A conhecida frase “o sertão vai virar mar” define muito bem o
panorama da Represa de Ilha Solteira. Dividindo os estados de Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais e São Paulo, essa represa foi alvo do roteiro da equipe
Aruanã. Confira.
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Mapa indicando os limites entre SP, MG e MS.
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Cabeças-secas
Para falar com mais propriedade desse nosso “sertão que virou
mar”, temos alguns números oficiais fornecidos pela CESP – Centrais Elétricas
de São Paulo, que dizem o seguinte: Ilha Solteira foi oficialmente inaugurada
em 16 de janeiro de 1974. Seu espelho de água (área alagada) é de 1195
quilômetros quadrados e sua extensão, medindo-se desde a barragem de Água
Vermelha (imediatamente anterior) é de 130 quilômetros. Os cursos d’água que a
alimentam são outra curiosidade bastante interessante, pois é em Ilha Solteira
que os rios Grande e Paranaíba se juntam para formar o majestosos rio Paraná.
Aliás, a junção desse dois rios e a formação do terceiro fazem as “três
fronteiras” estaduais entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul. Uma outra curiosidade é que quando navegamos em suas águas e olhamos
para o horizonte, não temos visão alguma, a não ser da curvatura do nosso
planeta, quando se fundem então céu e água no horizonte lá longe. Suas margens
são formadas em sua maioria por pastagens com fazendas de gado, sendo que, de
matas mais densas, vamos encontrar uma ou outra mancha ainda natural.
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Isca "durinho"
Pedras em pontos isolados e margens de cascalho mais grosso
completam a descrição. As águas são limpas e cristalinas, principalmente as que
vêm do rio Grande, já que o Paranaíba, com as chuvas, costuma traze-las mais
barrentas. Várias são as espécies de pássaros encontradas nas margens, e dentre
elas podemos destacar cabeças-secas, tuiuiús, colhereiros, garças, paturis,
patos selvagens, várias espécies de pombas selvagens, biguás, siriemas e até
emas que “pastam” tranquilamente, sendo que o melhor horário para avista-las é
entre 14 e 16 horas, pois com o sol forte, esses animais vêm as margem para
beber água. Dos campos de pastagem chegam aos nossos ouvidos os piados
característicos de inhambu-chitãs, xororós, codornas e perdizes, sendo que
estes são praticamente impossíveis de se ver. Animais mais comuns são os tatus,
capivaras e um ou outro gambá. Por essa descrição, já podemos nos imaginar no
paraíso, levando-se em conta ainda o calor, que nos proporciona memoráveis e
deliciosos banhos de represa. Mas o paraíso é ainda mais atraente, pois além de
tudo temos a pesca, que é farta. As espécies de peixes mais comuns são as
piabas, piaus, acarás, tilápias (para pesca-las será necessário fazer-se
cevas), barbados, um ou outro pintado (raramente), apaiaris e as mais pescadas:
corvinas e tucunarés.
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Pesqueiro de corvinas
PESCA
DA CORVINA
Essa espécie de corvina, também conhecida como
pescada-do-Piauí, é identificada cientificamente como Pachyurus franscisci e pertence à família Sciaenidae, ou seja, a mesma família das tradicionais corvinas do
mar, o que vem comprovar a tese científica de que é o mesmo peixe, apenas tendo
se aclimatado em água doce. Sua pescaria é simples, e como iscas devemos usar
pequenos peixes, de preferência vivos, tais como lambaris, guarus e um outro
peixinho muito comum na região conhecido como “durinho”, que nada mais é do que
uma espécie de chimboré. Os melhores locais são as galhadas isoladas no meio
dos braços ou no canal principal da represa, que tenham uma profundidade média
entre 10 e 20 metros. Há casos de profundidades de até 40 ou 50 metros, só que
aí é muito demorada a operação de descer e subir o peixe fisgado.
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O cuidado com as corvinas
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Pesqueiro de tucunaré
Explica-se então a
recomendação das profundidades menores. Pesca-se com qualquer equipamento, seja
molinete, carretilha, linhada de mão, etc. O importante é que, encontrando a
galhada onde irá pescar e amarrando o barco em um dos galhos, o pescador
procure sempre se posicionar a favor do vento, evitando, portanto que o barco
se choque com a galhada. Desça a isca, e assim que ela tocar o fundo esteja
atento, já que estando lá o cardume, a fisgada será imediata. Aliás, anote esta
dica: desconfie dos locais onde você desce a isca e a corvina demore a fisgar.
O melhor nesses casos é sair e procurar outra galhada. A pegada de peixe se
traduz em um ou dois cutucões e uma pequena corrida, que indica o momento exato
para fisgar. A briga só vai ser boa com peixes acima de 500 gramas, e mesmo
assim é rápida. Outra dica e montar o equipamento tendo o cuidado de deixar o
chumbo embaixo e o anzol em cima, com uma distância de mais ou menos 50
centímetros entre eles.
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Duble de tucunaré
Um só anzol é
suficiente, e este dever ser de número 4, 3 ou 2. Normalmente dizemos que a
isca natural viva deve ser iscada pelo lombo ou pela boca, afim de que
permaneça viva por mais tempo. Continuamos a afirmar isso, porém, na pesca da
corvina, devemos iscar o peixinho pelo rabo, ou seja, logo após a barrigada,
pelo simples fato de que dessa maneira pegaremos com a mesma isca 4 ou 5
corvinas, antes de perdê-la. Uma outra dica muito importante refere-se à
conservação dos peixes pescados. Imediatamente após serem retiradas do anzol,
as corvinas devem ser colocadas no gelo, já que elas estragam muito facilmente,
pois sua carne é muito delicada, o que atesta posteriormente o sabor da mesma,
que é sensacional. Chegando ao porto, limpe imediatamente os peixes para então
congela-los. Para atestar a piscosidade do local em termos de corvinas,
afirmamos que em uma hora de pescaria em nossa viagem, fisgamos mais de 50
exemplares. Um outro detalhe a ser observado é que de maneira nenhuma é
possível praticar o “pesque e solte” com a corvina, já que ao ser içada das
profundezas até a tona, a descompressão que sofre é muito grande e se a
soltarmos, será inevitável que morra.
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Tucunaré azul
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Tucunaré amarelo
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Mapa dos melhores pesqueiros
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O nascente na ilha
A
PESCA DO TUCUNARÉ
Aqui um capítulo todo especial, já que a esportividade dessa
modalidade mostrará ao pescador a valentia dos tucunarés de Ilha Solteira. São
duas variedades encontradas lá: o tucunaré azul e o amarelo. Para que o
pescador tenha uma idéia de como são esses peixes, há registros de exemplares
com 5 quilos, sendo, porém mais comuns peixes pesando entre 2 e 3 quilos,
evidentemente sem falar dos pequenos, que são muito atrevidos e brigadores.
Estes sim devem ser soltos, em uma prática que deveria ser obrigação do
verdadeiro pescador amador. Os pesqueiros mais visitados por nós são o início
do rio Grande e o início do Parnaíba, onde em pequenas baías, com pedras e
galhadas, estão os locais mais produtivos. Porém foi no rio Paraná que fizemos
as melhores pescarias (veja indicação no mapa) de tucunarés, pegando peixes com
2 e 3 quilos. Não usamos iscas naturais para pesca-los, e entre as artificiais,
citamos as MirreOlure, Rapalas Husky, Jumpin’Minnow, Popper, Bomber e Red Fin,
destacando o trabalho dessas iscas, principalmente na superfície.
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Pousada Eco Pesca
Como dica, podemos afirmar que a melhor época para a pesca do
tucunaré seria de abril a setembro. Evidente está que o peixe permanece lá o
ano todo, porém nos outros meses costuma ficar “manhoso”, exigindo do pescador
amador muito mais trabalho para ser fisgado. É bom salientar também que, de
outubro a final de janeiro e até meados de fevereiro, o tucunaré tem sua época
de desova, que deve ser respeitada, pois nessa ocasião se reproduzem e protegem
a prole valentemente, tornando-se então, pela vulnerabilidade ocasionada por
sua valentia, presas fáceis de pescadores menos esportistas. Como dica final, diríamos que dependendo da
altura das águas, a pescaria tem pequenas alterações em suas características, e
assim sendo afirmamos que os melhores pesqueiros quando a represa estiver com o
nível de água baixo serão os locais próximos às pedras e às galhadas existentes
nas margens. Já com o nível de água mais alto,
os melhores locais serão junto ao capim das margens (arbustos como o
arranha-gato e saram) e às ilhas de capim, que se formam por ocasião das
cheias. Boa pescaria.
NOTA DA REDAÇÃO: Esta matéria foi feita, tendo como base de
apoio a Pousada Eco Pesca em Rubinéia em São Paulo via Rodovia Euclides da
Cunha. Recepcionaram-nos a Fátima e o Adilson, seus proprietários. Uma pousada
de excelente qualificação e completa (foto). Deixamos de repetir tels, que com
certeza terão sido alterados seus números e não temos a informação se ainda
prestam esse tipo de atendimento.
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Revista Aruanã Ed: 49 – Publicada em 02/1996
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