tínhamos como balanço da pescaria cinco peixes embarcados, uma linha quebrada e iscas com garatéias tipo quatro vezes forte completamente abertas. No dia seguinte, uma reprise do primeiro dia no que se refere a ondas, vento, frio e o mesmo horário da parada e começo da pescaria. 



                                                                             Tucunaré amarelo


Galhadas e pedras

Conseguimos perceber que a água na superfície estava apresentando uma temperatura muito fria. Pescamos então com iscas de fundo e conseguimos fisgar vários peixes. No fim da tarde, no pesqueiro do “Chiqueirão”, fizemos a pescaria, fisgando os maiores exemplares de até então: peixes com peso variando entre três e quatro quilos. Conseguimos ver, mas não fisgar, tucunarés enormes, que por certo teriam mais de 5 quilos. Nessa pescaria, nosso companheiro era o Ari de Paula Leite, velho conhecedor das águas e das pescarias da represa de Itumbiara. Segundo ele, é normal em uma pescaria, em condições favoráveis, fisgar-se em um só dia 40 ou 50 peixes escolhidos, ou seja, do tamanho entre dois e cinco quilos. Fora ainda, como ele mesmo diz, várias linhas quebradas, iscas perdidas e diversas garatéias abertas. Falar da beleza da represa é preciso. Suas águas são muito limpas, as margens são de campos e serras. Os melhores pesqueiros são as galhadas, pedras e capins, encontrados em toda extensão da represa. Deve-se citar ainda nos pesqueiros os barrancos altos, e as várias e pequenas ilhas. 


Tucunaré azul



Tucunaré com “calombo” característico da época de reprodução

Os principais peixes de Itumbiara são o tucunaré, o dourado (já foram fisgados vários nas iscas de tucunaré), o pintado, a piapara, o piau, as traíras (em grande número) e as piranhas. Dessa região há notícias verdadeiras de tucunarés com 5,5, 6 e 8,25 quilos, sendo os mais comuns os peixes entre dois e quatro quilos. Segundo o Ari e outros pescadores, pesca-se o ano todo, sendo as melhores épocas os meses de maio a julho e o mês de outubro. Normalmente as águas estão limpas, porém neste ano, nos meses de setembro a meados de março, ficaram sujas. A represa de Itumbiara tem aproximadamente 11 anos, e o principal rio que a forma é o rio Paranaíba. São milhares de alqueires de superfície de água, sendo então considerada uma grande represa. Os principais pontos de pesca são conhecidos como Corumbaíba, Araguari, Grotão, Primeira e Segunda Balsa, Fazendão, Ilha da Gata e Ilha do Tancredo, onde aliás, existe um proprietário “que não deixa pescar”, como se as águas e as várias ilhas fossem dele. Nós em especial fomos ao pesqueiro do Arnaldo, em Bálsamo. 

Isca artificial excelente para o tucunaré

Esse pesqueiro fornece apenas quarto e refeições, não tendo barco para alugar. Seu telefone para reservas é conseguido através de telefonista 101, por Uberlândia, para finalmente ligar 132, Bálsamo (bons tempos?). Aliás em toda a represa não existem barcos, motores e piloteiros à disposição do pescador. Uma boa opção é acampar, levando então todo o equipamento para camping e pescaria. Um outro ponto que dá acesso à represa é Tupaciguara, em direção à balsa. Nesse local, apesar da cidade ser pequena, oferece-se ao pescador toda a infraestrutura, tal como hotel, restaurante, posto de gasolina, etc. Outra opção é via estado de Goiás, atingindo através de Uberlândia e Caldas novas com destino a Araguari, ficando então à beira d’água, junto a ponte sobre o rio Paranaíba. Para o pescador que vai pela primeira vez até a represa de Itumbiara, vão aqui algumas dicas. Como orientação, já que a represa é muito grande e com pontos completamente iguais em paisagens e contornos, podemos citar o sol, que nasce sempre pelos lados de Minas Gerais e se põe na direção de Goiás. 

Pesqueiro de tucunarés

São muitas grotas e braços extensos de represas que facilmente confundirão o pescador. Portanto, é conveniente observar esses detalhes, além dos cuidados de navegação quando surgem ondas e ventos. Sobre esses últimos podemos dizer que, em se saindo de Tupaciguara ou de Araguari, consegue-se chegar a bons pesqueiros, sem ter que atravessar a represa e enfrentar o problema das ondas e ventos. Caso o pescador queira pescar com iscas naturais, que não são fáceis de conseguir na represa, as melhores dicas são os pequenos peixes como o lambari, o acará e o piau. Na represa não há tilápias. Para se conseguir as iscas vivas, a melhor dica é achar pequenos riachos ou açudes; essas informações podem ser obtidas com o pessoal ribeirinho. No caso de iscas artificiais, as melhores são os plugs de profundidade e de meia água, e todos os plugs de superfície, tais como zaras, hélices, poppers, sticks, etc. devem ainda ser citados as colheres e os jigs, tendo estes últimos cerdas nas cores amarela e vermelha. Uma outra dica muito importante refere-se a bitola das linhas de pesca. 


O pescador de tucunaré com seu equipamento específico

Como se sabe, cada pescador tem a sua bitola preferida, principalmente aqueles que pescam com iscas artificiais, no entanto cabe dar a informação de que as linhas 0.45 milímetros ou mesmo 25 libras costumam arrebentar com os grandes tucunarés. Uma dica final: no caso de um tucunaré grande, o momento mais critico é a hora da fisgada, e a primeira e a segunda arrancada do peixe. Caso não consiga-se segurar esta fase, o melhor é deixar que o peixe vá para a galhada, indo então com o barco em cima do peixe após sua parada, o que é normal. Aí está, portanto, o nosso roteiro desta edição: a represa de Itumbiara, que apesar da falta de estrutura para o pescador, dos ventos e das ondas, poderá nos dar grandes tucunarés e excelentes pescarias, comparáveis, sem exagero, às melhores pescarias feitas na região da Bacia Amazônica e, o que e melhor, a pequena distância, comparada a região citada. Vale a pena conferir esta nova opção para o pescador amador. 


Estamos chegando



A indicação da represa

NOTA DA REDAÇÃO: Naquela época, uma pescaria em Itumbiara, era uma verdadeira aventura. Não havia um só pescador que não ficasse imaginando quando poderia pescar naquelas águas e o encontro inevitável com os grandes tucunarés. Esta publicação no ano de 1991 na Revista Aruanã, motivou muitos pescadores a essa viagem. Era realmente uma pescaria prá “gente grande”. No entanto, é aí vem o porém, muitos outros “pescadores” (aspas propositais) também leram a citada edição da Aruanã e lá foram pescar. Não vamos identificar esse pessoal, mas não nos calaremos em dizer que eram de um estado mais ao sul do Brasil. Eram um verdadeiro batalhão de predadores sem controle algum na quantidade e qualidade de tucunarés fisgados e embarcados. Nós mesmos vimos esse pessoal em ação e o fruto de suas pescarias na represa. Chegavam a levar dezenas de isopores de capacidade de 100 litros e os encher em alguns dias, com tucunarés de todos os tamanhos.
 Feita a “sua cota”, seguiam de volta para seu estado de origem e sabe lá o que faziam com toda aquela quantidade de peixe. E, eram inúmeras as pescarias desse pessoal em Itumbiara e no pesqueiro do Arnaldo. Já, naquela época, isso revoltava outros pescadores amadores, em ver que tucunarés de apenas 1 palmo, estavam as dezenas dentro dos isopores daqueles idiotas. Não se podia fazer nada a respeito, pois leis não existiam em defesa do Chicla ocellaris. As leis, em se tratando da defesa do tucunaré pouco mudaram mas, os idiotas continuam a pescar em detrimento a todos os outros pescadores amadores conscientes. Antonio Lopes da Silva



Revista Aruanã  Ed:24 publicada em 10/1999

4 comentários:

  1. Obrigado pela matéria, Toninho! Essa publicação nos lembrou dos velhos tempos e da maravilha que era pescar em Itumbiara...

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  2. Obrigado Marcão: São palavras como as suas, que me mostram estar no caminho certo, reeditando matérias publicadas na Revista Aruanã. Para os que vivenciaram, como nós, nos remetem as velhas lembranças. Aos que as vêem pela primeira vez, mostram roteiros que ainda existem e merecem ser visitados, mesmo que não tenham a mesma piscosidade. Vale a aventura. Grande abraço amigo.

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  3. Realmente, Toninho, fizemos grandes pescarias em Itumbiara, tendo como base o sítio do Arnaldo.
    Começamos em 1986 e fizemos mais de duas dezenas de pescarias na região, sempre respeitando a natureza e as características da região.
    Conhecemos o pessoal do Estado mais ao Sul de São Paulo, cujo nome começa com P e termina com A.
    Até hoje nos perguntamos o que aquele pessoal fazia com tanto peixe, e a maioria com menos de 1 quilo.
    Era uma demonstração de falta de educação esportiva impressionante.
    A Turma do Chegado, nome pelo qual é conhecido nosso grupo de pesca, sempre respeitou a natureza e nunca depredou nenhum pesqueiro.
    Muito bom reviver pescarias de 30 anos atrás.
    Grande abraço,
    Luiz Roberto Costa, o Soares da Turma do Chegado.

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  4. Grande abraço Luiz Roberto. Realmente aquele pessoal do Paraná (era o estado deles) matava tudo que podia e não respeitava nada, seja tamanho, peso, espécie e mais o que fosse. Existe muita gente boa em nossos pescadores do Paraná, mas aquela turma era o que existia de pior em depredação. Bando de idiotas. Eu fui umas cinco vezes em Itumbiara, sendo uma profissional para fazer o roteiro e as outras por puro prazer. Não tenho notícias de lá mas por certo a natureza sábia como ela é, deve ter renovado os estoques de peixe. É o que eu espero. Falou meu amigo e um abraço a toda a Turma do Chegado. Valeu.

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