Conservando o seu leito e suas águas quase originais, a
região do rio Paraná logo abaixo da Usina de Jupiá é uma boa opção para o
pescador amador. Confira no roteiro, desta edição.
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Rio Paraná
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Piapara
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A barragem
Aproximadamente 780 km é a distância que devemos percorrer, a
partir da capital paulista, até atingirmos este belo trecho do rio Paraná, que
ainda se conserva da maneira original. Saímos de São Paulo, via Rodovia
Washington Luís, rumo a Pereira Barreto. De lá, nosso destino deve ser a cidade
de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. Assim que passarmos pela Barragem de
Juquiá, ou melhor, ainda dentro da estrada da barragem, há uma saída à esquerda,
que nos leva, então, ao nosso destino: Vila Jupiá. Esse pequeno lugarejo é
formado principalmente por ranchos de pesca e tem uma pequena infraestrutura,
composta por um pequeno hotel que também é fábrica de gelo e restaurante. Na
beira do rio, em um local conhecido como “Porto dos Marreteiros”, não é difícil
encontrar para alugar barcos e motores de popa que pertencem a pescadores
profissionais, os quais também prestam serviços de piloteiro, além de venderem
iscas.
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Piracanjuba
O serviço de um piloteiro nesse trecho do rio Paraná é
indispensável, já que lá existem muitas pedras, além da correnteza que, em
alguns trechos, é bastante violenta, chegando mesmo a assustar. Em Vila Jupiá,
estavam à nossa espera o Gonzaga e o Sebastião, da Importadora Martinelli,
nossos velhos amigos e clientes que levaram toda a tralha que iríamos usar
nessa pescaria. Essa “tralha” consistia em dois barcos Tornado, um com 500 e um
17, com motores de popa Evinrude 35 HP e Suzuki 65 HP, respectivamente. Além do
pessoal da Martinelli, havia também um pescador amigo que, se não é o melhor
pescador amador daquela região, com certeza é o que mais peixe pega: o Marcus
José Tradivo. Aliás, o Marcus nos mostraria, nos dias subsequentes, toda a sua
técnica e especialização nesse tipo de pescaria.
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Pacus
Ficamos três dias batendo esse local, que tem como principais
pontos de pesca lugares como a “Pedra do Meio”, a 200 metros da barragem, o
“Meião”, a 350 metros, a “Ilha da Pomba”, a 2km e, finalmente, o “Vietnã”, a 13
km da barragem. Perguntado sobre o porque do nome desse último pesqueiro,
respondeu-nos o Marcus: “porque quando dá peixe, vira uma verdadeira guerra
achar um lugar vago para pescar!”. No primeiro dia, nos dedicamos às piaparas
na “Pedra do meio”. Aliás, em menos de meia hora, fisgamos quatro peixes de bom
tamanho. Mudamos de lugar e fomo até o “Meião” tentar as piracanjubas. Devido à
experiência do Marcus, em menos de meia hora ele pode afirmar que elas não
estavam lá. Saímos e fomos até a “Ilha da Pomba” tentar os pacus. Nesse local
fisgamos três pacus, pesando o maior deles 8,5 quilos.
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Navegando no
rio
Isso não é nada de excepcional, já que no dia anterior, o
Marcus havia fisgado um de 13 quilos. Dizendo isso, parece que a pescaria é
fácil e o peixe farto mas, com certeza, se não fosse a técnica de nosso amigo,
não teríamos fisgado tanto peixe. Vamos explicar com detalhes, já que a
preparação dessa pescaria é que garante o sucesso. Para começar, é necessário fazer-se
uma ceva com sangue de boi misturado a farelo de arroz, grãos de soja e de
milho. Tudo isso deve ser colocado em um balde de 20 litros e deixado alguns
dias para que o sangue coagule. O aspecto realmente não é dos melhores e o
cheiro não fica a dever. Aliás, tínhamos uma brincadeira: toda a vez que
abríamos esse balde de ceva, a preocupação era fecha-lo o mais rápido possível,
dizendo que aquilo ali era o “lixo”. O ato de cevar também é especial, já que
não basta simplesmente jogar o material na água: há uma técnica para isso.
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Piaparas
Tal artimanha consiste em ter um peso, que pode variar entre
dois e cinco quilos, dependendo da correnteza, amarrado a uma cordinha com
cerda de vinte metros. Acima do peso, amarramos na corda uma garrafa vazia de
plástico, daquela para refrigerantes, sem fundo e com a tampa bem fechada, onde
colocaremos a ceva. Com cuidado, descemos o peso e a garrafa de plástico para
dentro da água e soltamos a corda lentamente para que chegue no fundo. Com a
correnteza do rio, a água irá tirando aos poucos essa mistura, pois ao passar
pela tampa abre um campo neutro que tira lentamente a ceva de dentro da
garrafa. Para amarrar a garrafa com segurança, o melhor é fazer um furo na
tampa e passar a cordinha de amarração através dele. Mas a coisa não para por
aí, pois na própria garrafa da ceva iremos amarrar um pequeno girador que será
o guia de nossa linha de pesca.
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Anzol com
sangue iscado
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A ceva
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Maneira
correta de usar a ceva
Em nossa linha de pesca teremos que ter um girador também,
com uma distância de três ou quatro metros acima do anzol. Nesse girador da
linha, amarraremos uma outra linha inferior a que estivermos usando. Por
exemplo: se usarmos uma linha de bitola 0,40 mm, amarraremos uma linha de 0,25
mm no girador de nossa linha de pesca e no girador da garrafa plástica. Ao
soltar a ceva, automaticamente teremos que soltar a nossa linha de pesca junto,
pois quando a ceva chegar ao fundo, lá também estará o anzol iscado, logo à
frente do material que está cevando. Pode parecer complicado, mas quando é
feito o sucesso é garantido: no meio de vários barcos de pesca, nós éramos os
únicos a fisgar peixes – neste caso, pacus. Aliás, essa ceva serve para todas
as espécies, porém a técnica descrita acima só se usa para o pacu. O Marcus
disse-nos que tal técnica recebia o nome de “maracutaia”, mas que foi modernizado,
por motivos óbvios, para “na boquinha da garrafa”.
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Tucunarés
Como isca, pode-se usar besouros, lesmas, caramujos e,
principalmente, sangue coagulado. O leitor poderá estar pensando como irá
fisgar sangue coagulado no anzol. Mais uma vez, o Marcus mostra-nos o segredo.
Ao adquirir o sangue, tenha a preocupação de que seja de uma vaca velha, pois
segundo ele, “fica mais firme”. Coloque o sangue em vasilhas de plástico rasas
e horizontais para facilitar o corte, e congele. No dia da pescaria, corte-o em
pedaços de aproximadamente sete centímetros quadrados e coloque-os, ainda
congelados, em um pequeno balde de plástico, de mais ou menos cinco litros.
Deixe descongelar e, na hora da pescaria, corte um desses pedaços em tiras de
1,5 centímetro de grossura e isque-o inteiro no anzol (veja foto). Quando for
descer a ceva, solte primeiro a isca com cuidado na água e procure não fazer
movimentos bruscos para não soltar o sangue.
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Maneira
tradicional na ceva
Como isca, pode-se usar besouros, lesmas, caramujos e,
principalmente, sangue coagulado. O leitor poderá estar pensando como irá
fisgar sangue coagulado no anzol. Mais uma vez, o Marcus mostra-nos o segredo.
Ao adquirir o sangue, tenha a preocupação de que seja de uma vaca velha, pois
segundo ele, “fica mais firme”. Coloque o sangue em vasilhas de plástico rasas
e horizontais para facilitar o corte, e congele. No dia da pescaria, corte-o em
pedaços de aproximadamente sete centímetros quadrados e coloque-os, ainda
congelados, em um pequeno balde de plástico, de mais ou menos cinco litros.
Deixe descongelar e, na hora da pescaria, corte um desses pedaços em tiras de
1,5 centímetro de grossura e isque-o inteiro no anzol (veja foto). Quando for
descer a ceva, solte primeiro a isca com cuidado na água e procure não fazer
movimentos bruscos para não soltar o sangue.
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Pacu e Tucunarés
Apesar de não termos praticado nesta ocasião, uma outra
modalidade é a pesca de dourados. Nesse caso, as melhores iscas serão os
pequenos piaus e as tradicionais tuviras. Essa pescaria é feita de rodada, logo
após a barragem, usando-se material de médio a pesado e anzóis 6, 7 e 8/0
encastoados. Há notícias de dourados de dezesseis quilos. Temos ainda a pesca
de jaús e pintados, que pode ser feita de rodada ou nos grandes e profundos
poços. Para o jaú, as melhores iscas serão o minhocoçu e os piaus e, para o
pintado, iscas brancas (pequenos peixes). Há notícias de exemplares variando de
vinte e cinco a quarenta quilos. Finalmente, uma outra modalidade que
praticamos foi a pesca do tucunaré. Esse peixe está no rio, como não poderia
deixar de ser, junto às galhadas nas margens. Há muito peixe, haja visto que,
em apenas três dias, fisgamos mais de cem exemplares, com alguns chegando a
dois quilos.
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Pacu
Porém há notícias de tucunarés de até cinco quilos fisgados
nesses locais. Como você pode ver, este trata-se de um roteiro todo especial,
com técnicas também especiais e onde ainda há muito peixe. Vale a pena
conferi-lo, sem deixar de recomendar, mais uma vez, que o pescador use os
serviços dos piloteiros. Dois deles em especial nos acompanharam: o Antonio e o
Wilsinho. Ainda como opção de pesca teremos, acima da barragem a represa de
Jupiá, onde a pesca de tucunarés é farta, com espécies azuis e amarelos. Mas
isso é uma outra história, que fica para um próximo roteiro. Caso o leitor
queira saber maiores detalhes, poderá ligar para a Importadora Martinelli, em
Descalvado – SP e falar com o Sr. Gonzaga pelo tel. (019) 583-3551. Boa
pescaria.
(NR: a Martinelli atualmente está com suas
instalações em Ribeirão Preto – SP com o tel. (019)2102-6363). O Gonzaga faz
questão de passar essas informações ao leitores, e pessoalmente nos informou
que os piloteiros citados ainda estão em atividade, bem como a pesca “ainda” é
farta.
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Revista Aruanã
Ed:57 - Publicada 06//1997
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